Newton, Leibniz e as Vacas Esféricas
Um pequeno adendo informativo à postagem de ontem.
A ” velha piada da vaca esférica no vácuo” que citei, en passant, causou certa comoção entre os comentaristas. Bem, na medida em que metade não conhecer a piada e um conhecer na versão com galinhas possa ser chamada de comoção.
Meu amigo Rodrigo fez o favor de colocar uma versão resumida da piada:
“Um fazendeiro contratou um físico para modelar sua fazenda de forma a
otimizar o seu espaço. O físico foi a fazenda, avaliou, fez diversas
anotações, e foi embora, passando semanas sem dar notícias. Outro dia,
então, aparece ele afirmando que havia encontrado a resposta; começou
então a sua brilhante explanação:
– Considere que seu gado seja constituído por vacas esféricas se movendo no vácuo…”
É uma piada histericamente engraçada para Físicos, principalmente para aqueles que trabalham em áreas tão complexas que um simples toy model é tema para teses e mais teses.
Mas são vacas ou galinhas? Uma amiga achou que eu tinha errado ao colocar vacas “porque no The Big Bang Theory eles falam galinhas!”. Pobres aqueles não-nerds que ao assistirem um programa de nerds acham que toda piada é idéia dos roteiristas. A verdade é que a origem da piada, seja com vacas ou galinhas, esféricas no vácuo se perde nas areias do tempo.
Consigo até imaginar um cenário implausível em que Leibniz lê sua edição recém adquirida dos Principia de Newton. Em determinado momento, Leibniz solta uma gargalhada, saca sua pena, e começa à escrever no canto da página a piada da vaca esférica contra a noção newtoniana de espaço absoluto. Arranca a página e a envia à Royal Society, o que leva um Newton com sanguinusói a se vingar declarando que Leibniz plagiara seu trabalho sobre Cálculo.
Enfim, sabe-se lá quem foi o primeiro a construir tal piada (Feynman talvez? =P) e pouco importa se é com vacas ou galinhas esféricas. O importante é a relação da piada com modelos supersimplificados.
Bônus: O porco esférico que desenhei para o cartum, da dinâmica de porcos gripados esféricos no vácuo, que substitui por um desenho mais simplificado:
So cute that I feel sick.
Da dinâmica de porcos gripados esféricos no vácuo…
Convenhamos, com todo esse alarde em torno da Gripe Suína, nada que eu escrevesse aqui seria alvo de atenção mesmo de meus mais fiéis leitores (que da última vez que contei eram 7 pessoas e um bode). Há apenas uma coisa que poderia fazer num momento tão crítico: a velha piada da vaca esférica no vácuo, adaptada, é claro, para novos tempos de iminente apocalipse apresuntado. Riam enquanto não estão espirrando.
Antes que venham as perguntas:
[1]: O porco é preto porque é o ZOMFG Pig of Doom!
[2]: Sim, porcos esféricos em movimento emitem Bacon polarizado circularmente. Fonte: Classical Porkdynamics, John David Jackson.
[3]: Sim, com essa esgotei minha cota de piadas cretinas pelo resto do ano. Podem respirar aliviados, desde que não haja um porco nas redondezas…
Legendem os Físicos!
Eu meio que cansei da brincadeira de adivinhar o Físico, então vou roubar na cara de pau a brincadeira semanal do Ciência ao Natural. É bem simples. Eu posto uma foto de Físicos fisicando e os amigos leitores fazem uma legenda. Que tal? A que eu achar mais legal ou engraçada será citada na semana seguinte. Isso é tudo que um pobre mestrando pode bancar de prêmio =P.
Então aí vai a primeira. Legendem os Curie (O que será que Marie está pensando?).
Das dentaduras e da produção de energia das estrelas
Em 1939, Hans Bethe publicava seu famoso artigo em que analisava reações de fusão que aconteceriam no interior das estrelas e que lhes serviria como fonte de energia.
Quem diria que 60 anos depois, aos 93 anos, Bethe ainda estaria lúcido para dar palestras sobre história e fundamentos da Mecânica Quântica no asilo (mais precisamente uma “comunidade de aposentadoria”) Kendal of Ithaca, em que moraria. Esse asilo é famoso por abrigar diversos professores aposentados da Universidade de Cornell, onde passou quase toda carreira.
Bethe morreu em 2005.
Os vídeos das palestras, que infelizmente não podem ser embebedados, podem ser conferidos neste site de Cornell dedicado a Bethe.
Sim, sim. Aparentemente, quanto melhor o Físico, pior o cabelo. O que me deixa extremamente preocupado quanto ao meu futuro nessa carreira. =P
Talvez não se possa vencê-los…
No início não havia a diferença que vemos hoje entre o pensamento científico e o pensamento mágico. Os dois foram se dividindo, e a Ciência foi se provando mais eficaz naquela tarefa que sua irmã siamesa. Não foi o pensamento mágico que nos deu computadores, remédios contra o câncer ou fontes renováveis de energia. Ele ficou para trás com seus preságios, predestinações, milagres.
Mas não deixou de tentar se disfarçar vestindo as roupas de seu primo melhor sucedido. Acupuntura? Use-se Laser. Mapa Astral? Sai num minuto pelo computador. Fiquei preso no engarrafamento? Você não está usando a Física Quântica como os Mestres Ascensionados ensinaram, pequeno Padawan.
Pior ainda talvez seja que as mesmas pessoas que criticam tanto a ciência moderna, sejam aquelas que utilizam seus Computadores para fazerem seus mapas astrais e lerem sobre a Física Quântica dos Mestres Ascensionados enquanto fazem auto-acupuntura à Laser no conforto de seu quarto com Ar Condicionado.
Os adeptos do pensamento mágico, ao notarem que não são mais capazes de produzir conhecimento novo como o pensamento científico, se contentam com os restos, com a mistura regurgitada que não é nem um nem outro. Talvez tenha sempre sido assim. E talvez sempre seja.
Como diria um amigo meu: “Que isso, cara, essas coisas não são lixo. Dá para usar para pegar a mulherada!” É, talvez haja enfim um ponto positivo.
Físico(a) de Sexta 14
Dica:
[1]: Tem alguma coisinha faltando ali em cima.
Então, quem é o Físico e qual sua relação com a figura?
Resposta: O Físico da Semana é Enrico Fermi. Parabéns ao Luiz (?) Felipe pela resposta.
Entretanto, há de se destacar que a charada permitiu, por descuido meu, resposta dupla. Quando pensei na figura para a charada não me liguei que não fora Fermi o primeiro a propor a existência dos Neutrinos para explicar o Decaimento Beta, mas sim Wolfgang Pauli. Fermi, no entanto, foi quem inventou o nome Neutrino e o primeiro a descrever a seu comportamento através da Interação Fraca.
O que está faltando no decaimento acima é um Neutrino. Ou melhor, um Antineutrino do Elétron. Uma partícula neutra de massa ridiculamente pequena, mesmo comparado com o elétron, que carrega parte da energia liberada no decaimento.
O Efeito Pauli*
Diz-se que quando o físico Wolfgang Pauli se encontrava nas redondezas de algum experimento ele invariavelmente falharia. Isso era tão constante que o físico Otto Stern inclusive proibiu Pauli de entrar em seu laboratório.
Claro que isso não seria garantia de segurança para os equipamentos, já que certa vez, num laboratório da Universidade de Göttingen, ocorreu um acidente com um caríssimo equipamento de medição. Pauli não estava presente. Estava a caminho de Zurich quando tudo aconteceu. Entretanto, quando estava no trem vindo de Copenhagen, teve que fazer uma parada em Göttingen, no horário em que o experimento estava sendo feito!
Em outro evento, alguns colegas resolveram pregar um peça em Pauli. Queriam provar definitivamente a validade do efeito. Penduraram um lustre de forma que ele pudesse ser solto de propósito e caísse quando Pauli entrasse na sala. Quando ele entrou, a pegadinha não funcionou. Se isso prova ou não a validade do efeito Pauli, fica a critério do leitor.
Clique aqui para um poeminha sobre o efeito Pauli.
* Em termos modernos, o Efeito Pauli é um tipo de interação azarônica.
Todo o besteirol reunido!
O vídeo abaixo é um apanhado das mais variadas besteiras que misturam misticismo e Física Quântica.Sabe toda aquela besteira que a consciência cria/modifica a realidade? Tá toda aí. Em inglês.
Físico(a) de Sexta 13
Desculpem-me pela falta do Físico de Sexta da semana passada. Para compensar, um bem fácil esta semana com uma figura porcamente feita por este que vos escreve.
Dica:
[1]: Mar
Então, quem é o Físico e qual sua relação com a figura?
Resposta: O Físico de Sexta é Paul Dirac. Parabéns ao Evandro pela resposta.
Quando procurava por uma versão da equação de Schrödinger para o elétron que fosse relativística, Dirac se deparou com soluções que qualquer outro consideraria como não-físicas por corresponderem a estados de energia negativa. Ora, se houvessem estados negativos de energia o que impediria que todos os elétrons decaíssem para esses níveis e por que não veríamos esses elétrons? Dirac então propoz que todos esses níveis já estavam prenchidos então nenhum outro elétron poderia decair para os níveis negativos. Isso ficou conhecido como Mar de Dirac. Ainda, como “desde sempre” os elétrons do mar estavam lá, não poderíamos notá-los, mas quando um desses elétrons recebesse energia suficiente para pular para níveis de energia positivos, deixaria um buraco positivo no Mar. Esse buraco sim poderíamos perceber e seria a antipartícula do elétron.