Como se mata um mito?

A língua possui regiões específicas para cada sabor: Amargo, Ácido, Salgado e Doce. As papilas de cada região são capazes de detectar apenas determinado sabor. Então, se não quiser sentir o sabor de um alimento, basta não deixar que ele toque a parte da língua que sente aquele sabor.
Quando você aprendeu pela primeira vez a informação acima? Há uns 30 anos com a tia Maricota, sua professora da primeira série? Há 12 anos com o professor de Biologia da sétima série? Ou ano passado enquanto fazia pré-vestibular? Não importa. É muito provável que o leitor fique surpreso ao saber que tal “mapa” da língua é simplesmente um erro. Os culpados são D.P. Hanig, que em 1901 propôs tal mapa baseado nas impressões subjetivas de voluntários, e Edwin Boring, que em 1952 reexaminou os dados e plotou-o num gráfico de uma maneria que fazia parecer que regiões de baixa sensibilidade indicassem nenhuma sensibilidade. Essa idéia foi provada falsa em 1974 mas, surpreendentemente, continua a ser ensinada.
Da mesma forma, ainda podemos ouvir, inclusive de professores, que a Força de Coriolis interfira no escoamento da água de uma pia, que o bojo nos Vitrais de catedrais demonstrem que o vidro é um líquido e escorra, que a Teoria da Relatividade diga que tudo é relativo ou que a Teoria do Caos verse sobre borboletas e furacões, independentemente de nossos esforços em mostrar o quanto essas idéias são erradas.
Por que isso acontece?



Renan é doutorando em Física. Atualmente estuda as partículas elementares chamadas de neutrinos, especialmente aqueles de altas energias produzidos em objetos astrofísicos. Gosta do que faz apesar de não ser tão bom nisso quanto acha necessário.
Discussão - 12 comentários
Mitos não morrem facilmente, a única explicação pra eles se difundirem mesmo após serem mostrados falsos é alguém agir de má fé, porque se a verdade já está sendo divulgada o caminho lógico seria ela suprimir o mito.
Adorei este post. Discuto muito esse tema com um colega meu. Sabe como nos referimos à essa imortalidade dos mitos? Chamamos de "canonicidade"... ^^
Belo post mesmo! E o li apenas por acidente, nem conhecia esse lablogatórios.
O da língua eu mesmo destrui ainda na infância, quando fiz o teste proposto pela professora de encostar sal na ponta da língua e, surpreendentemente, senti o sabor do danado.
Eu li um estudo que sugeria que as pessoas tendem a acreditar em boatos mesmo se eles estiverem sendo apresentados já falseados. Exemplo: eu dou uma palestra provando como celulares são inofensivos em postos de gasolina. Depois de alguns meses, a grande maioria dos presentes vai ter apenas uma vaga lembrança de uma estória envolvendo celulares, postos e alguma conseqüência, aí vem alguém na tv e diz que é perigoso, aí a lembrança muda e se solidifica como eu tendo dito, cientificamente, que celular + posto = bum!
Hmmm, mas em que sentido você diz que a relação entre borboletas e furacões é falsa? Você reclama da forma como é apresentada, como se o bater de asas da borboleta amazônica *causasse* furacões no Caribe?
(Captcha: recalled Ruffles... isso me faz lembrar de um salgadinho...)
Kim, o problema é mesmo da apresentação. A estória da borboleta e do furacão deixou de ser apenas uma analogia para explicar a Teoria do Caos e virou, no imaginário popular, um dos fatos apresentados pela teoria. Da mesma forma que se passou a acreditar que o Efeito Borboleta recebesse esse nome por causa dessa analogia.
Renan,
o vidro não escorre?!? explique-me isso.
.
Você está acabando com meus argumentos de buteco, socorro hein.
quanto a língua, vale lembrar que ainda existe a papila pra glutamato monossódico, popularmente conhecido como ajinomoto.
e que o sabor de pimenta é conduzido por fibras de dor.
e infelizmente o conhecimento não é atualizado como deveria nos colégios e cursinhos.
Na população há mais pessoas leigas do que inteligentes.
Estas leigas propagam umas pras outras os boatos.
Como leigas, o raciocínio lógico e crítico delas é pouco desenvolvido. Então ao apresentarem os fatos verdadeiros elas cometem as falácias mais comuns: apelos ao antigo, à população, ao número, e as autoridades. Entre outras.
- Se 90% da população acredita na mentira, porque a verdade seria verdadeira?
- Se a mentira já existia desde séculos atrás, porque a nova verdade seria verdadeira?
- Se o professor, o pastor, o político, o jornalista e o policial ensinam a mentira, porque um cientista que nunca viu na frente diria a verdade?
- Meus pais, irmãos, vizinhos e colegas aceitam a mentira, porque eu deveria me opor?
Estes são alguns dos questionamentos que os leigos fazem. Então cometem dissociação cognitiva e tudo volta a ser o que era antes, gerações após gerações.
Luciane, eu linkei para a explicação. Clica lá. E desculpe pela decepção. =P
Glenn, muito obrigado pelo adendo.
Aninha, essa é uma boa explicação.
E também para umami, o sabor que a carne tem...
Tudo bem Renan, ja me recompus da decepçao.
E vejo ate vantagens, pq antes - qdo eu defendia o vidro como sendo liquido- pelo menos 2 pessoas q estavam na conversa ja sabiam! e agora.. Posso ate arriscar uma aposta! Ficarei rica com o seu blog!!! =DDDDD
.
.
E ainda tem gente q é contra pseudociencia...tsttst
tem um mito que todo mundo toma por verdade, que é o de que usamos 10 por cento do cérebro apenas. Alguém tem algum dado científico sobre essa informação?
Ah, parabéns pelo blog!