Mentiras, mentiras deslavadas e estatísticas
FOI ASSIM, ENTÃO, senhoras e senhores, que a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil lançou, no fim-de-semana, sua aguardada pesquisa de opinião que, adiantara sua presidente, demonstraria que o problema do índio brasileiro não é terra.
Peço desculpas por insistir no assunto, sim, sou monomaníaco, mas o causo em questão é revelador.
A pesquisa, encomendada pela CNA ao Datafolha, ouviu 1.222 “silvícolas” em 32 aldeias com mais de cem habitantes em todas as regiões do país. Amostra, portanto, em tese representativa da população indígena. A conclusão principal, estampada em press release da entidade: “A dificuldade de acesso à saúde é a principal queixa da população indígena no Brasil”. 29% dos nativos entrevistados disseram ver nisso sua principal preocupação. Nas palavras da presidente da CNA, Kátia Abreu:
“O pleito dos índios pela ampliação de suas áreas é legítimo, mas reduzir a questão indígena à falta de terra é uma simplificação irreal, que tira o foco da realidade. As reclamações dos índios vão muito além de um pedaço de chão. Eles querem cidadania, respeito, assistência médica, uma educação melhor, instrumentos que lhes possibilitem obter mais renda e o sustento de suas famílias com dignidade”
O resultado da pesquisa foi amplamente divulgado em reportagens de meus amigos Leonardo Coutinho e Matheus Leitão na Veja e na Folha, respectivamente, portanto vou me abster de repeti-los aqui. Acontece que muita gente boa chiou, dizendo que a Folha estava comprada pelos ruralistas e desconfiando do Datafolha por fazer uma pesquisa encomendada pela Kátia Abreu.
São Carl Sagan me ensinou a ser alérgico a esse tipo de ataque “ad hominem”. Se um fenômeno é real, ele deve ser observável independente de onde se situe o observador no espectro político. Não existe “ciência ruralista” ou “ciência ambientalista”. Não desconfio de resultados do Datafolha encomendado pela CNA como não desconfiei do Datafolha sobre Código Florestal por ter sido encomendado pelo Roberto Smeraldi.
OK, façamos aqui uma ressalva: existe um viés de observação na pesquisa, que afinal só foi ouvir a indiada que fala português e mora em aldeias grandes. Isso obviamente desvia a enquete no sentido de encontrar bens de consumo como TVs e geladeiras, cada vez mais comuns em áreas rurais, mas que o nosso racismo cordial não entende que possam constar de lares indígenas. Dito isso, porém, trata-se de uma pesquisa de opinião tão boa quanto qualquer outra, feita com a mesma metodologia rigorosa do Datafolha da qual ninguém reclama em tempo de eleição.
Por curiosidade, fui olhar a dita cuja, que a CNA teve a gentileza de disponibilizar em seu site. E o que diz o Datafolha? Que “saúde e situação territorial são os principais problemas dos índios no Brasil”. Saúde aparece com 29%; terra, com 24%. Como a pesquisa tem margem de erro de três pontos percentuais para mais ou para menos, podemos dizer (e o Datafolha diz) que ambas estão tecnicamente empatadas na lista de males que tiram o sono do aborígene. Kátia Abreu e a CNA possivelmente não gostaram do resultado (que deve ter-lhes custado algumas centenas de milhares de reais) e resolveram dar um “spin” na divulgação, reforçando a questão da saúde (de resto, preocupação principal de qualquer ser humano, em qualquer situação, em qualquer momento da história) e convenientemente varrendo para fora da maloca a questão territorial.
O premiê britânico Benjamin Disraeli costumava classificar as mentiras numa gradação: “lies, damn lies and statistics”, ou “mentiras, mentiras deslavadas e estatísticas”. Neste caso, as estatísticas não mentiram. Mas a forma como elas foram apresentadas ao público foi deliberadamente confusa.
PS: Leia aqui a boa análise que o Instituto Socioambiental fez da pesquisa Datafolha.
Discussão - 18 comentários
"a mesma metodologia rigorosa do Datafolha da qual ninguém reclama em tempo de eleição"
Na verdade, reclamam sim, *sobretudo* em época de eleição. Especialmente os que se sentem prejudicados. Há até alguns que pedem CPI de institutos de pesquisa.
http://altamiroborges.blogspot.com.br/2010/07/urgente-auditoria-no-datafraude.html
http://minutonoticias.com.br/cpi-do-ibope-e-datafolha-sera-criada
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[]s,
Roberto Takata
Caro Cláudio...
Excelente post. Concordo com sua argumentação sobre a, digamos, "distorção" da conclusão da pesquisa perpetrada pela Kátia Abreu. Faço isso sempre que tenho que me debater com revisores pentelhos de artigos que tento publicar. Estatísticas não costumam mentir mesmo. Apenas respondem perguntas que vc faz a elas. Perguntar de um jeito diferente e procurar por respostas diferentes, também não costuma ser considerado mentir (damn it, hehe).
Mas "se um fenômeno é real, ele deve ser observável independente de onde se situe o observador no espectro político" foi meio forte pro meu crânio interpretativista e relativista no que se refere às coisas das ciências do espírito. O horizonte interpretativo a partir do qual se olha um fato é fundamental se quisermos validá-lo intersubjetivamente. Por outro lado, digo-lhe que não gostei muito da crítica do tal antropólogo linkado no seu post. Fico, prá variar, com a sua opinião.
Parabéns pelo post.
Putz, Karl, forcei a mão no chauvinismo da objetividade, né? Perdão, admito. Deveria ter dito "em tese, se um fenômeno é real"... vício de jornalista de ignorar os "caveats". :-/
Se a pesquisa é tão isenta assim, porque na sua conclusão ela diz "A situação territorial também causa preocupação, mas não é o
maior problema, como afirmado por ongs, movimentos sociais e
certa áreas de governo." ?
Dri, interpretação benevolente:
1 - Há dois problemas equivalentes, não um, portanto a afirmação está rigorosamente correta.
2 - Foi um agrado ao cliente, que não compromete as constatações numéricas (29% contra 24% +- 3% = lesma lerda).
De novo, a pesquisa tem um viés de observação que inspira tomar suas conclusões com um grão de sal. Mas não acho que ela seja *desonesta*.
Pois é, não dá pra dizer que é o maior problema, a não ser para agradar o cliente... já acho ruim que o Datafolha formate as conclusões para agradar o cliente. Que a mídia reforce isso é ainda mais inadequado.
Caro Claudio.
Agradeço você ter dado atenção à minha mensagem à ombudsman da FSP e por ter me colocado no conjunto "muita gente boa". Não pretendo com esse post iniciar uma tertúlia virtual, pois não só me falta o tempo, mas também falamos de posições e pontos de vista bem distintos, que tenderiam a estender o debate ad infinitum.
Não obstante, aproveito a oportunidade para enfatizar (e, eventualmente, esclarecer) alguns aspectos da nota, posto que além de você ter "for[çado] a mão no chauvinismo da objetividade", você também o fez ao reduzir o que escrevo lá à sugestão de que "a Folha estava comprada pelos ruralistas e desconfiando do Datafolha por fazer uma pesquisa encomendada pela Kátia Abreu." Quanto ao "chauvinismo da objetividade", nunca é demais questionar, com Maturana, o que chamamos de ~realidade~: "busca da objetividade, ou procura de um argumento coercitivo?". Quanto à FSP estar comprada pela CNA, fosse só por isso não teria me dado ao trabalho de escrever à nota.
Quis, ao falar em "encomenda", chamar atenção para um dos vários aspectos (há outros destacados na nota e no texto do Bourdieu que compartilhei no Twitter) do funcionamento das sondagens de opinião no atual contexto de organização do nosso mercado de bens simbólicos - a opinião sendo uma das mercadorias cuja produção e circulação é ativada por esses mecanismos. Nesse momento, travamos uma luta de concepções em torno da sociedade brasileira e de sua constituição e divisões internas, e não podemos ser ingênuos em relação as consequências de enunciados aparentemente objetivos e, portanto, inocentes (?) sob risco de estarmos sendo cúmplices com atrocidades,
Há outros aspectos, que menciono (aliás de modo mais frequente) na mensagem e que são tão relevantes quanto a questão da encomenda, e que também gostaria de enfatizar: a própria noção de "perfil"; a denominação de pesquisa para o que, a rigor, é uma sondagem ou enquete; a prestidigitação da "representação/tividade"; o consequente emprego de afirmações genéricas conclusivas e peremptórias; e, o que sempre me pareceu mais significativo (e grava) nesses casos: a indistinção (ou fronteira porosa) entre pesquisa e matéria jornalística.
Note que na mensagem eu mesmo chamei atenção para o suposto "empate técnico" entre os "principais problemas" destacados pelas pessoas entrevistadas, mas - como sugere Bourdieu no texto referido: a produção da opinião não está ao alcance de todos e as opiniões não se equivalem (como quem encomendou a pesquisa sabe - e muito bem). Não vou entrar no mérito epistemológico (mentira/verdade, objetividade/ coerção, conhecimento/interesse), pois quiçá seja esse o ponto em que mais nos apartamos e a discussão iria longe demais; mas o reconhecimento de que a forma como a sondagem e seus resultados foi apresentada foi "deliberadamente confusa" mereceria uma reflexão mais cautelosa da parte de vocês.
Receba meu cordial abraço.
"Vocês" quem, cara-pálida?
Errata:
(i) onde se lê "cúmplices com atrocidades,", leia-se "cúmplices de atrocidades.";
(ii) onde se lê "grava", leia-se "grave"; e
(iii) onde se lê "de vocês" na última linha, leia-se "dos que 'apresenta[ram] ao público [de forma] deliberadamente confusa' os resultados da sondagem."
Abs, Henyo
Conforme explicitado no site da CNA, publicamos um resumo da pesquisa “O Perfil dos Índios”. A pesquisa completa ainda está sendo analisada por nossos técnicos e pelos técnicos do Datafolha.
No entanto, tendo em vista as informações publicadas em seu Blog, acrescentamos novas lâminas ao resumo publicado que atestam que SAÚDE é, efetivamente, o maior problema enfrentado pelos nossos índios. Contra fatos, não há argumentos. E a credibilidade do Datafolha é inquestionável.
A pesquisa demonstra cabalmente que , na visão do entrevistado, SAÚDE, com 29%, é o maior problema para os ÍNDIOS EM GERAL. Olhando para a sua raça, para o seu povo, esta é a resposta mais frequente entre os índios brasileiros.
Como V.Sa. verá nas novas lâminas publicadas, a SAÚDE também é o maior problema quando os entrevistados são inquiridos no PLANO PESSOAL ( “maior problema enfrentado por você”), com 30% das respostas. TERRA é citada por apenas 1% dos pesquisados. TERRA, segundo a pesquisa, não é um problema pessoal para os nossos índios.
Finalizando, SAÚDE também é a maior demanda quando a pergunta é a respeito de medidas governamentais que deveriam ser tomadas para resolver os problemas dos índios. Novamente, 25% querem resolver o problema da SAÚDE. E 17% citam TERRAS, aí sim, em empate técnico com CIDADANIA, POLÍTICAS PÚBLICAS e EDUCAÇÃO.
Link para resumo da pesquisa: http://www.canaldoprodutor.com.br/sites/default/files/Pesquisa_Datafolha_Perfil_indios_no_Brasil.pdf
Assessoria de Comunicação CNA
cna.comunicacao@cna.org.br
www.canaldoprodutor.com.br
Caros,
Desculpem a demora em responder aqui. Não o fiz antes porque não tive tempo de olhar em detalhe as lâminas que vocês acrescentaram à pesquisa. Minha crítica à divulgação permanece válida, evidentemente, porque no press release vocês não comparam os 29% com 1% da resposta individual, mas sim os 29% com os 24% da resposta geral -- ignorando a margem de erro. Contra este fato tampouco há argumento. Como tentei explicar no post, mesmo que a relação fosse 99% a 0,9%, isso apenas evidenciaria que índios são seres humanos. Qualquer pesquisa de opinião, em qualquer momento da história, dirigida a qualquer grupo humano que não esteja no meio de uma guerra mostrará saúde como principal preocupação. Faz parte da natureza humana. Isso não informa absolutamente nada sobre situação fundiária e problemas dela decorrentes.
Outra hipótese: não acho improvável que a categoria "cidadania", se esmiuçada, revelasse o componente "terra" como parte importante dos "direitos dos índios", elevando seu percentual na resposta "medidas governamentais". Sem incorrer em filosofia pós-moderna, respostas dependem um bocado das perguntas.
Por outro lado, o alto percentual de índios que acham que têm menos terra do que o necessário (92% na região Sul) tampouco tem valor explicativo. Aposto que a Kátia Abreu jamais diria que tem mais terra do que o necessário, ou o Eike Batista, que tem mais dinheiro do que o necessário.
Caro Claudio.
O post da Assessoria de Comunicação da CNA acima só faz corroborar a crítica de Bourdieu a dois dos três postulados implicados em quaisquer sondagens de opinião - que eu mencionei acima. Ao contrário do que estas pressupõem, a produção da opinião não está ao alcance de todos e as opiniões não se equivalem.
Ancorada no "chauvinismo da objetividade" e numa episteme positivista, afirma a referida Assessoria: "contra fatos não há argumentos". Compare-se essa afirmação com a seguinte postulação de Bourdieu (que eu não traduzo, pois afinal somos todos letrados aqui): "...l'homme politique est celui qui dit: 'Dieu est avec nous'. L'équivalent de 'Dieu est avec nous', c'est aujourd'hui 'l'opinion publique est avec nous'. Tel est l'effet fondamental de l'enquête d'opinion: constituer l'idée qu'il existe une opinion publique unanime, donc légitimer une politique et renforcer les rapports de force qui la fondent ou la rendent possible."
Por fim, observo que o emprego da noção 'raça' na expressão "Olhando para a sua /raça/, para o seu povo..." denota bem o século do quadro mental em que a CNA se encontra.
Saudações.
Por fim, não poderia deixar de divulgar aqui o link para a resposta do Conselho Aty Guasu, da Comissão de Professores Kaiowá e Guarani, e da Campanha Guarani à "matéria" da ~Veja~. A Carta Pública é coassinada por várias entidades. Pede-se a quem efetivamente se dispõe a escutar (e não simplesmente ouvir) os povos indígenas, que disseminem amplamente: "Revista Veja: direito de resposta aos Guarani-Kaiowá já" em http://campanhaguarani.org/acao/?p=4
Cláudio,
e você acha, em sã consciência, que seus "amigos" Leonardo Coutinho e Matheus Leitão na Veja e na Folha, comentaram os dados de maneira isenta?
O pior não é nem a metodologia, que sempre tem limitações, mas o instrumento em si, porque serve para levantar opiniões e perfis individuais e tenta criar a ilusão que a simples somatória destes perfis individuais seria "o perfil dos Índios no Brasil". Isto talvez funcione em situações de maior homogeneidade socioeconômica, mas na heterogeneidade das sociedades indígenas do Brasil não faz o menor sentido.
O resultado de entrevistas em 32 aldeias acima de 100 habitantes, com 1.222 pessoas, pertencendo a 20 etnias (entre mais de 300 diferentes no Brasil) e falando português é representativo para o universo indígena? Ou seria apenas representativo para aldeias destas mesmas etnias e que se encontram na mesma situação?
Em outras palavras: entrevistar mil pessoas em Lisboa, Zurique e Dublin nos daria uma base suficiente para entendermos a situação dos europeus e acharmos soluções para a crise da Grécia?
O problema maior está relacionado à interpretação dos dados levantados e ao viés que a Folha (Matheus Leitão) dá, já que os conteúdos contrariam o enfoque e até o título. Lemos que:
"A agricultura é exercida por 94%, e 85% praticam a caça; 57% deles consideram que o tamanho das terras onde vivem é menor do que o necessário.”
Mesmo assim, o destaque dado pela Folha (Matheus Leitão) é a posse de bens de consumo e o Bolsa Família, chegando à conclusão que está no título: “Índios estão integrados ao modo de vida urbano”. Resta a pergunta: onde é que eles estariam praticando a agricultura e a caça na cidade?
Mentir com estatísticas é exatamente isto!
E quando indagados sobre o que poderia melhorar a situação deles:
“Os índios também citaram algumas medidas governamentais que poderiam melhorar a vida dos indígenas no país: intervenções na área da saúde (25%), demarcação de terras (17%), reconhecimento dos direitos indígenas (16%), investimentos públicos (15%) e educação (15%)."
Interessante, né? Ninguém citou a posse de bens de consumo ou a vida urbana como solução. Diante destes resultados, bem que o título da matéria poderia ter sido:
“Índios querem saúde, demarcação de terras e reconhecimento de seus direitos”.
Fica óbvio que nem os dados e muito menos uma análise séria destes interessam. A única coisa que interessa à CNA é a insinuação: os índios são urbanos e não precisam de terra.
E a Folha (seu amigo Matheus Leitão), porque manipula os dados deste jeito? "Agrado ao cliente"?
Vejamos a apresentação dos dados, na parte final, "Principais resultados":
"A situação territorial também causa preocupação, mas não é o maior problema, como afirmado por ongs, movimentos sociais e certa áreas de governo. A maioria dos índios, naturalmente, considera o tamanho das terras onde vivem menor do que o suficiente."
Interessante, foi o único item no qual o "jornalismo" entrou para relativizar os dados: tipo "veja bem, os dados falam x, mas na verdade tem que entender y, porque, 'naturalmente', eles acham o território pequeno". Em nenhum outro item aconteceu isto. Porque não relativizaram os dados sobre saúde, porque "naturalmente" qualquer um acha a saúde primordial?
Por que será, hein?
Mentir com estatísticas é exatamente isto!
Você alega que não foi "desonesto". Mas, diante dos fatos, "desonesto" é pouco, é como "inverdade", é um eufemismo. Na verdade, a palavra certa seria canalha e mentiroso!!!
E como assinante da Folha, que pago o salário de vocês, não posso aceitar este tipo de comportamento. Ética é outra coisa!
Atenciosamente
Dan,
Eu entendi o que você quis dizer, não precisa pedir desculpas. Só queria deixar claro que não tenho mais nada a ver com a Folha há vários meses, então obviamente não me cabe comentar o que o jornal faz ou deixa de fazer. Tentei me ater à forma como a CNA divulgou a pesquisa do Datafolha, pois me pareceu um caso clássico de seleção de observações.
Gostaria de fazer um breve comentário, de acordo com o pouco tempo que tenho disponível. Acho infeliz, independente de existirem reclamações ou não, comparar uma pesquisa de intenção de voto, com uma complexa pesquisa com a intenção de saber qual são os principais problemas dos índios brasileiros. São pesquisas que envolvem questões completamente diversas e que devem ser feitas com metodologias diferentes, adequadas a cada uma. Existe uma vasta bibliografia sobre metodologia de pesquisa sociológica e antropológica que debate os limites da representatividade das estatísticas, a relação entre método quantitativo e qualitativo, que facilmente demonstraria os diversos problemas existentes na forma como foi realizado o levantamento e a apresentação dos dados, ainda mais levando em consideração a diversidade cultural dos povos indígenas e os seus diferentes contextos sociais e históricos. Para não ficar restringido a questão indígena, além de Bourdieu muito bem citado e comentado pelo antropólogo Henyo Barretto, gostaria de lembrar outro autor e outra obra que revela bem como estatísticas estão longe de serem fatos inquestionáveis e pouco dizem sobre uma realidade social, a saber: Os estabelecidos e os Outsiders de Nobert Elias. O pouco esforço que parece haver em não esclarecer as condições de pesquisa, deixa a impressão de que esta foi realizada para um “texto já encomendado”.
Claudio,
peço desculpas pelo que parece um 'ataque “ad hominem” ' na minha mensagem anterior. Relendo agora, percebi que não tinha deixado claro que estava falando do comportamento 'desonesto' e 'mentiroso' de quem, disfarçado de 'jornalismo', estava direcionando a interpretação dos resultados para servir aos interesses da CNA.
Em nenhum momento quis fazer uma crítica pessoal, até porque você não foi o autor dos textos referidos aqui. Pelo contrário, reconheceu o "spin" na divulgação dos dados e se mostrou aberto ao debate, o que agradeço, mesmo descordando em vários pontos.
Acho que métodos e instrumentos nunca são "matemática pura" e podem ser perversos, sim, dependendo dos interesses que estão por trás; e todos nos temos interesses!
Saudações
Katia Abreu ataca novemente:
http://www1.folha.uol.com.br/colunas/katiaabreu/1186933-uma-antropologia-imovel.shtml