Blogar ou não blogar? Eis a questão!

Esse post é parte da Blogagem Coletiva de comemoração aos 10 anos do ScienceBlogs Brasil. O tema dessa semana é Os blogs morreram? Hoje quem escreve é a Lais Moreira Granato coordenadora do Blog Descascando a Ciência.

Se você quiser participar acesse: http://bit.ly/SBBr10anos

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Eu como blogueira, fico irritada quando leio algum post ou ouço alguém falar que os blogs morreram. Isso não é verdade!!

Segundo o Google Trends, a procura por “como iniciar um blog” vem crescendo nos últimos anos. Cada vez mais, cresce o número de empresas que fazem uso do velho “blog” como uma forma de atualização de seus clientes sobre assuntos relacionados ao produto que é comercializado. Ou até mesmo como uma maneira de aproximação, já que um blog é bem mais dinâmico que um site, por exemplo.

Além das empresas, cientistas têm feito uso dos blogs como uma nova forma de divulgar os resultados de suas pesquisas e atrair a atenção da sociedade para a ciência. Prova disso é o número crescente de novos blogs vinculados a rede de blogs da UNICAMP, que foi criada em 2015 e como o Science Blogs Brasil que está completando 10 anos!

O que aconteceu nos últimos anos, é que com o surgimento de novas tecnologias, novas tendências também surgiram, e por isso foi preciso atualização!

Hoje em dia “a cara” dos blogs mudou! Hoje os blogs utilizam vídeos e outras ferramentas multimídias para incrementar seus textos e fazem uso das redes sociais para que consigam alcançar um maior número de pessoas. A criação de conteúdo não é mais apenas sobre palavras. A criação de conteúdo utiliza as palavras para criar uma história e essa “história” é mais do que apenas uma narrativa, como era no início dos blogs. Ela representa fortemente sentimentos, opiniões e pontos de vista que permitem que o escritor se conecte fortemente com o leitor.

Hoje os blogs são uma ferramenta de comunicação, a voz de uma marca, que integra textos, imagens, vídeos e o mais importante: emoção!

Eis que os Blogs não morreram! Na realidade, eles se tornaram muito mais efetivos com o passar do tempo. O importante é a qualidade do conteúdo que se deseja transmitir. Coisas boas sempre geram interesse!!

Vamos blogar!

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Charge de Luiza Carvalho (https://dialogoscciencia.com/2013/07/24/a-divulgacao-cientifica-e-a-minha-formacao-no-bacharelado-de-ciencias-biologicas-da-ufmg/

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Laís Moreira Granato, bióloga, mestre em Agricultura e Doutora em Genética e Biologia Molecular. Atualmente pós-doutoranda no Centro de Citricultura “Sylvio Moreira”/IAC e coordenadora do Blog Descascando a Ciência.

Os blogues morreram? Spoiler alert: não. Longa vida aos blogues.

Esse post é parte da Blogagem Coletiva de comemoração aos 10 anos do ScienceBlogs Brasil. O tema dessa semana é Os blogs morreram? E para essa inauguração chamamos o amigo Roberto Takata para falar da morte, ou não, dos blogs.

Se você quiser participar acesse: http://bit.ly/SBBr10anos

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“O relato de minha morte foi um exagero.” Mark Twain 1897. [1]

Como já entrego no título, claro que os blogues não morreram. Basta constatarmos que você está lendo este texto em um.

Ok. Os blogues não morreram. Mas estão em risco de extinção em um futuro próximo? Aí é mais complicado de responder. Ao menos para os de ciência com autores brasileiros há alguns indícios nesse sentido. Como uma redução no padrão de atividade de uma amostra de 346 weblogs no estudo do qual tomei parte (Fig. 1). Ressalte-se, no entanto, que não é a única interpretação possível – pode ser que novos blogues (de ciências) estejam surgindo e o nosso levantamento não foi capaz de captá-los adequadamente. E pelo menos um estudo (com um número menor de “diários virtuais”) concluiu que estaria havendo um aumento.

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Figura 1. Variação do número de blogues de ciências ativos com autores brasileiros. Reproduzido de: Fausto et al. 2017.

Os blogues em geral – não nos restringindo aos de ciência em pt-br – aparentemente vão bem. No Worpress.com, a principal plataforma de blogues blogues* (isto é, tirando microblogues como o twitter; fotologues como o instagram ou Pinterest; videoblogues como muitos canais do YouTube; e plataformas de blogues que são mais um tipo de mídia social como o tumblr), o número total de postagens mensais vêm mantendo a tendência de crescimento desde o seu lançamento em 2005: de pouco menos de 600.000 postagens novas (25,6 milhões de pageviews) em outubro de 2006 a mais de 77 milhões de novos posts (20,7 bilhões de pageviews) em junho de 2018 (Fig. 2) (Uma cautela deve ser tomada, no entanto, já que se trata de números divulgados pela própria plataforma sem declaração de auditoria, e não um levantamento independente.)

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Figura 2. Variação do número de postagens dos blogues hospedados no WordPress.com ao longo do tempo. Fonte: WordPress.com.

Os blogues como formato de comunicação devem ainda continuar por vários anos com algum grau de influência (ainda que eventualmente setorial: para temas específicos ou para grupos específicos de pessoas). Verdade que isso é mais um desejo do que um prognóstico, especialmente para os de ciências. Se, de um lado, temos uma aparente crise na blogosfera cientófila brazuca independente (e mesmo internacional [vide nota 2]); de outro, talvez estejamos frente a um processo de institucionalização da divulgação científica através de blogues: em 2015 foi lançado o Blogs de Ciência da Unicamp e, em 2016, o portal UFRGS Ciência. De novo, mais um desejo do que um prognóstico, no entanto.

Embora atualmente na internet brasileira canais no YouTube – com centenas de milhares a milhões de views por episódio, como no caso do Manual do Mundo e do Nerdologia – e podcasts – com dezenas de milhares de ouvintes como o Dragões de Garagem ou o SciCast – tenham mais visibilidade, e várias iniciativas comecem a explorar outras mídias como o instagram, enxergo um papel importante dos blogues no ecossistema da comunicação pública de ciências online. Estes são plataformas que conseguem fazer a integração dessas outras mídias – por meio da incorporação (’embedding’) – e, melhor do que as demais, explorar a comunicação por meio do texto escrito. Por exemplo, equações são difíceis de serem exploradas em mídia de áudio, é possível de serem apresentadas em vídeo, mas explicações mais detalhadas podem ser prejudicadas pela dinâmica da narração de vídeos – no texto, as pessoas podem ir e voltar e saltar de modo mais eficiente; gráficos interativos podem ser facilmente inseridos nos blogues; e tendem a consumir menos banda (o que é um fator a se considerar quando uma fração significativa acessa via celular – se não houver um wi-fi disponível e confiável por perto, arquivos de áudio e vídeo podem esgotar rapidamente a franquia de dados). Textos também são mais maleáveis quanto à acessibilidade (ao menos de pessoas alfabetizadas) e, por enquanto, têm vantagens na indexação em mecanismos de busca, de tradução e mesmo de procura do próprio navegador. Boa parte das outras mídias têm limitações para o fornecimento de hiperlinks, especialmente para fora do site que hospeda o serviço, o que é facilmente integrado nos textos de blogues (na verdade, os links são parte do espírito blogueiro – para os leitores poderem se aprofundar, para indicar outros canais dignos de serem seguidos, para dar a fonte original…). E, possivelmente como característica principal, a produção e edição de texto também tende a ser muito fáceis e baratas do que uma boa edição de áudio e vídeo – facilitadas ainda pelo fato de a educação formal enfatizar a habilidade de escrita.

Algumas dessas vantagens poderão ser igualadas por áudios e vídeos na medida em que algoritmos se tornarem confiáveis em extrair os textos desses arquivos (permitindo, por exemplo, pular direto para trechos que falam diretamente de um termo ou assunto); outras, como links externos, dependem de alterações de políticas de serviço dos provedores (embora a tendência seja oposta, por exemplo, no facebook, que deseja manter os usuários em sua plataforma o máximo de tempo possível); mas o texto, em uma forma ou outra, tem resistido à prova do tempo.

Mesmo que os blogues blogues* não resistam às tendências atuais e futuras; os blogues nem tão blogues (como o tumblr, facebook, instagram e outros) que incorporem pelo menos alguma possibilidade de inserção de textos e explorar parte de suas vantagens devem continuar o legado. Ainda que isso seja mais desejo do que um prognóstico.

Nota:

*Blogues Blogues – blogs em formato clássico como WordPress e Blogspot

[1] A citação mais completa é:
“James Ross Clemens, a cousin of mine, was seriously ill two or three weeks ago in London, but is well now. The report of my illness grew out of his illness; the report of my death was an exaggeration.” Mark Twain, 31 de maio de 1897.
[“James Ross Clemens, um primo meu, esteve seriamente adoentado há duas ou três semanas em Londres, mas agora está bem. O relato de minha enfermidade surgiu a partir da enfermidade dele; o relato de minha morte foi um exagero.”]

[2] Como com o fechamento da versão original americana do ScienceBlogs – ATENÇÃO: o ScienceBlogs Brasil é um projeto independente e não foi afetado por essa decisão do grupo SEED.

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Neste instável mundo internético – do qual o cemitério de projetos da Google é um exemplo eloquente – não é qualquer empreitada que chega aos dois dígitos de translações terrestres.

Mais do que parabéns, devo dizer muito obrigado, ScienceBlogs Brasil, pelo belíssimo trabalho que tem feito nesta última década. Não apenas tem informado e conscientizado seus incontáveis leitores e fiéis fãs em relação a temas relacionados às ciências e dado visibilidade a tanto projetos e divulgadores incríveis; como inspirado um sem número de pessoas a seguirem a carreira científica e de comunicação de ciências. Um dos principais projetos de divulgação de uma das principais instituições brasileiras: o Blog de Ciências da Unicamp, é um filho espiritual direto dos SbBr.

Desejar longa vida aos SbBr é, assim, mais do que um cumprimento a todos os colaboradores – atuais e pregressos – e a comunidade de leitores que se formou em torno; é uma obrigação moral para alguém que aprecia e valoriza a cultura científica.

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Roberto Takata, entre outras coisas, escreve no Gene Repórter.

Conferência EURAXESS Links: “Conectando Pesquisadores Internacionais”

*Este é um post patrocinado

Discussão aberta no Rio sobre oportunidades de cooperação em pesquisa e mobilidade entre europeus e brasileiros.

A 3a Conferência EURAXESS links – “Conectando Pesquisadores Internacionais” foi realizada no Rio de Janeiro em 11 de maio de 2016, celebrando as firmes relações científicas e ampla mobilidade dos pesquisadores entre países europeus e latino-americanos. Esta foi a primeira edição desta conferência bienal no continente americano. Organizada pela Comissão Europeia e pela EURAXESS Brasil, a conferência reuniu mais de 180 participantes, dentre eles pesquisadores, acadêmicos, representantes da indústria e órgãos públicos da Europa e do Brasil. O programa contou com palestrantes de alto nível, tais como o sr. João Cravinho, embaixador da União Europeia no Brasil, o professor Jorge Guimarães, presidente da EMBRAPII, o professor Pedricto Rocha Filho, presidente em exercício da FINEP, bem como representantes das principais agências de fomento da Comissão Europeia, Marie Sklodowska Curie Actions (MSCA) e o Conselho Europeu de Pesquisa (ERC).

A iniciativa da EURAXESS tem o objetivo de facilitar a mobilidade, aprimorar as carreiras de pesquisadores e aumentar a atratividade de oportunidades de pesquisa na Europa.

Por meio da conferência no Rio de Janeiro, os pesquisadores brasileiros aprenderam sobre as oportunidades existentes na Europa. Durante o workshop que ocorreu na parte da tarde, os pesquisadores foram treinados e receberam dicas e orientações para terem sucesso ao se candidatarem para bolsas de pesquisa na Europa, bem como outros veículos de fomento.

Com base em discussões abertas, ao invés de apresentações individuais, as sessões da conferência abordaram maneiras de aumentar o escopo da mobilidade de pesquisadores e atores da inovação entre ambas as regiões, de como promover a união os setores da pesquisa e da indústria para formar parcerias e de aprimorar métodos de networking a fim de abordar as novas oportunidades.

“A conferência atraiu um público entusiasmado e engajado, o que é muito promissor e auspicioso para que sejam alcançados resultados práticos no relacionamento entre pesquisadores brasileiros e europeus. Como resultado deste evento, queremos ver mais oportunidades, mais projetos de pesquisa e mais cooperações ocorrendo entre as duas comunidades de pesquisa”, disse Charlotte Grawitz, representante nacional da EURAXESS Links Brasil.

Pesquisadores interessados e demais participantes do universo da pesquisa no Brasil que perderam a chance de comparecer ao evento podem assinar a newsletter da EURAXESS Links Brazil escrevendo para brazil@euraxess.net.

As apresentações feitas durante o evento, incluindo a sessão de treinamento sobre como enviar uma proposta bem-sucedida para a obtenção de fomento da EU estão disponíveis aqui.

Laboratórios híbridos de interface arte/neurociências – L’IMPLORANTE LAB

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– Por Jose Otavio Pompeu e Silva

Um encontro inusitado entre cientistas e artistas em um laboratório montado para funcionar durante o congresso IBRO 2015 que acontecerá no Rio de Janeiro e é um dos maiores encontros entre neurocientistas do mundo. Serão duas apresentações de uma performance que une a proposta de uma pesquisadora de pós-doutorado, a atriz Dorys Calvert; um aluno de mestrado, o pintor Danilo Moveo; a aluna de doutorado e videomaker Cristina Amazonas que assina a direção de arte e o som do pesquisador e DJ Eufrásio Prates. José Otávio e Maira Fróes, dois neurocientistas da UFRJ, comandam a interface arte/ciência que simula uma rede neural com oscilações entre dados eletrofisiológicos e artísticos criando um ambiente de imersão em que o tema universal dos sentimentos profundos da mulher é mostrado no texto das cartas da artista francesa Camille Claudel.

O laboratório ArtSci L’Implorante trabalha com o conceito de ruído que está por trás de toda rede comportamental e cognitiva, integrando performance teatral, pintura abstrata ao vivo e música eletrônica holofractal, combinada com abordagens neurofisiológicos clássicas, representada por gravações electrodérmicas e eletroencefalográficas diretamente obtidas a partir dos arteistas e complementado por impressões subjetivas . Um encontro entre o subjetivo e o objetivo, artistas e cientistas contemporâneos em busca das bases neurobiológicas da experiência humana. Vamos exercer nesses ambientes o potencial de inspirar e propor abordagens inovadoras para lidar com afirmações científicas para uma cognição emocional e afetiva incorporada no comando da criação humana.

unnamed (1)Brainstorms
arte / neurociência e ciência / interfaces de sujeitos

. UMA QUESTÃO DE CORPO
8 de julho quarta-feira 17:00
Conceitos emergentes e conhecimentos experimentais de comportamentos emocionais e cognitivos incorporadas

. UMA QUESTÃO DE COR
9 de julho quinta-feira 17:00
Paletas da experiência humana objetiva e subjetiva com cores

. UMA QUESTÃO DE SOM
Sexta-feira 10 de julho 17:00
Palavras sonoras, soando imagens sonoras e
cérebros sonoros na ciência

Experiência interativa
A geração das interfaces de artsci ao vivo (a qualquer momento)

Sul America Centro de Convenções – Mezanino
Av Paulo de Frontin , 1 -. Cidade Nova, no Rio de Janeiro
anatomiadaspaixoes.blogspot.com

Artistas, cientistas:
Caetano DABLE,
Cecilia Hedin-Pereira,
Cristina Amazonas,
Dandara Dantas,
Danilo Moveo,
Dorys Calvert,
Eufrasio Prates,
Fernando de La Rocque,
Franey Nogueira,
Gabriel Brasil,
João Bosco
Bedeschi Filho,
José Otávio
Pompeu e Silva,
Maira Fróes,
Mario Fiorani Jr

 

Infecção Hospitalar: o perigo subestimado

hospital-staph_600Imagem: Mike Adams http://www.naturalnews.com/023156_MRSA_staph_infections.html

Autor: Samuel Pereira
Discente do quinto semestre do curso de Biomedicina na Universidade Estadual de Santa Cruz, onde também realiza iniciação científica.

Nos últimos dias, quando a mídia noticiou sobre o isolamento de uma bactéria resistente causando infecção em dois pacientes, em um hospital de Brasília pôs em discussão a temática das infecções hospitalares (IHs). No Brasil, as estatísticas das IHs não são atualizadas com frequência, mas o Ministério da Saúde (MS) estima que a taxa média no país seja de 15,5%, muito acima da média mundial que é de 5%.

O Ministério da Saúde por meio da portaria nº 2612 de 12 de maio de 1998 estabelece infecção hospitalar como um processo infeccioso adquirido após admissão do paciente e que se manifesta durante internação ou após alta, quando puder ser relacionado com internação ou procedimentos hospitalares. Desde a década de noventa o termo IH vem sendo substituído por Infecção Relacionada à Assistência em Saúde (IRAS), porém as duas denominações são utilizadas.

Os primeiros casos de infecção hospitalar surgiram logo após a criação dos hospitais, pois nestes ambientes coexistiam os fatores essenciais ao aparecimento das IRAS. A circulação de microrganismos, uma cadeia de transmissão e hospedeiros comprometidos, associados a ineficientes programas de prevenção e controle existentes em grande parte dos hospitais contribuem para uma incidência crescente das IRAS.

No Brasil, uma das primeiras medidas de prevenção e controle deste grave problema de saúde pública foi o desenvolvimento das Comissões de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH), na década de setenta. Por determinação do Ministério da Saúde (portaria 196 de 24 de junho de 1983) as CCIHs deveriam existir em todos os hospitais brasileiros, sendo constituídas por profissionais de saúde capazes de estabelecer inferências e intervenções. Cerca de vinte anos após essa determinação do MS constatou-se que apenas 30% dos hospitais possuíam uma CCIH.

Ao longo dos anos, a utilização de antibióticos funcionou como principal estratégia tanto no combate às infecções comunitárias, quanto às infecções relacionadas com os serviços de saúde. No entanto, o que preocupa na comunidade científica atual são os recorrentes casos de resistência aos antimicrobianos disponíveis no mercado. Nos Estados Unidos, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) divulgou estatísticas mostrando que 16% (do total de IRAS) são causados pela bactéria Staphylococcus aureus, sendo que 60% dessas bactérias apresentavam resistência a algum antibiótico.

As estratégias de prevenção e controle adotadas até o momento não foram suficientes para estabilizar o número de casos de infecções hospitalares. Buscar novas estratégias é indispensável, uma alternativa são as ações de educação em saúde que mostam resultados positivos no combate as infecções comunitárias. As atividades de educação em saúde podem ser efetivas ao aproximar o conhecimento teórico da vivência prática de cada profissional envolvido na cadeia de transmissão, permitindo que eles percebam a sua participação tanto no estabelecimento quanto no controle das IRAS.  As atividades podem ser estendidas à comunidade, visto que algumas práticas como o uso de antimicrobianos sem prescrição médica também contribuem no surgimento de infecções hospitalares.

 

REFERÊNCIAS

DF registra casos de superbactéria em três hospitais e uma UPA. 

BRASIL. Portaria nº 2616, de 12 de março de 1998. Definição de infecção hospitalar e outras providências.

Azambuja, Eliana Pinho de, Denise Pires de Pires, and Marta Regina Cezar Vaz. “Prevenção e controle da infecção hospitalar: as interfaces com o processo de formação do trabalhador.” Texto Contexto Enferm 13 (2004): 79-86.

Tortora, Gerard J., Berdell R. Funke, and Christine L. Case. Microbiologia. Artmed, 2012.

A morada inquieta

©Rodrigo Barreiro

©Rodrigo Barreiro

Este post é o resultado de uma prova aplicada à turma da disciplina de Virologia, da graduação em Ciências Biomédicas do ICB/USP. A prova foi uma redação sobre o tema “Vírus é vivo?” e as respostas seguem abaixo:

A definição do que realmente é um vírus além de seus aspectos estruturais ou bioquímicos foi e ainda é uma questão nebulosa nos estudos biológicos, estão eles vivos ou são apenas objetos inanimados capazes de interagir intimamente com os seus hospedeiros? Boa parte da dificuldade em descobrir a resposta a essa pergunta está na discrepância dos vírus em relação às características intrínsecas dos seres que comumente consideramos como vivos: vírus não tem células, metabolismo e dependem totalmente do seu hospedeiro para as suas atividades. Mas, em contrapartida, eles têm o seu próprio material genético, que é a molécula mais elementar que caracteriza a vida, além disso, estão sujeitos à evolução e se reproduzem. É devido a esse contraste entre esses conjuntos de propriedades que vírus são considerados por estarem na fronteira do que é ou não é vida.

Estruturalmente, a partícula viral (também chamada de vírion) é composta por uma fita de ácido nucleico (DNA ou RNA — com o RNA podendo ser negativo ou positivo, fita simples ou dupla, linear ou circular) envolta por uma cápsula proteica (capsídeo) codificada pelo seu genoma, algumas partículas virais também dispõem de um envelope lipoproteico obtido do hospedeiro que infectaram. Sendo que considerarei essa partícula viral distinta da sua forma ativa (o vírus), essa última sendo a fase somente na qual a célula é “sequestrada”, seja no ciclo lisogênico ou lítico; portanto, a fase de vírion seria então o período inativo, no qual não há nenhum tipo de metabolismo.

O início da infecção, e com isso o início da formação do vírus propriamente dito, começa a partir do momento no qual o vírion reconhece por meio de receptores em sua superfície a célula alvo a qual deve infectar, ocorrendo a internalização da partícula viral pela célula ou então somente do material genético presente em seu interior, nesse estágio o vírus direciona os processos celulares para a produção de vários novos vírions, lisando a célula no final do ciclo. Esse seria o ciclo lítico, sendo que o ciclo lisogênico necessariamente resultará nele em algum período, caso contrário o material genético viral ficará para sempre incorporado ao DNA do hospedeiro, mas não que isso não seja possível.

Os primeiros problemas em considerar os vírus como seres vivos estão demonstrados nos parágrafos acima, primeiramente, ao contrário de todos os seres celulares, os vírus podem ter RNA como material genético, dependem totalmente do aparato celular do hospedeiro para se multiplicarem, além de que, as partículas virais são inertes fora de seus hospedeiros.

A maioria das pessoas questionaria: “ora, então por que considerar que vírus estão vivos se eles não se reproduzem por si sós e geram partículas inertes que carregam o seu material genético por aí?”. O fato é que a resposta é mais complexa do que aparentar ser, dependendo essencialmente da definição do que é vida e estar vivo. Se essa definição se basear em uma célula com material genético em seu interior que vai controlar as suas funções biológicas (o “sequestro” da maquinaria celular) e ser passado de geração a geração (mediado pelo vírion), então sim, vírus estariam vivos, posto que, pelo diagrama de Baltimore, independentemente de qual tipo de material genético for composto o vírus, irá ter o RNAm como ponto de convergência durante o processamento desse material até a formação da proteína (explicitado no dogma central da biologia molecular), assim como no material genético de todos os outros organismos da Terra. Não importaria se o RNAm veio de uma bactéria, de uma ameba, do neurônio de um peixe ou de um vírus, para a célula não importaria a origem, todas elas iriam causar um efeito na célula, mesmo que esse efeito seja mínimo, mesmo que seja a catabolização da própria fita ela causaria um efeito. Com isso, percebe-se que para a vida ser possível seria necessária uma estrutura celular, no caso do vírus essa estrutura seria “emprestada”, mas não deixaria de ser um tipo de vida sob certas condições.

No entanto, essa visão, apesar de lógica, acaba confluindo para a hipótese de que, por exemplo, mitocôndrias e plasmídeos também têm vida própria, uma vez que são ou possuem material genético, causam efeitos de nível celular, se replicam independentemente (pelo menos as mitocôndrias e alguns tipos de plasmídeos) e em até certo nível evoluem (por exemplo, um plasmídeo que tenha uma origem de replicação ou transferência não efetiva pode não se manter em uma população de bactérias). E a menos que se considerem mitocôndrias e plasmídeos como seres vivos, a ideia de que vírus são vivos por terem um material genético que comanda processos celulares acaba não fazendo muito sentido. Apesar disso, vírus continuariam a ser algo a mais do que mitocôndrias ou plasmídeos. Se vírus estão entre o que é a vida e o que não é, seria presumível dizer que eles têm a potencialidade da vida (por serem mais do que um conjunto de moléculas biológicas), mas, que por diversos fatores, não a desenvolvem em sua completude. Assim como a interação complexa e interdependente de uma coleção de proteínas, lipídeos, reações químicas, carboidratos, material genético e outros tijolos biológicos não vivos compõem a vida, mas não as partes separadas ou conjuntos dessas partes (uma proteína não tem vida, por exemplo). Com isso a vida seria mais do que um estado, e sim um processo contínuo dessas interações entre moléculas não vivas. Da mesma maneira que a consciência não é formada por um neurônio e sim por um nível crítico de complexidade entre diversos deles, os vírus não conseguiriam atingir essa complexidade crítica para a vida, apesar de serem feito dos mesmos tijolos que a constrói. Parafraseando um artigo de opinião: os vírus, apesar de não totalmente vivos, seriam mais do que matéria inerte, eles tenderiam à vida.

As duas visões relativamente opostas apresentadas ao logo do texto — a primeira de que vírus são vivos por apresentarem material genético que causa efeitos de nível celular e a segunda de que vírus tenderiam à vida por não atingirem a complexidade crítica necessária para estarem vivos — são na sua maior parte derivadas de um processo do pensamento humano: a tendência de enxergamos o mundo de uma forma polarizada. Ao longo da evolução organizar o mundo entre pares de opostos nos foi muito útil para criarmos uma visão do ambiente a nossa volta, distinguindo-se entre o que é quente ou frio, rápido ou lento, noite ou dia, comida ou não comida a espécie humana conseguiu sobreviver às intempéries, de forma que esse modo de pensamento se expandiu muito além dos quesitos da sobrevivência; de fato, se a nossa percepção da realidade não fosse vista como pares de opostos o mundo não funcionaria do mesmo modo como conhecemos hoje, isso se funcionasse.

Entretanto, questionados sobre se um pássaro está vivo ou não nós conseguimos responder com consenso que sim, mas com os vírus isso é diferente, posto que se situam na fronteira do que se define como vida, sendo que a definição de vida em si não obedece a pares de opostos, e é por isso que é tão difícil de defini-la, e talvez essa tarefa seja semelhante a se perguntar o porquê de o universo existir, a ciência não tem a resposta para a existência do universo e nem para a definição da vida, e talvez nunca tenha (e objetivo da ciência nem é encontrar respostas para tudo). A definição de vida ideal seria aquela não somente válida para a vida terrestre, mas também para qualquer outra forma de vida que possa existir no universo, seria uma definição muito semelhante ao mundo das ideias de Platão. O que acontece então é a tentativa de descrever as características comuns de todos os seres vivos ao invés de definir a vida propriamente dita: presença de célula, capacidade de se reproduzir, estar sujeito à evolução, ter metabolismo, entre outras características. Mas essa caracterização volta ao problema da polarização, não sendo aplicável na determinação dos vírus, já que não é possível reduzi-los a pares de opostos (por estarem na fronteira da vida). Em suma, a pergunta inicial se vírus estão vivos se enquadra em duas diferentes situações, na primeira delas nós encontraríamos uma definição universal de vida (o que o autor desse texto acha muito pouco provável), e com isso saberíamos se os vírus se encaixam ou não a ela; ou então, na segunda situação, a partir de estudos científicos descobriríamos características dos vírus que os aproximem ou os afastem dos seres que hoje consideramos vivos, ou seja, distanciar os vírus da fronteira da vida, já que não conseguimos defini-la, sendo que isso é o que vem acontecendo gradualmente a partir dos últimos anos com o desenvolvimento e aprimoramento de diversas técnicas e métodos de pesquisa, que estão direcionando os vírus no sentido de aproximá-los cada vez mais à área das coisas vivas do que o sentido contrário, mas que ainda não conseguiu atingir um estágio de singularidade.

 

Quem sou

Matheus ConforteMatheus Conforte é estudante universitário, entusiasta da ciência desde a infância e aficionado por música, filmes e games (e pelo meu cachorro e gato). Pretende um dia seguir carreira científica na área biomédica em fisiologia, biologia celular ou microbiologia. Não gosta de ervilhas e tem aversão a calor ou frio extremos.

A definição de vida é tênue e os vírus podem ser incluídos nela

Existem duas teorias que tentam explicar o surgimento dos vírus. A primeira é que os vírus surgiram antes da célula como estruturas moleculares auto replicantes ainda no mundo do RNA. A segunda, mais amplamente aceita, é que os vírus sofreram uma “evolução regressiva” – assim como a mitocôndria e a Rickettsia, procarioto parasita intracelular obrigatório – que perderam seu metabolismo, seu material genético e a sua capacidade de sintetizar parte da maquinaria celular. De acordo com essa teoria, os vírus não tem um ancestral comum. Ambas essas teorias, a segunda principalmente, incluem os vírus na árvore da vida. A primeira os define como os precursores da vida, o princípio da matéria orgânica e do material genético. A segunda vai além: encaixa os vírus como descendentes das coisas vivas, tornando lógica sua classificação como vivos.

É importante notar aqui a diferença entre vírion e vírus. O primeiro sendo uma partícula de matéria orgânica inanimada (a mais abundante no planeta), já o segundo é o estado vegetativo do primeiro, quando infecta a célula e controla sua maquinaria de replicação (o ribossomo), sintetiza sua própria maquinaria de replicação (as polimerases virais) e guia o metabolismo celular. Nesse caso, não só podem ser considerados vivos como a própria célula infectada pode ser considerada um vírus em sua totalidade. Assim como os esporos fúngicos e bacterianos e os espermatozoides, os vírus são incapazes de replicar-se sem as condições adequadas – nesse caso, a célula.

Todas as espécies de eucariotos e procariotos dependem de outras formas de vida para sobreviver. Os vírus não são diferentes: seu ecossistema é o hospedeiro e seu nicho ecológico é o parasitismo. Como todas as espécies, os vírus estão submetidos às propriedades do meio: quando esgotam seu ecossistema (matando a célula hospedeira), seu crescimento cessa. Não são o único exemplo, aliás, de um ecossistema dentro de outro nem de formas vivas que dependem intimamente de outras células para crescer (e. g. Rickettsia, Chlamydia). Os vírus desempenham ainda importante papel na biosfera, não como forças naturais, mas como agentes participantes ecologicamente: regulam a população do hospedeiro e, ao matar células no oceano (onde são particularmente abundantes), garantem ferro e outros nutrientes essenciais à sobrevivência do fitoplâncton.

Finalmente, é importante ressaltar que a discussão “vírus são vivos?” é infinita. Nunca haverá um consenso nessa área. E mesmo se houvesse, não há forma empírica de prová-la. Diferente dO Guia do Mochileiro das Galáxias, onde a pergunta fundamental para a vida, o universo e tudo mais – cuja resposta é 42 – está esculpida em letras colossais no alto de uma montanha, não existe uma definição universal e inquestionável sobre o conceito de vida que pode ser alcançada empiricamente pelo método científico. E nem pela filosofia, a propósito, considerando vida como um conceito arbitrariamente concebido pela humanidade, parcial e enviesado por juízos de valores e ideias antropocêntricas. Como fenômeno do universo, nunca existirá uma linha nítida separando o mundo vivo do não vivo. Para motivos didáticos, contudo, é interessante definir o conceito de vida. Mas é igualmente importante mostrar, mesmo para os mais jovens, que esse conceito tem um limite abstruso com o mundo não vivo. E várias coisas, carregadas de semelhanças e diferenças – algumas mais diferentes que outras – existem nesse limite: vírus, viróides, virusóides, vírus satélites (e. g. Sputnik, vírus satélite dos Mamavírus e Mimivírus), príons, Rickettsia, Chlamydia, a mitocôndria em sua curiosa simbiose com a célula e até mesmo entidades mais curiosas como os plasmídeos, transposons e a ribozima. Todas essas entidades transitam cada um à sua forma, na linha que a humanidade tenta desenhar entre o vivo e o não vivo.

Quem sou

Davidson CorreaMeu nome é Davidson Correa, tenho 21 anos e estudo Ciências Biomédicas na Universidade de São Paulo. Estudo para entender como a vida funciona até seus níveis moleculares mais básicos. Adoro synthpop sueco e odeio açaí.

Uma questão viral

©Rodrigo Barreiro

©Rodrigo Barreiro

Este post é o resultado de uma prova aplicada à turma da disciplina de Virologia, da graduação em Ciências Biomédicas do ICB/USP. A prova foi uma redação sobre o tema “Vírus é vivo?” e as respostas seguem abaixo:

A grande dificuldade em caracterizar vírus como vivos ou não está na complexidade em se definir o que é vida, pois algumas das propriedades utilizadas para defini-la são apresentadas pelo que não é considerado vivo, como, por exemplo, a capacidade de multiplicação, pois cristais se “replicam” apenas pelo contato com novas moléculas em um certo padrão (principal estágio da cristalização), mas não por isso são considerados vivos [1].

Já os vírus são, em minha opinião, organismos vivos; são formados por um capsídeo proteico, alguns envolvidos por membrana também (proveniente da célula infectada), material genético (DNA ou RNA, que podem ser de fita simples ou dupla) e podem codificar enzimas virais e conter proteínas receptoras em sua superfície, que reconhecem o meio externo e outras células. São parasitas intracelulares obrigatórios, pois necessitam e manipulam a maquinaria celular para se multiplicarem [2]. Mesmo que não apresentem atividade fora de células vivas, essa habilidade de se replicarem comandando a célula infectada e, portanto, a desnecessidade de carregarem toda a maquinaria consigo pode ser considerada uma razão de serem organismos vivos, além de que percebem e respondem ao ambiente em que estão.

A capacidade de multiplicação pelo comando da célula hospedeira também é apresentada pelos viroides, que são pequenas moléculas de RNA simples fita circular e sem nenhum capsídeo; porém, estes infectam células ao acaso e iniciam transcrição de genes, enquanto os vírus apresentam proteínas em sua superfície que reconhecem tipos celulares específicos (com determinados receptores) para infecção e, também, mecanismos de regulação da expressão de suas proteínas: possuem proteínas precoces, que são as primeiras a serem sintetizadas e atuam, em geral, na própria transcrição e replicação do genoma viral ou sobre o metabolismo celular, modificando-o para favorecer a síntese de componentes virais e as proteínas tardias, que são estruturais e irão compor a partícula viral [2].

Figura 1: Classificação de Baltimore para vírus. (+) e (-) indicam senso positivo e negativo, respectivamente, da fita de RNA. ds e ss indicam que a molécula de ácido nucleico é constituída de cadeia dupla ou simples, respectivamente. Imagem de GrahamColm, retirada da Wikimedia Commons.

Figura 1 – Classificação de Baltimore para vírus. (+) e (-) indicam senso positivo e negativo, respectivamente, da fita de RNA. ds e ss indicam que a molécula de ácido nucleico é constituída de cadeia dupla ou simples, respectivamente. Imagem por GrahamColm, retirada da Wikimedia Commons.

Segundo o Diagrama de Baltimore, os vírus são classificados em 7 grupos, dependendo do seu tipo de material genético e, portanto, dos processos necessários para a síntese de RNA mensageiro na célula hospedeira (que codificará as estruturas virais), uma vez que no processo de replicação de alguns vírus deve ocorrer a conversão do seu material genético em um DNA ou RNA intermediário antes da síntese do RNA mensageiro [3] (Figura 1). O fato de que o próprio vírus na maioria das vezes codifica ou carrega a enzima que irá possibilitar essa etapa, seja uma RNA ou DNA polimerase (inclusive transcriptase reversa), mostra que houve uma evolução e adaptação às células hospedeiras, já que em grande parte apenas as proteínas que não são providas pela célula são codificadas pelos vírus.

Figura 2: Classificação de Baltimore de vírus, apresentando quais enzimas são utilizadas por cada grupo.

Figura 2 – Classificação de Baltimore de vírus, apresentando quais enzimas são utilizadas por cada grupo. Imagem por Carter JB e Saunders VA, retirada de Wikimedia Commons.

Por exemplo, a maioria dos vírus de DNA (Grupos I e II) é capaz de codificar a DNA polimerase necessária para sua replicação e estas são únicas para cada um, ou seja, não podem ser substituídas pelas enzimas da célula, mas apresentam grande similaridade com DNA polimerases de eucariotos e Escherichia coli, mostrando que tais sequências provavelmente são provenientes de alguma célula hospedeira e sofreram modificações com o passar do tempo; acredita-se que foi selecionada positivamente a posse de uma enzima própria porque muitas vezes o vírus se replica no citoplasma e, consequentemente, seu material não tem acesso às polimerases da célula, ou também porque a célula alvo não se divide e, assim, não expressa quantidade suficiente de tal enzima [4]. Outros exemplos são os vírus de RNA de senso negativo (Grupo V), que já contém sua própria RNA polimerase em sua partícula e transcreve o RNA a senso positivo, o qual atua como RNA mensageiro; e os de RNA que geram moléculas de DNA dupla fita intermediárias (Grupo VI), por meio da ação da enzima transcriptase reversa, também carregada já na partícula viral (Figura 2).

Um exemplo de como os vírus conseguem responder a variações no ambiente é o caso dos bacteriófagos, que infectam bactérias e são capazes de integrar seu DNA ao bacteriano (caracterizando o ciclo lisogênico), o que é vantajoso para ambas as partes: para a bactéria, por prevenir que haja infecção e sua eventual lise; e para o fago, pois consegue se manter estavelmente e se replicar juntamente a ela. Porém quando a célula está em uma situação de estresse que leve à lesão do DNA, deixa de ser interessante para o fago manter-se nesta bactéria, assim, por conta de mudanças na sinalização intracelular, como ativação de proteínas da via SOS de reparo, ocorre a excisão de seu DNA e início do ciclo lítico, caracterizado pela síntese e montagem das estruturas virais e sua saída da célula hospedeira [5].

Um fator que contribui para que vírus não sejam considerados vivos é a ausência de ribossomos para síntese própria de proteínas, mas acredita-se na possibilidade de que haja vírus com tal organela, uma vez que foram descobertos alguns que chegam a ser maiores que células, tanto fisicamente como em relação ao conteúdo genético [1]. Outro é a ausência, também, de metabolismo próprio, mas, mesmo assim, os vírus sofrem pressão seletiva e conseguem responder ao ambiente, apresentando, portanto, evolução, como ocorre com organismos vivos. Se os vírus não fossem vivos, não sofreriam adaptação. A apresentação de novas estruturas e características por parte dos vírus se deve em grande parte pela sua aquisição a partir das células hospedeiras, possível modificação no seu interior, por mutações, por exemplo, e manutenção das que forem vantajosas.

Quem sou

Nadine GiménezMeu nome é Nadine Giménez, tenho 18 anos e estou na graduação em Ciências Biomédicas pela USP. Tenho grande interesse por biologia molecular, pois busco entender os processos que ocorrem dentro do ser humano e também de microrganismos, que ilustram e, de certo modo, explicam a grande complexidade dos seres vivos.

 

 

 

 

Referências:

[1]          “Are Viruses Alive?” [Online, Accessed: 13-May-2015].

[2]          L. R. Trabulsi and F. Alterthum, Microbiologia. Editora Atheneu, 2004.

[3]          D. Baltimore, “Expression of animal virus genomes.,” Bacteriol. Rev., vol. 35, no. 3, pp. 235–41, Sep. 1971.

[4]          “Coen, Donald M. ‘16 Viral DNA Polymerases.’ Cold Spring Harbor Monograph Archive 31 (1996): 495-523.” [Online, Accessed: 13-May-2015].

[5]          Marques, Marilis do Valle. Biologia Molecular e Genética Bacteriana. Ribeirão Preto: Sociedade Brasileira de Genética, 2012.

Eterno debate

©Rodrigo Barreiro

©Rodrigo Barreiro

Este post é o resultado de uma prova aplicada à turma da disciplina de Virologia, da graduação em Ciências Biomédicas do ICB/USP. A prova foi uma redação sobre o tema “Vírus é vivo?” e as respostas seguem abaixo:

Para debater sobre o assunto de vírus serem vivos ou não é preciso primeiro estabelecer uma definição de vida. A definição mais aceita na biologia é a de que é vivo aquilo que apresenta um código genético, possui a capacidade de se auto replicar, apresenta alguma forma de metabolismo e possui respostas a estímulos externos. Vírus são geralmente tirados da categoria de seres vivos por não conseguirem se replicar sem a maquinaria celular e por não apresentarem metabolismo e respostas a estímulos fora de células. Porém, é possível olhar para estas características com outros olhos.

Vírus dependem inteiramente de células para a sua sobrevivência. Mas nós humanos e todos outros seres não dependemos também de fontes externas? Tudo do que nos alimentamos um dia foi vivo. Células são apenas o ambiente em que os vírus se adaptaram para sobreviver; da mesma maneira em que a tênia de adaptou para viver em nossos intestinos e precisa deles para se reproduzir. A única diferença é o tamanho da unidade parasitada por cada espécie.

Da mesma forma que vírus são parasitas intra celulares obrigatórios, existem bactérias como a Rickettsia que também são. É possível que essas bactérias estejam passando por uma evolução regressiva; perdendo os elementos que dão autonomia a elas. Isso não quer dizer que ela vá deixar de ser viva em algum momento; é apenas um nicho em que ela está se adaptando.

Existem vírus que são bem maiores que a média e que possuem DNA e genes possuídos por células como o Mimivírus. Poderia se pensar que ele é um elo entre vírus e células mas, esse argumento é facilmente refutado dizendo que ele adquiriu esses genes por transferência horizontal. Este argumento, por sua vez, não tira os vírus do patamar da vida pois é provável que por pressão ambiental ele vá perder esses genes com o tempo se ele os tiver adquirido de fato por transferência horizontal. Essa é outra característica fundamental à vida: sofrer seleção natural, e os vírus não estão isentos.

Outro argumento que é contra os vírus possuírem o status de vivos é o de que eles são seres polifiléticos. Não é possível traçar um ancestral comum a todos os vírus. Em contrapartida, é possível estatar que, por serem muito simples, vírus evoluem muito rápido, e por isso é esperado que possuam várias origens. Por conta disso é provável que eles tenham se originado depois das primeiras células, tendo em vista que ele são incapazes de sobreviver sem estas. É provável também que eles tenham se originado de evolução tando regressiva quanto progressiva. Progressiva como herança “mundo de RNA” que teria existido antes do DNA surgir e regressiva por perda de autonomia como a Rickettsia.

Por último, é possível dizer que vírus são elementos não vivos mantidos na natureza simplesmente pelo fato de terem um papel crucial na evolução dos seres vivos. Mas o simples fato dos próprios vírus sofrerem seleção natural é o bastante para refutar essa fala. Possivelmente vírus são os seres mais bem adaptados da Terra, mantendo-se vivos da forma mais simples possível. A exemplo disso temos o virófago Sputnik; um vírus que não possui genes para utilizar a maquinaria celular e que sobrevive infectando amebas já infectadas pelo Mimivírus, sendo assim parasita de um parasita.

A conclusão disso é de que vírus são uma forma peculiar de vida acelular e polifilética. Vírus não escapam da definição de vida se consideradas as atividades que eles possuem dentro de células. Isso porém, é assunto pra um eterno debate.

Quem sou

Alvaro CastellaniMeu nome é Álvaro Castellani e tenho 19 anos. Nasci em São Paulo e estou no segundo ano de biomedicina na USP. Biologia e música são minhas paixões e optei por escolher um curso relacionado à primeira. Espero algum dia poder ter meu próprio laboratório e seguir carreira em pesquisa.

Vírus não é pedra

©Rodrigo Barreiro

©Rodrigo Barreiro

Este post é o resultado de uma prova aplicada à turma da disciplina de Virologia, da graduação em Ciências Biomédicas do ICB/USP. A prova foi uma redação sobre o tema “Vírus é vivo?” e as respostas seguem abaixo:

Os organismos vivos são conhecidamente indivíduos compostos pela unidade básica da vida: a célula. “Os vírus podem ser classificados como vida?” A resposta para essa pergunta, dentro do conceito de vida citado, é taxativamente negativa. Conceito esse um tanto quanto insuficiente, levando em consideração todo o conhecimento microbiológico atual.

A definição de vida como necessariamente celular é realmente restrita, pois ignora completamente a capacidade, por exemplo, que os vírus têm de sofrer evolução Darwiniana – uma característica predominante em organismos vivos. Significantes estudos recentes demonstram linhagens evolutivas virais e relações com a dita árvore da vida. Os vírus, em geral, têm grande capacidade mutacional também, como o HIV que expressa uma enzima polimerase de baixa fidelidade. Essas mutações são facilmente selecionadas através de diversas interações que os vírus têm com outros organismo vivos.

Inclusive, não se pode deixar de ignorar as interações biológicas e o impacto viral em organismos vivos, sejam eles amebas ou seres humanos. Vírus são capazes de alterar completamente a atividade celular, o que gera uma macro resposta no indivíduo como um todo e, principalmente, na população em que este indivíduo está inserido. São capazes de coevoluir com os indivíduos infectados, modificando seu próprio genoma tanto quanto o do outro. Essa interação é tamanha que já comprovou-se a presença, mesmo que pequena, de genoma viral no DNA humano.

Há quem argumente que só é vivo o (micro)organismo que tiver metabolismo próprio. Entretanto, essa é uma abordagem completamente limitada. Inicialmente, há seres celulares, portanto considerados vivos, que apesar de terem metabolismo próprio, só se utilizam dele quando habitam o interior de outras células. São esses seres as bactérias dos gêneros Rickettsia e Clamydia, conhecidas parasitas intracelulares obrigatórias, “inertes” ao meio até que estejam em contato com o meio intracelular. Outro exemplo são os esporos bacterianos e as sementes vegetais, formas celulares de vida dita “latente”. Apesar de ter o seu metabolismo próprio, ele só é ativamente utilizado quando encontra condições propícias ao seu desenvolvimento.

Todos os exemplos dados são semelhantes ao vírus, que age quando em meio intracelular, quando “em condições propícios ao seu desenvolvimento”. Por que então considerá-lo um ser abiótico se tudo o que lhe falta são as condições necessárias para sua proliferação e maquinaria enzimática para fazê-lo? É preciso olhar o vírus como um parasita perfeitamente econômico: tem o suficiente para adentrar uma célula, alterá-la a seu favor, realizar o estrago que lhe for devido, replicar seu material genético e, ainda, tem o seu capsídeo, envolto ou não de envelope lipídico, para permitir a sua disseminação. Isso já não ocorre com os plasmídeos e príons e, portanto, não trazem em sua bagagem interações tamanhas quanto às do vírus.

De fato é difícil admitir, mas é preciso classificar os vírus como vivos, eles que, com toda sua complexa simplicidade, são capazes de reconhecer e infectar um tipo celular específico, replicar-se e disseminar-se, além de evoluir através dos tempos. Analisando fatos como esse, é bastante claro que os vírus não são abióticos como uma pedra, e sim que eles são responsáveis por toda uma malha de interações com o meio vivo – o que é um argumento de bastante peso para defini-lo como vivo.

Contudo, e mais importante do que definir a vivacidade do vírus, é necessária uma discussão mássica e intensa sobre o que é a vida em si, o que a compõe e quais os seus conceitos. A partir daí, então, poder-se-á chegar num consenso sobre o quão vivo é o vírus.

Se sou vivo… quem sou?

Victor AgostinoSou Victor Agostino, aluno do curso de Ciências Biomédicas do ICB/USP. Paulista, 18 anos e em processo de encientificação pessoal. Um grande enamorado da imunologia e romântico amante da fisiologia do coração.