Positivista é quem me chama!
Em poucas palavras, podemos definir o Positivismo como a filosofia segundo a qual o único conhecimento autêntico é o conhecimento adquirido através do método científico que, para o positivista, tem como base o empirismo, o inducionismo etc. A crítica às afirmações é bem-vinda e justa, e inclusive todos os problemas do positivismo já foram dissecados há muito pelos filósofos da ciência. É surpreendente portanto que ainda se veja críticas extremamente ingênuas ao positivismo.
Ontem, estava eu na aula de Francês. O tema de discussão do livro-texto se referia à religiosidade dos franceses e como a adesão às religiões tradicionais vinha caindo no país. Ao final da aula, a discussão decaiu para a velha briga “inexistente” entre religião e ciência. Uma das alunas, num argumento fraquíssimo, comparava as ciências sociais à religião a fim de concluir que “dava tudo na mesma”. Eu a interrompi afirmando que o argumento era forçado por que ALGUMAS das ditas ciências sociais eram sequer um exemplo de boa Ciência. Neste momento, como se eu tivesse ofendido a mãe de todos os outros alunos, fui bombardeado de acusações de positivista. “Como poderia eu afirmar aquilo?” “É claro que as ciências sociais são ciências! Por que não seriam?” Ao que eu perguntei: E por que precisariam ser?
Em nenhum momento, eu disse que, por não serem Ciência, algumas ciências sociais seriam invariavelmente inúteis. Perceberam a ironia da situação? Os alunos que me acusavam de positivista, provavelmente por pensarem que eu defendia o método científico da maneira positivista, eram talvez ainda mais positivistas! Ao se ofenderem com minha afirmação, eles demonstraram sua própria crença de que um conhecimento é apenas válido se for considerado Ciência! Uma das afirmações BÁSICAS do positivismo!
Essa ingenuidade é geral não só nos alunos, mas também nos profissionais de algumas ciências sociais. Talvez devido ao sucesso do lixo filosófico pós-moderno nesse meio, a definição de ciência vira um Vale-tudo. Querem, desesperadamente, ter o mesmo Status das Ciências Naturais, mas ficam para morrer quando a CAPES resolve usar os mesmo critérios de avaliação! Ora, ou é tudo igual ou não é tudo igual! Se não há diferença entre um Física e uma Pedagogia, os critérios de avaliação devem ser os mesmos! E se há diferença suficiente para que não sejam os mesmos por que precisam ter o mesmo título? É aquela velha história de que quem desdenha quer comprar. Denunciam abertamente o positivismo, mas todo dia antes de dormir acendem uma velinha para Comte.