Livro: Tudo se Conta

Fazia bastante tempo que eu não lia um livro desses leves e despretensiosos, talvez por isso mesmo tenha gostado de Tudo se Conta. Primeiramente, trata-se de um livro cuja personagem principal possui um Transtorno Obsessivo Compulsivo por contar e medir tudo, daí o nome do livro em Português que, apesar de perder o trocadilho do título original (Addition), continua a fazer sentido diferentemente da praga que é a maioria das traduções de nomes de livros e filmes.

Grace Lisa Vandenburg conta os passos que dá até o banheiro ao se levantar, as escovadas no cabelo, nos dentes, os passos que dá até a cozinha. Tudo. Além disso só comprar coisas às dezenas. Xampu, sabão em pó, bananas. E é comprando bananas que conhece Seamus por quem mais tarde se apaixona e por quem tenta até mudar.

Por cima, Tudo se Conta é seu típico livro de romance. Paixões, brigas e reconciliações preenchem esse pequeno livro 200 páginas. Entretanto, os detalhes da personagem e da narrativa me chamaram a  atenção. Grace é fanática pelo inventor/cientista/quase-tudo Nikola Tesla e vários acontecimentos de sua vida são citados no decorrer do livro. Além disso, os diálogos são muito engraçados. A astúcia de Grace ao responder às pessoas “normais” é fascinante. É uma pena, portanto, que no fim da história se caia numa liçãozinha de “seja você mesmo” para lá de descartável. Grace merecia um final menos “normal”.

Quanto à tradução não tenho o que reclamar. Algumas piadas foram obviamente perdidas. Há inúmeras notas de rodapé explicativas dessas piadas e de referências pop mais obscuras. Há inclusive exageros. Em determinado momento é citado um Ábaco, que o tradutor faz questão de dizer que se trata do instrumento de cálculo quando o contexto já deixava isso bem claro.

Enfim, Tudo se Conta não é um livro que vai mudar sua vida, mas é bastante agradável. Se estiver com tempo e um dinheiro sobrando, vale a pena.

Este artigo possui 356 palavras. Pode contar, a Grace contaria.

Saiba mais sobre o livro clicando aqui (está disponível inclusive um capítulo do livro).

Recebi o livro como cortesia da editora Ediouro numa parceria com o Lablogatórios.

Livro: Guia do Observador de Nuvens

Sou aficcionado por nuvens. Um aficcionado um pouco relapso, na verdade, já que poucas vezes parei realmente pra estudar suas características, formação, etc. Sempre me limitei a observá-las e, no espírito da “Sociedade dos Observadores de Nuvens”, a denunciar a chatice da “ditadura do céu azul”. Se  você também é um apreciador de nuvens, esse livro, escrito por Gavin Pretor-Pinney e traduzido recentemente para o português, é um ótimo ponto para se iniciar no estudo das “nossas amigas fofinhas”.

Cada capítulo concentra-se num tipo de nuvem e, além de caracterizá-las, também explica alguns conceitos básicos de Física e de outras ciências necessários a compreensão dos vários fenômenos relacionados a cada tipo. Usando uma narrativa bem leve, e por vezes engraçada, o autor também comenta mitos e histórias que envolvem as nuvens assim como sua utilização nas artes.

Mas nem tudo são flores. Para um livro de divulgação científica, ele se excede um pouco e acaba ficando um pouco chato quando, a cada capítulo, se dedica a caracterizar as espécies e variedades de cada tipo de nuvem. Outro ponto fraco é que as fotos utilizadas são em preto e branco (tanto na versão brasileira quanto na original) diminuindo a beleza e o impacto das imagens. Há apenas um pequeno encarte no meio do livro com imagens coloridas impressas em papel de melhor qualidade.

Enfim, apesar dos defeitos, o Guia do Observador de Nuvens é um bom livro de introdução para aqueles se interessam por nuvens mas não tiveram a chance de ter um intrução formal no assunto.

Livro: O mundo sem nós, Alan Weisman

Este é um livro ímpar. Poucos são os autores que, ao escreverem sobre o impacto ecológico humano sobre a Terra, conseguem escapar do discurso Eco-chato típico. Weisman parte de “E se nossa espécie desaparecesse de repente amanhã” e explica de maneira impressionante o processo da natureza para se livrar de nossos rastros. Nossas casas, cidades, fazendas, a poluição que causamos. O que vai ser o primeiro a desaparecer? E o último? Algo ainda durará para sempre? Será que algo sobrará depois que o Sol inchar numa Gigante Vermelha?

Weisman intercala capítulos em que descreve o impacto da espécie humana em determinado ambiente, por exemplo na Megafauna americana do Pleistoceno, com capítulos descrevendo o processo de degradação dos ambientes “humanos”, como o complexo petrolífero do Texas, e o processo de retomada da natureza de espaços de fazendas e outros ambientes severamente modificados.

É impressionante perceber a extensão do estrago que causamos. E ao mesmo tempo, se a natureza se livrar de nós, como será (pelo menos geologicamente) rápido para ela nos esquecer. Enfim, é um daqueles “livros para se sentir um merda”. Leitura Obrigatória.

Agora um comentário sobre a versão brasileira. Senhor tradutor Paulo Anthero S. Barbosa, muito bom seu trabalho, querer traduzir toda e qualquer palavra estrangeira (Diesel para disel, Hiroshima para Hiroxima), tarefa estupidamente inútil na minha opinião, até pode ter parecido uma boa idéia. Mas por favor, na próxima traduza corretamente as unidades de medida. A quantidade de informação em Farenheit e outras unidades inglesas até é suportável, mas traduzir milhas náuticas para quilômetros náuticos foi demais para o meu pobre coração. Mais cuidado da próxima vez. Sem falar na tradução cachorra de alguns termos de Física que apareciam de vez em quando.

Livro: Variedades da Experiência Científica, Carl Sagan

Acabei de ler o mais recente livro de Carl Sagan. Bom, dizer isso é um tanto estranho já que é o segundo livro póstumo do autor, o primeiro foi Bilhões e Bilhões, e diferentemente deste, que já estava praticamente pronto quando da morte de Sagan, Variedades não foi exatamente escrito por ele, e muito menos idealizado, mas consiste na transcrição de sua participação nas Palestras Gifford de 1985, palestras que têm como tema a “Teologia Natural”.

Essas transcrições foram editadas pela viúva e colaboradora de Sagan em vários de seus livros, Ann Druyan, que também escreve a introdução deste livro.

É sempre bom ler Carl Sagan. Entrentanto, não estamos exatamente lendo Carl Sagan neste livro, mas sim ouvindo-o. E esse é um dos problemas: nem de longe este livro conta com a profundidade e precisão usuais de Sagan, que, como escreveu Druyan na introdução, revisaria cada rascunho vinte vezes em busca de problemas de clareza ou estilo que pudessem prejudicar a leitura e o entendimento.

Para aqueles que já leram outros livros de Sagan, não há nada de muito novo aqui. As criticas usuais à religião e às crenças irracionais estão lá, o alerta às consequências de uma Guerra Nuclear estão lá, e por aí vai. Entretanto, vale muito como uma introdução à descrença e neste contexto é muito mais eficiente que outros livros recentes de ateus famosos, como Richard Dawkins, que assumem uma abordagem mais agressiva. Podemos dizer que, como li certa vez, este livro de Sagan é um “Deus, um delírio” com Vaselina.

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