Sequenciamento em Marte

Tem gente que jura já ter visto discos voadores e até ter entrado em contato com extraterrestres. Verdade ou não, esse é um assunto que desperta curiosidade em muitos e medo em tantos outros. Ao contrário do imaginário popular, é provável que os seres extraterrestres já tenham chegado na Terra há 4 bilhões de anos e que nós evoluimos a partir deles. É isso o que sugere uma teoria conhecida como panspermia.

Talvez não seja mais necessário esperar por alienígenas visitarem nosso planeta ou uma longa discussão sobre a veracidade dos organismos fossilizados encontrados em meteoritos para confirmar a existência de ETs. Em breve teremos acesso ao código genético de organismos marcianos, de acordo com a proposta de dois cientistas, Craig Venter e Jonathan Rothberg. Ambos estão em uma corrida, embora não declarada oficialmente, para sequenciar o DNA de possíveis formas de vida que existam ou existiram em Marte. Por isso, eles querem uma carona até o planeta vermelho para sequenciar possíveis formas de vida que possam encontrar por lá.

VenterA carona não é para eles, mas para o sequenciador que pretendem enviar. Venter está confiante que
encontrará formas de vida que contenham DNA em Marte, como afirmou em uma conferência da Wired Health no ano passado, em Nova York. Sua equipe está desenvolvendo e testando o que ele chama de “teletransporte biológico”. Um robô que será enviado para Marte capaz sequenciar o DNA encontrado no local, mesmo que seja de uma única célula, e transmitir a sequência do organismo extraterrestre para um computador aqui na Terra. De acordo com ele, testes já estão sendo feitos no deserto de Mojave, onde cientistas simulam as condições de exploração do espaço. Com o DNA digitalizado será possível  sintetizá-lo, injetá-lo em uma célula universal receptora e dar vida a um ET. A entrevista completa sobre esse assunto pode ser assistida aqui (11:00).

 

Ion Torrent

Correndo em outra frente está Jonathan Rothberg, fundador da Ion Torrent, em um projeto financiado     pela NASA chamado SET-G (The Search for Extra-terrestrial Genomes) também pretende sequenciar DNA no planeta vermelho. Para isso será necessário reduzir o tamanho de seu sequenciador de grande sucesso, o Ion Personal Genome Machine, de trinta para apenas três quilos, viabilizando a viagem de milhões de quilômetros.

Mas por que não trazer uma amostra de Marte? Tessi Kanavarioti, químico envolvido no estudo de pedras que vieram da lua na década de 70, garante: “Devido a possibilidade de contaminação, ninguém iria acreditar em você”. Foi o que aconteceu em 1971, quando astronautas da Apollo 12 trouxeram uma câmera de TV que ficou três anos na lua. Nela foi encontrada uma única bactéria Streptococcus mitis. Muitos disseram se tratar de uma contaminação, embora fosse apenas uma única bactéria. O micro-organismo estava dormente e ganhou vida novamente na Terra. Além da contaminação, o sequenciamento em Marte reduziria o tempo para obter essa amostra, caso ela fosse enviada para ser analisada por aqui.

Mas este é um projeto de alto risco. As moléculas de DNA possuem uma meia-vida de 521 anos (tempo que leva para metade das ligações fosfodiéster se romperem), portanto temos que acreditar que exista vida agora em Marte, ou organismos mortos há menos de 1,5 milhões de anos, caso contrário os fragmentos encontrados seriam muito pequenos e não trariam informações úteis. Além disso, nada garante que as formas de vida que possam existir por lá tenham os mesmos componentes do nosso DNA.

O espaço parece um local improvável de abrigar formas de vida como conhecemos, seja por conta da baixa temperatura, pouco oxigênio ou elevada radiação. Mesmo sem foguetes podemos encontrar organismos que vivem em condições que não consideramos favoráveis. Esses organismos são os extremófilos, ou seja, eles adoram condições extremas de pH, salinidade, temperatura ou radiação. Um caso interessante é a bactéria Deinococcus radiodurans, encontrada vivendo dentro de reatores nucleares. É provável que esses sejam os tipos de organismos que possamos encontrar em outros planetas.

MarteAlém de micro-organismos que conseguem sobreviver em condições que consideramos extremas, novas
evidências obtidas pelo robô Curiosity da NASA sugerem que o planeta já foi habitável. A análise de uma rocha sedimentar mostrou a presença de enxofre, nitrogênio, hidrogênio, oxigênio, fósforo e carbono, o que aumenta as chances de um possível sequenciamento dar certo.

Caso seja encontrado DNA, teremos mais evidências para sustentar a hipótese de que a vida não teve origem aqui na Terra e que ela pode ter evoluído de forma diferente em outros planetas. Uma próxima viagem para Marte está planejada pela NASA para 2018, mas nem Venter nem Rothberg tem lugar garantido ainda. O que torna a corrida ainda mais emocionante.

 

Referências:

Manaus no iGEM

A história do Brasil do iGEM começou em 2009 com a Unicamp, que também nos representou em 2011. Ano passado foi a vez do nosso time, da USP em parceria com a Unesp. Neste ano, ficamos muito felizes de saber que teremos mais times brasileiros na competição. Até o momento estão inscritos 3 times que representarão nosso país na competição!! E um deles é o time Manaus_Amazonas-Brazil.

Neste post vamos contar um pouco sobre o time do Amazonas e seu projeto. Diferentemente do time da USP, cuja iniciativa começou por parte dos estudantes, o time de Manaus começou por iniciativa do professor Carlos Nunes. Ano passado nosso time teve o prazer de conhecer o professor Carlos que acompanhou a competição para este ano montar um time na sua universidade.

Segue abaixo um pouco do time e de seu projeto, contado pelos próprios alunos integrantes:

Como tudo começou

No final do ano de 2012, graças ao incentivo do professor Carlos Nunes, começamos a nos interessar pelo iGEM e a nos reunir. No início, muitos não tinham ideia de como fazer funcionar a dinâmica do grupo, muito menos como formar um, além de qual projeto iríamos propor.

Após pesquisar e estudar os projetos das equipes anteriores e ter uma melhor noção sobre a competição, começamos a colocar nossa criatividade para funcionar e elaborar ideias/projetos bem distintos. Não foram poucas as inspirações e chegamos a algumas propostas: a bactéria armadilha para o HIV (“Colitrap”), a detectora de Incêndio (“Firebacter”), a jogadora de Pacman (“Pac-Coli”), a indicadora de temperatura (“TermoColi”), a espartana (“MagnetoColi”) e a escolhida, bactéria produtora de energia elétrica (“Electrobacter”).

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O projeto

manausfig1O foco principal da Electrobacter é degradar gorduras de óleos de fritura residuais amplamente utilizados e descartados por redes de restaurantes para a geração de energia elétrica, pois os mesmos, quando são descartados inadequadamente, apresentam-se como um agente poluidor ao ambiente e o tratamento para eliminar esses poluentes requer o uso de produtos químicos tóxicos, além de o processo ser oneroso e pouco efetivo.
Apesar de já existirem alternativas para o aproveitamento dos óleos de fritura como a produção de sabão, o direcionamento de gorduras para geração de energia trará uma nova opção de bioenergia por meio da biorremediação.

A bactéria Shewanella amazonensis que pretendemos utilizar é capaz de fazer o transporte de elétrons dispostos no meio, gerando eletricidade. A proposta é melhorá-la geneticamente para degradar estes óleos através da β-oxidação (reação bioquímica de quebra de gorduras), potencializando a produção de elétrons.  O gênero Shewanella é um grupo de bactérias que foram descobertas recentemente e os estudos sobre ela ainda são escassos, principalmente na área da biologia molecular, porém seu potencial não só pela possibilidade de geração de energia, quanto pela sua habilidade de captar metais dispostos no meio.  Entre as possibilidades de como modifica-la, optamos por dois caminhos: modificar o repressor ou o promotor dessa via metabólica. Tanto de uma forma quanto da outra, a β-oxidação será possível mesmo com a presença mínima de glicose no meio, porém os efeitos dessa intervenção genética deverão ser estudados de perto para que não tenhamos que sempre deixá-la em condições de estresse.

Com esse o projeto de caráter ambiental e ecológico, estamos empolgados, determinados a participar do iGEM e ser o primeiro time a representar o estado do Amazonas.

 

As dificuldades

Infelizmente, não só de determinação e força de vontade vive um time do iGEM. Uma das principais dificuldades é pagar a inscrição do time na competição que custa em torno de 3 mil dólares, que paga não somente a inscrição como o envio das partes biologicas necessárias ao projeto e custos do evento. A universidade, bem como agências de fomento de pesquisa, não tem programas de apoio para uma competição como o iGEM. Ano passado, contamos com a colaboração de mais de 40 pessoas do mundo todo que nos apoiaram através do chamado crowdfunding.

Se você ficou triste pois perdeu a oportunidade de apoiar um time brasileiro a fazer ciência de uma forma inovadora e divertida, o time de Manaus está precisando de apoio e você pode colaborar por aqui.

 

Para saber mais sobre o grupo:

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