Fuck Yeah Fatores Extracientíficos!
Olha só que interessante.
No início de maio, a colaboração do experimento XENON100 para a detecção de Matéria Escura soltou no arXiv (o principal repositório de pré-prints de Fìsica) um artigo com resultados que invalidavam o que outros dois experimentos, CoGeNT e DAMA, haviam encontrado: sinais dos chamados WIMPs (Partículas Massivas Fracamente Interagentes, em inglês) de determinada massa. O que o XENON100, que supostamente seria mais sensível que os outros, encontrou foi que não há evidência para essas partículas.
Dois dias depois veio um comentário discutindo a suposta sensibilidade do experimento e apontando diversas fontes de incertezas nos dados.
Já no dia 14, a colaboração subiu uma resposta esclarecendo a analise estatística do grupo e comentando as críticas.
E ontem, dia 20, uma nova contestação à resposta da colaboração foi feita.
Não tenho conhecimentos experimentais nem sobre matéria escura para avaliar a sutileza das discussões, mas estou achando essa pequena guerra no arXiv muito divertida e com certeza o que move os dois lados não é simplesmente a busca pela verdade científica. Cada um deles deve ter um alinhamento muito claro com determinadas vertentes teóricas da hipótese de Matéria Escura e inclusive o interesse de defender seus próprios experimentos frente aos financiadores.
O primeiro a gritar “Meu Kuhn” nos comentários, perde. =P
“Física Teórica é bobagem”, diz ex-diretor do IFUSP
A morte súbita de todos os Físicos Teóricos do instituto, na semana passada, não terá grandes conseqüências segundo o ex-diretor, já que a Física Teórica era de “quinta categoria”. Mesmo depois do ocorrido, defendeu a física experimental do Instituto.
“Física Teórica é bobagem esotérica. A função do instituto é discutir o sexo dos anjos do início do universo ou descobrir materiais novos e fazer avançar a tecnologia?”
As investigações apontam como causa da morte o Aquinoruthismo Cavalar, uma síndrome relacionada a crises de falsa dicotomia crônica. A fonte da infecção pode ter origem nos Diretores e ex-Diretores do Instituto, talvez por isso a reação estranha do referido.
Mais sobre o caso aqui.
A fantástica Cura Quântica
Os verdadeiros métodos de Cura Quântica, muito melhores que os do Deepak Chopra (seja lá como isso se escreve…), só que se limitam à cura quântica pra burrice [1]:
- Enfia o misticuzinho numa caixa com um
frasco de veneno que é quebrado quando e se um núcleo radiativo decair; - Lança o misticuzinho em alta velocidade contra uma
parede com fendas e espera o padrão de interferência do outro lado. - Lança dois misticuzinhos ao mesmo tempo para dois cantos
separados no espaço e espera se comunicarem por telepatetia [2]; - Lança um monte de misticuzinho um a um contra uma
parede até algum aparecer intacto do outro lado.
Mr. Google, send me some trolls.
[1]: Segundo @joeysalgado
[2]: Sugestão do @LFelipeB
A controvérsia de não existir controvérsia
Nós, divulgadores de ciência – posso me colocar na categoria? Digam que sim! – sejamos blogueiros, jornalistas, escritores, estamos tão imersos na luta contra os agentes auto-iludidos da desinformação que mal ouvimos a palavra controvérsia ser usada contra alguma teoria que pulamos de nossas cadeiras para esbravejar “Não há controvérsia”!
É claro que, na maioria das vezes, o que o mentecapto semi-analfabeto clamará como controvérsia é algo que não o foi, não o é e muito menos o será num futuro próximo. Ainda que as verdadeiras controvérsias científicas sejam muito mais sutis que qualquer afirmação do doido varrido é bastante arriscado dizer que elas não existem ou que não são importantes para o panorama geral. Escondê-las não poderia nos fazer perder o pouco de credibilidade que nos resta com o cidadão comum?
Aliás, esqueçam isso. Pensando melhor, se estamos falando de defensores alucinados do incoerente, tanto esconder como admitir as controvérsias sutis da ciência é pavimentar o caminho para a merda. Não importa o que se diga ou o que se explique. A tática do inimigo é muito mais poderosa. Apelam para os sentimentos enquanto apelamos para a razão.
Não importa se o modelo de universo cíclico com bounce é uma alternativa para se enfrentar a singularidade que aparece no modelo clássico do Big Bang. Se dissermos que há essa teoria científica alternativa para o início do Universo logo virão aqueles que dirão que essa teoria devolve o Criador ao seu lugar (nem a pau). Se dissermos que não há teoria alternativa viável (ainda) virão dizer que não se pode pesquisar fora dos “dogmas” científicos.
E se nesses quatro parágrafos não fiz muito sentido ou discorri sobre uma opinião muito clara, é porque às vezes penso que somos grandes masoquistas que damos o mote e batemos palma pros doidos dançarem nos comentários, nas revistas de variedade, nas cartas dos leitores, nos livros de misticóides aleatórios…