A doce vida na academia.

Não me contive, o quadrinho abaixo me fez rir por muito tempo por trazer à tona várias situações parecidas que já vivenciei em meus poucos anos de pesquisa.

Quem também está (ou esteve) na pós-graduação vai saber exatamente do que estou falando. Quem não souber e pensar em fazer parte desse meio, prepare-se para o que virá. A tradução do quadrinho está logo abaixo da imagem:

phd_rnam1.png

Professor: “Processe os dados usando o método X.”

Aluno: “Ahn, isso não vai funcionar, nós tentamos ano passado.”

Prof: “Verdade?”

Aluno: “É, lembra? Eu levei semanas nisso porque você insistiu que ia funcionar.”

Prof: “Humm…”

Aluno: “Devo tentar de novo?”

Prof: “Não,não. Isso seria um desperdício de esforço. Vou pedir para outro estudante fazer o que mandei.”

Aluno: “Eu… estou tranquilo em relação à isso, na verdade.”

Isso que é confiança, não acham?

E assim segue a maravilhosa vida acadêmica. Como diria o Átila, “podem entrar que a água da piscina está quentinha…”

Tem uma história parecida? Mande nos comentários!

Imagem: PHD Comics, do excelente Jorge Cham!

Dioxina: alguns esclarecimentos.

ResearchBlogging.orgPara não ter dúvida: dioxinas são tóxicas? Sim.

Afetam o desenvolvimento embrionário? Sim.

São produzidas quando aquecemos plásticos em microondas ou quando congelamos água em garrafas plásticas? Depende.

A utilização de plásticos próprios para aquecimento em microondas evita a formação desses compostos químicos, enquanto o congelamento de água nada tem a ver com a liberação de quaisquer substâncias tóxicas de recipientes plásticos.

Do começo: o que são as dioxinas?

1,4-dioxin-2D-skeletal.pngA dioxina na verdade é um composto orgânico de fórmula C4H4O2 que possui dois isômeros: 1,2-dioxina (ou o-dioxina) e a 1,4-dioxina
(ou p-dioxina, na imagem à direita). No entanto, a literatura científica utiliza o termo “dioxina” para se referir de
forma simplificada às dibenzodioxinas policloradas (PCDDs, imagem abaixo) como a
2,3,7,8-tetraclorodibenzodioxina (TCDD), a substância mais estudada por
seus efeitos tóxicos.PCDD_general_structure.pngParte dos problemas causados pela TCDD vem da sua interação com um receptor chamado AhR. O receptor afetado é translocado para o núcleo, onde é reconhecido por elementos chamados AhREs (por serem responsivos ao AhR) em vários genes diferentes. Essa atividade inicia diversas alterações transcricionais, de modo que os resultados das pesquisas envolvendo o AhR expandiram sua importância em múltiplos aspectos como o desenvolvimento embrionário, reprodução, imunidade inata e supressão tumoral.

Quem sentir falta de informações sobre os mecanismos, as duas referências que citei no final deste texto trazem revisões excelentes e atualíssimas sobre o tema, apesar de a química ser um pouco pesada.

Um caso famoso e recente.
Victor Yushchenko, candidato a
presidência da Ucrânia em 2004 ficou seriamente doente durante a corrida
presidencial no começo de Setembro. No diagnóstico, pancreatite aguda e
edemas relacionados a uma infecção viral e compostos químicos que não
são normalmente encontrados nos alimentos levaram o presidenciável a
afirmar que havia sido envenedado.

yushchenko.jpg

Yushchenko então reapareceu com o rosto
completamente desfigurado (foto abaixo) devido a cloracne ocasionada por
envenenamento por dioxina. A concentração de dioxina no sangue do
candidato encontrava-se 6000 vezes acima do normal. Apesar de polêmico, esse diagnóstico foi o mais aceito até então, e a premissa de envenenamento foi mantida.

E o microondas?

Existem várias mensagens na internet contra congelar água em garrafas de plástico ou cozinhar com plásticos no microondas. O caso da famosa mensagem que usa o Johns Hopkins como fonte de credulidade já foi desmentido pela instituição mais de uma vez.

As pesquisas atuais apontam que o congelamento de água não ocasiona a liberação de compostos químicos tóxicos de garrafas de plástico. No entanto, ao utilizar plásticos para cozimento no microondas é melhor seguir as recomendações do fabricante e certificar-se de que o recipiente plástico é próprio para este uso.

De qualquer modo, abaixo estão os símbolos que designam recipientes próprios para microondas e congelamento.

symbolfortableware.jpg

O departamento americano responsável pela segurança alimentar (FSIS) possui diretrizes eficazes para o cozimento de alimentos em microondas, mas como não encontrei nada parecido no Brasil, volto a recomendar: ao aquecer alimentos no microondas, utilize recipientes de vidro ou cerâmica apropriados.

Wells PG, Lee CJ, McCallum GP, Perstin J, & Harper PA (2010). Receptor- and reactive intermediate-mediated mechanisms of teratogenesis. Handbook of experimental pharmacology (196), 131-62 PMID: 20020262

FUJII-KURIYAMA, Y., & KAWAJIRI, K. (2010). Molecular mechanisms of the physiological functions of the aryl hydrocarbon (dioxin) receptor, a multifunctional regulator that senses and responds to environmental stimuli Proceedings of the Japan Academy, Series B, 86 (1), 40-53 DOI: 10.2183/pjab.86.40

Diagnóstico laboratorial offprice (e offroad).

Um grupo de estudantes da Universidade Rice (EUA) transformou uma centrífuga de saladas adaptada com pentes e outras partes em algo que pode trazer o diferencial para o diagnóstico de anemia em países subdesenvolvidos.

O resultado foi fruto de um projeto desenvolvido numa aula voltada à saúde global e foi batizado de Centrífuga Sally. Os alunos receberam a tarefa de criar uma ferramenta barata, portátil e que pudesse ser utilizada independentemente da disponibilidade de uma rede elétrica para ajudar no diagnóstico de um quadro anêmico.

jeff_fitlow.jpgCentrífuga Sally em detalhe (Foto: Jeff Fitlow).

O equipamento é capaz de fornecer o hematócrito dos pacientes, um dos fatores analisados quando há suspeita de anemia pois fornece a quantidade relativa de glóbulos vermelhos no sangue do paciente por meio de porcentagem do volume total. Hematócritos abaixo de 40-45% em homens e 35% em mulheres são forte indicativo de anemia, o que facilita o diagnóstico.

Tube.jpgQuando centrífugas giram os tubos de coleta numa velocidade apropriada as principais frações do sangue são separadas – glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e plasma – fornecendo a relação entre glóbulos vermelhos e volume total de sangue coletado.

O equipamento tem custo de fabricação em torno de 30 dólares (quase 60 reais) e está sendo integrado a uma mochila preparada para médicos atuarem em locais isolados ou carentes de recursos. Como requisitado, funciona independentemente de eletricidade, pois o próprio usuário gira o “rotor”, de modo que pequenos capilares contendo 15 microlitros de sangue de cada paciente tenham suas frações separadas.

Os alunos que desenvolveram o equipamento numa aula voltada a saúde global vão levá-lo a campo para seus primeiros testes in loco no Equador, Malaui e Suazilândia, onde espera-se que sejam úteis para ajudar a anemia que em países subdesenvolvidos está comumente associada a quadros de má-nutrição, tuberculose, AIDS e malária.

Outro ponto interessante: esse modelo concebido pelos alunos da Universidade Rice teve desempenho satisfatório quando comparado à centrífuga de campo ZIPocrit utilizada em alguns lugares. Apesar de o modelo citado conseguir 10000 rpm contra os 950 rpm da Sally, a mesma tem como vantagens não precisar de nenhuma fonte de energia (enquanto a “concorrente” atual utiliza baterias) e permite processar até 30 capilares de uma única vez, contra apenas 4 do modelo comercializado atualmente.

( #sarcasmo_ligado ) Parece que as indústrias que produzem equipamentos laboratoriais não são tão maléficas ou poderosas quanto as indústrias farmacêuticas que planejam dominar a humanidade escondendo curas e impedindo tratamentos baratos para doenças comuns como o câncer e a AIDS. ( #sarcasmo_desligado )

Quer saber mais sobre o projeto da Centrífuga Sally (tem até um video mostrando o funcionamento) e outros programas de saúde global da Universidade Rice? Acesse o site!

Vi no Futurity.

ps: sim, estou vivo e ainda faço parte do RNAm, parem com os boatos sobre morte e clínica de reabilitação.

H1N1 sem frescura.

Hoje tomei vacina contra o vírus H1N1 da gripe suína junto com a minha mulher e posso afirmar que:

img001.jpg

  • Não doeu mais que a antitetânica;
  • Não demorou (em 5 minutos de espera nós dois fomos vacinados);
  • Não estamos sentindo nada nos braços depois (dor, dormência etc.)
  • Não existe conspiração, como podem ver AQUI e AQUI.

Por todos esse motivos meu recado é o seguinte: pare de choramingar e faça o que é melhor para você e para todos à sua volta.
E sealguém ainda não entendeu, serei literal:

TOME A VACINA!

selo vacina.jpg

Êsso non ecziste!

imagemjcmel.jpgPretendia deixar esse texto para segunda-feira, mas prefiro não perder o timing de um dos assuntos quentes dos últimos dias.

Desde semana passada a notícia de uma imagem de Jesus
Cristo na Zona Leste de São Paulo que supostamente verte lágrimas de mel começou a atrair vários fiéis querendo ver o fenômeno de perto.

Todo esse movimento fez com que a Igreja se manifestasse sobre o caso: a Arquidiocese de São Paulo quer submeter a imagem a análises
científicas por especialistas, pois segundo Juarez Pedro de Castro,
padre e secretário de Comunicação da
arquidiocese, “O fenômeno somente será
atribuído a uma causa sobrenatural se não houver nenhum efeito da
natureza que o explique.”

O primeiro veículo a publicar a matéria foi o jornal Agora São Paulo.
Procurado pelo veículo que gostaria de saber sobre a
possível explicação química desse fenômeno acontecer, afirmei: “é
impossível”. Abaixo segue minha declaração na matéria assinada
pela repórter Fernanda Barbosa.

Especialistas afirmam que é impossível que uma imagem
verta mel. No entanto, dizem que o fenômeno poderia ser explicado pela
ciência se o líquido fosse água. O professor de ciências e doutorando da Unifesp Gabriel Cunha diz que
a condensação do vapor d’água faria com que o líquido aparecesse na
imagem.
“Poderia haver água devido à diferença de temperatura
entre a imagem [fria] e o vapor d’água [quente] presente no ar. Mas
isso não ocorreria com mel ou óleo.”

As estátuas que choram são velhas conhecidas dos fiéis – e céticos – e supostamente vertem lágrimas por meios sobrenaturais. Geralmente o líquido aparenta ser sangue, óleo ou líquidos perfumados. No entanto, apesar de atraírem muitos fiéis como em Sapopemba, a maioria dos casos são descartados pelos níveis mais altos da Igreja ou desmarcarados como fraudes por análises técnicas.

Até hoje existem alguns poucos casos de imagens aceitos oficialmente pela Igreja, como aconteceu na Sicília em 1949.

Já as fraudes são muitas, como na Itália em 1995: o próprio bispo local afirmou ter visto uma estátua de Madonna chorar lágrimas de sangue. A análise do material, no entanto, mostrou que o sangue tinha origem masculina e o dono da imagem se recusou a fazer um exame de DNA (que surpresa).

Em 2008, também na Itália, Vincenzo Di Constanzo foi julgado por fraudar uma dessas imagens: as lágrimas de sangue de sua estátua da Virgem Maria foram analisadas e o resultado mostrou que o sangue da estátua era dele mesmo.

Também expliquei aos repórteres do Agora São Paulo que os casos de
imagens que choram normalmente começam e terminam do mesmo jeito: a
notícia se espalha e, se atrair muita atenção, o material é coletado e
enviado para análise. Depois disso temos dois cenários: a análise tem
“resultados inconclusivos” ou simplesmente não se fala mais no assunto, o
que descartam a veracidade do fenômeno cientificamente.

Agora adivinha o que a dona da casa em que está a imagem disse sobre enviar a mesma para análise?

“Ninguém tira [a peça] daqui”, alegando temer que a imagem seja extraviada. “Se quiserem, que venham e façam os exames aqui em casa mesmo.”

Parece que teremos mais um exemplo dos casos em que depois de um tempo
não se ouve mais falar a respeito…

Fontes: Agora São Paulo / Terra.com.br

Foto de Ale Vianna da Futura Press

DMRI: vilão da Terceira Idade.

O progresso do Brasil pode ser percebido no aumento da expectativa de vida da população. Mas como problema nunca é demais, junto com o progresso vem as doenças características de países desenvolvidos ou em desenvolvimento.

Uma delas é a Degeneração Macular Relacionada à Idade, o assunto de hoje nesse texto escrito a quatro mãos com o Dr. Caio Regatieri, que é oftalmologista, PhD em Ciências e meu colega de laboratório (onde faz pós-doutorado).

O que é a DMRI e como afeta a visão?

olho esquema

Essa doença causa importantes alterações na mácula (região da retina que deixa você ver nitidamente o centro do seu campo visual), fazendo com que as linhas fiquem tortas e a parte central da visão fique escura. Ela se apresenta em duas formas clínicas:

  • DMRI úmida (neovascular ou exudativa): ocorre pelo crescimento de novos vasos sanguíneos atrás da retina a partir
    da coróide (responsável pelo suprimento de sangue da mácula); pode ocasionar o descolamento da retina.
  • DMRI
    seca (atrófica): ocorre por acúmulos de material extracelular chamados drusa (comuns acima dos 40 anos) e também pode levar ao descolamento da retina.
dmri3.jpgVisão de um paciente com DMRI (à direita).

A forma atrófica é mais comum e leva a perda lenta da visão, enquanto pacientes com DMRI neovascular perdem a visão de modo súbito e grave. Uma das “boas notícias” é que a DMRI não leva a perda total da visão por preservar a visão lateral, ou seja, ela não causa cegueira.

Pedi para o Dr. Caio deixar algumas dicas para passarmos para nossos conhecidos mais velhos (pais, tios, avós, etc.):

Como identificar?
1. Linhas retas, como o batente da porta e prédios, começam a aparecer distorcidas;
2. As letras aparecem borradas na leitura;
3. Aparecimento de uma mancha negra no centro da visão.

O que devo fazer se tiver DMRI?
Você deve checar a visão central de cada olho separadamente pelo menos uma vez por semana. Se ao fazer isso perceber alguma diferença procure seu oftalmologista rapidamente.

Existe tratamento?
Não para a DMRI seca. O estudo AREDS (Age-Related Eye Disease Study, ou doenças oftalmológicas
relacionadas à idade), realizado pelo “braço oftalmológico” do NIH, acompanhou 3640 pacientes por uma década para avaliar os efeitos de antioxidantes e zinco na prevenção da DMRI e da catarata. Nos resultados pacientes com DMRI intermediária ou avançada que usaram vitaminas antioxidantes apresentaram progressão mais lenta da doença.

Já a DMRI úmida tem dois tipos de tratamento: o primeiro utiliza laser para cauterizar os vasos anormais que surgiram na retina, apesar de também prejudicar a retina saudável próxima à área afetada pela doença. O segundo tipo e mais novo é o uso de medicações que bloqueiam algumas moléculas responsáveis pela formação deses vasos como o VEGF (sigla em inglês para fator de crescimento de vasos endotelial). Os medicamentos utilizados atualmente são Bevacizumabe (AVASTIN) e Ranibizumabe (LUCENTIS).

Perspectivas de tratamento
Apesar dos resultados favoráveis no tratamento com os anti-VEGF novas moléculas que bloqueiam a formação de vasos têm sido estudadas para tratar a DMRI na forma úmida.

O grupo de pesquisa fResearchBlogging.orgormado pelo Depto. de Oftalmologia e pela Disciplina de Biologia Molecular da UNIFESP estuda a ação de novas drogas com esse potencial, sendo que um desses projetos investiga a ação de um medicamento chamado infliximabe. Normalmente utilizado para tratar doenças reumatológicas, a injeção de pequenas quantidades dentro do olho de ratos causou uma redução de 50% no tamanho da lesão neovascular. Outros experimentos mostraram que a droga não é tóxica para retina e em breve será iniciado o protocolo clínico para avaliação de sua eficácia no tratamento de DMRI úmida e também de retinopatia diabética.

inflixi.jpg

Microscopia confocal da lesão neovascular (em vermelho). Da esquerda para a direita vemos :1 – controle; 2 e 3 – controles não tratados; 4 – administração de 10ug de infliximabe

Outro projeto utilizou um composto isolado da cabeça do camarão marinho L. vannamei, que possui potente ação antiinflamatória e pouca ação anticoagulante. Pequenas doses foram capazes de reduzir a área de lesão em 63%, e esta molécula também será testada em pacientes.

Como temos estudado muitas moléculas semelhantes em nosso laboratório, esperamos desenvolver de novos tratamentos para várias doenças relacionadas ao crescimento desordenado de vasos sanguíneos.

Melhor que falar de novos tratamentos só quando esses tratamentos são produto da ciência nacional, não acham?!

Para mais informações sobre DMRI e outras doenças acessem o site
da Unidade Paulista de Oftalmologia
.

Regatieri,
C., Dreyfuss, J., Melo, G., Lavinsky, D., Farah, M., & Nader, H.
(2009). Dual Role of Intravitreous Infliximab in Experimental Choroidal
Neovascularization: Effect on the Expression of Sulfated
Glycosaminoglycans Investigative
Ophthalmology & Visual Science, 50
(11), 5487-5494 DOI: 10.1167/iovs.08-3171

 

Alice no país da programação computacional!

060310_alice_vsml_1p.jpgQuem acompanha meu Twitter sabe que me direciono cada vez mais para iniciativas ligadas a educação.

Uma que conheci recentemente foi o software Alice, que busca fazer da programação computacional orientada a objetos algo simples e divertido de se aprender. Ao contrário das intragáveis sentenças computacionais clássicas (até quem só mexe com html, como blogueiros, arrepia às vezes), o programa possui um ambiente gráfico amigável e a sensação de se brincar com um jogo de computador. Conhecer o Alice me fez pensar imediatamente na oportunidade que pessoas como eu têm nas mãos.

Explico: tenho muito interesse em desenvolver material didático animado e nenhuma noção de programação. Com esse software posso tentar criar animações relacionadas ao ensino de biologia, química e, por que não, fazer apresentações mais interessantes para palestras, cursos, etc.!

O programa é uma ferramenta de ensino gratuita utilizada em várias escolas americanas e que permite ao usuário criar e até compartilhar na web filmes animados e videogames simples. Os estudantes visualizam imediatamente o funcionamento do programa que eles criaram, o que permite o fácil entendimento da relação entre as sentenças de programação e o comportamento dos objetos na tela.

logo_alice_Brasil.jpgO mais legal: fui convidado para o Congresso Alice Brasil 2010, evento organizado pelo Mackenzie que reunirá educadores, profissionais e cientistas para debater o ensino da programação computacional no Brasil. A ideia é mostrar a crianças e jovens brasileiros o verdadeiro potencial dos computadores.

Fato interessante: o nome Alice é uma homenagem a Lewis Carroll, autor de Alice no País das Maravilhas e Alice Através do Espelho. A homenagem veio por Carroll ter percebido o grande poder de se comunicar de modo claro e interessante.

O evento acontecerá nos dias 2 e 3 de março no campus São Paulo da Universidade Presbiteriana Mackenzie e contará com oficinas, palestras, apresentações literárias e lançamentos de livros.

Quer saber mais? Acesse www.alicebrasil.com.br para todas as informações do evento e www.alice.org para conhecer mais sobre esse ótimo projeto!

Melhor que ficar brilhando é ficar da cor que precisar, quando precisar, viu, Avatar?!

ist2_2982409-chameleon-furcifer-pardalis.jpg

Aproveitando que minha veia artística está acelerada, compartilho com vocês um vídeo de um dos animais que mais me impressionam, os camaleões.

Existem cerca de 160 espécies em todo o mundo, mas poucas pessoas sabem que nem todas são capazes de mudar de cor. O registro fóssil mostra estes lagartos adaptados para escalada e caça visual habitam a Terra há pelo menos 26 milhões de anos (com desconfiança que possam ser tão antigos quanto 100 milhões de anos).

Mas, voltando ao assunto, a primeira pergunta quando o assunto é “camaleões” é: como eles conseguem essas mudanças de cor?

Vocês sabiam que a pele dos camaleões é transparente? Pois é, as células responsáveis por sua coloração, chamadas cromatóforos, ficam abaixo dessa primeira camada de pele, e são altamente especializadas.

As células da camada superior são chamadas xantóforos (pigmento amarelo) e eritróforos (pigmento vermelho). Logo abaixo estão os iridóforos (ou guanóforos), que contém guanina, uma substância de aparência cristalina que reflete a parte azul da luz incidente. Se a camada superior de células aparecer principalmente amarela, a luz refletida se torna verde (azul + amarelo, lembram das aulinhas de Educação Artística?). Ainda há uma camada de melanina (pigmentação escura que dá nosso tom de pele e nos protege contra o ultravioleta – UV – da radiação solar) numa camada ainda mais profunda nas células refletoras, influenciando na intensidade da luz refletida.

Explicações dadas, vamos ao resultado de toda essa coordenação celular, que, afinal, é o motivo de eu ter escrito esse pequeno texto:

Querem uma curiosidade antes de terminar? Ao contrário do que se pensa, os camaleões
normalmente alteram sua cor em função do estado comportamental em que
se encontram. As mudanças são
também um tipo de indicador social para seus semelhantes, e há pesquisas que sugerem que a pressão inicial para evolução do sistema
cores tenha sido a sinalização social, e que os métodos de camuflagem
tenham sido um efeito secundário.

Vi (e PIREI) na Chamaleonshops
Imagem do início do texto à venda na iStockphoto (que tem uma quantidade impressionante de fotos lindas desses animais malucos)

Pro final, deixo uma pergunta: e aí, @kenmori e @Efarsas, esse vídeo é real?!

***UPDATE: o Gilmar do www.e-farsas.com é um cara muito rápido e já me avisou que o vídeo é falso. Aproveitem e vejam mais “causos” como esse no site!

Vidro, maçarico, e a “real” aparência das coisas.

Observe as imagens abaixo (clique para ampliar):

ImagensGolgi.jpg

Clique para ampliar


No painel acima, A, B e C são diferentes maneiras de se observar o Complexo de Golgi, uma estrutura celular responsável pelo processamento e distribuição de um grande número de proteínas sintetizadas por nossas células. Em A o Golgi é observado por uma técnica chamada Microscopia Eletrônica de Transmissão (MET), em B temos uma imagem de MET colorida artificialmente, e em C temos uma imagem do Golgi marcado com reagentes fluorescentes (que existem em várias cores, como o verde que observamos aqui).
OK, e qual a importância disso?
Em biologia celular e molecular, por exemplo, várias imagens que vemos são fruto de técnicas de coloração artificial, como por marcação com reagentes fluorescentes, por exemplo. Mas, convenhamos: existem células ou moléculas realmente COLORIDAS? Se afirmativo, quais as cores CORRETAS de cada uma delas?
Pensando nisso, e na hipótese de as pessoas assimilarem as cores artificiais vistas em Ciência com a realidade de uma célula, o artista plástico Luke Jerram buscou criar modelos transparentes tridimensionais de organismos importantes e de fácil reconhecimento por todos.
lukejerram_with_glass_0.jpg

Luke com seus modelos.


Os vírus HIV (AIDS), H1N1 (Gripe Suína ou Gripe A), e a bactéria Escherichia coli (que habita o intestino humano, mas pode ter formas patogênicas), por exemplo, podem ser vistos sem todos os “adereços carnavalescos” que precisamos utilizar no laboratório para identificar as regiões pesquisadas.
E, prá completar: os modelos são feitos de vidro! Vejam alguns deles (clique em cada imagem para ampliar):
ecoli_lukejerram.jpg

Escherichia coli


round_swine_flu.jpg

H1N1 (Gripe Suína)


large_hiv_luke_jerram.jpg

HIV (AIDS)


Lindos, não? E, além disso, enquanto contribui para melhorar o entendimento do público em geral sobre a aparência mais “correta” de alguns organismos, Jerram aproveita prá expandir os limites da fabricação de esculturas de vidro assoprado. É preciso grande conhecimento técnico para que os modelos vistos aqui não colapsem em seu próprio peso, uma vez que são estruturas extremamente delicadas.
Outros textos que tratam sobre o assunto: Vírus de vidro (Massa Crítica), Gripe e Arte (H1N1 – Influenza A Blog), Glass Microbiology (Seed Magazine).
Para ver mais trabalhos de Luke Jerram, acesse o site Lukejerram.com.

Contemplem o animal mais evoluído da terra, humanos inferiores!

Li antes de ontem sobre o animal mais evoluído que já habitou esse planetinha condenado ao fracasso por problemas de gerência. Ainda não o conhecia, mas foi fácil o artigo ganhar minha atenção…

Trata-se da Elysia chlorotica, uma grande e gosmenta lesma que habita a costa leste da América do Norte, desde a Flórida até o Canadá. E sim, eu disse lesma. Taí um soco no estômago prá quem vive falando que os seres humanos são o state-of-the-art da evolução animal.

Mas o que diabos essa lesma faz prá estar aqui, recebendo esse destaque?

Ela é verde, meus queridos… e não é verde só porque é bonito não. Ela tem CLO-RO-FI-LA.

Touché, mes amis!

green_sea_slug.jpg

Clorofila: eu tenh-ô, vocês não tê-êm!

O melhor: ela utiliza essa clorofila para fazer fotossíntese, o recurso mais “animal” (perdoem o trocadilho) que qualquer organismo pode querer… bom, talvez o segundo, depois da bioluminescência (ainda mais em tempos de ‘Avatar‘).

Agora a pergunta de ouro: como esse bichinho conseguiu tal façanha?

A Elysia chlorotica já possuía a reputação de “sequestrar” as organelas e alguns dos genes responsáveis pela realização de fotossíntese, o que caracteriza um processo de transferência horizontal gênica único nos animais. Aliás, parafraseando o Kentaro Mori, Lamarck ficaria deveras contente com essa descoberta…

O que descobriu-se agora é que a lesminha conseguiu se apoderar de genes suficientes para organizar a sua própria “via fotossintética”, mandando uma banana pros outros animais, tadinhos, que precisam ir atrás de seu próprio alimento (ou acionar o delivery da pizzaria).

As novidades foram apresentadas dia 7 de Janeiro, na Reunião Anual da Society for Integrative and Comparative Biology.

Depois que comecei a escrever “descobri” (aah, a internets) que a nossa querida Elysia não é assunto novo. O Carlos Hotta (do Brontossauros) e o Kentaro (100Nexos) já haviam escrito sobre ela em 2008 (cheguei bem atrasado dessa vez, mas ninguém acerta sempre, né?), então leiam mais sobre o assunto por lá!

Aliás, tem outro cara que é fã desse animalzinho, o Luís Felipe, do blog O Amigo de Wigner (ele até homenageia a querida em seu banner!), que também escreveu sobre o assunto, e comenta uma história engraçada envolvendo a mesma.

E agora eu tenho que ir, porque estou com fome e preciso buscar meu próprio alimento #invejinha

via Wired Science / 80 Beats (Discover Magazine)