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Bambiraptor? Pintosaurus!?– Os nomes mais estranhos da Paleontologia!

Com contribuição de Thiago Marinho

O bicho é meu e eu coloco o nome que eu quiser nele!!!

Pintossauro, Gasossauro, Dinheirossauro, Fodonyx, Bambiraptor…? A lista é longa! Um mais estranho que o outro! Mas porque eles foram batizados assim?

Veja aqui uma amostra dos nomes mais estranhos da Paleontologia!

Ai Ai Estou Morrendo Seu Idiota da Silva Sauro

Quem não lembra do episódio da Família Dinossauro em que Baby é levado para o grande sábio afim de receber um nome, mas algo inesperado acontece? Ele acaba recebendo um nome meio que, digamos… incomum: “Ai Ai Estou Morrendo Seu Idiota da Silva Sauro”.

(se você nunca assistiu, veja o episódio AQUI 🙂 ).

Isso nos leva a pensar: Afinal, como são escolhidos os nomes dos dinossauros??

Certamente não é como no episódio da família dinossauro (ver post anterior), mas ainda assim parecem surgir alguns resultados meio… incomuns.

Neste post vamos reunir alguns dos nomes mais inusitados já escolhidos por paleontólogos.

Não são só os dinossauros que sofrem, mas toda ‘sorte’ de criatura extinta…

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Os 10 mais!

And the Oscar goes to:

1) PINTOSAURUS: gênero basal de procolofonídeo. Procolofoquê? Procolofonídeo! Procolofonídeos são pararépteis que lembram muito um “tipo robusto de lagarto”, mas na verdade não tem nada a ver com eles (Veja AQUI e AQUI para saber mais). Pintosaurus  foi descrito em 2004, encontrado em rochas de idade Permo-triássicas do Uruguai. Pinto- foi escolhido para homenagear o Dr. Iraja Damiani Pinto, paleontólogo gaúcho que contribuiu substancialmente para paleontologia sulamericana. (…)

2) CHUPACABRACHELYS: Trata-se de uma tartaruga do período Cretáceo, que foi encontrada no Texas, USA. Não tem muito a dizer… o nome realmente foi em homenagem ao “chupa-cabra”

3) GASOSAURUS CONSTRUCTUS: Dinossauro terópode chinês de médio porte. O nome foi escolhido para homenagear uma empresa de combustível. O dinossauro foi encontrado durante sua construção, por isso o nome da espécie é ‘constructus‘.

4) DINHEIROSAURUS LOURINHANENSIS: Uma espécie de dinossauro saurópode gigante, aparentado ao Diplodocus. Ele foi encontrado na região da Praia de Porto Dinheiro, concelho de Lourinhã, em Portugal. O nome deriva do local aonde ele foi encontrado. Tinha que ser um dinossauro português..

5) BAMBIRAPTOR: Sim, esse é um dinossauro que foi nomeado em homenagem ao Bambi. Isso mesmo, aquele personagem da Disney (…!!). Trata-se de um pequeno dinossauro carnívoro, com menos de 1m de comprimento. O nome foi escolhido porque aparentemente o espécime encontrado era um juvenil.

6) FODONYXRincossauro do Triássico Médio da Inglaterra. O nome significa “garra escavadora”. Em latim “fodere“=escavar e “onyx“=garra. “Tchau! vou ‘fodere’ dinossauros!”

7) MINOTAURASAURUS: Tipo de dinossauro anquilossaurídeo proveniente da Ásia. Foi descrito em 2008. O nome significa “Homem-touro-lagarto”.

8) GOJIRASAURUS: Gênero dúbio de dinossauro terópode encontrado em rochas triássicas do Novo México, EUA. O nome foi em homenagem ao monstro mitológico japonês. Gojira…. Gojira….Gojira…

Incisivosaurus – não é só o nome que é feio…

9) INCISIVOSAURUS: Um pequeno dinossauro terópode da China, provavelmente de hábito herbívoro. Sua dentição peculiar, com dentes proeminentes como os e um roedor, foi o que lhe rendeu o nome estranho.

10) PIKAIA: Representante basal do grupo dos cordados. O nome dessa criaturinha Cambriana encontrada em Burgess Shale significa “da Pika”. Pika é um tipo de pequeno mamífero aparentado dos coelhos, comumente encontrado na região aonde os fósseis de Pikaia foram descobertos. (Eu ri!)

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No mínimo exóticos:

– Enigmosaurus: Grande dinossauro terópode herbívoro (Therezinosauróide) do Cretáceo da Mongólia. Quando os seus restos foram encontrados, a anatomia não usual da pélvis do bicho deixou os seus descobridores tão confusos, que lhes pareceu um verdadeiro enigma. Assim sendo, resolveram nomeá-lo dessa forma.

– Camelotia: Gênero de um dinossauro prossaurópode do Triássico Inglaterra. Seu nome significa “de Camelot”. Camelot trata-se do lugar lendário na Grã-Bretanha, que teria abrigado o castelo e a corte do Rei Arthur.

– Erectopus: Dinossauro terópode allossauróide do Cretáceo da França. Descoberto no final do Século XIX, o seu nome significa: “Erecto=em pé”, “Pous=Pé”. Hm…

– Minmi: Dinossauro australiano da infraordem Ankylosauria. O nome é devido à Minmi Crossing, o lugar onde seus fósseis foram descobertos.

– Hallucigenia: Gênero de invertebrado fóssil do Período Cambriano. O nome é devido a sua forma bizarra, que aos olhos dos descobridores mais parecia uma alucinação. Já viu né!!

– Drinker: Pequeno dinossauro hypsilofodontídeo do Jurássico da América do Norte. O nome, traduzido do inglês significa “bebedor”, mas essa não foi a intenção, ele foi proposto para homenagear o renomado paleontólogo Edward Drinker Cope.

– Gargoyleosaurus: Um dos mais antigos anquilossauros já descobertos. Gargoyleasaurus foi encontrado em Wyoming, em rochas de idade Jurássica. Seu nome significa “lagarto gárgula”.

– Xixiasaurus: Dinossauro terópode troodontídeo descrito em 2010. Seus restos foram encontrados na região administrativa de Xixia, na província de Henan, China.

– Pawpawsaurus: Gênero de dinossauro da família Nodosauridae, da infraordem Ankylosauria. Seus restos foram encontrados na Formação Paw Paw, Texas, USA. Eu não consigo falar sem rir!
– Pedopenna: Dinossauro manirraptor do Jurássico da China. Pedopenna significa “pena no pé”. Este dinossauro recebeu esse nome por apresentar evidências da existência de longas penas inseridas ao longo de seus metatarsos.
– Ozraptor: Dinossauro terópode encontrado na Austrália, descrito em 1998. “Oz” faz referência ao apelido dado aos australianos,“Ozzies”.
– Borogovia: O nome deste dinossauro carnívoro troodontídeo é derivado dos “borogoves”, criaturas de um poema de Lewis Carroll,  Jabberwocky, parte da obra “Alice no país das Maravilhas”.
– Appalachiosaurus: Gênero de dinossauro terópode tiranossauróide do Cretáceo da América do Norte. O nome faz referência a região estadunidense conhecida como Appalachia, onde o fóssil do animal foi encontrado.

– Petrobrassaurus puestohernandezi: Dinossauro saurópode argentino. Foi descrito em 2011. O nome do gênero realmente é devido a companhia de petróleo brasileira, Petrobrás, e o nome específico se refere a “Puesto Hernandez”, um dos centros de extração da companhia, aonde o dinossauro foi encontrado.  Ahhh, invejosos! Queridos!!

– Atlascopcosaurus: Este dinossauro australiano recebeu seu nome em homenagem a companhia Atlas Copco. Esta companhia forneceu o equipamento para a expedição paleontológica que resultou na descoberta do novo dinossauro. Capessaurus, Fapespsaurus, Cnpqsaurus, vamo lá, galera!!

– Qantassaurus: Este dinossauro hypsilofodontídeo foi nomeado para homenagear a empresa aérea australiana, Qantas, que ajudou no transporte dos fósseis. Conclusão: australiano não sabe dar nome pra dinossauro!!

– Panamericansaurus: Outro gênero de dinossauro saurópode da Patagônia argentina. Foi descrito em 2010. O nome foi para homenagear a companhia petrolífera Pan American Energy, que deu apoio financeiro às pesquisas.

ArgentinosaurusAh…Esse só pra sacanear mesmo. Bonito nome.

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Homenagens curiosas:

Utahraptor spielbergi – Esse dinossauro raptor foi descoberto na semana de estréia do filme Jurassic Park. O nome da espécie foi escolhido para homenagear Stephen Spielberg, diretor de “Jurassic Park”. Posteriormente re-descrito, o nome da espécie mudou para ostrommaysorum. Depois de ganhar milhões com Jurassic Park, acho que S. Spielberg não deve ter ficado chateado….

Arthurdactylus conan-doylensis – Este pterossauro recebeu seu nome em homenagem a Sir Arthur Conan-Doyle, autor de “O Mundo Perdido“, mais conhecido pela sua série de livros “Sherlock Holmes”.

Tianchisaurus nedegoapeferima (Informalmente chamado de Jurassosaurus) – Tendo doado dinheiro para pesquisa de dinossauros na China, Stephen Spielberg sugeriu para esse dinossauro o nome de Jurassosaurus – em razão do lançamento do filme Jurassic Park em 1993.  O nome esdrúxulo só pegou na informalidade. Porém ainda assim, o nome da espécie (nedegoapeferima) homenageia Jurassic Park: ele é formado pelas letras iniciais dos sobrenomes dos principais atores/atrizes que participaram do filme: Sam Neil, Laura Dern, Jeff Goldblum, Richard Attenborough, Bob Peck, MartinFerrero, Ariana Richards e Joseph Mazzello.

Dracorex hogwarsia – O coitado desse bicho foi batizado como um tributo a obra de J.K. Rowling, “Harry Potter“. – hogwarsia faz alusão a ‘Hogwarts’, a escola de magia.

Mimatuta morgoth – O Professor da Universidade de Chigado, Leigh Van Valen, nomeou uma série de mamíferos paleocênicos com base em personagens da série de livros “Senhor dos Anéis”. Morgoth foi em homenagem ao “The Dark Lord”, mas além dele ainda temos:

Alletodon mellon – mellon é a palavra élfica para “amigo” e a senha para a entrada nas minas de Moria.

Mithrandir onostus – Mithrandir sendo outro nome para Gandalf.

Oxyprimus galadrielae – Em homenagem a Lady Galabriel.

Protungulatum gorgun – ‘gorguns’ são os orcs.

Bom gosto esse cara.

Masiakasaurus knopfleri – Esse pequeno dinossauro predador recebeu seu nome em homenagem a Mark Knopfler, guitarrista da banda Dire Straits. De acordo com Scott Sampson, seu descobridor, o time resolveu batizar assim o dinossauro depois de escutar Dire Straits durante a escavação. De acordo com eles, novos dinossauros só eram encontrados quando esse som estava no rádio. Já tentamos essa tática, mas pra gente só funciona com “Hotel California” do Eagles… #sarcasmo

Aegrotocatellus jaggeri –  Essa espécie de trilobita foi nomeada realmente a fim de homenagear estrelas do rock! O nome da espécie (jaggeri)  foi um tributo a Mick Jagger, vocalista do Rolling Stones, enquanto que o nome do gênero “Aegrotocatellus” significa em latim “Sick Puppie” (ver a banda de rock alternativo australiana ‘Sick Puppies‘).

aegrotocatellus-jaggeri
Jagger e seu trilobita

Um dos caras que ajudou a descrever esse trilobita (Greg Edgecombe), não satisfeito, nomeou uma outra série desses artrópodes primitivos com nomes de integrantes de bandas!  Ele homenageou Sex Pistols (Arcticalymene viciousi, A. Rotteni, A. jonesi, A. cooki, A. matlocki), Ramones (Mackenziurus johnnyi, M. joeyi, M. deedeei, M. ceejayi), John Lennon, Ringo Star e Simon & Garfunkel (Avalanchurus lennoni, A. starri, A. simoni, A. Garfunkeli).

Norasaphus monroae Esse trilobita foi uma homenagem de Richard Fortey, paleontólogo inglês, a Marlin Monroe.

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Trava-línguas:

– Malawisuchus mwakayasyunguti  Malawisuchus m(coloque-letras-nesse-espaço)

Piatzinigkosaurus – WTF? Isso foi sacanagem dos argentinos.

Huehuecanauhtlus tiquichensis – uheuheueheuh!! 

– Nqwebasaurus – Primeiro dinossauro com o som de “CLICK” em seu nome. Pronuncia-se: N – (som de click com a língua) – KWE – BA – SAU – RUS. Nqweba é o nome do lugar aonde o dinossauro foi encontrado, na África do Sul. Trata-se de uma palavra na língua da tribo Bantu.

– Jinfengopteryx – China 1

Jingshanosaurus – China 2

– Szechuanosaurus – China 3

– Jinzhousaurus China 4. Os nomes chineses sempre são os mais impossíveis!

– Phuwiangosaurus – Tailândia.

– Bruhathkayosaurus – Índia. Correção: Os nomes asiáticos são sempre os mais impossíveis.

– Parapropalaehoplophorus – fale-3-vezes-rápido!

–> Agora-fale-tudo-junto!!!!

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“Éééé do brasiiilll!!!”

Como se já não bastasse o Baurusuchus e lanches salgadoensis (Veja o post anterior), ainda temos uma série de crocodilos tupiniquins com nomes estranhos:

Morrinhosuchus – Ganhou seu nome em homenagem a um morro  (!) que fica próximo ao local de coleta do fóssil, o “Morrinho de Santa Luzia”.

Barreirosuchus – Mais uma alusão ao local de coleta, o bairro de Barreiros, em Monte Alto, SP;

Caipirosuchus paulistans – que significa “o crocodilo caipira de São Paulo”.

– Pepesuchus – O nome foi uma homenagem ao Prof. José Martin Suárez (conhecido pelos colegas como Pepe).

Fora os dinossauros:

Oxalaia quilombensis – O gênero é uma referência a divindade africana ‘Oxalá’ e a espécie refere-se aos alojamentos quilombolas da Ilha do Cajual (local onde o fóssil foi encontrado).

– Irritator challengeri – Dinossauro brasileiro nomeado por pesquisadores estrangeiros (David Martill e colegas) que ficaram “extremamente irritados” devido a “restauração” feita pelo seu coletor amador. Buscando fazer o fóssil parecer mais completo e valioso, o coletor clandestino acabou obscurecendo a real natureza do animal e dificultando o trabalho dos pesquisadores. Isso que dá comprar fóssil ilegalmente Dr. Martill!!!  O nome da espécie foi uma homenagem ao Prof. Challenger, personagem do livro “O Mundo Perdido” de Arthus Conan Doyle.

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E para encerrar, Panamericansaurus pra vocês:

[youtube_sc url=”http://www.youtube.com/watch?v=NXZdvgzOvY4″]

* Agradecimentos aos colegas paleontólogos que contribuíram ajudando (pelo facebook!) a reunir os nomes mais bizarros de seus respectivos campos do conhecimento!

>Eodromaeus, um novo dino basal da Argentina e Eoraptor, um Sauropodomorpha

>

Reconstituição de Eodromaeus por Todd Marshall.
A última década tem experimentado uma renascença no estudo dos dinossauros basais e, recentemente, vários deles têm sido descritos, tanto para América do Norte, como América do Sul (Veja síntese de Langer et al., 2010 e Brusatte et al., 2010): o brasileiro Saturnalia, o Saurischia sauropodomorfo Panphagia, ChromogosaurusSanjuansaurus e o recém-descoberto terópode basal, Tawa. A parte disso, uma série de redescrições, reanalíses e trabalhos de filogenia também têm sido feitos, como aqueles de Chindesaurus, Staurikosaurus e Pisanosaurus. Parece ser um momento promissor para os estudiosos da origem e evolução dos dinossauros…

Esta semana na Science, Martinez e colaboradores vieram descrever mais uma figurinha para este álbum: Eodromaeus murphi, da Formação Ischigualasto, Triássico da Argentina. 


Com boa parte de seu esqueleto preservado, sendo que pelo menos 6 espécimes foram encontrados – todos incompletos – , o animal era pequeno e não devia passar dos dois metros de comprimento. Seu crânio era leve e tinha o número de dentes reduzido em comparação com outros dinossauros primitivos, mas curvados e serrilhados, bem característicos daqueles dos dinos carnívoros.

As análises filogenéticas realizadas por Martinez e colaboradores colocaram este novo dinossauro num posicionamento basal dentro do agrupamento dos chamados dinossauros terópodes (que incluem todos os dinos carnívoros). Eodromaeus representaria um  grupo irmão de Neotheropoda e os primitivos herrerassaurídeos. Este status era ocupado antes por Tawa, que com a nova descoberta, foi realocado para dentro dos Neotheropoda.


O que mais chamou atenção nesse trabalho, no entanto, é a recuperação que os autores fizeram de Eoraptor lunensis Rogers & Monetta 1993 em suas análises filogenéticas. Este dinossauro posicionou-se como um Eusaurischia, stem-sauropodomorpha, em politomia com Panphagia e Saturnalia (Saturnaliine, de acordo com Ezcurra, 2010). Sim, o grupo que eventualmente daria origem aos imensos herbívoros saurópodes! Este posicionamento já fora apontado antes por Martinez e Alcobar (2009), mas é a primeira vez que ganha suporte de uma análise filogenética.

Crânio de Eoraptor sendo preparado, Foto de Louie Psihoyos.

Crânio de Eoraptor lunensis, por Digimorph.

Este novo trabalho sem dúvida irá causar um bom debate entre os estudiosos de dinos basais, especialmente considerando-se questões como amostragem de taxa e inclusão de caracteres. Martinez e colaboradores não consideraram vários taxa que entenderam como incompletos ou muito pouco conhecidos.  Esta se trata de uma matrix atualizada do trabalho de Sereno (1999) e não utiliza muitos caracteres observados em outros estudos como os de Langer e Benton (2006), Ezcurra (2006) e Nebsitt e colaboradores (2009). É difícil querer comparar trabalhos que apresentam tantas diferenças no conjunto de dados utilizados.

De qualquer forma, se Eoraptor for de fato um Sauropodomorpha basal, isto é de grande interesse, pois nos aproxima de vislumbrar como teria sido o ancestral comum entre terópodes (grupo que inclui todos os dinos carnívoros) e sauropodomorfos (grupo que daria origem aos gigantes herbívoros de pescoço longo). É importante lembrar, que esta nova interpretação de Eoraptor é somente uma hipótese. Há a demanda de novas investigações, análises e descobertas para determinar realmente qual era a natureza desse animal.

Comparativamente, os dentes de Eoraptor teriam um formato diferenciado e seriam mais bem adaptados
para uma dieta variada, provavelmente onívora e talvez com consumo regular de plantas. Diferente da dentição encontrada em Eodromaeus, apropriada para uma alimentação estritamente carnívora.

Os pesquisadores por trás deste estudo fazem ainda outras observações interessantes em seu artigo, como sobre o padrão evolutivo dos dinossauros basais ao longo do Triássico. Para ler mais sobre isso visitem o site da Science… que infelizmente não disponibiliza seus artigos livremente… :

Martinez, R., Sereno, P., Alcober, O., Colombi, C., Renne, P., Montanez, I., & Currie, B. (2011). A Basal Dinosaur from the Dawn of the Dinosaur Era in Southwestern Pangaea Science, 331 (6014), 206-210 DOI: 10.1126/science.1198467


Outras referências fundamentais:


Brusatte et al., 2010. The origin and early radiation of dinosaurs. Earth-Science Reviews, 101 (1-2): 68-100.
Langer et al., 2010. The origin and early evolution of dinosaurs. Biological Reviews, 85: 55-110.

>Dinossauros Emplumados: A Origem das Aves II

>

Este breve artigo procura dar continuidade à história que começamos a contar neste post aqui. A idéia era discorrer sobre a biografia de alguns importantes grupos de dinossauros terópodes, que ajudaram a lançar luz sobre o estudo da evolução das Aves. Para compreender a evolução desses animais, primeiro nós precisamos investigar e aprender mais sobre os principais grupos de dinossauros proximamente relacionados a elas. O foco da narrativa, então, serão os dinossauros coelurossauros.

Os Coelurosauria são um ramo basal dentro do agrupamento dos dinossauros terópodes (dinossauros bípedes que incluem todos aqueles predadores e algumas curiosas famílias de hábitos herbívoros ou onívoros). O nome refere-se à natureza ‘oca’ das vértebras desses animais, e significa, literalmente, “lagarto oco”. Foi dentro deste clado que ocorreu um dos mais fantásticos eventos evolucionários da história dos vertebrados terrestres: A evolução das aves. Ainda que haja alguma controvérsia sobre qual família dinossauriana teria dado origem às aves modernas, é bem consolidado que ela teria pertencido a esse grupo.

No primeiro post sobre “A Origem das Aves” discorremos brevemente sobre a linhagem dos poderosos tiranossauros (aqui), que formariam o grupo mais basal dentro de Coelurosauria. Já no post de hoje, abordaremos um pouco sobre a história dos Ornithomimosauria, os dinossauros que “imitavam aves”.


Figura 1. Cladograma evidenciando as relações evolutivas entre os vários grupos de Coelurosauria. Por Thomas Holz.

Em meados da década de 1980, Jacques Gauthier, então paleontólogo de vertebrados e sistemata na Universidade da Califórnia, Berkeley, identificou em um grupo de dinossauros predadores (terópodes) uma característica que até então era considerada como exclusiva das aves: Penas! Gauthier, entusiasmado, logo inseriu esse novo e importante dado em suas análises filogenéticas. Foi a partir de então, que seu trabalho começou a consolidar àquela que seria conhecida como a hipótese ave-dinossauro. Esta hipótese logo obscureceu as outras menos robustas sobre a origem das aves. Hoje, podemos dizer que a evolução das aves a partir dos dinossauros é uma das mais aceitas e incontestáveis hipóteses dentro do estudos sobre a evolução dos vertebrados. Há um forte apoio dado por um conjunto de caracteres anatômicos peculiares encontrados somente em aves e alguns dinossauros terópodes. Estas características definem não apenas o padrão de evolução do esqueleto entre as aves e dinossauros, mas também abrangem um conjunto de características fisiológicas semelhantes (isto é passível de teste em aves e répteis modernos), que revelam as etapas de transformação de um dinossauro corredor até um pássaro capaz de vôo ativo.

Ornithomimosauria: “Os lagartos que imitavam aves”


Figura 2. Ilustração de Peter Schouten – Grupo de Ornithomimosauria


“De fato, as comparações entre este dinossauro e um avestruz, em vários aspectos de sua anatomia, são tão impressionantes que ele é freqüentemente referido como “o dinossauro mímico de avestruz””. 

Edwin Colbert, 1969, em “Evolution of the Vertebrates“, página 201.

Os ornitomimossauros são melhor entendidos quando os imaginamos como uma “versão esportiva” dos dinossauros. Construídos para velocidade, eles eram um grupo de terópodes cuja vida deveria ser muito semelhante àquela das aves ratitas atuais (como os avestruzes, emas e casuares). Eles deveriam, em sua maioria, ser onívoros (apesar de um deles ter sido encontrado com seu conteúdo estomacal preservado indicando uma dieta herbívora – Sinornithomimus) e essencialmente sociais.

Recentemente, a descoberta de membros bastante primitivos desse grupo ajudou a compreender melhor como se deu a evolução e radiação desses animais. Hoje eles são considerados basais dentro da linhagem dos terópodes, e estão colocados entre celurossauros primitivos e o grupo mais derivado destes,  que inclui os chamados  “maniraptores” (e.g. terezinossauros, alvarezssauros, ovirraptorossauros, tro
odontídeos, dromeossauros e aves) (Figura 1).

O primeiro fóssil de ornitomimossauro foi encontrado em 1889 por George Cannon, em rochas de idade cretácica no Estado do Colorado, Estados Unidos. Charles Othniel Marsh nomeou os fragmentos encontrados – pertencentes à membros posteriores de um animal adulto–  como Ornithomimus, significando “o mímico de ave”, já que os considerou muito semelhantes à ossos dos pés de aves atuais. 

Figura 3. Gallimimus – Ilustração de Peter Schouten.

Foi somente em 1917, no entanto, que um esqueleto relativamente completo desses animais foi encontrado e a sua anatomia pode ser melhor investigada. Lawrence Lambe foi quem encontrou os restos parciais expostos nos afloramentos de Alberta, mas foi Henry Fairfield Osborn que os nomeou como Struthiomimus, “o mímico de avestruz”. Osborn perceptivamente observou que este dinossauro possuía muitas similaridades à ave ratita atual.

A mais significante série de descobertas de ornitomimossauros, todavia, veio somente a partir da década de 1960, com as expedições poloneso-mongóis e na década de 1990 por meio de sítios recém descobertos na Espanha e na China.

Tudo indicava que estes animais eram construídos para correr rápido. Tratavam-se de velocistas. Possuíam uma cauda longa, horizontal e rígida, pernas alongadas e uma constituição leve, com cabeça pequena e pescoço grácil e alongado. Trilhas de pegadas fossilizadas atribuídas à ornitomimossauros sugerem que estes animais poderiam alcançar velocidades acima de 57km/h, tornando-os os mais rápidos de todos os dinossauros conhecidos, tão velozes quanto cavalos de corrida.

Figura 4. Esqueleto quase completo de ornitomimídeo.

O membro mais primitivo desse grupo é Pelecanimimus, encontrado no famoso depósito de Las Hoyas, Espanha, do início do Cretáceo. Pelecanimimus  (“mímico de pelicano”) é, por enquanto, o único membro deste grupo a apresentar numerosos e pequeninos dentes sem serrilha em suas mandíbulas (cerca de 220 no total). Apenas poucos outros ornitomimossauros também possuem dentes como característica, e estes em geral os possuem restritos à parte frontal do rostro somente (e.g. como Shenzhosaurus de Shenzhou, província de Lioning, na China, e Harpymimus de Dundgov, na Mongólia). O restante dos ornitomimossauros não possuem dentes, mas sim bicos bem desenvolvidos. Algumas formas (Shenzhosaurus e Sinornithomimus por exemplo) foram encontradas com pequenos pedregulhos, denominados gastrólitos, em seus estômagos. Estes pedregulhos eram provavelmente utilizados para ajudar a digerir o alimento. Atualmente somente animais herbívoros utilizam-se dessas pedras para auxiliar a moer o material vegetal resistente (sementes, por exemplo) em seus tratos digestivos.

Figura 5. Reconstituição de Pelicanimimus (nome do autor não informado).

Uma teoria postula que os ornitomimossauros deveriam alimentar-se como os flamingos, filtrando a água com os seus bicos curvos, porém outros especialistas discordam, afirmando que as estruturas especiais no palato desses animais eram somente para sustentar o bico e não uma especialização para alimentar-se por filtração. 

Não se sabe ainda ao certo como os ornitomimossauros protegiam os seus jovens e filhotes e como organizavam seus bandos. No entanto, recentemente, um conjunto de 14 Sinornithomimus foram encontrados fossilizados juntos na Mongólia. Onze dos animais demonstraram ser jovens ou sub-adultos e estes estavam acompanhados de animais maduros. Os últimos provavelmente estavam protegendo o grupo de mais novos.

Figura 6. Crânio de Sinornitomimus.


Os ornitomimossauros mais especializados  estão divididos em dois grupos. Um norte-americano, que compreende Struthiomimus, Dromiceiomimus e Ornithomimus, e um  asiático, composto por Gallimimus e Anserimimus. Ornithomimus demonstra o típico formato de um crânio avançado de Ornithomimosauria, possuindo olhos grandes e um focinho delgado e curvado, com a mandíbula inferior pouco mais alongada que a superior. 

As grandes órbitas dos ornitomimossauros são freqüentemente preservadas com os ossículos escleróticos, que ajudavam a sustentar o olho em vida. Tudo indica que esses animais teriam um senso de visão bastante desenvolvido. Eles possuíam um cérebro grande, comparável àquele de aves modernas e inclusive àquele bem desenvolvido dos troodontídeos. Embora o grupo seja caracterizado pela presença de pernas e braços longos, a mecânica dos membros anteriores de Struthiomimus sugere que eles não eram equipados para escavar, mas eram sim instrumentos gráceis mais adequados para agarrar galhos e folhas.

Figura 7. Crânio de Gallimimus.


A herbivoria parece ter evoluído bastante cedo na história evolutiva desse grupo. Shenzhousaurus foi encontrado com gastrólitos em sua região estomacal e esta espécie é considerada como uma forma relativamente primitiva dentro do grupo. Ela é considerada primitiva não somente pela presença de dentes, mas por outras características esqueletais como o comprimento do ‘polegar’, mais curto que os outros dígitos (nas formas derivadas ele tem o comprimento semelhante ao dos outros dedos).

Figura 8. Cladograma de Ornithomimosauria indicando a posição basal de Pelicanimimus e Shenzhousaurus (Makovicky, 2009).

Figura 9. Outro cladograma de Ornithomimosauria. Fonte: www.dinodata.org, baseado em Makovicky et al., 2004.


Uma das mais recentes descobertas do grupo foi Beishanlong, do Cretáceo chinês, animal muito parecido com Harpymimus, outro ornitomimossauro da China. Porém, a característica mais impressionante de Beishanlong é o seu tamanho. Definitivamente trata-se do maior ornitomimossauro já descrito e o mais interessante: análises histológicas demonstraram que o indivíduo analisado ainda encontrava-se em fase de crescimento. A partir do material encontrado foi estimado para o animal uma massa de 626kg. É interessante observar um paralelismo do gigantismo em diferentes linhagens de celurossauros herbívoros (ver Shuzhousaurus (Therezinosauria) e Gigantoraptor (Oviraptorosauria)).

Figura 10. Esquema indicando o tamanho de Beishanlong proporcionalmente a um ser humano.


Inicialmente acreditava-se que estes animais estariam presentes somente na América do Norte e na Ásia, mas depois da descoberta do primitivo Pellicanimimus na Europa, a história começou a ficar mais clara e as noções biogeográficas e de origem do grupo a solucionarem-se. Sem dúvida, o que pode-se dizer por enquanto, é que trata-se de um grupo restrito aos continentes do norte (laurasianos), com sua origem provavelmente européia.


Apesar das tantas semelhanças com as aves, que foram inclusive batizados em alusão a elas, não foi dentro deste grupo que as nossas colegas emplumadas tiveram sua origem. Os Ornithomimosauria são apenas parentes próximos. A história continua. Sem dúvida as aves tiveram origem dentro do grupo dos Maniraptora e é para aí que se aproxima ainda mais a próxima parte de nossa história.
No próximo capítulo:  À um passo dos maniraptora…

Referências Bibliográficas:

Makovicky, P. J., Kobayashi, Y. & Currie, P. J. 2004. Ornithomimosauria. In Weishampel, D. B., Dodson, P. & Osmólska, H. (eds) The Dinosauria, Second Edition. University of California Press (Berkeley), pp. 137-150.
Barrett, P. M. 2005. The diet of ostrich dinosaurs (Theropoda: Ornithomimosauria). Palaeontology48, 347-358.
Kobayashi, Y. & Lü, J.-C. 2003. A new ornithomimid dinosaur with gregarious habits from the Late Cretaceous of China. Acta Palaeontologica Polonica 48, 235-259.
Norell, M. A., Makovicky, P. & Currie, P. J. 2001. The beaks of ostrich dinosaurs. Nature 412, 873-874.
Russell, D. A. 1972. Ostrich dinosaurs from the Late Cretaceous of western Canada. Canadian Journal of Earth Sciences 9, 375-402.
Long, J. & Schouten, P., 2008. Feathered Dinosaurs: The Origin of Birds. Oxford university Press. Oxford, New York.
Naish, D. – The Tet Zoo field guide to ostrich dinosaurs (Part I) and (Part II). In: Tetrapod Zoology.


>Tempestade de Paleocurtas – PARTE 1

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Depois da longa ausência estamos finalmente de volta! Setembro foi o mês do VII Congresso Argentino de Paleontologia e Bioestratigrafia e do X Congresso Latinoamericano de Paleontologia, realizados em um único evento na cidade de La Plata, Argentina. Os Colecionadores compareceram em peso e por isso o blog ficou meio às traças.

Nesse meio tempo, diversas novidades fabulosas da paleontologia se acumularam – vários bichos foram descritos (sim, dentre eles, tudo o que o mundo precisava… mais ceratopsídeos…); bizarrices anatômicas foram revisitadas; uma curiosa revelação fez-se quanto a coloração de pingüins fósseis gigantes; nova literatura fundamental foi publicada; deu-se o pré-lançamento do escândalo dos “saurópodes que eram um só” (?); surgiram mais novidades sobre o sexo pré-histórico; dentre outros. – .Mas além disso, trouxemos para completar boas novas da Paleontologia Latinoamericana, entre elas o recém-anunciado – e surpreendente – dinossauro brasileiro: Tapuiasaurus! (Que muitos de vocês devem ter visto pela televisão ou no caderno especial do “Estadão”, algumas semanas atrás).

Vamos sacudir a poeira dos fósseis e partir para uma campanha relâmpago. Com vocês, uma tempestade de paleocurtas – PARTE 1:

Um Raptor como você nunca viu: Balaur bondoc, o estranho dragão romeno

Reconstituição artística de Balaur bondoc


Estranho é apelido. Balaur bondoc veio responder uma questão antiga: “Com o que se pareciam os dinossauros predadores na Europa durante o fim do Cretáceo?”
Descrito na Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS) por Zoltán Csikia e colaboradores, entre eles Mark Norell, o novo dino predador surpreendeu paleontólogos do mundo todo. Parente dos velociraptores – o que quer dizer que tratava-se de um dromeossaurídeo – ele possuía uma construção corporal parecida… até certo ponto. Com ossos fundidos, constituição mais pesada e duplas garras retratoras nos pés (!), B. bondoc deveria ser o terror na Europa do fim do Cretáceo.
A Europa era bem diferente nesse período. Com o nível do mar mais alto, toda essa região era um arquipélago habitado por animais de pequeno porte e relativamente mais ‘primitivos’ que os seus parentes continentais. Inclusive formas anãs, como saurópodes do tamanho de vacas e dinos ornitópodes também de tamanho bastante reduzido em comparação com seus parentes do continente. B. bondoc, tão diferente de qualquer coisa conhecida, soma-se às esquisitices dinossaurianas e vem ensinar mais um pouco sobre a fauna pouco-usual da região européia durante o auge do reinado dos grandes répteis-ave.

Membro posterior de Balaur bondoc evidenciando a dupla de garras retráteis

Leia mais sobre isso Aqui.

Csiki, Z., Vremir, M., Brusatte, S., & Norell, M. (2010). From the Cover: An aberrant island-dwelling theropod dinosaur from the Late Cretaceous of Romania Proceedings of the National Academy of Sciences, 107 (35), 15357-15361 DOI: 10.1073/pnas.1006970107

O dino-quasímodo e.. com penas?? Concavenator corcovatus

Reconstituição artística de Concavenator (acima) e suas relações filogenéticas dentro dos Allosauroidea (abaixo)

Anunciado pela Nature, por Ortega e colaboradores, esse novo Carcharodontossaurídeo espanhol foi descrito com base em um esqueleto articulado quase completo. O animal deveria medir cerca de 6m de comprimento. Entretanto, o que mais chamou a atenção foram outras características….:
1) As cristas neurais de suas vértebras dorsais – que formavam uma corcova no bicho (característica que já havia sido observada no enigmático Becklespinax);
e o mais surpreendente:
2) Cicatrizes de inserção de penas nos ossos do braço do animal;
Dinos alossauróides com penas???? Pois é….

Leia mais sobre isso Aqui.

Ortega, F., Escaso, F. & Sanz, J. L. 2010. A bizarre, humped Carcharodontosauria (Theropoda) from the Lower Cretaceous of Spain. Nature 467, 203-206.

Os novos ceratopsianos: Utahceratops e Kosmoceratops – e o ano desses bichos continua

Reconstituições artísticas de Utahceratops (acima) e Kosmoceratops (abaixo)

Os dois novos ‘chifrudos’ da lista são da região sul do Estado de Utah, EUA. A descoberta dos novos ceratopsídeos foi detalhada na revista on-line de acesso livre PLoS One.
O maior dos dois, Utahceratops gettyi, tem um crânio de 2,3 m de com
primento, já o menor deles,
Kosmoceratops richardisoni, tem um total de 15 chifres na cabeça – o dino com a cabeça mais ornamentada conhecido.

Leia mais sobre isso Aqui.
Veja os antigos (julho) tópicos deste blog sobre “O ano dos Ceratopsia” Aqui (parte 1) e Aqui (parte 2).

Sampson, S., Loewen, M., Farke, A., Roberts, E., Forster, C., Smith, J., & Titus, A. (2010). New horned dinosaurs from Utah provide evidence for intracontinental dinosaur endemism PLoS ONE, 5 (9) DOI:10.1371/journal.pone.0012292

Xixiasaurus, o novo troodontídeo da China (Mas que nome!)

O crânio parcial de Xixiasaurus

Proveniente da Formação Majiacun, da Bacia Xixia, na Província de Henan da China, Xixiasaurus henanensis foi descrito com base em um crânio parcialmente completo. Proximamente relacionado com Byronosaurus e Urbacodon, esses três animais provavelmente formam um clado à parte, sugerindo uma radiação endêmica de troodontídeos pela Ásia.

Lü, J.-C., Xu, L., Liu, Y.-Q., Zhang, X.-L., Jia, S. and Ji, Q. 2010. A new troodontid (Theropoda: Troodontidae) from the Late Cretaceous of central China, and the radiation of Asian troodontids. Acta Palaeontologica Polonica 5X: xxx-xxx. doi:10.4202/app.2009.0047

Sarahsaurus e o sucesso dos dinossauros

Crânio de Sarahsaurus em parte desarticulado

Sarahsaurus aurifontanalis é o mais novo sauropodomorfo que vem juntar-se à família. Encontrado no Arizona, EUA, tratava-se de um dino herbívoro relativamente pequeno em comparação com os seus primos gigantescos que viveram pouco depois. Com 190 milhões de anos (início do Jurássico) ele ajuda a contar algumas partes da história sobre a evolução e radiação dos dinossauros: o que aconteceu depois da extinção Triássico-Jurássica, como foi a invasão do Hemisfério Norte – a partir do Hemisfério Sul – por esse grupo de animais?
Sarahsaurus foi uma das formas que se originou alguns milhões de anos depois do pulso de extinção do fim do Triássico e o seu estudo, somado ao que já era conhecido sobre outros sauropodomorfos encontrados na América do Norte, ajudou a entender melhor a história sobre a dispersão dos dinossauros para essa região.
O estudo foi publicado na Proceedings of the Royal Society por Timothy e colaboradores.

Leia mais sobre isso Aqui.

Timothy B. Rowe, Hans-Dieter Sues, and Robert R. Reisz (2010). Dispersal and diversity in the earliest North American sauropodomorph dinosaurs, with a description of a new taxon. Proceedings of the Royal Society B : 10.1098/rspb.2010.1867

Mais curtas em breve…

Dinossauros Emplumados: A Origem das aves

A fim de discorrer sobre esse tema, os Colecionadores de Ossos irão organizar uma série de posts sobre peculiares grupos de dinossauros terópodes proximamente relacionados às Aves. As aves são hoje, em termos numéricos e de diversidade, o grupo de vertebrados mais bem sucedido do planeta. E tudo começou nos idos do Mesozóico.

Vamos procurar abordar aqui passos da marcha evolutiva de “primitivos” dinossauros com penas, até as primeiras aves verdadeiras.

A idéia é discorrer sobre a biografia geral de alguns importantes grupos de dinossauros terópodes que ajudaram a lançar luz sobre o estudo da evolução das Aves.

Cladograma mostrando os grupos dentro de Coelurosauria, por Thomas Holz



O primeiro grupo a ser abordado será o do Tyrannosaurus rex e seus parentes:

 
O Poderoso T-rex, suas modestas origens e toda parentela

Os coelurossauros incluem uma grande quantidade de dinossauros predadores. Desde Coelurus, com 2 metros de comprimento, até o colossal Tyrannosaurus rex, de 14 metros. A divergência evolutiva dos tiranossauros a partir de pequenos e modestos coelurossauros está sendo agora melhor compreendida desde que recentes descobertas de pequenos tiranossauróides basais, como Eotyrannus e o emplumado Dilong, da China, foram feitas. 

Os membros mais primitivos do grupo, a exemplo de Coelurus fragilis, datam
do Jurássico tardio (por volta de 150 milhões de anos atrás), portanto, os primeiros tiranossauróides são contemporâneos às primeiras aves, entre elas o 
Archaeopteryx.

Coelurus fragilis foi tema de muito debate sobre em que posição ele se encaixaria na história evolutiva dos tiranossauróides, principalmente porque seu gênero somente é conhecido com base em um esqueleto parcial, ao qual lhe falta a maior parte do crânio. Não obstante, especialistas tendem a concordar que ele se encaixa em algum lugar próximo ao início da história evolutiva dos dinossauros com penas. Coelurus trata-se de um terópode generalizado, que mostra as primeiras adaptações importantes requeridas para a evolução das aves. Primeiro: ele tem ossos leves e ocos; e segundo: ele e todos os seus parentes têm cérebros relativamente grandes em relação à outros carnívoros primitivos como o Allossaurus ou os abelissauros, do Gondwanna.

A linha que leva ao Tyrannossaurus deve ter começado com formas de tamanho moderado como Tanycolagreus, um caçador de 3 ou 4 metros de comprimento, levemente construído, com braços e dedos fortes feitos para agarrar. Eram animais relativamente ligeiros, que deveriam ser predadores ágeis e letais. Tanycolagreus compartilha certas similaridades em sua estrutura pélvica e fêmur com os primeiros tiranossauróides.

Tanycolagreus

O primeiro Tyrannosauroidea, aferido com certeza, é Guanlong, de 3 metros de comprimento, do Jurássico da China. Ele possuía uma estranha crista em sua cabeça, mas está intimamente ligado à Tyrannosaurus rex e seus parentes por possuir uma sessão peculiar na sua mandíbula superior em formato de U e seus ossos nasais fusionados em uma única estrutura óssea. Era um predador claramente secundário em seu ambiente, um coadjuvante em relação a outro grande carnívoro contemporâneo da mesma região: Sinraptor, de 10 metros.

Reconstituição em vida de Guanlong, por Raul Martin e destaque do crânio do mesmo animal.

Dilong, outro tiranossauróide basal da China, demonstra indubitavelmente a presença de penas adornando sua cauda. Embora pequeno (cerca de 1,6 metros de comprimento), ele é mais avançado que Guanlong por ter um crânio mais parecido com o de tiranossauróides  derivados : Há uma série de caracteres especilizados e é notável também a presença de pneumatização em muitos de seus ossos.

Reconstituição em vida de Dilong paradoxus, por Peter Schouten


 
Durante o início do Cretáceo, um grupo diversificado de pequenos tiranossauróides primitivos (de 3 até 5 metros de comprimentos), incluindo Eotyrannus, perambulava nas florestas do Sudoeste da Ásia e Europa. Já chegou a pensar-se, que Siamotyrannus, da Tailândia, fosse um tiranossaurídeo basal, porém a falta de elementos diagnósticos no material até agora encontrado, leva esse animal a não ser mais considerado com segurança como pertencente à famosa família.

 

Reconstituição de Eotyrannus


Reconstituição de Siamotyrannus
 
A principal radiação dos tiranossauróides é exemplificada pelas muitas estranhas formas que apareceram no final do Cretáceo da América do Norte e Ásia. A maioria de grande (8 a 9 metros) ou muito grande porte (mais de 14 metros de comprimento), com membros anteriores reduzidos portando somente dois dedos em cada mão. A maioria possuía alguma forma de ornamentação rugosa no topo do crânio, desde uma série de cones afiados sobre o focinho, como em Alioramus, até superfícies irregulares e/ou pontuadas sobre os olhos, possivelmente para atrair parceiros ou engalfinharem-se disputas corporais com rivais.

Reconstituição de Alioramus por Peter Schouten

O primeiro esqueleto relativamente completo de Tyrannosaurus rex foi descoberto em 1902 no leste do estado de Montana, EUA, e somente foi descrito pelo paleontólogo americano Henry Fairfield Osborn em 1905. Depois de várias expedições, Barnum Brown, o coletor de Osborn, trouxe de volta uma série de esqueletos parciais que complementariam os seus estudos (oito espécimes foram encontrados até 1912). Em 1915, o American Museum of Natural History, montou o primeiro e mais completo esqueleto de Tyrannosaurus rex em seus salões. Stephen Jay Gould atribuiu publicamente que seu desejo por estudar paleontologia se deu devido ao T. rex em exposição no American Museum, o qual ele teria visitado com seu pai quando tinha 5 anos de idade.

Stephen Jay Gould

Tyrannosaurus e seu primo asiático Tarbosaurus atingiram tamanhos entre 12 e 14 metros de comprimento e pesos estimados em torno de 6 toneladas. Porém, a maioria dos tiranossauróides eram animais mais moderados: Daspletosaurus, Gorgosaurus e Albertosaurus atingiram cerca de 8 a 9 metros de comprimento e deveriam pesar em torno de 2 toneladas.


O grupo era considerado restrito aos continentes do norte, porém descobertas recentes sacudiram esse paradigma. Um púbis isolado de 30 cm de comprimento, portando características indubitavelmente relacionadas à tiranossaurídeos, foi descrito para os depósitos de Dinosaur Cove, na Austrália. Descrições baseadas em espécimes parciais como esse australiano sempre são problemáticas, porém na ausência de outros melhores registros, eles devem considerados como relevantes e a possibilidade aceita até que melhores materiais venham lançar maior robustez sobre a especulação. O que esse material australiano leva a concluir é que tiranossauróides de tamanho mediano (com cerca de 3 metros de comprimento) invadiram Gondwana, e habitaram a Austrália, assim como a Ásia, durante o Cretáceo Superior.

            
Pubis encontrado na Autrália e sua classificação taxonômica (NMV P186069)

Apesar de filmes populares como Jurassic Park terem nos feito acreditar que Tyrannosaurus rex era um veloz corredor e hábil caçador, estudos confiáveis considerando restrições fisiológicas em relação ao seu peso descomunal e o grau de movimentação de seus membros posteriores sugerem velocidades mais modestas em torno de 10 milhas por hora no seu máximo. Tais estudos levaram alguns paleontólogos como Dr. Jack Horner a sugerir que Tyrannosaurus e seus parentes deveriam ser mais como animais carniceiros ou predadores lentos de emboscada. Outros pesquisadores acreditam que as presas de T. rex eram provavelmente tão lentas quanto ele, portanto, eles poderiam sim ser predadores ativos.

Novos estudos sobre Tyrannosaurus mostram que seu desenvolvimento era rápido, embora sua taxa de crescimento acelerado somente se desse nos seus anos tardios. Um T. rex de 10 anos de idade deveria pesar cerca de meia tonelada. Sua maior arrancada no crescimento se daria entre os 13 (peso de uma tonelada) e os 20 anos de idade (alcançando 5 toneladas), sendo que eles devem ter vivido em torno de 30 anos (entre 5 e 6 toneladas). Apesar de tecidos moles fossilizados terem sido encontrados e extraídos de materiais fósseis desses animais, nenhum DNA foi recuperado, e com idade entre 65 e 70 milhões de anos, é altamente improvável que seja, até mesmo pequenos fragmentos de seu genoma.

Tyrannosaurus e seus parentes incendiaram a imaginação de pessoas de todas as idades, com seus esqueletos glorificados nos museus de história natural. Agora devem ser vistos sob uma nova perspectiva: como parentes próximos das aves. Todavia, para contar o resto da história evolutiva desses animais nós temos que prosseguir e narrar a biografia de outros terópodes mais derivados, aqueles que realmente começaram a assemelhar-se mais a criaturas definitivamente avianas.

No próximo capítulo dessa história: Ornithomimosauria. (Clique aqui)