É hoje!

Só pra lembrar quem ainda não ouviu minha ladainha 😛 Eu vos espero por lá!
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Essa era tísica, doutor

mumias.jpgResearchBlogging.org“Tísica”, crianças, é um jeito mais velho do que andar pra frente de dizer que a pobre pessoa tem tuberculose. Velho, sem dúvida, mas não velho o suficiente para os padrões da senhora Irtyersenu, morta por volta de 600 a.C., a primeira múmia a passar por um exame paleopatológico em 1825. Acontece que erraram o diagnóstico: em vez de morrer de um câncer de ovário, a pobre faleceu mesmo foi de tuberculose, indica nova análise.
O estudo liderado por Helen Donoghue, do University College de Londres, revisitou os restos mortais de Irtyersenu, originalmente descritos para a Royal Society pelo Dr. Augustus Bozzi Granville. Conclusão número 1: o tal câncer era um cistadenoma benigno, insuficiente para fazer a infeliz egípcia bater as botas.
Conclusão número 2: o tecido pulmonar da pobre revelou uma secreção potencialmente fatal.
Conclusão número 3: os pesquisadores conseguiram extrair DNA de Mycobacterium tuberculosis, bactéria da doença quase homônima, desses tecidos, e obtiveram também moléculas que compõem a parede celular do microrganismo.
E, assim, esse caso de House da Antiguidade parece estar resolvido. E não era lúpus.

Artefatos que importam: a estela de Tel Dan

Continuando a nossa série “Artefatos que importam”, eu vos apresento a estela de Tel Dan — a única indicação arqueológica de que um rei chamado David pode mesmo ter existido há cerca de 3.000 anos.
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Descoberta em caquinhos durante as escavações da antiga cidade de Dan, no extremo norte de Israel, a estela (basicamente um poste de pedra, pra quem não conhece a terminologia) foi datada de meados do século IX a.C. e porta uma inscrição em aramaico. A língua era usada na região nessa época por causa das invasões sírias, que arrancaram fatias gordas do território israelita.
A inscrição está fragmentada, e a tradução dela exige certa reconstrução probabilística. Ao que parece, de qualquer maneira, o texto fala das vitórias dos reis arameus (sírios) de Damasco sobre os reis israelitas. E aí vem o pomo da discórdia: a frase (inteirinha nos pedaços que chegaram até nós) “BIT DWD” (lembre-se, esse pessoal não usava vogais pra escrever).
A interpretação mais provável é mesmo “casa de David”, ou seja, a dinastia fundada pelo lendário rei em Jerusalém uns 150 anos antes de a estela ser erigida. Alguns pesquisadores mais céticos, porém, levando em conta outras interpretações do trio de letras, questionam a ideia. Muita tinta ainda vai rolar a esse respeito enquanto dados mais conclusivos não vierem à tona.

A queda do lêmur marqueteiro?

ResearchBlogging.orgdarwinius.jpgEsta semana pode ter marcado o fim de um dos capítulos potencialmente mais constrangedores da interação entre ciência e mídia dos últimos tempos. O pomo da discórdia está aqui do lado — é Ida, ou Darwinius masillae, primatinha de 47 milhões de anos que foi trombeteado como o mais primitivo membro da linhagem de mamíferos que desembocou na gente.
Escrevi a respeito na Folha desta semana (reportagem original depois do break, pra quem se interessar). Ao que tudo indica, uma análise bem mais completa do que a feita pelos autores originais da descrição de Ida, publicada na “Nature”, mostrou que ela é só um primo dos lêmures. Nisso, porém, o dano já estava feito: circo midiático, paleontólogos comparando o bicho ao Santo Graal, aparente relaxo na revisão por pares do artigo, o diabo.
Eu acho que o caso expõe uma série de problemas meio sérios sobre a maneira como a paleontologia, e a área da evolução humana em particular, tem funcionado nos últimos tempos. A saber:
1)“Veja o filme, leia o paper”: é meio bizarro que um pacote completo de livro, documentário e site interativo sobre um novo fóssil esteja pronto antes de a descrição científica do bicho seja publicada. Desse jeito, os autores do estudo tentam controlar fortemente o que a opinião pública vai pensar do seu achado antes de a comunidade científica avaliá-lo.
2)As mazelas do embargo: supostamente, o sistema de embargo pra imprensa — eu, por exemplo, tive acesso ao novo artigo na “Nature” com uma semana de antecedência — deveria ajudar no preparo de reportagens mais fundamentadas. Não é o que acontece. O efeito principal parece ser a publicação simultânea da descoberta no mundo inteiro, aumentando apenas o impacto midiático dela.
3)Peer-review que nem o seu nariz: é difícil evitar a desconfiança de que alguns artigos são revisados com menos rigor que outros por causa do potencial de embasbacar o grande público.
4)Ciência pobre em dados: o problema de lidar com fósseis é o caráter fragmentário dos dados, por definição. Diante disso, não é incomum que pesquisadores tentem ir além do que o material fossilizado está dizendo e se apeguem a suas interpretações “de estimação” dele. E isso é péssimo para a ciência e para a educação científica, claro.
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Seiffert, E., Perry, J., Simons, E., & Boyer, D. (2009). Convergent evolution of anthropoid-like adaptations in Eocene adapiform primates Nature, 461 (7267), 1118-1121 DOI: 10.1038/nature08429
Franzen JL, Gingerich PD, Habersetzer J, Hurum JH, von Koenigswald W, & Smith BH (2009). Complete primate skeleton from the Middle Eocene of Messel in Germany: morphology and paleobiology. PloS one, 4 (5) PMID: 19492084
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Segue a minha matéria na Folha.

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Quanto vale o show?

Meu novo livro, o glorioso Além de Darwin, encontra-se neste momento nas gráficas da Editora Globo. Meu espião infiltrado conta que serão 232 páginas por apenas, eu digo APENAS, R$ 32,00. Mas não é só isso! Leitores do ScienceBlogs Brasil também ganham foto autografada! 😛 OK, brincadeirinha…
O lançamento está marcado pro dia 27 de outubro, a partir das 19h, em Sampa, na Livraria Capítulo 4 (Rua Tabapuã, 830, Itaim Bibi, tel. 2737 2037/2737 2038).
Pra quem ainda não viu, a carinha da capa e da orelha abaixo.
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Caminho das Índias

Gentil leitor, este blogueiro, atolado nas masmorras do jornalismo diário, da vida acadêmica, dos frilas e do mundo Tolkien terá de recorrer à infame prática da reciclagem de posts para não deixar o Carbono-14 totalmente às moscas. It ain’t pretty, mas pelo menos dá um fôlego. E o post é legal, acredite. Lá vai.
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Agora que a novela “Caminho das Índias” parou de empeste… digo, abrilhantar as telas da TV brasileira, até que dá menos urticária tratar de temas indianos. Um deles tem estatura épica: nada menos que a origem da gigantesca população que hoje habita o subcontinente indiano.
Em artigo recente na revista científica britânica “Nature”, a equipe capitaneada por David Reich, da Escola Médica de Harvard (EUA), usou amostras de DNA de 25 diferentes populações da Índia para tentar um retrato genético dessa história. E o resultado parece dar apoio à ideia, postulada há mais de um século por filólogos, de que em algum momento do fim da Idade do Bronze (por volta de 1200 a.C.) a região foi invadida e, em grande parte, conquistada por tribos guerreiras que falavam um idioma indo-europeu.
O tronco linguístico indo-europeu, pra quem não sabe, inclui línguas tão diferentes quanto o latim, o grego, o inglês, o sânscrito — e os descendentes deste último na Índia moderna. Os pesquisadores verificaram que quase todos os indianos são representados por misturas de dois grandes componentes, que eles batizaram de “indianos ancestrais do norte” (ANI, pra encurtar) e “indianos ancestrais do sul” (ASI). A proporção de ANI varia de 71% a 39% na maioria das populações indianas, e é bem mais alta, adivinhe só, em grupos que falam línguas indo-europeias e pertencem a castas mais elevadas.
Já os ASI provavelmente descendem de gente que está no subcontinente desde a primeira expansão dos seres humanos para fora da África, lá se vão 60 mil anos.
As divisões étnicas e sociais da Índia atual, portanto, parecem espelhar, ao menos em parte, a divisão entre conquistadores e conquistados há mais de 3.000 anos. É a mão pesadíssima da pré-história.

Vovó

Senhoras e senhores, esta é Ardi. E, como toda vovó, ela é linda.
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Ardi, batizada por analogia com a famosa Lucy, é uma fêmea de Ardipithecus ramidus e conta 4,4 milhões de aninhos, mais ou menos. Sua história está sendo apresentada pela primeira vez na edição desta semana da revista “Science”, em nada menos que 11 artigos científicos coordenados por Tim White, paleoantropólogo da Universidade da Califórnia em Berkeley.
O importante da descoberta é que se trata do mais antigo esqueleto razoavelmente completo de um hominino, ou seja, de um membro da linhagem de primatas que está mais próxima de nós do que dos chimpanzés. Antes disso, só havia cacos frustrantes, às vezes ou outro crânio, dos homininos mais antigos.
Ardi parece ter sido um primata bípede altamente “generalizado”, sem as especializações alimentares (vegetarianismo exacerbado) e locomotoras (caminhar se apoiando sobre os nós dos dedos) dos grandes macacos africanos de hoje. Isso indica que os chimpanzés e gorilas de hoje podem não ser bom modelos dos nossos ancestrais mais remotos. Mais detalhes sobre a moça devem aparecer em reportagem minha na Folha de amanhã. Fiquem ligados!

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