Leão-marsupial: numa caverna perto de você

ResearchBlogging.orgthylacoleoconcepto.jpgAs cores e os desenhos na pelagem de um bicho extinto em geral são especulação pura — a não ser que pessoas que o viram ao vivo no passado tenham resolvido retratar a fera em sua arte. Segundo um artigo na revista arqueológica “Antiquity”, esse pode ter sido o caso do rapaz aqui ao lado — Thylacoleo carnifex, o leão-marsupial-australiano. Esqueça essas pintinhas esbranquiçadas da concepção artística: o mais provável é que ele tenha tido listras pelo corpo.
Um hipercarnívoro com incisivos afiadíssimos e dentes carnassiais que limpariam a carne do seu braço com ridícula facilidade, o T. carnifex sumiu do planeta há cerca de 30 mil anos, vários milênios após a chegada dos seres humanos modernos à Austrália. (Talvez seja mais adequado chamá-lo de “leopardo-marsupial”, a julgar pelas suas dimensões relativamente mais esguias — pesava uns 100 kg quando vivo — e por suas aparentes adaptações para subir em árvores.)
Os primeiros aborígines australianos já eram artistas talentosos, tendo deixado abundantes pinturas rupestres. Numa visita a abrigos da região de Kimberley, no oeste da Austrália, Kim Akerman e Tim Willing viram e fotografaram um grande painel na rocha que, para eles, provavelmente representa o bichão. Eles repassaram as imagens a três paleontólogos que estudaram fósseis da espécie, os quais concordaram com a identificação. Veja abaixo a imagem original, pintada com ocre, e a silhueta dela, redesenhada digitalmente.
thylacoleopintura.jpg
thylacoleoutline.jpg
Seria até possível argumentar que a pintura representa não a fera do Pleistoceno, mas um marsupial caçador mais modesto, o tilacino ou lobo-da-tasmânia (Thylacinus cynocephalus), que foi extinto no começo do século XX. (Confira uma das últimas fotos de tilacinos abaixo.) Mas, segundo a dupla, alguns detalhes importantes da imagem vão contra essa ideia:
Thylacinus.jpg
1)Primeiro, o focinho do animal na pintura é curto e rombudo, ao contrário da fuça “cachorresca” do lobo-da-tasmânia;
2)As patas da frente são representadas como mais robustas e musculosas que as de trás, o que está de acordo com a anatomia óssea do leão-marsupial;
3)As garras aparecem em destaque, estendidas para a frente — e, tal como a maioria dos felinos (embora não fosse um), o T. carnifex tinha garras retráteis;
4)O dedo correspondente ao nosso dedão na pata traseira é maior que os demais, outro dado que parece casar com a anatomia dos fósseis. Especula-se que o bicho tivesse um “dedão opositor” que lhe facilitava escalar árvores.
Outros detalhes que simplesmente não se fossilizam e estão presentes na pintura são as orelhas triangulares e a cauda com um aparente “pompom” na ponta. Mas o mais curioso é que o animal, representado claramente como um macho, está com o focinho diante do que parece ser a cauda de um companheiro de espécie (cuja imagem teria se apagado). Seria uma cena de acasalamento? Se sim, é mais um exemplo da obsessão da arte paleolítica pela fertilidade…
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Kim Akerman, & Tim Willing (2009). An ancient rock painting of a marsupial lion, Thylacoleo carnifex,
from the Kimberley, Western Australia Antiquity, 83 (319)

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