Os três erros da ciência

isaac newton e laplace.jpg

Newton (esq.) e Laplace (dir.)

“Graças a três erros – A ciência foi promovida nos últimos séculos, em parte porque com ela e mediante ela se esperava compreender melhor a bondade e a sabedoria divina – o motivo principal na alma dos grandes ingleses (como Newton) -, em parte porque se acreditava na absoluta utilidade do conhecimento, sobretudo na íntima ligação de moral, saber e felicidade – o motivo principal na alma dos grandes franceses (como Voltaire) -, em parte porque na ciência pensava-se ter e amar algo desinteressado, inócuo, bastante a si mesmo, verdadeiramente inocente, no qual os impulsos maus dos homens não teriam participação – o motivo principal na alma de Espinosa, que, como homem do conhecimento, sentia-se divino:- graças a três erros, portanto.”

– F. Nietzsche, A Gaia Ciência

Trocando em miúdos (mesmo que tenha ficado bem claro e direto, mas repito para confirmar se eu mesmo entendi direito):
Na época de Newton, esperava-se com a ciência desvendar o ‘pensamento de Deus’; já na época de Voltaire esperava-se da ciência uma base sólida para pautar melhor a moral e a felicidade; e na de Espinosa a ciência poderia achar algo puro, intocado pelo homem.
Do “erro de Newton” queria falar algo que me veio à mente. Seu quase contemporâneo, Laplace, que foi também um grande gênio, não se preocupava muito com o pensamento de Deus não. Veja esta historinha fantástica de Laplace (via Wikipedia):

Laplace foi ao estado para implorar para Napoleão aceitar uma cópia de seu trabalho, que havia escutado que o livro não continha menção a Deus; Napoleão, que era fã de propor perguntas desconcertantes, recebeu-o com o comentário, “M. Laplace, me disseram que você escreveu este grande livro sobre o sistema do universo e jamais sequer mencionou seu Criador.”
Laplace levantou-se e respondeu rispidamente, “Eu não precisei fazer tal suposição”.
Napoleão, que apreciou a resposta, a contou a Lagrange, que exclamou, “Ah! essa é uma bela suposição; ela explica muitas coisas”, ao que Laplace então declarou: “Esta hipótese, Majestade, realmente explica tudo, mas não permite predizer nada. Como um estudioso, eu devo fornecer a você trabalhos que permitam predições”. Laplace, então, definiu a ciência como uma ferramenta de predição.

Adoro essa resposta.

Galileo, não me faz te pegar nojo

galileo-church-pope-cartoon

Calma, calma, calma. Essa sexta-feira tá meio conturbada pra mim. Primeiro li que só agora confirmaram que muito provavelmente foi mesmo o meteoro que provocou a extinção dos dinossauros. Mas só agora?! E eu achando que tava tudo certo…

E segundo é que um dos papais da ciência moderna, Galileu Galilei, que afirmou que a Terra é que girava em torno do Sol, fez isso APESAR DAS SUAS OBSERVAÇÕES NÃO LEVAREM A ESSA CONCLUSÃO! Ou seja, ele acreditava no sistema copernicano e decidiu que era o melhor sabe-deus-o-porque.

Souberam disso porque um cara foi atrás de outras pessoas que usavam telescópios da época, e um deles, Simon Marius, tinha uma conclusão muito mais consistente com as observações feitas usando as limitadas lunetas da época (que deixavam as estrelas muito mais próximas do que seriam). E essa conclusão mais bem embasada para a época reforça idéia da Terra parada e o resto girando em volta.

Por que um cara inteligente como o Galileo arriscou o pescoço por uma ideologia não totalmente embasada em dados é um mistério. Vai ver ele tinha outros dados ou idéias que não ficaram registradas. Isto mostra como a ciência é imparcial, mas os homens que a fazem não são. Sempre é preciso martelar muito as hipóteses e dar tempo ao tempo.

Paradoxalmente temos que, sempre muito desconfiados, confiar na ciência. 

Via NatureNews

Êsso non ecziste!

imagemjcmel.jpgPretendia deixar esse texto para segunda-feira, mas prefiro não perder o timing de um dos assuntos quentes dos últimos dias.

Desde semana passada a notícia de uma imagem de Jesus
Cristo na Zona Leste de São Paulo que supostamente verte lágrimas de mel começou a atrair vários fiéis querendo ver o fenômeno de perto.

Todo esse movimento fez com que a Igreja se manifestasse sobre o caso: a Arquidiocese de São Paulo quer submeter a imagem a análises
científicas por especialistas, pois segundo Juarez Pedro de Castro,
padre e secretário de Comunicação da
arquidiocese, “O fenômeno somente será
atribuído a uma causa sobrenatural se não houver nenhum efeito da
natureza que o explique.”

O primeiro veículo a publicar a matéria foi o jornal Agora São Paulo.
Procurado pelo veículo que gostaria de saber sobre a
possível explicação química desse fenômeno acontecer, afirmei: “é
impossível”. Abaixo segue minha declaração na matéria assinada
pela repórter Fernanda Barbosa.

Especialistas afirmam que é impossível que uma imagem
verta mel. No entanto, dizem que o fenômeno poderia ser explicado pela
ciência se o líquido fosse água. O professor de ciências e doutorando da Unifesp Gabriel Cunha diz que
a condensação do vapor d’água faria com que o líquido aparecesse na
imagem.
“Poderia haver água devido à diferença de temperatura
entre a imagem [fria] e o vapor d’água [quente] presente no ar. Mas
isso não ocorreria com mel ou óleo.”

As estátuas que choram são velhas conhecidas dos fiéis – e céticos – e supostamente vertem lágrimas por meios sobrenaturais. Geralmente o líquido aparenta ser sangue, óleo ou líquidos perfumados. No entanto, apesar de atraírem muitos fiéis como em Sapopemba, a maioria dos casos são descartados pelos níveis mais altos da Igreja ou desmarcarados como fraudes por análises técnicas.

Até hoje existem alguns poucos casos de imagens aceitos oficialmente pela Igreja, como aconteceu na Sicília em 1949.

Já as fraudes são muitas, como na Itália em 1995: o próprio bispo local afirmou ter visto uma estátua de Madonna chorar lágrimas de sangue. A análise do material, no entanto, mostrou que o sangue tinha origem masculina e o dono da imagem se recusou a fazer um exame de DNA (que surpresa).

Em 2008, também na Itália, Vincenzo Di Constanzo foi julgado por fraudar uma dessas imagens: as lágrimas de sangue de sua estátua da Virgem Maria foram analisadas e o resultado mostrou que o sangue da estátua era dele mesmo.

Também expliquei aos repórteres do Agora São Paulo que os casos de
imagens que choram normalmente começam e terminam do mesmo jeito: a
notícia se espalha e, se atrair muita atenção, o material é coletado e
enviado para análise. Depois disso temos dois cenários: a análise tem
“resultados inconclusivos” ou simplesmente não se fala mais no assunto, o
que descartam a veracidade do fenômeno cientificamente.

Agora adivinha o que a dona da casa em que está a imagem disse sobre enviar a mesma para análise?

“Ninguém tira [a peça] daqui”, alegando temer que a imagem seja extraviada. “Se quiserem, que venham e façam os exames aqui em casa mesmo.”

Parece que teremos mais um exemplo dos casos em que depois de um tempo
não se ouve mais falar a respeito…

Fontes: Agora São Paulo / Terra.com.br

Foto de Ale Vianna da Futura Press

DMRI: vilão da Terceira Idade.

O progresso do Brasil pode ser percebido no aumento da expectativa de vida da população. Mas como problema nunca é demais, junto com o progresso vem as doenças características de países desenvolvidos ou em desenvolvimento.

Uma delas é a Degeneração Macular Relacionada à Idade, o assunto de hoje nesse texto escrito a quatro mãos com o Dr. Caio Regatieri, que é oftalmologista, PhD em Ciências e meu colega de laboratório (onde faz pós-doutorado).

O que é a DMRI e como afeta a visão?

olho esquema

Essa doença causa importantes alterações na mácula (região da retina que deixa você ver nitidamente o centro do seu campo visual), fazendo com que as linhas fiquem tortas e a parte central da visão fique escura. Ela se apresenta em duas formas clínicas:

  • DMRI úmida (neovascular ou exudativa): ocorre pelo crescimento de novos vasos sanguíneos atrás da retina a partir
    da coróide (responsável pelo suprimento de sangue da mácula); pode ocasionar o descolamento da retina.
  • DMRI
    seca (atrófica): ocorre por acúmulos de material extracelular chamados drusa (comuns acima dos 40 anos) e também pode levar ao descolamento da retina.
dmri3.jpgVisão de um paciente com DMRI (à direita).

A forma atrófica é mais comum e leva a perda lenta da visão, enquanto pacientes com DMRI neovascular perdem a visão de modo súbito e grave. Uma das “boas notícias” é que a DMRI não leva a perda total da visão por preservar a visão lateral, ou seja, ela não causa cegueira.

Pedi para o Dr. Caio deixar algumas dicas para passarmos para nossos conhecidos mais velhos (pais, tios, avós, etc.):

Como identificar?
1. Linhas retas, como o batente da porta e prédios, começam a aparecer distorcidas;
2. As letras aparecem borradas na leitura;
3. Aparecimento de uma mancha negra no centro da visão.

O que devo fazer se tiver DMRI?
Você deve checar a visão central de cada olho separadamente pelo menos uma vez por semana. Se ao fazer isso perceber alguma diferença procure seu oftalmologista rapidamente.

Existe tratamento?
Não para a DMRI seca. O estudo AREDS (Age-Related Eye Disease Study, ou doenças oftalmológicas
relacionadas à idade), realizado pelo “braço oftalmológico” do NIH, acompanhou 3640 pacientes por uma década para avaliar os efeitos de antioxidantes e zinco na prevenção da DMRI e da catarata. Nos resultados pacientes com DMRI intermediária ou avançada que usaram vitaminas antioxidantes apresentaram progressão mais lenta da doença.

Já a DMRI úmida tem dois tipos de tratamento: o primeiro utiliza laser para cauterizar os vasos anormais que surgiram na retina, apesar de também prejudicar a retina saudável próxima à área afetada pela doença. O segundo tipo e mais novo é o uso de medicações que bloqueiam algumas moléculas responsáveis pela formação deses vasos como o VEGF (sigla em inglês para fator de crescimento de vasos endotelial). Os medicamentos utilizados atualmente são Bevacizumabe (AVASTIN) e Ranibizumabe (LUCENTIS).

Perspectivas de tratamento
Apesar dos resultados favoráveis no tratamento com os anti-VEGF novas moléculas que bloqueiam a formação de vasos têm sido estudadas para tratar a DMRI na forma úmida.

O grupo de pesquisa fResearchBlogging.orgormado pelo Depto. de Oftalmologia e pela Disciplina de Biologia Molecular da UNIFESP estuda a ação de novas drogas com esse potencial, sendo que um desses projetos investiga a ação de um medicamento chamado infliximabe. Normalmente utilizado para tratar doenças reumatológicas, a injeção de pequenas quantidades dentro do olho de ratos causou uma redução de 50% no tamanho da lesão neovascular. Outros experimentos mostraram que a droga não é tóxica para retina e em breve será iniciado o protocolo clínico para avaliação de sua eficácia no tratamento de DMRI úmida e também de retinopatia diabética.

inflixi.jpg

Microscopia confocal da lesão neovascular (em vermelho). Da esquerda para a direita vemos :1 – controle; 2 e 3 – controles não tratados; 4 – administração de 10ug de infliximabe

Outro projeto utilizou um composto isolado da cabeça do camarão marinho L. vannamei, que possui potente ação antiinflamatória e pouca ação anticoagulante. Pequenas doses foram capazes de reduzir a área de lesão em 63%, e esta molécula também será testada em pacientes.

Como temos estudado muitas moléculas semelhantes em nosso laboratório, esperamos desenvolver de novos tratamentos para várias doenças relacionadas ao crescimento desordenado de vasos sanguíneos.

Melhor que falar de novos tratamentos só quando esses tratamentos são produto da ciência nacional, não acham?!

Para mais informações sobre DMRI e outras doenças acessem o site
da Unidade Paulista de Oftalmologia
.

Regatieri,
C., Dreyfuss, J., Melo, G., Lavinsky, D., Farah, M., & Nader, H.
(2009). Dual Role of Intravitreous Infliximab in Experimental Choroidal
Neovascularization: Effect on the Expression of Sulfated
Glycosaminoglycans Investigative
Ophthalmology & Visual Science, 50
(11), 5487-5494 DOI: 10.1167/iovs.08-3171

 

Melhor que ficar brilhando é ficar da cor que precisar, quando precisar, viu, Avatar?!

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Aproveitando que minha veia artística está acelerada, compartilho com vocês um vídeo de um dos animais que mais me impressionam, os camaleões.

Existem cerca de 160 espécies em todo o mundo, mas poucas pessoas sabem que nem todas são capazes de mudar de cor. O registro fóssil mostra estes lagartos adaptados para escalada e caça visual habitam a Terra há pelo menos 26 milhões de anos (com desconfiança que possam ser tão antigos quanto 100 milhões de anos).

Mas, voltando ao assunto, a primeira pergunta quando o assunto é “camaleões” é: como eles conseguem essas mudanças de cor?

Vocês sabiam que a pele dos camaleões é transparente? Pois é, as células responsáveis por sua coloração, chamadas cromatóforos, ficam abaixo dessa primeira camada de pele, e são altamente especializadas.

As células da camada superior são chamadas xantóforos (pigmento amarelo) e eritróforos (pigmento vermelho). Logo abaixo estão os iridóforos (ou guanóforos), que contém guanina, uma substância de aparência cristalina que reflete a parte azul da luz incidente. Se a camada superior de células aparecer principalmente amarela, a luz refletida se torna verde (azul + amarelo, lembram das aulinhas de Educação Artística?). Ainda há uma camada de melanina (pigmentação escura que dá nosso tom de pele e nos protege contra o ultravioleta – UV – da radiação solar) numa camada ainda mais profunda nas células refletoras, influenciando na intensidade da luz refletida.

Explicações dadas, vamos ao resultado de toda essa coordenação celular, que, afinal, é o motivo de eu ter escrito esse pequeno texto:

Querem uma curiosidade antes de terminar? Ao contrário do que se pensa, os camaleões
normalmente alteram sua cor em função do estado comportamental em que
se encontram. As mudanças são
também um tipo de indicador social para seus semelhantes, e há pesquisas que sugerem que a pressão inicial para evolução do sistema
cores tenha sido a sinalização social, e que os métodos de camuflagem
tenham sido um efeito secundário.

Vi (e PIREI) na Chamaleonshops
Imagem do início do texto à venda na iStockphoto (que tem uma quantidade impressionante de fotos lindas desses animais malucos)

Pro final, deixo uma pergunta: e aí, @kenmori e @Efarsas, esse vídeo é real?!

***UPDATE: o Gilmar do www.e-farsas.com é um cara muito rápido e já me avisou que o vídeo é falso. Aproveitem e vejam mais “causos” como esse no site!

“Publicar na Nature? Eu nem queria mesmo…”

O vídeo abaixo está ilustrando, de um jeitinho todo especial, como os pesquisadores decidem para qual revista científica vão mandar seu trabalho de pesquisa.
AVISO 1- Tentem ignorar o “show de interpretação” dos pobres posgraduandos que atuam neste filme.
AVISO 2- Nem todos os pesquisadores são idiotas maus-atores assim (só 75%). A intenção foi boa, vá!

Mesmo sem saber inglês dá pra entender né?
O pesquisador manda o artigo pra uma revista “sonho de consumo” naquela vã esperança. E se não der, vai descendo, até conseguir publicar numa revista online de conteúdo aberto mas que ele tem que pagar para publicar (mais de 2mil verdinhas). Aqui eles tiram sarro mostrando a Nature totalmente fechada, e a última revista aceitando sem nem revisar o artigo. Essa revisão é mais conhecida como peer-review
Nas portas aparece um número pra cada revista, que é o fator de impacto (Fi). É um número “cabalístico” que serve para quantificar a relevância da revista.
Esse número é calculado dividindo o número de artigos publicados pela revista pelo número de vezes que os artigos da revista foram citados. Assim, se uma revista publica 10 artigos e são citados, ou seja, usados como referência, em 200 outros artigos, temos: 200/10 = 20. Este é o fator de impacto da revista.
Só que existem várias fórmas de se medir a relevância das revistas. Esse é só um e muito criticado. Veja o exemplo: uma revista que publica quinzenalmente semanalmente como a Nature, teve 1748 arigos publicados em 2004, citados 56255 vezes. Isso dá um Fi de 32,2.
Agora uma revista como a Annual Review of Immunology, que publica apenas uma vez por ano 51 artigos e é citada 2674 vezes tem um impacto de 52,4. Bem maior que a Nature, mas também é um número de artigos bem menor e uma vez só por ano.
A Nature é o Arroz com feijão que mantém a coisa toda funcionando, enquanto a Annual Review of Immunology é o peru de natal esperado por todos no final do ano.
Nesse caso, qual a mais importante?
Depende do que você considera importante.
Com esta pergunta na cabeça, leia mais sobre o assunto no ScienceBlogs Brasil.

Universo numa casca de noz… ou “grandeza não é sinônimo de tamanho”.

Recebi do Kentaro Mori (autor do 100Nexos) uma indicação do mapa Biochemical Pathways (em Português, “vias bioquímicas”), e, como tenho um quadro igual pendurado na parede da sala da minha casa (junto a Einstein e Jimi Hendrix), resolvi compartilhar com vocês.

Carl-Peter-Von-Dietrich.jpg

Esse mapa já é produzido faz bastante tempo, tanto que a versão que tenho aqui é de 1974, e dá dó vê-la toda amarelada. Ainda mais por ser herança de um dos maiores cientistas que esse país já viu, o Prof. Dr. Carl Peter Von Dietrich, um dos fundadores do programa de pós-graduação em Biologia Molecular, do qual faço parte desde 2006. Infelizmente o professor faleceu em 2005, antes que o pudesse conhecer pessoalmente, motivo que só me deixa mais fã do quadro.

Cada via metabólica que estudamos é uma série de reações químicas nas quais uma reação fornece o substrato para a reação seguinte, de modo que a reação seguinte quase sempre é dependente da anterior.

Essas reações normalmente são aceleradas por enzimas, e também podem ser necessários inúmeros minerais, vitaminas, e outras moléculas que agem como cofatores em cada uma dessas milhares de reações diferentes, e interligadas.

Agora pense que todas essas reações, compostas por enzimas, cofatores, substratos, e etc, são de fundamental importância para que o organismo mantenha sua homeostase, ou seja, o seu equilíbrio metabólico. 

Com esse pensamento, olhem o mapa:


BiochemPath.jpg

Clique na imagem para ampliar

Aqui temos uma pequena amostra da complexidade que está em todo o organismo vivo. Lembrem disso da próxima vez em que estiverem pensando em algo como “por que as curas de doenças demoram tanto?” ou “esses cientistas só pensam no projetinho deles”.

Pensem que, para cada enzima que um pesquisador se dispõe a estudar, todo esse mapa pode ser afetado e, em muitos casos, ainda não conseguimos enxergar na totalidade o que está ocorrendo.

O motivo? NADA é simples como parece, mesmo em tempos como os nossos, em que tudo é banalizado, e poucas coisas são tratadas com a importância real que têm.

Para olhar o mapa em detalhes, com legendas, acessem o link abaixo do ExPASy e sintam um pouco do gostinho de se tentar entender esse emaranhado químico que é o nosso metabolismo.

Crédito das Imagens: UNIFESP, ExPASy, haha.nu

Espiões, a CIA, e o aquecimento global.

urso polar se escondendo.jpg

Legenda:“Malditos espiões, escondam-se!”

“Temos uma tecnologia que faz imagens de satélites muito, mas muuuito precisas. Pra que você quer usar: pra monitorar o descongelamento de geleiras e outros usos científicos, ou para espionar seus inimigos subdesenvolvidos que nunca seriam páreo militar pra você?”
Adivinha o que qualquer governante responderia?
Fantástica a capacidade do ser humano de descontar o futuro, ou seja, apostar no curto prazo em detrimento do longo.
A CIA dos EUA está colaborando com cientistas do clima liberando imagens da região ártica tiradas por seus satelites-espiões. Mas não não foi fácil convencer, pois os agentes não acham estratégico mostrar estas imagens. Claro, elas mostram um pouco do como eles tiram as fotos, revelando alguns segredinhos de espionagem, como o nível de definição das fotos, posição dos satélites, etc.
spy_vs_spy_counterserveilla.jpgConcordo que este perigo existe e tem sua importância. Existe para os EUA, mas o que o resto do mundo tem a ver com isto? Aquecimento global não é ainda uma prioridade maior que ataques terroristas? Agora pode não ser, mas aguardemos 50 anos que eles vão ver.
Não sou ingênuo, mas quero ainda acreditar que devemos sempre desejar o bem maior.
Esta iniciativa é bem vinda, mas é só uma fresta por onde a gente pode ver a diferença de força entre diferentes interesses nacionais/globais ou político/científico
Pra se ter uma idéia, a definição das imagens cedidas para estudo pela CIA tiveram a definição diminuida para não mostrar ao mundo a capacidade real dos satélites-espiões (provavelmente por serem capazes de ler a etiqueta da sua calça de lá do espaço).
O que me deixa fulo da vida é a militarização da tecnologia, sempre a frente de questões mais nobres. Agora tão lá, os mega-satelites (sem falar em outras pesquisas militares que são as mais fortemente financiadas), nas mãos não dos cientistas que os criaram, ou de comissões de ética responsáveis, mas nas mãos de políticos. Se você confia no seu, ótimo. Se não…
E é essa apropriação da ciência, ou tecnociência que é a regra. O cientista não tem controle sobre suas descobertas. Depois de adquirido pulveriza-se o conhecimento tecnocientífico, que acaba sendo controlado por poderes econômicos e políticos.
Já aconteceu antes, no caso da bomba nuclear, e vai continuar acontecendo
Os cientístas e os cidadãos têm que ficar mais espertos e engajados. Afinal temos que saber quem é que tem autorização para a pertar o grande botão vermelho.Pentagono.jpg

Em busca das primeiras máquinas híbridas.

Pesquisadores do Argonne National Laboratory (Laboratório Nacional Argonne, vinculado ao Departamento de Energia dos EUA) anunciaram num artigo publicado recentemente no PNAS os primeiros resultados que demonstram a possibilidade de se criar máquinas híbridas, num futuro próximo. 
Utilizando soluções contendo aproximadamente 10 bilhões de bactérias por centrímetro cúbico, os pesquisadores demonstraram ser possível mover pequenas engrenagens de 380 um (micrômetros, ou seja, um milésimo de milímetro) alterando-se os níveis de ar e nitrogênio dissolvidos no líquido.
O resultado pode ser visto no vídeo abaixo:

Fato interessante: nesse estudo descobriu-se que o movimento de natação coordenada que as bactérias Bacillus subtilis realizam em suspensão é peculiar à concentração mencionada anteriormente (de 10 bilhões/cm3). Em concentrações menores, os movimentos das bactérias parecem aleatórios, enquanto em soluções mais concentradas (acima de 40 bilhões/cm3) os organismos adotam um comportamento diferente, criando biofilmes.

Apesar de os estudos estarem em seu início, já foi aberta uma possibilidade real de se projetar, no futuro, máquinas microscópicas que utilizem esse tipo de abordagem. Na imagem abaixo há uma sequência de fotografias demonstrando os movimentos realizados:

Movimento realizado pelas bactérias em solução. (Clique na imagem para ampliar) Crédito: Igor Aronson / Argonne National Laboratory

Interessante, não? E isso é só um aperitivo do que pode vir a ser feito… Quem sabe as novas máquinas que veremos na próxima década?!

Fontes: Wired e Argonne National Laboratory (que também tem FLICKR!)

Os 10 assuntos científicos mais comentados de 2009

Recordar é viver (desde que não se fique apenas por essa relembrança). Então antes de prever o ano de 2010, relembremos o quase-findo 2009.

Aqui eu vou colar. Copiar e colar, na verdade. Saiu aqui na Scientific American os top 10 assuntos científicos do ano. Do LHC até a “estrela da morte”, vamos a eles:

top 10.png

  • Grande Colisor de Hádrons – Engasopou ano passado, mas esse ano foi! O colisor de partículas finalmente está em uso, e já bateu todos os recordes da sua categoria “colisor peso pesado”. E ele próprio já é uma previsão para 2010, afinal resultados vão começar a sair logo mais.
  • Influenza A H1N1 – “Craro Cróvis”, como esquecê-la. Nos fez prestar atenção na gripe comum, no nosso sistema de saúde nacional e mundial. Mostrou a fragilidade da informação rápida para o cidadão, onde o único meio de comunicação com informação, explicativa, ajustada e de confiança foi o blog colega Rainha Vermelha, mostrando a força e importância dos blogs de ciência nacionais. Este é outro assunto previsto para bombar em 2010, com a segunda leva do vírus que ninguém sabe como virá. Até o Obama já se vacinou.
  • Ardipithecus ramidus – chocante fóssil estudado por mais de 15 anos antes de ser publicado em edição especial da revista Science (imagino a politicagem ferrenha que deve ser pras revistas “comprarem” este tipo de trabalho que dá muito ibope). Simplesmente este fóssil tem colocado em cheque o que define um hominídeo (ou mesmo o que nos define). Belo presente de aniversário para os 200 anos de Darwin e 150 do seu livro
  • Cop15 esperança e fiasco – tanta preparação pra nada. Ou pelo menos para perceber a fragilidade do nosso sistema político frente a tomadas de decisão rápidas e embasadas em informação científica. Escrevi mais aqui.
  • Vacina contra a AIDS – um mega estudo na Tailândia vacinou 16 mil pessoas. Conclusão: não funciona muito bem. Mas abriu várias janelas de oportunidades para estudar a reação do vírus à vacinação.
  • Hubble tunado – Esse é um que não morre. 19 anos com corpinho de 12 e meio, e agora com novos aparatos, vai continuar em atividade por mais 5 a 10 anos. Isso que foi projetado pra durar só 5! “Conta o segredinho pra essa vida longa e tão lúcida.”
  • Epigenética de pai pra filho – no ano de Darwin descobrem que Lamark estava certo?! Então características adquiridas pelos pais podem passar para os filhos e netos! Pois é, mas sem alterar o DNA, só as travas que comandam a sua leitura. E sim, isso sim muda muita coisa!
  • Água na Lua – 40 anos após a Apolo 11 a Lua revela um novo segredo: água. Danadinha essa Lua, surpreendendo a gente mesmo com um seco Mar da Tranquilidade
  • O laser “Estrela da Morte” – sim é um monte de raios laser que se juntam num ponto só. Se você colocar hidrogênio lá, ele sofre fusão! E fusão é basicamente o q acontece no coração de uma estrela! Servirá para estudos astrofísicos, nucleares e energéticos.
  • Solução pra crise: grana pra ciência – O país está em recessão? O governo tem que soltar uma grana. Obama liberou quase 800 bilhões para salvar a economia, dos quais 21,5bi foram para pesquisa. Áreas de interesse como meios de transporte e energia foram favorecidas e podem fazer a diferença no futuro. O Brasil cortou investimentos nessa área e dizem que nem teve crise por aqui.
  • E vocês, o que acharam da lista? Alguma sugestão de alteração?