Feliz ‘NuTau’!
Desejo a meus queridos Pi leitores ótimas festas de fim de ano! Como única promessa de Ano Novo, antes de comer as sete ondas e pular as sete lentilhas, prometo que voltarei a dar atenção ao blog. Este ano foi bem complicado.
Até 2012 e que os neutrinos voltem a ser subluminais até lá. =P
Blogueiro mau, muito mau. Nada de pageviews pra você.
E não é que meu ultimo post é de quase dois meses atrás? E meu último post com algo interessante é de 2008 11 de junho? Como deixei chegar a essa situação? =/
Acho que a mudança para o Scienceblogs Brasil me deixou tão preocupado em tentar escrever sobre assuntos da Física de forma mais interessante que me veio um bloqueio violento nos ultimos tempos. Tenho vários rascunhos que gostaria de terminar, mas meio que passei a desgostar de tudo que escrevo. Nem para participar da blogagem coletiva de caça a paraquedistas consegui pensar em algo. Quem me segue pelo Twitter deve estar cansado de meus mimimis sobre isso.
Resolvi então ser mais bruto (ui!). Até eu conseguir tunelar essa barreira, vou fazer postagens mais rápidas com links para notícias interessantes fazendo alguns pequenos comentários. Acho que isso deve me ajudar a pegar novamente o ritmo.
Acho que vou voltar a postar também um pouco sobre Ficção Científica como fazia na primeira encarnação do n-Dimensional. Afinal, foi por isso que dei esse nome feio pra ele =P. Para poder escrever sobre assuntos variados.
Espero que não se importem. Vocês, seis, leitores são muito importantes pra mim. Sugestões nos comentários são muito bem vindas.
Eu Não Morri!
Amigos leitores. Sim, sim, vocês seis.
Saibam que ainda não foi dessa vez que parti dessa para nenhuma. Só estou um pouco ocupado. Fim de semestre e tal.
Espero que os chefes não me excluam da participação na dominação mundial por não ter escrito nada que preste nos últimos dias (ou desde sempre =/).
Fiquem com Calvin:
A proverbial agulha na piscina de Xenônio
Se deus está nos detalhes, desta vez ele só pode estar de sacanagem.
Semana passada, a Symmetry publicou em seu site um artigo sobre o experimento EXO (Observatório de Xenônio Enriquecido) projetado para a observação (ou não) do fenômeno do Decaimento Beta Duplo sem Neutrino.
No Decaimento Beta comum, um nêutron decai em um próton emitindo um elétron e um antineutrino. É esse decaimento, por exemplo, o responsável pela transformação de Carbono 14 em Nitrogênio 14 e do Rubídio 87 em Estrôncio 87, que são usados em métodos de datação radiativa.
Alguns isótopos podem sofrer Decaimento Beta Duplo, com emissão de 2 elétrons e 2 neutrinos. Esse tipo de decaimento é bem mais raro e foi observado pela primeira vez em 1986. A observação do Beta Duplo é tão rara devido à meia-vida média de mais de 1019 anos (como comparação, a idade do Universo é da ordem de 1010 anos).
Mais raro ainda, tão raro que ainda não foi observado, é o Decaimento Beta Duplo sem emissão de neutrinos. E esse é o objetivo do experimento EXO (dentre outros em operação com o mesmo objetivo).
O EXO utiliza um tanque de 200kg de Xenônio 136 líquido para tentar observar o decaimento em Bário 136 através do Beta Duplo e, se derem bastante sorte, do Beta Duplo sem Neutrinos. O grande problema é que, mesmo com toda essa quantidade de Xenônio (a ser aumentada para 10 toneladas) espera-se um decaimento de vez em quase nunca e a detecção de um átomo de Bário num tanque com 1028 átomos de Xenônio é de um desafio imenso.
O leitor astuto pode estar se indagando: independentemente da detecção do Bário, que deve ocorrer pelo decaimento duplo com ou sem neutrinos, se os neutrinos são partículas que pouco interagem com outras, como diferenciar se ele é emitido ou não, já que tão poucos serão produzidos?
Para responder a isso podemos voltar à própria descoberta do Neutrino, que, não surpreendentemente, aconteceu através do decaimento Beta.
Ao se medir a energia com que o elétron era emitido no decaimento Beta, foi observado uma coisa inusitada: ele não era emitido sempre com a energia máxima possível mas apresentava uma distribuição da forma abaixo:
O eixo horizontal indica a energia do elétron. O eixo vertical indica o número de elétrons medidos com aquela energia. Esse tipo de distribuição indicava que uma terceira partícula (que deveria ser neutra, já que não deixava rastros nas câmaras de nuvem) estaria envolvida no decaimento. Essa partícula carregava parte da energia liberada no decaimento e fazia com que pouquíssimos elétrons fossem emitidos próximos da energia máxima.
Analogamente, se os responsáveis pelo EXO medirem um espectro de energia para os elétrons emitidos semelhante ao acima, significa que o decaimento envolvido é o Beta Duplo normal. Por outro lado, se observarem um pico em torno da energia máxima, o decaimento é o Beta Duplo sem neutrinos.
Nesse último caso, estará confirmado um dos fenômenos chave para entender a física dos neutrinos Não vou me estender mais sobre isso já que daria material para várias postagens. Os interessados podem pesquisar sobre neutrinos de Majorana, sobre a hierarquia das massas dos neutrinos, etc.
Para finalizar, gostaria de ecoar o comentário do blog Physics and Physicists. Todo esse esforço experimental é para se observar um fenômeno raríssimo. E mesmo assim, com bastante dedicação e esperteza, é possível superar as dificuldades.
Não é raro vermos defensores de MUCHALOKICES inventando desculpas das mais esfarrapadas para a não observação de suas doideiras por experimentos controlados. Um dos argumentos seria que as MUCHALOKICES seriam muito raras para serem observadas.
Só que pelo que vimos do experimento EXO, quanto mais controladas as condições do experimento melhores são as chances de observá-lo, por mais raro que seja.
Talvez não se possa vencê-los…
No início não havia a diferença que vemos hoje entre o pensamento científico e o pensamento mágico. Os dois foram se dividindo, e a Ciência foi se provando mais eficaz naquela tarefa que sua irmã siamesa. Não foi o pensamento mágico que nos deu computadores, remédios contra o câncer ou fontes renováveis de energia. Ele ficou para trás com seus preságios, predestinações, milagres.
Mas não deixou de tentar se disfarçar vestindo as roupas de seu primo melhor sucedido. Acupuntura? Use-se Laser. Mapa Astral? Sai num minuto pelo computador. Fiquei preso no engarrafamento? Você não está usando a Física Quântica como os Mestres Ascensionados ensinaram, pequeno Padawan.
Pior ainda talvez seja que as mesmas pessoas que criticam tanto a ciência moderna, sejam aquelas que utilizam seus Computadores para fazerem seus mapas astrais e lerem sobre a Física Quântica dos Mestres Ascensionados enquanto fazem auto-acupuntura à Laser no conforto de seu quarto com Ar Condicionado.
Os adeptos do pensamento mágico, ao notarem que não são mais capazes de produzir conhecimento novo como o pensamento científico, se contentam com os restos, com a mistura regurgitada que não é nem um nem outro. Talvez tenha sempre sido assim. E talvez sempre seja.
Como diria um amigo meu: “Que isso, cara, essas coisas não são lixo. Dá para usar para pegar a mulherada!” É, talvez haja enfim um ponto positivo.
Nunca é tarde para uma autocrítica
Em raríssimas ocasiões pude presenciar um momento como este. Uma diretora de revista escrever uma autocrítica tão brilhante da prática jornalística no que se refere à cobertura de descobertas científicas deve ter ocorrido umas, sei lá, zero vezes.
O fato é que a senhora Ruth de Aquino, em sua coluna na revista Época, foi direto ao ponto e apertou todas as feridas abertas do jornalismo de ciência. Se pondo no lugar de um leitor comum, sem intimidade como o processo de produção científica, Ruth apresentou todas as possíveis más interpretações que se pode ter dos resultados de pesquisas na forma como são apresentados pelo péssimo jornalismo de ciência brasileiro.
Esse jornalismo que divulga resultados iniciais ou parciais de forma engraçadinha como se a obtenção daquele dado fosse tudo o que a pesquisa pretendia. Ou ainda, divulga resultados de Ciência Básica de forma desdenhosa, insinuando desperdício de dinheiro, quando na verdade é a pesquisa básica que permite que as comodidades tecnológicas apareçam mais tarde.
A jornalista então “comete” tais erros (para ilustrar a confusão que o leigo faz) e ainda, para ser mais realista, pontua seu texto com os mais diversos clichés, como “Quanto tempo perdido” ou “Para provar o que todo ser humano já sabe”.
Um retrato perfeito do Caos que é o jornalismo de ciência no país. Só posso bater palmas para uma atitude tão ousada da senhora Ruth de Aquino por enfrentar de forma mordaz não só seus colegas jornalistas, em especial os de ciência, como todos na grande mídia.
O quê? Não foi de propósito? Ela acha mesmo aquilo? Putz… pára…
Bom, se ela precisar inventar uma desculpa para tapar a burrada que disse, ela pode usar o que eu escrevi acima.
Fica a dica.
Que lugar legal esse Scienceblogs Brasil, não?
Eis que, finalmente, surge o Scienceblogs Brasil. Lugar bonito não? Eu gostei muito!
Como o Lablogatórios foi assimilado pela maligna Grande Mídia americana, há de se deixar claro as cláusulas dessa fusão. Estamos proibidos contratualmente de revelar a grande verdade por trás dos discos voadores, da Terra Oca, da influência Illuminati nas pesquisas do LHC e tampouco da comprovação da existência da alma através da Física Quântica.
A essas questões, somos obrigados a responder de maneira irônica e mal-educada. Reclamações serão devidamente ignoradas pelo SAC.
Agora que deixei isso claro, gostaria de saber de meus fiéis milhões meia dúzia de leitores, e até dos amigos Sciencebloggers, suas opiniões sinceras sobre o n-Dimensional.
Considero-me, e sem falsa modéstia, um dos blogueiros mais fracos, senão O mais fraco, deste grupo do SbB. Gostaria de saber o que posso melhorar parar essa nova encarnação do blog. Devo comentar mais novidades? Devo postar mais frequentemente? Devo fazer um curso de Ortografia e Gramática? Devo incluir imagens de filhotes fofinhos no banner?
E por favor, nada de complacência. Sejam sinceros!
Positivista é quem me chama!
Em poucas palavras, podemos definir o Positivismo como a filosofia segundo a qual o único conhecimento autêntico é o conhecimento adquirido através do método científico que, para o positivista, tem como base o empirismo, o inducionismo etc. A crítica às afirmações é bem-vinda e justa, e inclusive todos os problemas do positivismo já foram dissecados há muito pelos filósofos da ciência. É surpreendente portanto que ainda se veja críticas extremamente ingênuas ao positivismo.
Ontem, estava eu na aula de Francês. O tema de discussão do livro-texto se referia à religiosidade dos franceses e como a adesão às religiões tradicionais vinha caindo no país. Ao final da aula, a discussão decaiu para a velha briga “inexistente” entre religião e ciência. Uma das alunas, num argumento fraquíssimo, comparava as ciências sociais à religião a fim de concluir que “dava tudo na mesma”. Eu a interrompi afirmando que o argumento era forçado por que ALGUMAS das ditas ciências sociais eram sequer um exemplo de boa Ciência. Neste momento, como se eu tivesse ofendido a mãe de todos os outros alunos, fui bombardeado de acusações de positivista. “Como poderia eu afirmar aquilo?” “É claro que as ciências sociais são ciências! Por que não seriam?” Ao que eu perguntei: E por que precisariam ser?
Em nenhum momento, eu disse que, por não serem Ciência, algumas ciências sociais seriam invariavelmente inúteis. Perceberam a ironia da situação? Os alunos que me acusavam de positivista, provavelmente por pensarem que eu defendia o método científico da maneira positivista, eram talvez ainda mais positivistas! Ao se ofenderem com minha afirmação, eles demonstraram sua própria crença de que um conhecimento é apenas válido se for considerado Ciência! Uma das afirmações BÁSICAS do positivismo!
Essa ingenuidade é geral não só nos alunos, mas também nos profissionais de algumas ciências sociais. Talvez devido ao sucesso do lixo filosófico pós-moderno nesse meio, a definição de ciência vira um Vale-tudo. Querem, desesperadamente, ter o mesmo Status das Ciências Naturais, mas ficam para morrer quando a CAPES resolve usar os mesmo critérios de avaliação! Ora, ou é tudo igual ou não é tudo igual! Se não há diferença entre um Física e uma Pedagogia, os critérios de avaliação devem ser os mesmos! E se há diferença suficiente para que não sejam os mesmos por que precisam ter o mesmo título? É aquela velha história de que quem desdenha quer comprar. Denunciam abertamente o positivismo, mas todo dia antes de dormir acendem uma velinha para Comte.
Como se mata um mito?
A língua possui regiões específicas para cada sabor: Amargo, Ácido, Salgado e Doce. As papilas de cada região são capazes de detectar apenas determinado sabor. Então, se não quiser sentir o sabor de um alimento, basta não deixar que ele toque a parte da língua que sente aquele sabor.
Quando você aprendeu pela primeira vez a informação acima? Há uns 30 anos com a tia Maricota, sua professora da primeira série? Há 12 anos com o professor de Biologia da sétima série? Ou ano passado enquanto fazia pré-vestibular? Não importa. É muito provável que o leitor fique surpreso ao saber que tal “mapa” da língua é simplesmente um erro. Os culpados são D.P. Hanig, que em 1901 propôs tal mapa baseado nas impressões subjetivas de voluntários, e Edwin Boring, que em 1952 reexaminou os dados e plotou-o num gráfico de uma maneria que fazia parecer que regiões de baixa sensibilidade indicassem nenhuma sensibilidade. Essa idéia foi provada falsa em 1974 mas, surpreendentemente, continua a ser ensinada.
Da mesma forma, ainda podemos ouvir, inclusive de professores, que a Força de Coriolis interfira no escoamento da água de uma pia, que o bojo nos Vitrais de catedrais demonstrem que o vidro é um líquido e escorra, que a Teoria da Relatividade diga que tudo é relativo ou que a Teoria do Caos verse sobre borboletas e furacões, independentemente de nossos esforços em mostrar o quanto essas idéias são erradas.
Por que isso acontece?
Pronto. Chega de Pânico.
Ligaram o LHC. O mundo não explodiu. Os jornais podem parar de fazer o papel de Doommongers e mudar de assunto por favor? Uma jovem já até se suicidou por causa dessa papagaiada de fim do mundo. Parecem seguir à risca aquele história de “se é ruim é jornalismo, se é bom é propaganda”. Espero sinceramente que só voltem a falar do LHC daqui a uns 3-4 anos quando o CERN tiver data suficiente para confirmar se o Higgs surge na faixa de energia operada pelo acelerador.
O quê? 3-4 anos? Mas não é ligar e achar o bicho não, Renan?
Definitivamente não. Primeiro porque as experiências só começam mesmo em 2009, até lá a máquina passará por calibrações. Depois porque a produção de uma partícula subatômica específica numa colisão é um evento dificílimo de se detectar. O experimento DZero do Fermilab, que objetivava encontrar o Quark Top, teve que realizar Trilhões de colisões a partir 1992 para só em 1995 ter um punhado delas que apontassem a presença daquele Quark.
Mas e se não encontrarem o Higgs depois desse tempo todo?
Bom, se encontrarem o Higgs com massa entre 115 e 180 GeV estará tudo perfeito. Será uma evidência de que o Modelo Padrão funciona bem (adendo: funciona bem nessas faixas de energia. O Modelo Padrão pode, e muito provavelmente deve, quebrar para além da escala de TeV). Se a massa for maior que aquela faixa começam a aparecer os problemas do Modelo Padrão, dos quais não sei muita coisa.
Além disso, a procura pelo Higgs não é o único objetivo do LHC. Muitas outras descobertas estão ao alcance do acelerador. Não será dinheiro jogado fora.
E não custa nada lembrar:
Roubei a figura lá do Bad Astronomy.