Estômago vence cérebro na política

O neurocientista Jonah Lehrer vê a eleição presidencial norte-americana como uma escolha entre dois estilos cognitivos. Apesar de cientistas demonstrarem o papel crucial da emoção na tomada de decisões complexas, todos concordam que mais importante é a capacidade de refletir sobre a própria maneira de decidir. Infelizmente, pouca gente valoriza a virtude de duvidar de si mesmo. Um político reflexivo, nos EUA e no Brasil, é “um banana”… LINK (via The Frontal Cortex).

Galáxia espiral NGC 7331

Essa linda imagem da galáxia NGC 7331 foi tirada com uma câmera acoplada ao telescópio de 3,5m de diâmetro do observatório de Calar Alto, na Espanha. Para saber mais e ver uma imagem com resolução muito maior, visite a página da Imagem Astronômica do Dia, que traduz para o português as explicações das imagens selecionadas pelo Astronomy Picture of the Day (parabéns pela inicativa!).

Para realçar os detalhes da galáxia, a imagem obtida depois de mais duas horas de exposição foi processada usando uma técnica matemática conhecida como ondaletas, que permite separar estruturas de diferentes tamanhos na imagem. Para mais detalhes visite a página do observatório de Calar Alto.

Phoenix vê redemoinhos de vento em Marte

A sonda Phoenix flagrou este redemoinho de vento, dia 9 de setembro. A animação é composta de três fotos tiradas a cada 50 segundos. Crédito: NASA/JPL-Caltech/University of Arizona/Texas A&M University

Phoenix caught this dust devil in action west of the lander in four frames shot about 50 seconds apart from each other on Sol 104, or the 104th Martian day of the mission, Sept. 9, 2008. Image credit: NASA/JPL-Caltech/University of Arizona/Texas A&M University

Lembram dos redemoinhos em Marte de que falei em um post anteiror? A sonda Phoenix da Nasa não só fotografou vários redemoinhos desses passando perto dela (veja detalhes em reportagem da New Scientist e no site da missão Phoenix), como pode ter sido atingida no dia 12 de outubro por um deles, como indica a análise de imagens de uma espécie de “cauda” da sonda pendurada balançando ao vento. A cauda não é  uma  peça solta por acidente, mas sim um dispositivo desenvolvido por um grupo de pesquisadores dinamarqueses, canadenses e americanos, que faz parte da estação meteorológica da Phoenix, desenvolvida pela agência espacial do Canadá.

Economistas precisam aprender sobre sistemas dinâmicos

O escritor Tim Harford, do conselho editorial do jornal Financial Times, dá um puxão de orelha nos colegas economistas em um comentário sobre o fracasso de indicadores tradicionais, como a inflação, em captar as mudanças na economia:

Como qualquer estudante de graduação em economia sabe, tanto macroeconomistas quanto microeconomistas tendem a descrever mudanças da mesma maneira que uma propaganda de sabão em pó faz: “antes” e “depois”. Quando o petróleo custa $20 o barril a economia se parece assim; agora o petróleo custa $100, a economia se parece assado. Exatamente como o processo de mudança ocorreu–ou quão rapidamente–é um problema ignorado nos livros texto e na maioria dos periódicos científicos.LINK

Harford acredita que é uma questão de tempo os economistas começarem a usar e adaptar as ferramentas matemáticas que os cientistas usam para estudar sistemas dinâmicos, como a propagação de doenças e as transições entre as fases da matéria. Talvez, depois de tantos anos ignorando os sistemas dinâmicos, serão os próprios economistas aqueles a revolucionar esse campo de pesquisa….

Soube via o blog do Philip Ball, que faz observações pertinentes, como ressaltar o fato da propagação de doenças poder ser descrita como transições de fase.

Ópera sobre nascimento da bomba atômica em cartaz em NY

cartaz da ópera Doctor Atomicus

cartaz da ópera Doctyor Atomicus

Estreou dia 13 de outubro no Metropolitan Opera House da cidade de Nova York uma nova montagem da ópera Doctor Atomicus, de 2005, com libreto de Peter Sellars e música de John Adams.

Leia o que meu compositor contemporâneo favorito diz sobre a sua obra, segundo ensaio de Dennis Overbye publicado no The New York Times:

“A bomba é uma constelação de tudo o que a América acredita”, disse recentemente Mr. Adams. Por um lado há a habilidade, o idealismo e a paixão na luta para derrotar o facismo. Por outro lado, há “a onerosa responsabilidade” de ter construido uma arma capaz de destruir toda a vida e então usá-la.

“É ying e yang, escuridão e luz”, ele diz. LINK

Anthony Tommasini afirma em sua resenha para o The New York Times estar impressionado com a complexidade da música:

Seções inteiras de escrita orquestral vibram com cores granulares, sonoridades nubladas e densidade textural. Mr. Gilbert [o maestro Alan Gilbert] expõe detalhes internos e elementos estratificados da música: fraseados obsessivos, acordes em aglomerados pungentemente dissonantes, linhas instrumentais solo elegíacas que vagam de maneira extrema por cima de ornamentações orquestrais nervosas e agitadas. Embora realçando as complexidades, ele nunca atrapalha a forma orgânica da música e seu impulso a frente. A tensão aumenta à medida que Mr. Adams empilha uma barulheira de ritmos imbatíveis e métricas fraturadas, com os acordes da orquestra explodindo em cacos de escombros harmônicos: chame isso de Minimalismo Atômico. LINK

Outras músicas de John Adams que adoro: Nixon in China, Harmonielehre , The Chairman Dances, Tromba Lontana, Short Ride in a Fast Machine, Fearful Symmetries, Lollapalooza , Violin ConcertoNaive  and Sentimental Music.

Adams escreveu uma autobiografia, resenhada recentemente no New York Times.

Richard Preston fala de jornalismo científico como literatura

Tapeçaria “O Unicórnio em Cativeiro”, 1495-1505, da coleção The Cloisters, Nova YorkTapeçaria "O Unicórnio em Cativeiro", 1495-1505, da coleção The Cloisters, Nova York

Uma aula para o escritor iniciante interessado em ciência é a entrevista que Richard Preston concedeu a Carl Zimmer. Confira na íntegra, no blog de Zimmer, The Loom.

Preston coemça dizendo que o que o interessa na ciência e o que ele precebe que também move os cientistas com quem conversou não é a mera compilação de fatos e teorias sobre o mundo. “Ciência tem haver a ver com mistério, com portas que nunca foram abertas e coisas que nunca foram antes vistas.”

Na marca dos 19 minutos de conversa, mais ou menos, Zimmer comenta que o novo livro de Preston, Panic Level 4, além de ser uma compilação de textos publicados originalmente na revista The New Yorker, pode ser lido como “o retrato de um escritor de ciência”. Zimmer então pergunta à Preston como ele se interessou por escrever sobre ciência. Preston conta que, enquanto completava seu doutorado em literatura na Universidade de Princeton, resolveu assitir ao curso de graduação “A Literatura do Fato”, ministrado por John McPhee. Preston se apaixonou pela própria noção de nonfiction writing, e percebeu o potencial de explorar por meio desse gênero literário os recantos mais obscuros e profundos da existência humana. Resolveu também dar vazão a sua antiga paixão pela ciência, escolhendo assuntos científicos.

Aos 26 minutos, Preston explica como a partir de suas entrevistas consegue construir uma narrativa no estilo dos diálogos interiores de James Joyce. Zimmer quer saber qual é o segredo para penetrar tão profundamente na mente dos entrevistados. “Carl, eu sou que nem a KGB, sem a tortura física. É uma questão de entrevistar, re-entrevistar e re-entrevistar…”

Zimmer e Preston se queixam da indisposição de muitos cientistas em falar sobre experiências pessoais, mesmo com relação ao trabalho.

Na coletânea Panic Level 4 há duas reportagens disponíveis para ler de graça no site da revista The New Yorker.

A mais recente, de 2005, “Capturing the Unicorn”,conta a história da restauração e documentação fotográfica da tapeçaria Unicórnio em Cativeiro. Para juntar corretamente o mosaico de fotos digitais de alta reolução da tapeçaria, os curadores do museu procuram os irmãos Chudnovsky, um par de gênios matemáticos que usa seu supercomputador para reconstituir a estrutura tridimensional do entrelaçamento dos fios da tapeçaria. Ao entrelaçar narrativas, descrições e explicações científicas, Preston provoca ressonâncias de emoções, sensações, idéias e símbolos por todo o texto, fazendo dele mesmo uma intrincada tapeçaria.

Os irmãos Chudnovsky foram também os protagonistas da reportagem “Mountains of Pi“, publicada em 1992. Embora não ache a forma do texto tão envolvente quanto a do Unicórnio, que escritor não venderia a alma para começar uma reportagem com a frase “Gregory Volfovich Chudnovsky recently built a supercomputer in his apartment from mail-order parts.“?

Acompanhando a história dos irmãos matemáticos que calculam dois bilhões de algarismos do número pi em um computador na sala de estar, conhecemos os personagens e o cenário da história em primeira mão. Posso ver o corredor escuro da casa de Gregory Chudnovsky, sem uma foto sequer ilustrando o artigo, e, em seguida, aprender mais sobre números transcendentais do que me ensinaram na graduação em física na USP.

A história dos irmãos Chudnovsky inspirou o excelente filme Pi, de Darren Aronofsky.

Buracos Negros, do PP ao XG

A capa da Science News desta semana é uma longa reportagem de Charles Petit sobre o trabalho da astrofísica Priyamvada Natarajan, da Universidade de Yale, que propõe um limite para a massa dos buracos negros do Universo. Se a análise controversa de Natarajan estiver correta, os buracos negros não conseguem comer matéria suficiente para engordar mais do que algumas dezenas de bilhões de massas solares.

Petit reporta que atualmente os astrofísicos consideram os buracos negros essenciais para entender a evolução das galáxias:

(…)Um novo paradigma em construção é que os buracos negros–em uma dança de auto-regulação mútua–podem influenciar quase tudo sobre a origem, forma e o destino final das galáxias. Por razões ainda não completamente compreendidas, parece que os tamanhos dos buracos negros centrais e as massas das suas galáxias, especialmente os bojos centrais, estão quase perfeitamente em compasso.

Assim como as peças de roupa, parecem existir apenas alguns tamanhos de buracos negros:

  • Buracos negros de massa estelar–entre 5 e 10 massa solares, formados do colapso de estrelas massivas. Tamanho aproximado de 30 km.
  • Buracos negros de massa intermediária–entre 100 e um milhão de massas solares, se formam supostamente da colisão e fusão de estrelas em aglomerados estelares densos. Tamanho aprox. de 60.000 km.

  • Buracos negros supermassivos–entre um milhão e alguns bilhões de massas solares, formados no centro das galáxias pela acresção de gás e pela colisão com buracos negros no centro de outras galáxias que colidem com sua galáxia hospedeira. Tamanho aprox. de 25 milhões de km.

  • Buracos negros ultramassivos–no máximo algumas dezenas de bilhões de massas solares, se formam da mesma maneira que os buracos negros supermassivos. Tamanho de aprox. de 60 bilhões de km.

Quando os buracos negros gigantes sugam o gás da galáxia, esse gás se aquece durante o processo. A teoria de Natajaran é que o gás de uma galáxia abrigando um buraco negro ultramassivo em seu centro pode ficar tão quente a ponto da sua agitação térmica impedir que ele caia dentro do buraco. A própria glutonaria do buraco impõe o fim de sua dieta.

Manual do cientista faminto

Vinho de romã, saleiro veleiro, origami de wonton, porta copos que muda de cor e lingerie comestível são as receitas do livro The Hungry Scientist Handbook selecionadas pela revista Wired deste mês:

Acha que sua cozinha é apenas uma estação de preparo e consumo de alimentos? Seu ludita. Equipada com água corrente, chama à gás e uma série versátil de ferramentas e substâncias químicas, ela é o local perfeito para testar suas idéias e montar invenções.LINK

A estréia da antimatéria na ficção científica

Um ensaio na revista Symmetry de setembro conta a história de uma das primeiras aparições da antimatéria em histórias de ficção científica. O físico William Higgins, do Fermilab, explica que o editor da revista Astounding Science Fiction (que ainda existe, chamada de Analog), John Campbell Jr., se interessou em 1941 por uma controvérsia entre cientistas, sobre a possibilidade de existirem asteróides feitos de antimatéria vagando pelo Sistema Solar.

A antimatéria havia acabado de surgir por acaso em uma nova teoria proposta por Paul Dirac, em 1928, para explicar o comportamento dos elétrons próximos à velocidade da luz, e sua existência havia sido recém descoberta por Carl Anderson, em 1932.

Assim como a matéria de que somos feitos, a antimatéria é composta de partículas subatômicas, chamadas de antipartículas. Para cada tipo de partícula, existe um tipo de antipartícula de mesma massa, com as suas características invertidas. Por exemplo, existe o elétron, que tem uma carga elétrica negativa; e existe o antielétron, com massa igual a do elétron e com a mesma carga elétrica, só que positiva. O próprio Paul Dirac imaginou que o antielétron poderia se juntar com um antinúcleo feito de antiquarks para formar antiátomos, que por sua vez se juntariam em antimoléculas, que constituiriam anticriaturas, que viveriam em antiplanetas, em volta de antiestrelas.

Hoje sabemos que o universo inteiro deve ser feito de matéria, enquanto a antimatéria existe apenas em minúsculas quantidades, somente por alguns instantes, durante colisões subatômicas de grande energia. Mas isso não estava claro na época–daí a controvérsia que chamou a atenção de Campbell.

Quando uma partícula colide com uma de suas antipartículas, as duas desaparecem. A energia do seu movimento e de suas massas são transformadas em uma explosão de novas partículas. Pode nascer praticamente qualquer tipo de partícula, desde que a energia da colisão seja suficiente. Partículas mais pesadas requerem mais energia para surgir e tendem a viver por menos tempo, logo se transformando em partículas de massa menor. É por isso que as partículas que mais surgem nessas explosões são as partículas de luz, chamadas de fótons, cuja massa é zero. Quando um fóton colide com outro, também ambos se aniquilam e, se a energia deles for suficiente, surgem pares de partículas e antipartículas.

Campbell pediu ao escritor Jack Williamson (1908-2006) um conto sobre astronautas que arriscavam a vida em órbita de asteróides feitos de antimatéria, para coletar a energia das colisões entre matéria e antimatéria.O resultado foi o conto Collision Orbit, publicado pela Astounding em 1942. Na história, o engenheiro protagonista usa um sistema de imãs que captura antimatéria sem encostar nela, evitando explosões. O mesmo princípio está por trás das atuais armadilhas de Penning, usadas nos laboratórios de partículas elementares para capturar e armazenar antipartículas.

Fiquei sabendo do ensaio via Boing Boing.

Professores de ciência: não percam a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia

Nesta semana acontecem em todo o Brasil inúmeros eventos de divulgação científica, em mais uma edição da já tradicional Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, promovida pelo governo federal. Confira a programação neste site.
Aqui em São Paulo, uma boa idéia para professores de ciências é levar suas turmas à Praça do Relógio, na Cidade Universitária da USP, onde monitores voluntários de vários institutos da universidade darão palestras e farão demonstrações.
Infelizmente, a própria USP não divulgou o evento. Não achei nada sobre a Semana em destaque no site da USP, nem no site da agência USP de notícias. Tsk, tsk, tsk…

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