Produção em massa, o jeito chinês de fazer ciência
Depois de 35 anos de impressionante desenvolvimento, a China começa a ser reconhecida não apenas pela sua capacidade de produzir e exportar produtos de baixo custo mas também com alta tecnologia. E não são apenas bens materiais que ela anda produzido em massa, mas agora o sequenciamento do DNA, por exemplo. É o que alguns já estão chamando de “Bio-Google”. Seguindo a filosofia, “sequenciar tudo aquilo que se mexe”, o Beijing Genomics Institute (BGI) possui 50% da capacidade de sequenciamento do mundo e já leu mais de 50.000 genomas nos últimos anos.
O BGI fica localizado em uma antiga fábrica de sapatos em Shenzhen, o Vale do Silício chinês, e participa de projetos que vão desde sequenciar uma bactéria até a busca por genes ligados à inteligência. Muitos dos estudos são conduzidos por pesquisadores de todas as partes do mundo, e o BGI oferece preços baixos e até de graça para aqueles que compartilham seus resultados.
Um desses projetos, chamado 3M, planeja sequenciar 3 milhões de genomas, sendo 1 milhão de plantas e animais, 1 milhão de humanos e 1 milhão de microrganismos. O Instituto participa de outras iniciativas como o controverso sequenciamento de 2000 pessoas com QI elevado para desvendar genes que influenciam na inteligência. Há também o sequenciamento de 10.000 pessoas com autismo, o de 2.000 pessoas obesas e o de 2.000 magras. Além disso, também possui uma parceria com a fundação Bill e Melinda Gates para o desenvolvimento da agricultura e saúde em países subdesenvolvidos. Trabalhando em projetos como esses, o BGI já colaborou em mais de mil publicações em revistas de alto impacto como Nature, Science e Cell.
O Instituto está chamando a atenção do mundo pelo volume de dados que estão sendo produzidos. Segundo Lincoln Stein, pesquisador do Ontario Institute for Cancer Research, a questão agora não é mais o quão próximo estamos de um sequenciamento do genoma que custe U$1.000, mas sim, de uma análise do genoma a U$100.000. Outro desafio é o armazenamento de tudo isso, já que 6 terabytes de dados são produzidos por dia.
Zhang Yong, um dos pesquisador do BGI, acredita que na próxima década o Instituto será capaz de organizar toda essa informação biológica em uma espécie de “Bio-Google”.
Muitos achavam que o BGI estava apenas prestando um serviço, quando em 2013 ele adquiriu um fabricante de equipamentos e software para sequenciamento localizado na Califórnia, a Complete Genomics, e isso já está tirando o sono de muita gente. Agora a pesquisa pode se tornar ainda mais barata, já que equipamentos e reagentes representam grande parte do orçamento.
Enquanto isso no Brasil, a falta de planejamento de médio e longo prazo, a dificuldade em reter pessoas qualificadas, a ausência de uma cultura empreendedora que estimule a criação de empresas que sirvam de sustentação à pesquisa, nos deixa cada dia ainda mais distante dos centros de vanguarda. E isso apenas contribui para elevar nosso custo em P&D, além de nos tornar reféns de equipamentos e reagentes importados, notadamente agora com o dólar passando a barreira dos R$3,00. Talvez em breve nossas amostras sejam analisadas por um equipamento chinês em Los Angeles, Istambul, Shenzhen, ou então, numa facility chinesa ao lado da sua casa.