Sangue novo na Lapa do Santo

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Uma das notícias mais legais da arqueologia brasileira dos últimos tempos é que há uma equipe nova trabalhando na Lapa do Santo, um belíssimo anfiteatro natural de calcário na região de Lagoa Santa (MG).
Em 2002, tive o privilégio de visitar a lapa e vários outros abrigos calcários da região na companhia do bioantropólogo Walter Neves, da USP, e sua trupe. Agora, um ex-aluno do Walter, André Strauss, do Instituto Max Planck de Antropologia Evolutiva, na Alemanha, voltou a trabalhar no sítio.
O sedimento de lá está coalhado de sepultamentos do povo de Luzia, os paleoíndios de Lagoa Santa, gente que tinha uma morfologia craniana inusitada, mais parecida com a de aborígines australianos e africanos do que com a de indígenas modernos. A idade dos sepultamentos gira em torno de 9.000 anos a 8.000 anos antes do presente. Tipo este aqui, ó:
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Abaixo, um pouquinho do contexto desses sepultamentos em reportagem que fiz para a Folha tempos atrás. Boa sorte para os novos desbravadores da Lapa do Santo!
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Brasileiros pré-históricos faziam “arte” com mortos
Escavações em MG revelam pinturas, cortes e mistura de ossos de pessoas
Regras lógicas parecem ter guiado rituais em gruta da região de Belo Horizonte, entre 8.800 e 8.200 anos atrás
REINALDO JOSÉ LOPES
EDITOR DE CIÊNCIA
Na hora de lidar com a morte, criatividade é o que não faltava à misteriosa gente que vivia no coração de Minas Gerais há quase 9.000 anos. Os sepultamentos ali parecem ter sido obras de arte, cuja principal matéria-prima era o corpo humano.
Cortados com instrumentos de pedra, os ossos de diversos mortos podiam ser reunidos dentro do crânio de outra pessoa. Em outros casos, o uso de tinta ou fogo dava uma aparência diferente ao cadáver. E, às vezes, dentes de um indivíduo eram arrancados para adornar os restos mortais de outro.
O inventário dessas estranhas práticas está sendo feito pelo arqueólogo André Strauss, cujo mestrado na USP versou sobre o tema. “Embora a região seja escavada desde o século 19, com centenas de esqueletos encontrados, todo mundo achava que os sepultamentos ali eram muito simples, muito sem graça”, diz ele.
DE OLHO NO CRÂNIO
Até então, lembra Strauss, o principal interesse dos cientistas era o formato do crânio dos chamados paleoíndios, como são conhecidos os povos que habitavam as Américas no período.
A região central de Minas é famosa por ter abrigado uma gente cujas feições lembravam os atuais africanos e aborígines da Austrália, bem diferente do tipo físico dos índios atuais. É lá que foi achada a célebre Luzia, mulher mais antiga do continente, com mais de 11 mil anos.
Ao longo desta década, uma equipe da USP liderada pelo bioantropólogo Walter Neves (que orientou o mestrado de Strauss) e pelo arqueólogo Renato Kipnis voltou à região e fez uma exploração detalhada da gruta conhecida como Lapa do Santo. O resultado: 26 sepultamentos que enterram a ideia de que os funerais ali padeciam de falta de imaginação.
“É muito difícil saber o que se passava na cabeça das pessoas. Mas dá para perceber, por exemplo, regras lógicas na maneira como esses ossos eram cortados”, diz Strauss, que hoje faz seu doutorado no Instituto Max Planck de Antropologia Evolutiva (Alemanha).
Há, por exemplo, uma estranha simetria: nos enterros “compostos”, quando o crânio é de um adulto, o resto do esqueleto é de crianças, enquanto ossos de pessoas maduras acompanham crânios infantis. Uma mandíbula perfurada parece não ter sido um mero colar: ossos foram arrumados em cima dela, como se fosse uma cesta.
“Muita gente me pergunta se não há uma ligação disso tudo com canibalismo. Mas um dos sinais de antropofagia é quando os ossos humanos encontrados num sítio [arqueológico] são tratados da mesma maneira que os ossos de animais, e isso a gente não vê”, pondera ele.
Outra possibilidade, a de sacrifício humano e posterior ritual com os mortos, também não parece muito provável, argumenta Strauss. Não há sinais de violência -fraturas na cabeça, por exemplo- entre os mortos da gruta. Os ossos parecem ter sido manipulados (e descarnados) logo depois da morte.
É tentador pensar na Lapa do Santo como uma Cidade dos Mortos, um local onde as tribos da região se reuniam para celebrar a ida de seus membros para o além.
Porém, diz o arqueólogo, coleções antigas de esqueletos de outros sítios também andam revelando marcas de corte, agora que foram reanalisadas. “Antes não se prestava atenção a isso.”
A pesquisa recebeu apoio financeiro da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo).
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Guia arqueologicamente incorreto da história do Brasil: a réplica

And so it begins. Meu amigo Leandro Narloch leu a crítica sobre seu livro, o best-seller “Guia politicamente incorreto da história do Brasil”, aqui mesmo no Carbono-14, e replicou no texto abaixo, que tenho o prazer de reproduzir aqui. O debate está ficando interessante. Já aviso ao Narloch que vem tréplica por aí 😉 Leiam abaixo a resposta dele.
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Quando o Reinaldo José Lopes me contou que preparava uma crítica metendo o cacete no capítulo do Guia sobre os índios, eu tremi. O cara é um dos melhores repórteres de ciência do Brasil – domina de supercordas a seleção natural, tem um texto alegre e livre de clichês de ciência, o que é bem raro nessa área. A crítica que ele postou semana passada tem observações interessantes, mas, para meu alívio, não é tão devastadora quanto ele prometeu. Abaixo acato alguns pontos e ataco outros.
O Reinaldo me acusa principalmente de ter feito uma “mistureba de períodos e situações coloniais”, omitindo o fato de os portugueses, depois de bem instalados no Brasil, promoverem caçadas, guerras e escravizarem os índios. Isso é injusto. Três ou quatro vezes o capítulo deixa claro que houve caçadas, escravidão indígena e extermínio deliberado de índios por europeus. Passei longe de negar isso tudo. Por que não dei detalhes? Porque o livro não é um guia neutro sobre a história do Brasil: é um guia politicamente incorreto. Como diz o título e a apresentação, trata-se de uma obra parcial, que mostra só um lado. Se eu me dedicasse a chutar cachorro morto e repetir o que as pessoas já sabem, trairia o projeto e teria talvez duas dúzias de leitores.
Revelar esse outro lado não é só um exercício de polêmica. A maior novidade da história do Brasil hoje é mostrar que nem sempre os indivíduos se enquadram em grandes esquemas sociológicos ou modelos de dominação. Mesmo diante de um número menor de possibilidades, os índios faziam escolhas diversas, como qualquer ser racional. Os índios coloniais, mesmo sem ser maioria (não digo no livro que são maioria, como o Reinaldo sugere) mostram que é preciso contar uma história com pessoas, não com robôs movidos por interesses de classe.
Ainda que a proposta seja mostrar só o outro lado, o Reinaldo está certo quando me acusa de omitir que, de acordo com o Retrato Molecular do Brasil, 0% dos brasileiros que se consideram brancos tem Cromossomo Y indígena, ou seja: índios homens não deixaram descendentes entre os brancos do Brasil. Se eu cito os dados da pesquisa, então deveria mostrá-la inteira – prometo acrescentar isso na próxima edição. Com devidas ressalvas. O estudo analisou o DNA de brasileiros que se consideram brancos. Não os mestiços, os negros, os caiçaras, os mamelucos ou os índios urbanos da Amazônia (região com 20 milhões de habitantes). Entre brancos, o mais esperado seria encontrar uma genética… branca, e não indígena. Por isso foi uma surpresa perceber que 30% dos brancos brasileiros vêm de linhagens maternas ameríndias. Apesar dessa limitação do estudo, o Reinaldo se baseia nele para dizer que “os homens indígenas, de repente, pararam de se reproduzir”. Eis aí o que ele chama de maquiar e botar minissaia na evidência.
Mas a pergunta continua: por que os índios deixaram tão menos descendentes que as índias? É aí que a crítica do Reinaldo desce uns dez degraus de qualidade e chega a um trecho constrangedor:
Será que os portugueses eram tão mais gostosos (ui!) que os índios que as índias magicamente resolveram ter filhos só com europeus assim que Cabral pôs os pés aqui? É claro que não. Aconteceu o que acontece com todas as populações conquistadas desde que o mundo é mundo, das sagas bíblicas às guerras de Alexandre: os homens são mortos e as mulheres, emprenhadas.
É sintomático falar de Alexandre para explicar por que os índios homens deixaram tão poucos descendentes. Para a escravidão negra, um exemplo equivalente seria o Remador de Ben-Hur: os escravos acorrentados, obrigados a remar enquanto levam um carrasco maldoso grita: “Reeeemem”! Estamos acostumados a pensar o passado brasileiro a partir desses modelos clássicos, mas deveríamos nos esforçar para deixá-los de lado. A nova história do Brasil mostra justamente que os modelos clássicos não nos servem. Como costuma perguntar o historiador João Fragoso, como é que se pode explicar, pelos modelos clássicos de escravidão, que uma parte dos escravos de um engenho ganhasse armas do próprio senhor para proteger a fazenda?
É simplista e obsoleto olhar a história do Brasil como as guerras e conquistas clássicas. É melhor deixá-las aos filmes de Hollywood ou para o Cecil B. deMille.
A história sexual entre europeus e índias deixa isso evidente. No modo de pensar de muitas tribos, alianças militares só existiam se fossem acompanhas de alianças de sangue: só parentes eram aliados políticos. Do mesmo modo, o casamento não era uma instituição privada, baseada no amor e na intimidade do casal, mas parte da estrutura social da tribo. “O casamento entre os guaranis determinava, ao mesmo tempo, todas as relações que no Ocidente se conhecem como econômicas e todas as relações chamadas sociais”, diz o Jorge Caldeira no livro Mulheres a Caminho do Prata. Em São Paulo, em Pernambuco, no Paraguai, índios só se aliavam depois que suas filhas casassem com os europeus. Um exemplo de europeu que por influência indígena teve várias esposas índias é Jerônimo de Albuquerque, cunhado de Duarte Coelho, o primeiro donatário de Pernambuco. Os dois precisavam do trabalho dos índios para mover os engenhos. Como os nativos preferiam derrubar pau-brasil, os portugueses tiveram que conquistar o apoio das tribos por meio de casamentos. Jerônimo de Albuquerque teve tantos filhos com índias que ganhou o nome de “Adão Pernambucano”.
Vejam como esse caso vai além das batalhas gregas e da lógica “os homens são mortos e as mulheres, emprenhadas”. Vejam como a história perde se nos limitarmos a aqueles modelos simplórios. É isso que eu tentei dizer no livro – e não negar caçadas e extermínios.

Outra crítica é sobre o Domingos Jorge Velho, bandeirante paulista que destruiu o Quilombo de Palmares. O Reinaldo se baseia nos estudos do filólogo Heitor Megale para mostrar que, ao contrário do que defendo no livro, o bandeirante falava, sim, português. Eu não conhecia essas pesquisas, agradeço o Reinaldo pela dica. Mas peraí. O estudo do Heitor Megale é sobre a língua escrita no século 17, não a língua falada. Está baseada em documentos de cartório e cartas oficiais. Em mensagens assim, é óbvio que os textos não seriam em tupi-guarani. Certamente se usava o português, e um português formal, puxado para trás. Numa época em que poucos sabiam escrever e raros tinham naturalidade com a escrita, era muito comum esbanjar eruditismo nos textos. Escrever em tupi-guarani? Jamais.
Ok, talvez o Jorge Velho falasse algum português, mas de que qualidade? O bispo de Olinda, que encontrou Jorge Velho no fim do século 17, diz que ele usava um tradutor: “Este homem é um dos maiores selvagens com que tenho topado: quando se avistou comigo trouxe consigo língua, porque nem falar sabe nem se diferencia do mais bárbaro tapuia; […] lhe assistem sete índias concubinas”. Deve haver muita opinião nesse testemunho, mas é apressado descartá-lo como “preconceito de classe”, como diz o Reinaldo (o que, aliás, é um tipo de comentário meio velho, comum no Brasil uns 60 anos atrás, quando se criticava o Stálin). Eu não descartaria tão rapidamente o depoimento do bispo, já que encaixa no que se sabe hoje sobre estilo de vida de São Paulo nos séculos 16 e 17. Será que o “língua” servia para traduzir dois tipos de português? Difícil acreditar nisso. No século 17, entre tupis, jês, franceses, holandeses, espanhóis, angolanos, falar outro português deveria ser o menor dos problemas.

O Reinaldo termina o texto dizendo que “há picaretas suficientes na história do Brasil pra tese do livro ficar em pé, sem mudança nenhuma, caso esse capítulo não existisse”. Não sei sobre quem ele está falando. A nossa história está sendo muito bem contada nos últimos dez, vinte anos. O Guia está baseado em trabalhos de pesquisadores excelentes: Francisco Doratioto, Manolo Florentino, Alberto da Costa e Silva, Guiomar de Grammont, Maria Regina Celestino de Almeida, Elio Gaspari. Se o Reinaldo prefere fechar os olhos à nova história do Brasil e ficar com os manifestos de esquerda que predominavam até os 80, tudo bem. É uma decisão pessoal.

Guia arqueologicamente incorreto da história do Brasil

narloch.jpgAnda bombando há tempos nas listas dos mais vendidos o livro “Guia politicamente incorreto da história do Brasil”, de autoria do curitibano Leandro Narloch, amigo e colega de longa data. O Narloch já encomendou e editou textos meus, por exemplo, nas revistas “Superinteressante” e “Aventuras na História”. O que me põe numa posição incômoda: após ler o livro e encontrar algumas escorregadas grandes sobre os temas que eu trato aqui no Carbono-14, corro tanto o risco de perder o amigo quanto, quem sabe, alguns futuros frilas se me dispuser a criticar o conteúdo da maneira devida.
Bem, antes de fazer este post, comuniquei ao Narloch a minha intenção, de maneira a não pegá-lo desprevenido. Aproveito agora para convidá-lo a um post convidado aqui no blog caso queira contra-argumentar sobre o que escrevi aqui. De qualquer maneira, o comichão após ler o livro se tornou forte demais, porque acho perigoso os leitores comprarem certas afirmações do texto pelo seu valor de face. Vira desinformação. E não me senti à vontade para cruzar os braços.
O livro
Para quem não sabe, o “Guia” é dividido em capítulos temáticos — “Negros”, “Escritores”, “Samba”, “Comunistas” e muito mais — cujo objetivo declarado é desmontar os heróis de papel que a historiografia tradicional criou. A ideia é demolir os mitos históricos que não se sustentam e construir uma história do Brasil “sem mocinhos”.
Meu problema é justamente com o primeiro capítulo, “Índios”, no qual as informações trazidas pela arqueologia e disciplinas conexas mostram que o quadro traçado pelo Narloch é enviesado, quando não factualmente errado. Vamos por partes, como diria Jack.
“As tribos não apoiavam os colonos por alguma obediência cega. Seus líderes, que também participavam das bandeiras e das batalhas, estavam interessados na parceria para derrotar outras tribos.”
A frase faz parte da argumentação de que boa parte da destruição de tribos indígenas teria se dado pelas mãos de outros índios. Os portugueses, bem menos numerosos, teriam precisado oferecer vantagens para seus aliados indígenas, numa colaboração mais ou menos igual.
OK, não há como discutir a intensão participação indígena nas bandeiras, digamos. O problema é a mistureba de períodos e situações coloniais, como se tudo fosse a mesma coisa. Mesmo no início, as tribos só quiseram ajuda portuguesa porque estavam cientes da desproporção de poderio tecnológico entre os europeus e elas.
No entanto, conforme os núcleos coloniais foram se fortalecendo e ficando mais numerosos, a ajuda se tornou dispensável — tanto que os tupiniquins de São Paulo, antigos aliados, foram esmagados quanto ameaçaram se rebelar. E as tropas de choque indígenas das bandeiras do século XVII eram formadas largamente por indivíduos que eram tão escravos quanto os índios que eles iam capturar.
“O melhor exemplo é Domingos Jorge Velho, bandeirante paulista que destruiu o Quilombo dos Palmares. Filho de um europeu com uma índia, ele não falava português. Assim como quase todos naquela época, expressava-se na língua geral tupi-guarani.”
Errado. O grupo de Heitor Megale, filólogo da USP, estuda há anos o português falado no Brasil durante o século XVII, em especial os registros deixados por bandeirantes, e mostrou que Jorge Velho não só falava como escrevia (mal, vá lá) português. Deixou rabiscos de próprio punho. A lenda de que ele não arranhava a nossa língua foi propagada por um bispo do Nordeste que difamou Jorge Velho por puro preconceito de classe (tipo “isso aí que esse sujeito fala nem chega a ser português!).
“O interessante é que esses nobres senhores não eram descendentes de nenhum poderoso fidalgo português. O homem que criou a dinastia dos Souza de Niterói chamava-se Arariboia. Era o cacique dos índios temiminós, que ajudaram os portugueses a expulsar franceses e tupinambás do Rio de Janeiro.”
Aqui, o Narloch argumenta que a maioria dos índios não foi exterminada, mas se integrou pacificamente e de livre vontade, inclusive em cargos de mando, na população colonial. Ele cita inclusive dados interessantes sobre índios pintores, músicos, pedreiros e de outras profissões listados em censos de São Paulo, Rio e Minas nos séculos XVII e XVIII.
É significativo, no entanto, que ele não consiga citar nenhum outro caso de “dinastia fidalga” indígena além da família de Arariboia. Alguns mestiços, é verdade, também chegaram lá. Mas é difícil contestar o fato de que a imensa maioria dos indígenas “se integrou” à sociedade colonial como escravos ou camponeses e trabalhadores pobres. Qual a vantagem material que existe nisso em relação à vida tribal? Zero — voltaremos a isso mais tarde.
Além disso, no caso do litoral, essas tribos, há mais de um século, estavam aldeadas — reunidas em vilas comandadas por jesuítas e outros religiosos –, em avançado processo de conversão religiosa e transformação cultural, além de reduzidas em número por epidemias e guerras. Não admira que elas tenham se integrado com facilidade: a “cola” cultural e religiosa das sociedades indígenas já tinha ido para o saco havia muito.

“Pesquisas de ancestralidade genômica, que medem o quanto europeu, africano ou indígena um indivíduo é, sugerem que os brasileiros são em média 8% indígenas. (…) É pouco sangue indígena, mas não tanto pensando numa população de 190 milhões de habitantes. Se pudéssemos organizar esses genes em indivíduos cem por centro brancos, negros ou ameríndios, 8% dos brasileiros daria 15,2 milhões de pessoas, ou mais de quatro vezes a população indígena de 1500.”

Essa matemática não cola, a começar pelo fato de que, mesmo com esses indígenas “Frankenstein”, formados pela reunião arbitrária de DNA de corpos separados num só corpo, o crescimento “populacional” indígena teria sido inferior à metade do crescimento populacional do resto dos brasileiros nos últimos 500 anos (que foi da ordem de dez vezes).
Faltou se perguntar: por que só 8%? Não é porque o número inicial fosse baixo — ele era, afinal, o mais alto de todos. É preciso considerar outra possibilidade: reprodução diferencial positiva dos não-índios. Ou seja: ao menos certa parcela da população indígena tinha menos chances de se reproduzir – beeem menos. A resposta está no parágrafo seguinte, embora o Narloch não tenha conseguido vê-la.

“O número fica ainda maior se considerarmos como descendente de índios toda pessoa que tem o menor toque de sangue nativo. Em 2000, um estudo da Universidade Federal de Minas Gerais causou espanto ao mostrar que 33% dos brasileiros que se consideram brancos têm DNA mitocondrial vindo de mães índias. (…) Esses números sugerem que muitos índios largaram as aldeias e passaram a se considerar brasileiros.”

O termo “DNA mitocondrial” é a chave, senhoras e senhores. Como bem nota o livro, ele só é transmitido pela linhagem materna. O equivalente masculino dele é o cromossomo Y, só passado de pai para filho (do sexo masculino). Por simetria, seria interessante ter os dados do Y, omitidos pelo Narloch, mas presentes no estudo de Sérgio Danilo Pena que ele cita. Sabe quantos brasileiros considerados brancos carregam um Y “de índio” nessa amostragem? Nenhum. Vou repetir: zero.
Essa assimetria é típica de populações conquistadas, gente. Pra não deixar dúvida: CONQUISTADAS. Será que os portugueses eram tão mais gostosos (ui!) que os índios que as índias magicamente resolveram ter filhos só com europeus assim que Cabral pôs os pés aqui? É claro que não. Aconteceu o que acontece com todas as populações conquistadas desde que o mundo é mundo, das sagas bíblicas às guerras de Alexandre: os homens são mortos e as mulheres, emprenhadas.
Deixa eu reforçar, porque é importante: esse é um dado básico de biologia molecular e de comportamento humano (eu diria até primata). É assim que as coisas funcionam. Outros fatores talvez tenham contribuído — seleção natural contra doenças europeias às quais os mestiços eram resistentes e os índios “puros” não, vantagens dos portugueses na hora de obter parceiras para relações polígamas, relativa falta de mulheres europeias etc. — mas dificilmente eles explicam a maior parte do fato arrasador de que os homens indígenas, de repente, pararam de se reproduzir.
Parafraseando certo profeta do Design Inteligente, trata-se de um fato, fato, FATO incontestável, não passível de ser manipulado via documentos adulterados ou historiografias com peso ideológico duvidoso. Está no DNA dos brasileiros pra quem souber interpretar: “integração pacífica” quer dizer pegue a mulherada e descarte os homens.
Já deu
Eu poderia abordar outros detalhes. Outra grande escorregada é assumir que os animais domésticos e a tecnologia europeia aumentaram instantaneamente o nível de vida dos índios (animais e implementos eram caros, e a expectativa de um camponês de Portugal era rigorosamente idêntica à de um índio tupinambá). Mas acho que o texto já ficou cansativo.
É normal, e humano, maquiar a evidência um pouquinho pra defender sua hipótese predileta. Deus sabe que eu e a torcida do Corinthians já fizemos isso não poucas vezes. Mas, nesse capítulo indígena, o Narloch não só maquiou a evidência como botou meia arrastão e minissaia nela e ainda levou a coitada para rodar bolsinha no Putusp. Não dá.
E o pior é que nem precisava. Há picaretas suficientes na história do Brasil pra tese do livro ficar em pé, sem mudança nenhuma, caso esse capítulo não existisse. A vontade de derrubar mitos saiu do controle. E há a frase final:

“Da mesma forma, quem hoje se considera índio poderia deixar de culpar os outros por seus problemas.”

É, o pessoal que quer construir Belo Monte e as usinas do Tapajós vai adorar ouvir isso. Os índios não são santos. Mas 90% dos problemas deles vêm de um único fato: eles são populações conquistadas.
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Inuq, o retrato falado genômico

Qeqertasussuk harpoons.jpgResearchBlogging.orgSem mais delongas, confiram a minha reportagem na “Folha” de hoje.
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O tufo de cabelos passou 4.000 anos preso debaixo do permafrost, o solo congelado do Ártico, antes que cientistas dinamarqueses o usassem como base para decifrar o primeiro genoma quase completo de um ser humano pré-histórico. E o DNA, dizem eles, permitiu reconstruir a saga de uma migração esquecida e traçar o “retrato falado” de seu portador.
Apesar da cara de poucos amigos na concepção artística do último post, Inuq (apelido que significa simplesmente “ser humano” na língua nativa da Groenlândia) tem as marcas genéticas de um sujeito comum: tendência à calvície, propensão a acumular gordura (provável adaptação ao frio extremo), moreno, sangue tipo A positivo.
Todos esses dados, obtidos pela equipe de Eske Willerslev, da Universidade de Copenhague, derivam da comparação do genoma de Inuq com o de populações modernas. Em artigo na revista científica “Nature” de hoje, o grupo calcula ter “soletrado” 80% do DNA do antigo habitante da Groenlândia, obtendo dados de qualidade comparável à de qualquer genoma de alguém vivo hoje.
“É preciso levar em conta que os únicos restos que tínhamos do povo ao qual esse indivíduo pertencia eram quatro tufos de cabelo e quatro pedacinhos de osso”, explica Willerslev. “Havia numerosos instrumentos [como arpões para caçar focas] nos sítios arqueológicos, mas nós não tínhamos a menor ideia de quem eram essas pessoas”, afirma ele.
A análise genômica indica que Inuq e sua tribo não tinham parentesco próximo nem com os atuais inuítes (ou esquimós, nome hoje considerado pejorativo), nem com as tribos indígenas que povoaram as Américas ao sul do Ártico.
Ao que parece, eles representariam uma migração independente a partir do nordeste da Sibéria, que teria se separado das populações asiáticas há 5.500 anos. Os atuais nativos americanos também teriam vindo do tronco siberiano, mas a partir de linhagens diferentes e em épocas diferentes. A população de Inuq provavelmente era pequena, a julgar pela diversidade genética relativamente baixa em seu DNA: é como se ele fosse filho de um casal de primos de primeiro grau.
“A pesquisa é um “tour de force” [façanha], um trabalho espetacular”, elogia o geneticista brasileiro Sergio Danilo Pena, da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). Para ele, a genômica arqueológica deve avançar ainda mais nos próximos anos, impulsionada por fatores como a facilidade cada vez maior de “ler” o DNA.
“Agora, não é um caso normal. É preciso levar em conta a preservação das amostras. Casos como esse não vão virar arroz-de-festa”, diz Pena, que colabora com o grupo dinamarquês em outros estudos.
Willerslev se diz mais esperançoso. Como a contaminação por DNA moderno é mais rara quando se trata de material genético no interior de fios de cabelo, seria possível repetir a façanha com múmias sul-americanas ou outros restos com tecido capilar preservado.
“Já trabalhei com cabelo, e não é tão simples assim”, ressalva Pena. Ele também critica a associação entre genes e aparência de Inuq, porque dados a esse respeito sobre populações siberianas ainda são incertos.
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Rasmussen, M., Li, Y., Lindgreen, S., Pedersen, J., Albrechtsen, A., Moltke, I., Metspalu, M., Metspalu, E., Kivisild, T., Gupta, R., Bertalan, M., Nielsen, K., Gilbert, M., Wang, Y., Raghavan, M., Campos, P., Kamp, H., Wilson, A., Gledhill, A., Tridico, S., Bunce, M., Lorenzen, E., Binladen, J., Guo, X., Zhao, J., Zhang, X., Zhang, H., Li, Z., Chen, M., Orlando, L., Kristiansen, K., Bak, M., Tommerup, N., Bendixen, C., Pierre, T., Grønnow, B., Meldgaard, M., Andreasen, C., Fedorova, S., Osipova, L., Higham, T., Ramsey, C., Hansen, T., Nielsen, F., Crawford, M., Brunak, S., Sicheritz-Pontén, T., Villems, R., Nielsen, R., Krogh, A., Wang, J., & Willerslev, E. (2010). Ancient human genome sequence of an extinct Palaeo-Eskimo Nature, 463 (7282), 757-762 DOI: 10.1038/nature08835
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Seu amiguinho Inuq

inuq.jpgOK, admito que chamar o sujeito enfezado aí do lado de amiguinho força um pouco a barra, mas vamos dar uma chance ao Inuq. Embora tenha vivido há 4.000 anos, ele é um cara comum, literalmente sangue bom (tipo A positivo, para ser mais exato), com probleminhas que muitos de nós temos, como tendência a engordar e alopecia androgenética (ou predisposição a ficar careca, em linguagem de gente).
Esses e outros segredinhos incômodos da fisiologia de Inuq, um groenlandês de ascendência siberiana, estão descritos num artigo da revista “Nature” desta semana. Uma equipe internacional capitaneada pela Universidade de Copenhague usou tufos de cabelo preservados no permafrost (o solo eternamente congelado do Ártico) para sequenciar cerca de 80% do DNA do rapaz — é, na verdade, o primeiríssimo genoma quase completo de um ser humano pré-histórico a ser decifrado.
Os resultados são insights fascinantes sobre a biologia do primeiro povo do Ártico e pistas sobre uma migração para as Américas que até então era desconhecida. Conto melhor essa história em reportagem na “Folha” de amanhã. Fiquem de olho!
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Fim da megafauna: sai um mistério, entra outro

megafauna.JPG
ResearchBlogging.orgO sumiço de dezenas de gêneros de grandes mamíferos americanos (e de TODOS os bichos com mais de uma tonelada) do nosso continente provavelmente é o maior dos mistérios do fim do Pleistoceno, a Era do Gelo. Uma pesquisa recente parecia ter dado um jeito no mistério — mas só parecia. O estudo deixa em aberto tantas perguntas quanto as que responde, ou até mais.
Que fezes, diria você. E, sim, fezes aqui é a palavra apropriada, porque a equipe capitaneada por Jacquelyn L. Gill, da Universidade de Wisconsin em Madison, conseguiu refinar a linha do tempo da megafauna da América do Norte — formada por mamutes, mastodontes, preguiças gigantes e outros bichões — usando um fungo especializado em crescer no cocô de grandes herbívoros.
Trata-se do Sporormiella, cuja presença e abundância tem uma excelente correlação com a presença de megafauna. Estudando sedimentos anteriormente, os cientistas já tinham se dado conta de que os esporos do fungo estavam por toda parte na América do Norte da Era do Gelo, tomam chá de sumiço com a chegada do Holoceno (a nossa era geológica, já tristemente quase sem megafauna nas Américas) e retornam quando os europeus reintroduzem grandes rebanhos de herbívoros avantajados, na era colonial.
Árvores e meteoritos
Ora, esporos do fungo, junto com pólen, carvão e outros indicadores ambientais, tendem a ficar depositados no leito de lagos de maneira regular, formando um registro temporal bem sequenciado do ambiente circundante. Gill e companhia usaram dados do lago Appleman, em Indiana (EUA), e de vários outros sítios dos EUA, para mostrar duas coisas.
O declínio populacional da bicharada graúda começou cedo, há pouco menos de 15 mil anos, e não há 13 mil, como se achava; e uma transformação ambiental intrigante — o surgimento de grandes matas que misturavam árvores de regiões temperadas e boreais no lugar de uma espécie de estepe — veio depois, e não antes, do começo do fim da megafauna.
De cara, isso desmonta três ideias: a de que a mudança na vegetação teria deixado os bichos sem comida, levando-os a sumir; a de que um suposto meteorito teria caído há 13 mil anos e alterado o ambiente, desencadeando a extinção; e a de que os caçadores de grandes mamíferos da cultura Clovis, que também aparecem nessa época, teriam rapidamente exterminado os monstrengos na base da lança.
OK, mas o que acabou com a megafauna, então? Realmente há a coincidência de uma fase quente com o início do declínio abrupto de população, mas fica difícil imaginar que a mudança climática levasse ao extermínio sem alterar o habitat. Uma possibilidade é a chegada mais antiga de humanos caçadores — de fato, eles aparecem em Monte Verde, no Chile, antes da cultura Clovis, o que significa que estavam na América do Norte muito antes ainda. Mas há pouquíssimos indícios deles, sugerindo uma população pequena e pouco especializada em caça. Será que poderiam mesmo ter feito tanto estrago e não deixar rastros?
A única conclusão firme é a de que a extinção da megafauna foi bem mais gradual do que se imaginava. Sinceramente, esse negócio está começando a ficar irritante.
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Gill, J., Williams, J., Jackson, S., Lininger, K., & Robinson, G. (2009). Pleistocene Megafaunal Collapse, Novel Plant Communities, and Enhanced Fire Regimes in North America Science, 326 (5956), 1100-1103 DOI: 10.1126/science.1179504
Johnson, C. (2009). Megafaunal Decline and Fall Science, 326 (5956), 1072-1073 DOI: 10.1126/science.1182770
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Orgulho do tio

O Brasil ganha hoje uma nova revista de divulgação científica, a Unesp Ciência, patrocinada pela universidade homônima. Escrevi uma reportagem para o primeiro número, mas não é sobre isso que quero falar, não. Escrevo apenas para ressaltar o PRIMOROSO texto da nossa colega Scibling Luciana Christante, do Efeito Adverso, sobre o trabalho da arqueóloga Ruth Künzli. É uma das visões mais gostosas de ler sobre o dia-a-dia da arqueologia que já apareceram nos últimos tempos. Parabéns, Lu! E leiam — afinal, é de grátis 😉

Megafauna brasileira: difícil de caçar ou dura de de mastigar?

O registro fóssil e arqueológico da América do Sul, e em especial o brasileiro, abriga um enigma capaz de deixar qualquer um atônito. Os primeiros seres humanos a botarem os pés aqui conviveram por ao menos um milênio (e provavelmente por bem mais tempo) com mastodontes, preguiças gigantes, cavalos, ursos, lhamas. O Cerrado de 10 mil anos atrás era o Serengeti 2.0. Essa montanha de proteína animal não está mais entre nós, mas não existe NENHUMA evidência firme de que os primeiros brasileiros tenham se aproveitado desse banquete móvel. NENHUM indício de caça à megafauna. Alguém pode me explicar o porquê?
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Esse velho mistério me veio à cabeça novamente depois de entrevistar o paleontólogo Leonardo Santos Avilla, da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), sobre seu interessante trabalho com os mastodontes de Araxá (MG). Ele me contou que tomografias feitas no que sobrou de um desses primos extintos dos elefantes revelaram um corpo estranho que pode ser uma ponta de lança. A ferida cicatrizou, o que significa que o paquiderme (também conhecido como gonfotério) não morreu daquilo.
A identificação ainda não é definitiva, mas seria o PRIMEIRO caso indiscutível de ataque de seres humanos aos monstros do Pleistoceno no Brasil. Isso quer dizer que a gente tem dados mais seguros sobre LARVAS DE BESOURO comendo mastodontes (a vértebra acima é um indício da ação desses carniceiros nas carcaças) do que sobre gente comendo mastodontes.
Para colocar tudo isso em contexto, é bom lembrar que existem alguns dados sobre o uso da megafauna como recurso alimentar e matéria-prima em Monte Verde, no Chile, há 12.500 anos (de novo, são mastodontes) e um ou outro exemplo na Argentina e nos países andinos. De resto, a América do Sul conta com pouquíssimos indícios de que os primeiros habitantes do continente (também conhecidos como paleoíndios) tenham caçado esses grandes mamíferos.
Clovis? Que Clovis?
A coisa é ainda mais estranha porque, na América do Norte, a chamada cultura Clovis (aparentemente a mais antiga, e certamente a mais bem conhecida, dessa fase inicial do povoamento) parece ter subsistido quase exclusivamente à base de picanha de mamute. A famosa ponta de lança Clovis, lindamente trabalhada e com uma ranhura especial para ser presa ao cabo de madeira, parece ser uma tecnologia especialmente projetada para a caça de grandes mamíferos (e muitas foram encontradas em meio às costelas de proboscídeos).
E por aqui… bem, por aqui existe só um punhado de pontas de lança paleoíndias. A imensa maioria dos artefatos é bem tosca, de feitura “expedita”, como se diz (lindo jeito técnico de indicar que o troço foi feito nas coxas). Mais importante ainda, os padrões de subsistência em lugares como Lagoa Santa (MG), mais famoso centro de ocupação paleoíndia do Brasil, mostram foco bem maior na coleta e na captura de animais pequenos, como tatus, preás e lagartos. Quem diabos ia preferir teiú no espeto a um filezão de preguiça gigante?
Acho difícil que os paleoíndios brazucas simplesmente não tivessem habilidade técnica para produzir sua própria versão de Clovis. Será que lhes parecia mais vantajoso investir numa estratégia do tipo “menos riscos, retornos mais seguros”, dedicando-se a caças menores? Finalmente, há até quem sugira a existência de alguma forma de tabu alimentar (totêmico? Religioso? Higiênico?) em relação às grandes feras. (Foi o que Walter Neves, bioantropólogo da USP, sugeriu-me certa vez.)
É claro que novos achados, como os do próprio Avilla, podem modificar esse quadro, embora eu duvide. Será que estamos falando só de um problema de tafonomia, ou seja, de preservação dos restos caçados, que teriam sumido ou se decomposto? Tá, mas para o continente inteiro? Improvável. Se alguém tiver uma luz por aí, pelamordeDeus me avise — ou um escreva um paper.
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PS – Pois é, depois de um hiato vergonhoso, estou de volta. Pra valer, espero.

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