Eventos aleatórios direcionados: vírus são vivos

©Rodrigo Barreiro

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Este post é o resultado de uma prova aplicada à turma da disciplina de Virologia, da graduação em Ciências Biomédicas do ICB/USP. A prova foi uma redação sobre o tema “Vírus é vivo?” e as respostas seguem abaixo:

Aprendemos na escola (ensino fundamental e médio) que os vírus não são seres vivos devido ao fato de não possuírem um metabolismo próprio, muito em função de eles serem parasitas intracelulares obrigatórios, só se reproduzindo utilizando uma maquinaria celular pronta e outras características que nos faziam acreditar e afirmar que esse conceito estava certo, pois a definição de vida era única e os vírus fugiam dessa regra. E, realmente, são argumentos válidos os utilizados na escola, já que é difícil acreditar que uma entidade que não possua um meio de nutrir-se e que é constituída basicamente de um material genético e proteínas, ou seja, sem organelas, possa ser considerada viva.

No entanto, entramos na faculdade e temos acesso a informações sobre conceitos de biologia molecular, sobre os processos realizados pelos seres considerados vivos para se multiplicarem no ambiente. E, então, estudamos os microorganismos conhecidos como vírus e percebemos que eles realizam os mesmos processos ou, para não utilizar essa palavra, processos muitos similares. Não só isso, mas essas entidades possuem outras estratégias incríveis que obtiveram sucesso de acordo com a teoria da seleção natural. Diante dessas características fica difícil concordar plenamente com os conceitos aprendidos na escola.

Não que a escola esteja ensinando conceitos errados, pelo contrário, os ensinamentos passados têm uma base teórica e argumentativa muito forte e defendida por muitas pessoas que estudam os vírus diariamente. Entretanto, argumentos contrários, ou seja, que defendem que os vírus são vivos e não somente partículas inertes dependentes de eventos aleatórios como a cristalização tal qual ocorre com minerais como grãos de areia ou mesmo com substâncias orgânicas como os fosfolipídios, formando micelas. Eles dependem, sim, de eventos aleatórios, mas não podemos esquecer que os seres plenamente considerados como vivos também dependem da aleatoriedade para se manterem “vivos”.

Peguemos como exemplo a reprodução humana. Parece estranho comparar vírus com seres humanos, porém devemos lembrar que estamos aqui somente por causa de um evento aleatório chamado fecundação. Com certeza há muitos processos que aumentam a probabilidade de esse evento ser concretizado, dentre os quais podemos citar a morfologia das estruturas reprodutoras e os processos fisiológicos que ocorrem no intuito de dificultar menos o evento da fecundação. E esses processos que aumentam a probabilidade de ocorrência dos eventos são ditados por um material genético, no caso, o DNA, que direciona e constrói uma relação entre as proteínas do organismo de modo a aumentar a probabilidade de propagação e perpetuação dessa “molécula da vida” no ambiente.

E o mesmo ocorre com os vírus. Eles dependem bastante da “sorte” de reconhecer uma estrutura celular que permita a eles deixarem de ser vírions para se tornarem vírus propriamente ditos, ou seja, que possam se utilizar da maquinaria celular para se replicarem e se multiplicarem através das mais variadas estratégias de reprodução. E a esse evento aleatório seguem-se outros como a organização dos capsômeros para formar o capsídeo na fase tardia por meio da cristalização. São eventos aleatórios, sim, mas são direcionados por um material genético que codifica essas proteínas constituintes do capsídeo, que regula o processo de transcrição dos genes tardios na fase tardia e que sofre mutações, características que são compartilhadas pelos seres considerados vivos. O material genético direciona os processos com a intenção de aumentar a probabilidade desse material genético se propagar na biosfera regida pela seleção natural e isso acontece com os vírus e com os “seres vivos”. Portanto, como os vírus possuem essa característica inerente à vida, isto é, de possuir um material genético que rege o seu modo de ser a partir do direcionamento dos eventos aleatórios, os vírus são vivos.

Quem sou

Victor Yuji YariwakeOlá, meu nome é Victor Yuji, tenho 19 anos e sou aluno de Ciências Biomédicas. Sempre me interessei por ciências, principalmente sobre assuntos relacionados à fisiologia e à imunologia. Amante de estudos, de conhecimento, de música e da natureza.

A questão dos vírus

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Este post é o resultado de uma prova aplicada à turma da disciplina de Virologia, da graduação em Ciências Biomédicas do ICB/USP. A prova foi uma redação sobre o tema “Vírus é vivo?” e as respostas seguem abaixo:

Um dos assuntos muito discutidos na comunidade cientifica é se os vírus são vivos ou não. Mas, primeiramente, o que são vírus? Esses seres são parasitas intracelulares obrigatórios, que apresentam um capsídeo proteico e material genético, que pode ser DNA ou RNA, não apresentando ribossomos ou outras organelas.

Diante disso, é necessário também saber o que se tem de consenso sobre o termo ‘vida’. Organismos considerados vivos são aqueles que possuem uma organização celular, ou seja, possuem célula, apresentam metabolismo e capacidade de se reproduzir, além de ter material genético e um histórico de evolução. Porém, analisando essas informações e comparando com o que foi dito anteriormente, é possível concluir que os vírus não têm células, não possuem metabolismo próprio e não se reproduzem sozinhos. Como, então, propor que são vivos?

Umas das poucas certezas que existem é de que ninguém consegue viver sozinho. Como exemplo é possível citar as plantas que precisam de fungos, como as orquídeas; os fungos que não vivem sem a interação com algumas algas, como na simbiose; existem bactérias que só conseguem se replicar e sobreviver dentro de células eucarióticas; e até os seres humanos, que necessitam do convívio social e de manter relações pessoais para que a reprodução ocorra, por exemplo. Da mesma forma ocorre com os vírus, que precisam utilizar a maquinaria de outras células para se reproduzir e multiplicar em um organismo.

Além disso, várias hipóteses já foram lançadas a respeito da evolução dos vírus e do seu surgimento. Entre elas, estão as que afirmam que esses pequenos seres podem ter surgido de outros que perderam seu material genético. Nada, porém, foi confirmado ainda.

Sendo assim, é possível concluir que a vida é muito mais do que se vê ou do que se sabe e, nesse quesito, os vírus se encontram em um horizonte distante, deixando para trás dúvidas, questionamentos e incertezas como essas. Da mesma forma como existem argumentos aqui descritos, defendendo que vírus são vivos, existem muitos outros afirmando o contrário; cabe a cada um se informar e estudar para estabelecer seu ponto de vista, afinal, a vida está em constante mudança. Qual é o seu lado?

Quem sou

Daniela Veronesi GiaconeMeu nome é Daniela Veronesi Giacone, estudante de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo, sou do interior do estado e atraída pela complexidade da oncologia. Acredito que a busca pelo conhecimento é o que nos leva mais além e o sonho de buscar a cura de doenças foi o que me trouxe até aqui.

 

VÍRUS SÃO VIVOS? UM DEBATE INCESSANTE

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Este post é o resultado de uma prova aplicada à turma da disciplina de Virologia, da graduação em Ciências Biomédicas do ICB/USP. A prova foi uma redação sobre o tema “Vírus é vivo?” e as respostas seguem abaixo:

Em meados do século 19, observou-se o aparecimento de doenças causadas por partículas que, embora muito menores, se comportavam de maneira semelhante às bactérias: ao infectar um organismo, causavam modificações metabólicas e fisiológicas nele e podiam ser transmitidas de um indivíduo para outro. A essa partícula infecciosa foi dado o nome de VÍRUS (do latim, veneno).

Essa descoberta passou a intrigar médicos e pesquisadores, e em 1935, Wendell e seus colaboradores conseguiram cristalizar o vírus e com isso, descobriram que apesar de possuir complexas reações bioquímicas, esse novo agente infeccioso era ausente de reações metabólicas necessárias para viver. Ainda que por muito tempo a afirmação “vírus não são vivos” tenha sido considerada uma verdade, essa dúvida ainda assola as mentes da comunidade científica.

A ideia de que vírus não são vivos baseia-se na descoberta de que essas partículas dependem de uma célula denominada hospedeira para se multiplicarem e obter energia por meio de ATP. Ao infectar uma célula, o vírus torna-se capaz de exercer controle sobre seus genes e passa a utilizar a sua maquinaria (ribossomos) para transcrever os seus próprios genes que codificam proteínas estruturais necessárias para a montagem de novos vírus dentro do hospedeiro. Os vírus necessitam da maquinaria da célula, pois são constituídos apenas por material genético (DNA ou RNA) e proteínas virais necessárias para a infecção, que estão envoltos por um capsídeo protéico, sendo ausentes, portanto, de organelas e ribossomos. Contudo, essa relação de dependência não é restrita a esse caso. Na natureza, fungos e algas, organismos vivos, se associam formando liquens em uma relação de mútua obrigatoriedade denominada simbiose. Quando dissociados, estes organismos não conseguem sobreviver, porém juntos exercem a vida. Algo parecido ocorre com os vírus: sozinhos não possuem capacidade de multiplicação já que são ausentes das estruturas necessárias para a produção de proteínas, que serão utilizadas na montagem de novos vírus, porém, associados á uma célula tornam-se capazes de controlá-la e multiplicar-se.

Além disso, como todos os seres vivos, os vírus sofrem seleção natural, a qual consiste na manutenção ou não de uma mutação, por aptidão biológica, através dos seus descendentes. Mutações que favoreçam sua adaptação ao hospedeiro, que aumentam sua resistência fora da célula e que potencializam sua capacidade de infecção serão mantidas nas próximas linhagens virais. O mesmo ocorre com os seres considerados vivos: mutações que favoreçam à sua sobrevivência serão transpassadas pelas próximas gerações.

Assim, como diriam Regenmortel e Mahy, concluo dizendo que os vírus possuem “um tipo de vida emprestada”, a qual se realiza a partir da infecção de uma célula hospedeira. Contudo, esse debate tende a continuar já que a sua resposta baseia-se em uma única intrigante pergunta: o que é vida?

Quem sou

Laís CabralMeu nome é Laís Cabral, tenho 19 anos e sou estudante de biomedicina pela USP.  Meu desejo, desde sempre, de entender a complexidade do ser humano em suas perfeições e imperfeições é o que me motiva a seguir a instigante carreira de cientista.

O vírus de Schrödinger

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Este post é o resultado de uma prova aplicada à turma da disciplina de Virologia, da graduação em Ciências Biomédicas do ICB/USP. A prova foi uma redação sobre o tema “Vírus é vivo?” e as respostas seguem abaixo:

Schrödinger era um homem muito excêntrico e à frente de seu tempo. Um dia, seu amigo Dimitrii Ivanovski lhe contou que estava estudando o agente causador da doença de mosaico do tabaco e que ele não era retido pelos seus filtros. Schrödinger então, astuto como era, decidiu investigar melhor essa história e, para isso, pegou esse agente causador e o adotou, como se fosse um animal de estimação, e o estudou profundamente. Seus amigos então, ouvindo falar dessa história, foram um a um o visitar.

Primeiro chegou Fibonacci, curioso. Schrö (apelido carinhoso dado a ele) começou a lhe contar sobre a estrutura daquele ser que adotara. Contou que ele era envolto por uma cápsula que protegia um tesouro que lhe permitia sobreviver, e que tinha uma estrutura helicoidal. Fibonacci se interessou muito e, após alguns anos, descobriu o “número de ouro” presente em muitos padrões na natureza, e inspirou a perfeição na arte. O Louvre não estaria tão cheio hoje se não fosse da Vinci se baseando nesse conceito.

Shrö causou polêmica ao falar desse tal tesouro. Bateu então em sua porta outro amigo; como Schrö estava meio surdo, ele bateu mais. Baltimore foi finalmente recepcionado. Schrödinger mostrou a ele como aquele ser apenas conseguia se multiplicar quando tinha contato com outro ser vivo, liberando seu tesouro dentro da célula e deixando sua estrutura restante para fora. Baltimore resolveu estudar mais a fundo, e desvendou os mecanismos de como aquele ser se multiplicava. Nessa época já se conhecia os ácidos nucléicos e Baltimore definiu então que aquele ser deveria produzir RNAs mensageiros que pudessem ser traduzidos pelos ribossomos, e dividiu então como sendo DNA, RNA, cadeia simples ou dupla, e os mecanismos de replicação, estudando tudo com base na polaridade. O RNA mensageiro, por exemplo, é positivo, pois tem a informação que foi traduzida, e as fitas complementares são negativas.

Schrödinger já estava bem feliz com suas descobertas, mas alguns amigos ainda estavam por vir: Richard Dawkins e Douglas Adams. Ambos estavam sedentos para encontrar uma resposta para a vida. Até que Richard viu naquele ser uma pergunta milenar respondida. E Douglas viu que a resposta para a vida pode não ser 42. Tudo isso porque descobriram nele uma característica de replicador Darwiniano. Explicaram então que se acredita que no início da evolução, moléculas estáveis no oceano foram sendo selecionadas, até que aleatoriamente uma molécula replicadora surgiu, então várias delas foram criadas, com erros e diversidades surgindo, mais seleção e competição aconteceu, até que elas conseguiram fazer códigos para criarem envoltórios para se proteger, e assim tudo progrediu até que a competição se tornou muito grande e essas moléculas conseguiram potentes máquinas que tornaram sua replicação muito mais eficiente: os seres vivos, e ainda mais: os seres humanos. Porém, Schrö explicou que tudo era uma questão de se ter um meio onde o essencial, que é o código para a replicação, permanecer nas gerações. Antes, esse meio era o oceano, agora, ele é o pool genético que define muitas características não necessariamente replicativas, porém que melhoram as condições de replicação. Ora, após toda essa discussão, concluíram que aquele ser seguia esse modelo.

Restou então uma questão que Schrödinger queria responder: afinal, aquilo era um ser vivo, ou não? Ele chamou então seus amigos para um experimento. Colocou o ser numa caixa, onde ninguém o poderia ver, e dentro dessa caixa também havia uma estrutura mimetizando uma célula. Definiu então que se a célula recebesse o ser, ele seria considerado vivo, já que funcionaria dentro dessa célula; e assim como uma organela não funciona sozinha e só é considerada parte da vida quando atua em conjunto com a maquinaria celular, assim também era aquele ser. Porém a célula seria “envenenada” e morreria, enquanto mais seres iguais eram liberados na caixa. Se o ser ficasse para fora da célula e não conseguisse se multiplicar, não era considerado vivo. Acontece que, se a caixa fosse aberta, a célula morreria e liberaria seu material genético, e não seria possível distinguir as moléculas e descobrir se o ser estava a utilizando ou não, e se a célula sofreu lise pela abertura da caixa ou pelo parasitismo daquele ser. Ele poderia ser considerado então como os dois, vivo e não vivo, ele era uma superposição dos dois estados, enquanto não podia ser observado.

Schrödinger ficou eternizado por suas descobertas e suas questões levantadas, assim como seus amigos, e ao final de seu experimento finalmente deu um nome ao seu pequeno ser, baseado na ação nociva que causava na célula: vírus, o latim para veneno.

Quem sou

Gabriela AyubGabriella Ayub de Mendonça tem 19 anos de vida e 7 deles foram com a cabeça nas nuvens sonhando em ser cientista. Há 2 anos teve que por os pés no chão para isso. Graduanda em Ciências Biomédicas, passa seus dias entre aulas, laboratórios, livros, cuidando da casa, aprendendo a cozinhar (porque nem só de miojo vive um universitário), dando risada com as amigas que moram junto, viajando para outros mundos lendo romances policiais e voltando para sua cidade que não é interior e nem grande metrópole – Mogi das Cruzes, onde estão sua família e seu namorado Gabriel, seus grandes amores, e também terra do caqui, do Maurício de Sousa, da Dona Yayá, do Neymar, e dela, Gabriella Ayub de Mendonça.

Vírus: viajantes entre mundos

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Este post é o resultado de uma prova aplicada à turma da disciplina de Virologia, da graduação em Ciências Biomédicas do ICB/USP. A prova foi uma redação sobre o tema “Vírus é vivo?” e as respostas seguem abaixo:

O conceito de vírus evoluiu de um “veneno filtrado” capaz de causar doenças (como descrito para o mosaico do tabaco no fim do século XIX) para “organismos codificadores de capsídeo capazes de sofrer evolução Darwiniana, parasitas intracelulares ou intravirais obrigatórios”. Essa mudança se deu após o estudo de milhares de tipos virais, possuindo todos, basicamente, vírions com as seguintes características: presença de material genético capaz de sofrer evolução (DNA ou RNA, mas com o RNA no “centro” do processo), capsídeo proteico e, em alguns casos, envelope lipídico. Essas partículas virais, ao entrar em contato com células, geram uma “fábrica viral”, capaz de copiar a estrutura do vírion múltiplas vezes. A descoberta de vírus gigantes (como o mimivírus) tirou o elemento “filtrável” da definição e a descoberta do Sputnik, vírus capaz de parasitar mamavírus, adicionou a parte dos vírus intravirais.

Após definir em linhas gerais os vírus, é necessário definir vida. Contudo, seguindo a linha de pensamento de Karl Popper, essa definição é não-científica, não sendo possível chegar a um conceito forte utilizando as ferramentas lógicas com o método científico. Essa conceituação é intrinseicamente humana e precisa levar em consideração o processo de surgimento de um conceito como uma construção social. A escolha de um ponto de vista precisa utilizar os conceitos populares, intuitivos, milenares até, de vida e adicionar a ele limites mais precisos.

A vida, em visão macroscópica, consiste basicamente de seis pontos: reprodução, movimento, crescimento, desenvolvimento (um “ciclo de vida”), resposta a estímulos (“homeostase”) e evolução. Entretanto, diversos fenômenos reconhecidamente abióticos apresentam características semelhantes, por exemplo o fogo ( de reprodução, crescimento e desenvolvimento), vírus de computador ( capazes de replicação e evolução) e, notavelmente, cristais. A cristalização é um processo auto-organizado no qual, após uma nucleação, os elementos dissolvidos formam estruturas que crescem reproduzindo padrões, gerando até, em alguns casos, diversidade (como em quasicristais). Cristais podem ser até catalizadores de processos reconhecidamente biológicos, como a montmorillonita, possivelmente influenciadora do surgimento de replicadores no mundo pré-LUCA.

Todavia, tais elementos não são considerados vivos. A principal razão para a isso é a ausência de um organismo, um conjunto de subsistemas organizados e coordenados de forma a dar sustentação a um sistema maior; e a ausência de um material genético, carregador das informações para construção de um organismo e capaz de evoluir Darwinianamente. Esses dois fatores, somados à autopoiese (capacidade de um sistema químico gerar outro semelhante a partir de materiais “externos”) constituem uma tríade que, indiretamente, inclui os conceito “populares” e permite uma base mais palpável para prosseguimento da discussão.

Sendo assim, os vírus são organismos vivos? A pergunta encontra ainda mais um obstáculo: o ciclo viral. O vírion, a forma extracelular do vírus, inerte em sistemas abióticos e até, muitas vezes, cristalizável, carrega ácidos nucleicos. Mas não possui um comportamento de organismo nem capacidade regenerativa, não podendo ser considerado vivo. Por outro lado, a “fábrica viral” e toda sua malha de interações forma claramente um organismo, com integração de etapas e replicação da informação necessária para a gênese dos virions e reinício do ciclo. Apesar de tal fenômeno parecer “alopoiético”, com a célula produzindo vírus, as estruturas do hospedeiro são fortemente cooptadas, servindo como ferramentas e nutrientes para o processo protagonizado pelas informações virais, podendo ser entendido como um processo autopoiético. Logo, a forma ontogeneticamente ativa da “fábrica viral” é viva.

Conclui-se assim que os vírus são, como entidades, viajantes entre mundos. O vírion, estrutura no mundo inanimado, não-vivo, constitui um “zoígeno”, um elemento capaz de, nas condições certas, dar origem a vida. Enquanto o vírion não for inativado, perdendo sua organização, ele pode passar por um processo de criação, necessitando, para isso, de uma célula viva, a partir da qual a entidade viral ativa consegue se formar. O surgimento desse organismo vivo constitui então uma “transbiogênese”, no qual um ser vivo conceitualmente diferente brota da interação do vírion e o hospedeiro.

A estruturação de vírus como seres cujo ciclo de vida transita entre estágios vivos e não vivos cria duas novas indagações: onde os vírus se integram no quadro dos seres vivos existentes (ou seja, em que ponto do “arbusto da vida”) e se entidades replicadoras semelhantes podem receber classificações que os incluam nos domínios da vida.

As interações filogenéticas “ribossomocêntricas” da “árvore da vida” se tornaram demasiadamente simplistas com a descoberta de diversos eventos de simbiose e transferência gênica horizontal, formando um complexo arbusto que brota a partir do LUCA (o último ancestral comum). Como há vírus parasitando arqueas, bactérias e eucariotos, é possível imaginar vírus parasitando o LUCA ou até sistemas de reprodução de RNA anteriores. A interação de parasitas com química de DNA pode até ter participado da mudança no tipo de material genético usado pelos replicadores mais complexos, de RNA para DNA. Apesar de alguns capsídeos icosaédricos apresentarem motivos proteicos semelhantes, a ausência de um gene unificador (com os genes ribossonais em células) e a presença de diversas classes (que apesar de centradas no ssRNA+, apresentam materiais variados como ssDNA, dsDNA-RT, ssRNA-RT e outros) sugerem que é possível a diversos eventos de surgimento de linhagens virais. Somam-se a isso altas taxas de evolução, que tornam o rastreamento filético a longo prazo muito complicado. Dessa forma, os vírus “vivos” constituem parte ativa do arbusto da vida, mas com a relação filogenética exata necessitando ser melhor esclarecida por pesquisas futuras.

Quando viramos o olhara para outros replicadores Darwinianos como plasmídeos, retrotransposons e viroides, não é possível observar a mesma malha de interações formadora de organismo. Sendo assim, tais “replicons órfãos” não possuem suficiente protagonismo para adquirirem o mesmo patamar de vivos ou “viajantes”. Isso não diminui a importância dessas estruturas, que mesmo não-vivas por si, são parte chave na complexidade que rege os sistemas biológicos.

Em conclusão, o acatamento de vírus como um seres com estado vivo (em contraponto à visão celularista da vida, atualmente mais popular) acarreta uma pespectiva menos hierarquizada das entidades biológicas, contribuindo para uma visão mais horizontal da vida. Mais que isso, o aceitamento de vírus como entidades vivas, protagonistas, é uma atitude não só justa como progressiva, contribuindo para redução da visão antropocêntrica da biosfera e até enriquecendo nossa posição como seres integrados a uma rede de interações de organismos .

Quem eu sou?

Tiago LubianaMeu nome é Tiago Lubiana, carioca, estudante e patologicamente apaixonado pela ciência, com queda especial por biologia molecular, bioquímica e encéfalos. Entusiasta da ciência aberta e do pensamento crítico como ferramentas de transformação social.

Inventores brasileiros pedem sua ajuda, em dinheiro, para levar ao mercado um dos designs mais premiados do mundo em 2014

– Por Henry Suzuki

Imagine que a próxima vez que você for comprar água no supermercado, você possa escolher entre uma garrafa fechada com uma tampa “normal” ou com um tampa que, após ser usada, possa ser reutilizada como bloco de montar. Imagine agora que, além de encaixarem entre si, essas tampas-blocos de montar também se encaixem com blocos das principais marcas encontradas no mercado (Lego, Megablocks, etc).

Pois é. Essas tampas existem: Nominadas pelo London Design Museum como um dos “Designs of The Year 2014” e vencedoras de diversos prêmios nacionais e internacionais de design e sustentabilidade, as Clever Caps (www.facebook.com/clevercaps) são tampas de garrafa que já saem de fábrica com duas vidas: Na primeira vida, são tampas compatíveis com gargalos de garrafas PET convencionais. Na segunda, são blocos de montar compatíveis com Lego. Isso tudo sem necessidade de reciclagem ou de qualquer outro tipo de reprocessamento.

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Criadas pelos inventores brasileiros Cláudio Patrick Vollers e Henry Suzuki, as Clever Caps estão muito perto de chegarem às gôndolas. O lançamento será feito por uma empresa brasileira de águas minerais. No entanto, para esse primeiro lançamento a produção será feita com maquinário de pequena escala, utilizado para o desenvolvimento das tampas.

Para acelerarem a ampliação de escala de fabricação, os inventores lançaram uma campanha de “crowdfunding” (financiamento coletivo). Qualquer pessoa física ou jurídica (inclusive você que está lendo este texto) pode colaborar.

As doações, que são feitas online, podem ser partir de 1 dólar. Dependendo da quantia, os colaboradores podem escolher entre diferentes tipos de recompensas. Uma das mais populares é a doação de Clever Caps para instituições de caridade: para cada dólar arrecadado, dez tampinhas serão doadas.

Para colaborar com o crowdfunding das Clever Caps veja o site: http://igg.me/at/clevercaps/x/7851837

Informações sobre as Clever Cap, incluindo um tutorial sobre como contribuir na campanha podem ser vistas nesse vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=KWQlI3GEXPA

 

Henry Suzuki é inventor, empreendedor e especialista em patentes.

 

Por que estudar química?

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Imagem de Shutterstock

– Texto de Roberto Costa

Tabela periódica, cadeia de carbono, átomos. Para muita gente, essas palavras assustam. Estudar química pode parecer complicado à primeira vista, mas quando começamos a relacionar a ciência ao nosso cotidiano o estudo pode se tornar muito mais natural e prazeroso.

Química é a ciência que estuda a estrutura das substâncias, a composição e as propriedades das diferentes matérias, suas transformações e variações de energia. Na prática, isso quer dizer que o papel da química da nossa vida é muito importante. Indústria alimentícia, petroquímica, farmacêutica, têxtil e outras dependem diretamente da química, assim como a criação de novos medicamentos e materiais biodegradáveis.

Ela faz parte do nosso dia-a-dia. O simples fato de estarmos vivos indica que reações químicas estão acontecendo dentro de nós, o tempo todo. A nossa respiração é pura química, e todas as atividades diárias envolvem química. Cada cheiro que sentimos demanda uma série de reações químicas intra-neuroniais. Acetona, álcool, grafite… Esses termos comuns do dia a dia também fazem parte do repertório da química.

Aprendendo química, é possível entender melhor o mundo ao seu redor. Com ela você fica sabendo porque o detergente retira a gordura, porque as folhas mudam de cor no outono e como a cerveja é produzida, por exemplo. Com ela, você entende os rótulos de produtos e pode até aprender a cozinhar melhor!
Além disso, ela é importante para compreender outras disciplinas, como Biologia, Ciências Ambientais, Física, Medicina e Ciências da Saúde. É por interligar tudo isso que a química é chamada de “ciência central”.

E atenção: se você se apaixonar pela química, ela é também uma ótima opção profissional. Entre as atribuições de um químico estão a elaboração de projetos de instalações industriais, manutenção de equipamentos, pesquisa e criação de novos materiais, controle e supervisão da produção e aplicação de testes de qualidade.

O momento para seguir nesta área não poderia ser melhor. A Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim) estima que os investimentos na indústria química brasileira devem chegar a 167 bilhões de dólares até 2020 e criar mais de 2 milhões de empregos. Segundo o Guia do Estudante, entre os melhores cursos de química estão o da Universidade de Brasília (UnB), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Universidade Federal do Paraná (UFPR), Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Para quem já embarcou nos estudos mas enfrenta dificuldades, uma boa dica é buscar informações complementares na internet. Algumas ferramentas são gratuitas e podem ser muito úteis, como o PasseiDireto, rede social acadêmica onde é possível trocar conhecimento e compartilhar arquivos com outros estudantes universitários, de diversas instituições do país, públicas e privadas.

Roberto Costa, formando de jornalismo que ama pesquisas científicas.

Fontes:
http://quimicaouniversoemmovimento.blogspot.com.br/
http://www.abiquim.org.br/home/associacao-brasileira-da-industria-quimica
http://passeidireto.com/

 

Experimento Micro-ondas – dia 22: o resultado final

Acompanhe o experimento desde o começo:

Dia 0: Um garoto contra um mito: Tulio vs Micro-ondas

Dia 1: Experimento Micro-ondas: Dia 01

Dia 3: Experimento Micro-ondas: Dia 03

Dia 20: Experimento micro-ondas: mudou o pH, e agora?!

 

Depois de analisar os dados coletados durante os 22 dias de experimento, é hora de revelar os resultados.

Primeiramente, uma recapitulação básica do que é tudo isso:

Há algum tempo, voltou a circular um velho mito nas redes sociais de que o forno de micro-ondas teria capacidade de alterar características físico-químicas dos alimentos nele aquecidos. Para mostrar que essas mudanças eram perigosas, haviam fotos de duas plantas, uma regada com água fervida no micro-ondas e a outra com água fervida no fogão. A planta que recebia água do micro-ondas morria em 9 dias.

Mas será que é realmente isso que acontece?

Responder essa pergunta foi umas das minhas motivações para a realização desse simples porém relevante experimento. Acompanhe os textos anteriores nos links acima caso você ainda não os tenha lido. Garanto que tudo vai fazer mais sentido.

No último texto, “Experimento micro-ondas – Dia 20: mudou o pH, e agora?!” demonstrei como o aquecimento da água pode alterar suas características físico-químicas, como por exemplo o pH. Sim, aquecer a água ou qualquer alimento no forno de micro-ondas muda algumas características da substância, na maioria das vezes tornando-a mais básica (menos ácida). Mas o efeito é exatamente o mesmo de ferver a água num fogão à gás.

Portanto, ao partirmos da noção de que a água fervida (sem importar o como) será mais básica, poderíamos esperar um efeito no desenvolvimento das plantas envolvidas. O pH das águas utilizadas no experimento estão descritas na Tabela 1:

Tipo de água pH
Mineral 6,0 ±0.1
Torneira 6,0 ±0.1
Fervida em forno de micro-ondas 6,8 ±0.1
Fervida em forno à gás 6,8 ±0.1

 

 

 

Tabela 1 – Relação de pHs

O experimento estava dividido em três testes: germinação em terra, germinação em algodão e crescimento. Achei interessante partir de três abordagens diferentes e tentar chegar em resultados que não se contradissessem. Será que deu certo?

 

1.    Germinação em terra – Rúcula e Chicória

 

Existem alguns textos pela internet dizendo que a água fervida em micro-ondas faria com que sementes ficassem estéreis. Será que é realmente isso que acontece?

Para o teste de germinação em terra, escolhi duas espécies de plantas que resistem bem ao calor e tem um tempo de germinação relativamente diferente entre si: Eruca sativa (Rúcula) e Cichorium endívia (Chicória). Foram mais de mil sementes espalhadas por 104 espaços em uma sementeira, como a Figura 1:

Figura 1: sementeira para testes de germinação.

Figura 1: sementeira para testes de germinação.

As sementes e respectivas mudas foram regadas duas vezes ao dia com uma quantidade padrão de água durante todo o período do experimento. Será que a fervura realmente deixou as sementes estéreis?

Veja você mesmo na Figura 2. Na metade superior temos as Chicórias e na inferior as Rúculas:

Figura 2: Sementeira ao final do experimento.

Figura 2: Sementeira ao final do experimento.

Você consegue dizer qual fileira recebeu qual tipo de água simplesmente olhando para esta imagem?

A distribuição foi a seguinte, da esquerda para a direita: água mineral, água de torneira, água fervida no micro-ondas e água fervida no fogão. Acertou alguma?

Conclusão: Não há efeito observável em relação ao tipo de água utilizado. Todos os quadradinhos tiveram uma germinação parecida.

Talvez você não tenha gostado muito desse resultado, por ser provindo de uma análise puramente qualitativa e subjetiva, onde a avaliação foi “no olho”. Mas esse não é nem o teste primário, o melhor acabou ficando para o final!

2.    Germinação em algodão – Feijão

 

Este foi um teste com um apelo um pouco mais didático, facilmente reproduzível por qualquer um (professor, faça esse experimento em sua classe!). Separei 60 feijões-comuns e coloquei 3 em cada pote. Cada grupo de 5 potes recebia um tipo de água. A brita no fundo do pote é para que o mesmo não saia voando, veja a Figura 3:

Figura 3: Feijões no algodão para teste de germinação.

Figura 3: Feijões no algodão para teste de germinação.

O que aconteceu? Será que algum feijão não germinou?

Acompanhe a Figura 4. Talvez seja um pouco difícil de observar, mas os feijões germinaram normalmente em todos os potes:

Figura 4: Feijões já germinados.

Figura 4: Feijões já germinados.

Conclusão: Não há efeito observável em relação ao tipo de água utilizado. Todos os feijõezinhos cresceram normalmente, como esperado!

 

3.    Teste de Crescimento – Cuphea gracilis e Torenia fournieri

 

Agora partimos para uma análise um pouco diferente. Mais robusta e quantitativa, o teste de Crescimento busca avaliar exemplares de duas espécies de flores comuns e como diferentes tipos de água afetam seu crescimento, medindo em biomassa. Esse foi o experimento de verdade, que usa números e porcentagens, imensamente melhores do que comparações “no olho” como fizemos até agora.

3.1  “Biomassa”? Isso é spaghetti para biólogos?

A piada pode ter sido ruim, mas a explicação é boa: biomassa é um termo chique para falar sobre a quantidade total de matéria viva existente num ecossistema ou numa população animal ou vegetal. [1]

Existem principalmente dois tipos de biomassa: específica, que trata da massa total de determinada espécie, e a biomassa de comunidade, que leva em consideração todas as espécies naquela comunidade.

Toda vez que utilizei biomassa aqui, estava me referindo à biomassa específica ou, no caso da biomassa média, a média da biomassa específica de nossas duas espécies: a Torênia e a Cufeia.

 

A biomassa foi medida de forma padronizada, na mesma hora e com o mesmo espaçamento temporal entre a última regada de cada planta. Uma balança de precisão foi utilizada para uma medida com maior acurácia. Isso significa que eu pesei elas na mesma hora, para garantir que eu não estaria pesando junto água da última regada.

 

As plantas estavam divididas de acordo com a Tabela 2:

Tipo de água Quantidade
Mineral 12 plantas (6 de cada)
Torneira 12 plantas (6 de cada)
Fervida em forno de micro-ondas 24 plantas (12 de cada)
Fervida em forno à gás 12 plantas (6 de cada)

 

 

 

Tabela 2 – Relação de distribuição de plantas

Para comparar o crescimento das plantas, escolhi utilizar a medida de biomassa média de cada conjunto. Pesei em uma balança de precisão cada planta no início do experimento e as fotografei. Ao final, pesei e fotografei novamente todas as plantas. A ideia inicial era pesá-las diariamente, mas tal processo mostrou-se logisticamente complicado.

Calculei a média aritmética de cada um dos 4 grupos no início e no fim do experimento. O gráfico a seguir mostra a biomassa inicial, em azul; biomassa final, em laranja; variação em porcentagem em amarelo. As medidas de massa estão em gramas. Veja a Figura 5:

Figura 5: Comparação de Biomassa Média.

Figura 5: Comparação de Biomassa Média.

A tendência é clara. Veja a Tabela 3:

 

Tipo de água

Média inicial

Média final

Variação

Porcentagem

Mineral

280,17

281,00

0,83

0%

Torneira

267,92

285,67

17,75

7%

Fervida micro-ondas

249,00

290,71

41,71

17%

Fervida fogão

248,92

290,25

41,33

17%

Tabela 3 – Comparação de biomassa média por tipo de água.

Podemos concluir, a partir dessa análise geral, que:

1.       No geral, as plantas utilizadas pelo experimento preferem as águas fervidas;

2.       A água mineral foi a que pior se saiu no nosso teste: as plantinhas que a receberam mal conseguiram sobreviver.

 

3.2  – Comparação de Biomassa Média de espécimes de Cuphea gracilis.

 

Agora, vamos analisar uma espécie por vez, a começar pela Cuphea gracilis (Cufeia). O procedimento adotado foi o mesmo: foi feita a média aritmética da biomassa inicial e da final e uma comparação simples. Acompanhe a Figura 6 e a Tabela 4:

análise_cufeia

Figura 6: Comparação de Biomassa Média de espécimes de Cuphea gracilis.

Tipo de água

Média inicial

Média final

Variação

Porcentagem

Mineral

264,00

258,50

-5,50

-2%

Torneira

238,83

270,33

31,50

13%

Fervida micro-ondas

223,50

257,83

34,33

15%

Fervida fogão

213,00

258,17

45,17

21%

Tabela 4 – Comparação de biomassa média por tipo de água de espécimes de Cuphea gracilis.

O efeito agora é um pouco mais sutil. Não há uma diferença tão gritante entre a água de torneira e as fervidas. O que é interessante de se notar é o péssimo desempenho da água mineral, que fez as plantas perderem biomassa, ou seja, emagreceram um pouquinho. Nota: não recomendo ao leitor interessado em perder alguns quilinhos beber água mineral em excesso; caso o leitor não se recorde, as plantinhas aqui estudadas funcionam de modo ligeiramente diferente de um ser humano.

 

Podemos concluir, a partir dessa análise de biomassa de espécimes de Cuphea gracilis, que:

1.       No geral, as Cuféias utilizadas pelo experimento preferem as águas fervidas no fogão, com uma pequena diferença entre a água de torneira e a fervida no micro-ondas;

2.       A água mineral obteve o pior desempenho; os espécimes que receberam-na não apenas deixaram de crescer, mas definharam perdendo em média 2% de sua biomassa inicial;

 

3.2 – Comparação de Biomassa Média de espécimes de Torenia fournieri.

 

O mesmo procedimento foi repetido para os espécimes de Torenia fournieri. Veja a Figura 7 e a Tabela 5:

análise_torenia

Figura 7: Comparação de Biomassa Média de espécimes de Torenia fournieri.

Tipo de água

Média inicial

Média final

Variação

Porcentagem

Mineral

296,33

303,50

7,17

2%

Torneira

297,00

301,00

4,00

1%

Fervida micro-ondas

274,50

323,58

49,08

18%

Fervida fogão

284,83

322,33

37,50

13%

Tabela 5 – Comparação de biomassa média por tipo de água de espécimes de Torenia fournieri.

O efeito agora é inverso. A água fervida no forno de micro-ondas se saiu melhor que a fervida no fogão, ao contrário do que ocorreu com a Cufeia. E desta vez o pior desempenho ficou com a água de torneira.

A partir de todos esses dados, podemos extrair algumas conclusões gerais:

1.       Em geral, as plantas utilizadas no estudo preferiram água fervida, ou seja, menos ácida;

2.       O pior desempenho médio ficou com a água mineral, com um crescimento quase nulo;

3.       A água de torneira, não-filtrada, teve um desempenho superior ao da água mineral, mas inferior ao das águas fervidas.

4.       Dentro das águas fervidas, a água fervida no forno de micro-ondas teve uma miserável vantagem de 0,00145% sobre a água fervida no fogão. Tecnicamente, seu desempenho foi melhor.

 

E temos um vencedor!

Conclusão principal: O experimento mostrou que a água fervida no micro-ondas não apenas não faz mal algum as plantas, como se mostrou a melhor dos quatro tipos de água!

pódio

Se você leu até aqui, deve estar se imaginando o porquê que água mineral obteve um desempenho inferior ao da água de torneira. Bem, eu também. Isso é assunto para um próximo experimento, a ser detalhado em breve…

Convido a todos a postarem suas perguntas na seção de comentários abaixo.

E aqui um experimento se encerra, mas a minha motivação não. Pretendo publicar um texto em breve respondendo às perguntas feitas e completando com mais detalhes que não foram incluídos aqui para não deixar o texto muito pesado. Também vou aproveitar o próximo texto para discutir com um pouco mais de detalhamento os resultados obtidos.

O objetivo agora é sintetizar os resultados para publicação em periódicos específicos ou não. No próximo texto detalharei melhor como tudo isso será feito.

Convido a todos para replicarem a ideia, utilizando outras plantas ou outros tipos de água. Expresso aqui minha vontade de que todos possam realizar o exercício científico como hobby. Meu experimento foi simples, mas serviu para mostrar como se mistifica muita coisa a respeito do fazer científico. É claro que não acho que isso aqui se compara a uma pesquisa de verdade, mas serve para ilustrar o conceito.

Agradeço a todos que apoiaram a execução e deram sugestões. Um agradecimento especial à minha mãe, que me ajudou do começo ao fim do experimento, ao Rafael Bento aqui do ScienceBlogs, que me incentivou a escrever sobre o experimento e a minha ex-Professora de Biologia, Sharon, que sempre alimentou meu interesse pelas plantas!

Também aceito desafios para desbancar lendas urbanas!

Saliento para vocês leitores: perguntem, duvidem, critiquem, elogiem, proponham, desafiem. O espaço de comentários está aqui a seu dispor! E não se esqueça, se gostou do experimento, compartilhe e mostre para seus amigos e familiares.

Até o próximo experimento!

 

Acompanhe o experimento desde o começo:

Dia 0: Um garoto contra um mito: Tulio vs Micro-ondas

Dia 1: Experimento Micro-ondas: Dia 01

Dia 3: Experimento Micro-ondas: Dia 03

Dia 20: Experimento micro-ondas: mudou o pH, e agora?!

Experimento micro-ondas – Dia 20: mudou o pH, e agora?!

Acompanhe o experimento desde o começo:

Dia 0: Um garoto contra um mito: Tulio vs Micro-ondas

Dia 1: Experimento Micro-ondas: Dia 01

Dia 3: Experimento Micro-ondas: Dia 03

Dia 20: Mudou o pH, e agora?!

Dia 22: O resultado final

Primeiramente, minhas sinceras desculpas. Não tive como manter o ritmo de atualização que esperava devido a algumas pendências a resolver. Mas vamos lá:

Muito se fala, mas pouco realmente se sabe sobre o funcionamento do forno de micro-ondas. Um equipamento quase místico que é onipresente na maioria das residências, ele não resistiu a formação de uma lenda urbana em seu entorno.

Recentemente chegou até mim uma lenda urbana que fala sobre os efeitos nocivos do uso do micro-ondas para aquecimento de alimentos, utilizando como base um experimento que supostamente mostrava uma planta morrendo depois de 9 dias regadas com água fervida no forno de micro-ondas, como abordei no texto anterior: http://scienceblogs.com.br/ensaios/2014/02/experimento-microondas-dia-03/

Por sua forma de funcionamento ser ligeiramente mais complexa, muitas pessoas ficam criando mitos e lendas ao redor deste inofensivo eletrodoméstico. Aí é claro, os charlatões de plantão aproveitam para arrebanhar audiência para suas ideias de conspiração, assunto que eu abordei no texto anterior também.

O problema aumenta quando as poucas pessoas que se interessam por entender como o aparelho funciona se deparam com outra lenda urbana: a de que o forno de micro-ondas funciona de modo a fazer com que as moléculas de água supostamente entrassem em ressonância com a frequência emitida pelo forno. O que não é o que realmente acontece.

“O que aquece os conteúdos em um forno de micro-ondas é principalmente o campo elétrico e o efeito é o seguinte. Uma molécula de água – e água é abundante nos alimentos – tem maior concentração de cargas negativas em um de seus extremos e de cargas positivas no outro. Assim, as moléculas de água tendem a se alinhar com um campo elétrico que atua sobre elas. Mas o campo elétrico, no caso, é oscilante, invertendo sua orientação bilhões de vezes por segundo. Portanto, as moléculas tenderão a se alinhar em uma direção, logo em seguida em direção oposta e depois na mesma direção, etc. Durante esse movimento as moléculas interagem com as suas vizinhas e a energia que absorvem do campo elétrico vai sendo distribuída, aquecendo o conteúdo do forno” explica Otaviano Helene, professor da USP, em matéria para o Observatório da Scientific American [1].

Veja a Figura 1 para um melhor entendimento:

Figura 1: Exemplificação do alinhamento molecular com o campo elétrico oscilante. [2]

Figura 1: Exemplificação do alinhamento molecular com o campo elétrico oscilante. [2]

Agora que entendemos um pouco melhor de como realmente funciona, vamos partir para as perguntas que geralmente são levantadas:

1 – Poderia o aquecimento no micro-ondas alterar propriedades do alimento?

Ao que muitos céticos prontamente respondem um enfático “não”, a resposta é sim.

Detalhe: não é devido ao método e sim ao aquecimento da própria água. Ferver água no fogão e no micro-ondas resultam na mesma coisa. Acompanhe:

Primeiro, peguei água da torneira. Segundo a conta de água, seu pH é de 6,01. Meu medidor mostrou 6.0 ±0.1, o que está bem dentro do esperado. Veja a Figura 2:

Figura 2: Medindo o pH da água saída da torneira.

Figura 2: Medindo o pH da água saída da torneira.

Então, peguei esta mesma água e fervi no forno de micro-ondas. Tenho tempo cronometrado para que ela apenas comece a ferver. Medi o pH mais uma vez, conforme a Figura 3:

Figura 3: Medindo o pH da água após ser fervida no forno de micro-ondas.

Figura 3: Medindo o pH da água após ser fervida no forno de micro-ondas.

Agora foi para pH 6.8 ±0.1.

Se eu fosse apenas ligeiramente tendencioso, já teria me aproveitado dessa leitura e afirmado que o micro-ondas é prejudicial e blá blá blá. Mas, calma lá. Veja o que acontece quando eu fervo a água de torneira no fogão, na Figura 4:

Figura 4: Medindo o pH da água fervida no fogão.

Figura 4: Medindo o pH da água fervida no fogão.

Ahá! Mesma coisa. pH de 6.8 ±0.1.

O que podemos concluir então é que não é o método, e sim o ato da fervura que muda essa coisa misteriosa chamada pH. Muda também o gosto pelo mesmo motivo.

1.1  – O que diabos é esse pH?

Em resumo, é uma forma de indicar a acidez ou alcalinidade de uma solução aquosa. O tal número é cologaritmo de base 10 da atividade de íons de H+. A faixa de medição vai de 0 a 14 (não é o limite, é uma convenção de uso), sendo 0 um ácido MUITO forte e 14 uma base MUITO forte. A água pura, neutra, deveria ter um pH de 7.0. [3]

1.2  – Porque o ato da fervura altera o pH?

Nossa água de torneira, longe de ser pura, possui uma série de sais de cálcio, magnésio, sódio e potássio, além de outras coisas como oxigênio e dióxido de carbono dissolvidos. É desta mistura de componentes que vem o gosto da água.

O dióxido de carbono (CO2) dissolvido reage com a própria água e cria ácido carbônico (H2CO3), que por sua vez se dissocia para criar pequenas quantidades de íons H+ e HCO3. Então o pH da água é regulado pelas quantidades de dióxido de carbono e íons de bicarbonato (HCO3).

Mas os íons de bicarbonato (HCO3) são vulneráveis a calor e sofrem termólise (também chamada de decomposição térmica), transformando-se em um íon carbonato e dióxido de carbono, como a seguinte reação:

2HCO3 ↔ CO3-2+ CO2 + H2O

Quando a água é fervida, tanto os dióxidos de carbono quanto os oxigênios dissolvidos na água são expelidos fora de nossa solução. Mesmo que a água resfrie, a reentrada de dióxido de carbono não consegue equiparar a perda dos bicarbonatos. Isso significa que teremos uma concentração reduzida de bicarbonatos e íons H+, diminuindo o caráter ácido da solução e por consequência, aumentando seu pH. [4] [5]

 

Então não, o forno de micro-ondas não tem a capacidade de alterar características físico-químicas da água mais do que o seu fogão convencional. Nada a se preocupar.

 

2 – Poderia a água fervida no micro-ondas causar alterações no crescimento de plantas?

Sim, claro que pode. Assim como a água fervida no fogão. Não vou me cansa de repetir, o efeito do aumento do pH provém do aquecimento em si, e não da forma com que você faz isso. Para plantas que preferem solos mais básicos (alcalinos), regar com água fervida pode ajudá-las a se desenvolver melhor.

3 – Você espera alguma diferença no desenvolvimento das plantas?

Sim, exclusivamente devido ao pH. Ambas águas mineral e de torneira possuem pH próximo de 6.0 ±0.1 e as fervidas de 6.8 ±0.1. Se existir algum efeito, ele será identificado num par mais ácido (torneira e mineral) ou mais básico (fervidas).

4 – É verdade que o forno de micro-ondas opera numa frequência que causa câncer?

Se isso fosse verdade, deveríamos estar muito mais preocupados com nossos roteadores WiFi, televisão e aparelhos de celular. Todos operam na faixa eletromagnética dos micro-ondas. Roteadores de WiFi operam inclusive na exata mesma frequência (2.4GHz) do que a maioria dos fornos de micro-ondas convencionais.

E lembre-se: seu micro-ondas está ligado poucos minutos por dia e está envolto por uma Gaiola de Faraday muito boa, feito para que as ondas não escapem. Seu roteador é feito para transmitir mais sinal para o maior número de lugares possível. O mesmo vale para aparelhos de celular, rádios UHF, televisão, entre muitos outros.

A resposta é Não.

5 – Como está o andamento do experimento?

Em ritmo de encerramento. Os feijõezinhos já estão sofrendo e serão replantados em breve, estando já fora do experimento e devidamente pesados e fotografados. O resto das plantas será pesada e fotografada individualmente para que possamos conferir se houve alguma diferença em seu desenvolvimento.

O exército de plantas utilizado para o experimento está começando a mostrar sinais de definhamento: precisam sair de seus vasinhos. Depois de todo o empenho, nada como uma repaginada no jardim e uma boa salada!

20140227_015

Os textos continuarão vindo, apesar da longa pausa que fui obrigado a fazer. O experimento continuou sem interrupções e estarei compilando os resultados para publicação aqui na semana que vem. Prometo que não vai demorar muito.

O próximo texto será surpresa!

Até a próxima!

Referências:

[1] – Observatório SciAm, Scientific American Ano 12, nº139, pág 20 – Dezembro 2013;

[2] – http://www.pueschner.com/basics/phys_basics_en.php

[3] – http://pt.wikipedia.org/wiki/PH

[4] – http://www.hindu.com/seta/2005/08/25/stories/2005082500271600.htm

[5] – http://www.hc-sc.gc.ca/ewh-semt/pubs/water-eau/ph/index-eng.php

 

Acompanhe o experimento desde o começo:

Dia 0: Um garoto contra um mito: Tulio vs Micro-ondas

Dia 1: Experimento Micro-ondas: Dia 01

Dia 3: Experimento Micro-ondas: Dia 03

Dia 20: Mudou o pH, e agora?!

Dia 22: O resultado final

Experimento Micro-ondas: Dia 03

Acompanhe o experimento desde o começo:

Dia 0: Um garoto contra um mito: Tulio vs Micro-ondas

Dia 1: Experimento Micro-ondas: Dia 01

Dia 3: Experimento Micro-ondas: Dia 03

Dia 20: Mudou o pH, e agora?!

Dia 22: O resultado final

Agora que você já conhece um pouco mais do experimento que está sendo realizado ou o que, chegou a hora de saber o porquê.

Toda nova tecnologia, quando chega ao grande público, vira alvo de polêmicas e conspirações. Com o forno de micro-ondas não foi nada diferente. Criado por acidente em 1947 pela Raytheon, empresa estadunidense que desenvolve sistemas de radares ativos para fins militares e aeroespaciais, o aparelho até hoje é um verdadeiro mistério na cozinha de muitas pessoas. Exploraremos melhor a história e funcionamento do forno de micro-ondas em um futuro próximo.

Polêmicas em torno do micro-ondas ganham força com o alcance e a relativa facilidade de se criar e disseminar conteúdo (as vezes de péssima qualidade) pela Internet. Muitos blogs, quando não atrelados a uma rede que lhes ateste credibilidade (como o nosso querido ScienceBlogs) acabam divulgando conteúdo sensacionalista e por vezes completamente errado. Se é feito por ingenuidade ou com intenções perversas não é nosso foco aqui. O problema é que muitas dessas informações caem nas mãos (ou olhos) de muitas pessoas, que na base da confiança cega e falta de ceticismo acabam acreditando em tudo que leem ali.

Nesse sentido, há o excelente E-Farsas, uma iniciativa de Gilmar Lopes, um Analista de Sistemas que analisa as várias polêmicas e supostas notíciais que circulam na Internet, fazendo e incentivando o bom uso do ceticismo.

Recentemente voltou a circular um velho mito sobre o forno de micro-ondas: que ele teria a capacidade de “alterar a estrutura molecular de água e criar compostos tóxicos”. A alegação era evidenciada a partir de um “experimento” no qual durante 9 dias se molhou uma planta com água fervida no fogão e outra fervida no micro-ondas, e aquelas fervida no micro-ondas morria ao final dos 9 dias. Este suposta notícia foi requentada; surgiu em 2010 comentando sobre a experiência das plantinhas que supostamente havia sido feita em 2006 por uma jovem chamada Arielle Reynolds, para uma feira de ciências em Knoxville, Tennessee, EUA. [1][2]

Figura 1: Primeiro dia do suposto experimento. A planta da esquerda recebe água fervida em micro-ondas e a da direita fervida no fogão.

Figura 1: Primeiro dia do suposto experimento. A planta da esquerda recebe água fervida em micro-ondas e a da direita fervida no fogão.

 

Figura 2: Ao quinto dia, é visível a diferença no desenvolvimento das duas plantas.

Figura 2: Ao quinto dia, é visível a diferença no desenvolvimento das duas plantas.

 

Figura 3: Visivelmente, há algo de errado com a planta da esquerda.

Figura 3: Visivelmente, há algo de errado com a planta da esquerda.

Esbarrei com esta “notícia” há algumas semanas por um compartilhamento do Facebook. Li com atenção e fiquei um pouco incomodado com algumas coisas:

  • Porque o texto não apresenta nenhuma indicação de quais seriam estes “compostos tóxicos” ou ao menos apontaria alguma fonte para consulta aprofundada?
  • Porque o experimento foi realizando com apenas duas plantas? Uma amostragem dessas é minúscula para tirar uma conclusão de tal magnitude.
  • Já que os resultados foram tão surpreendentes, porque não replicaram o experimento mais vezes e com outras plantas, para aumentar credibilidade?
  • Porque justificavam a falta de artigos e publicações sobre o assunto como uma conspiração das fabricantes de eletrodomésticos?

conspiracy-theory-alert

O tom sensacionalista, alarmista e pouco técnico da maioria dos textos que encontrei falando sobre os perigos do uso de fornos de micro-ondas fez soar meu alerta cético interior. Me lembrou muito aqueles pseudodocumentários sobre alienígenas, 11 de setembro, Área 51 e afins. Mas dessa vez era um pouco diferente.

Uma coisa é um pseudodocumentário revisionista, que buscar “relativizar” e “reavaliar” fatos e evidências em busca de uma explicação alternativa para corroborar devaneios de conspiracionistas, onde existe um sentimento de impotência frente ao que está sendo exibido. Outra coisa completamente diferente é a exibição de um suposto experimento, malconduzido, que detalha um aparte da realidade. Isso nós podemos fazer, qualquer um de nós.

O simples experimento que criei utiliza elementos básicos do método científico. Não precisa de muito investimento (minhas estimativas iniciais colocam os custos do experimento em R$120-R$150) nem muito tempo dedicado. Apenas precisa de nossa iniciativa, da não conformação frente a uma notícia mal dada ou um experimento malconduzido.

Reconheço que o ônus da prova recai sobre quem afirma a hipótese, em conduzir um experimento decente, replicável, detalhado e devidamente documentado. Minha intenção aqui é tentar mostrar para o grande público não apenas se a água do micro-ondas faz mal ou não, mas também sobre os benefícios de duvidarmos de informações e explicações reconhecidamente ruins. Quero incentivar o maior número de pessoas possível de que é sim tangível você separar algumas horas por mês e conduzir um experimento científico simples de seu interesse. Não para necessariamente descobrir uma coisa nova ou almejando um Nobel e sim para entender um pouco melhor como o mundo ao nosso redor funciona.

Anseio o dia em que a prática científica amadora seja tão comum quanto tomar café-da-manhã ou assistir à novela das 8. Anseio o dia em que as pessoas não se contentem com as respostas deglutidas e tendenciosas, mas formem as suas próprias quando possível.

Chega de reflexões, vamos às plantinhas:

Figura 4: Olá, eu sou um feijão.

Figura 4: Olá, eu sou um feijão.

Todas as plantas estão se desenvolvendo, sobrevivendo e germinando. Umas mais, outras menos, o que será objetivamente avaliado por meio de comparação de biomassa e fotos ao final. Além de ser muito cedo para dizer quais plantinhas estão vivendo melhor, o que cada planta está recebendo está documentado e só será revelado ao final do experimento.

Figura 5: O saudável grupo C, com 6 Torenia fournieri e 6 Cuphea gracilis.

Figura 5: O saudável grupo C, com 6 Torenia fournieri e 6 Cuphea gracilis.

E devo confessar, é quase terapêutico acordar um pouco mais cedo e ir regar as plantinhas, acompanhar sua germinação e crescimento. Recomendo a todos, principalmente para os mais agitados e estressados, replicarem o experimento. Além do exercício científico e relaxamento, acompanhar o crescimento de rúculas e chicórias pode render uma boa salada no final do experimento. Ou você acha que minha mãe está ajudando de graça?

Figura 6: Os 52 pés de Rúculas, futuramente serão salada.

Figura 6: Os 52 pés de Rúculas, futuramente serão salada.

No próximo texto, vamos explorar um pouco melhor o que é verdade e o que não é nas alegações de efeitos dos fornos micro-ondas.

Até a próxima!

Ah, e aceito sugestões de preparo de saladas que envolvam grandes quantidades de Rúculas e Chicórias.

Tulio Baars – http://alexaradio.org/

Fontes:

[1]: “Alimentos preparados no micro-ondas fazem mal à saúde?”http://www.e-farsas.com/alimentos-preparados-micro-ondas-saude.html

[2]: Tudo começou nesta página: “Microwaved Water – See What It Does to Plants” – http://www.rense.com/general70/microwaved.htm

LOGBOOK 06/02/2014 até 08/02/2014:

– Rúculas de modo geral germinam muito rápido, talvez não sejam adequadas para timelapse;

– Conseguir uma GoPro ou câmera automática para fotos da germinação das Chicórias;

– Há uma visível diferença de crescimento entre alguns grupos de feijão. Ansioso para saber que água recebem;

– Quantidade de água ótima encontrada: 100mL de água por planta. Necessita de mais observações para determinar as diferenças de quantidade de água para cada espécie;

– Ideia para experimento futuro: relacionar o desenvolvimento e germinação em função da diferença entre a temperatura da água regada em relação a temperatura ambiente: plantas preferem água gelada quando está mais quente?

– Borrifar folhas com água, é uma boa ideia? Algumas parecem levemente ressequidas quando vistas com uma lupa.

 

Acompanhe o experimento desde o começo:

Dia 0: Um garoto contra um mito: Tulio vs Micro-ondas

Dia 1: Experimento Micro-ondas: Dia 01

Dia 3: Experimento Micro-ondas: Dia 03

Dia 20: Mudou o pH, e agora?!

Dia 22: O resultado final