Um Soneto à Ciência

Science! true daughter of Old Time thou art!
Who alterest all things with thy peering eyes.
Why preyest thou thus upon the poet’s heart,
Vulture, whose wings are dull realities?

How should he love thee? or how deem thee wise?
Who wouldst not leave him in his wandering
To seek for treasure in the jewelled skies,
Albeit he soared with an undaunted wing?

Hast thou not dragged Diana from her car?
And driven the Hamadryad from the wood
To seek a shelter in some happier star?

Hast thou not torn the Naiad from her flood,
The Elfin from the green grass, and from me
The summer dream beneath the tamarind tree?

Edgar Allan Poe

Uma tradução:

CIÊNCIA! Do velho Tempo és filha predileta!
Tudo alteras, com o olhar que tudo inquire e invade!
Por que rasgas assim o coração do poeta,
abutre, que asas tens de triste Realidade?

Poderia ele amar-te, achar sabedoria
em ti, se ousas cortar seu voo errante e ao léu
quando tenta extrair os tesouros do céu,
mesmo que a asa se eleve indômita e bravia?

Não furtaste a Diana o carro? E não forçaste
a Hamadríade do bosque a procurar, fugindo,
estrela mais feliz, que para sempre a esconda?

Não arrancaste à Ninfa as carícias da onda,
e ao Elfo a verde relva? E a mim, não me roubaste
o sonho de verão ao pé do tamarindo?

O Eu-lírico julga que a Ciência tenha acabado com as fantasias do Poeta, e portanto demonstra agressividade contra ela.

Quantas não são as pessoas que pensam, da mesma forma que o poema acima, que saber demais tira a beleza das coisas?

Sobre isso, mais que apropriadamente, escreveu Richard Feynman certa vez:

Poets say science takes away from the beauty of the stars — mere globs of gas atoms. Nothing is “mere”. I too can see the stars on a desert night, and feel them. But do I see less or more? The vastness of the heavens stretches my imagination — stuck on this carousel my little eye can catch one-million-year-old light. A vast pattern — of which I am a part… What is the pattern or the meaning or the why? It does not do harm to the mystery to know a little more about it. For far more marvelous is the truth than any artists of the past imagined it. Why do the poets of the present not speak of it? What men are poets who can speak of Jupiter if he were a man, but if he is an immense spinning sphere of methane and ammonia must be silent?

E traduzindo porcamente:

Poetas dizem que a ciência tira a beleza das estrelas – meros globos de gás. Nada é “mero”. Eu também posso ver as estrelas à noite e sentí-las. Mas eu vejo menos ou mais? A vastidão dos céus expande minha imaginação – preso neste carrossel meu pequeno olho pode captar luz de um milhão de anos. Uma estrutura vasta – da qual eu faço parte… Qual é a estrutura ou o significado ou o por quê? Não prejudica o mistério saber um pouco mais sobre ele, porque a verdade é muito mais maravilhosa do que qualquer artista do passado tenha imaginado. Por que os poetas do presente não falam dela? Que pessoas são os poetas que podem falar de Júpiter como se fosse um homem mas que se calam se for uma imensa esfera girante de amônia e metano?

E o que vocês acham?

Achei o vídeo no 3 Quarks Daily.

Discussão - 3 comentários

  1. João Carlos disse:

    Que é por causa dessas "licenças poéticas" que rinocerontes são transformados em unicórnios. E se perdem inúmeras oportunidades de investigar os rinocerontes de verdade, porque uns dizem que "unicórnios não existem" e outros que "rinocerontes são 'meros animais' (e feios...)"

  2. Carlos Magno disse:

    "Que pessoas são os poetas que podem falar de Júpiter como se fosse um homem mas que se calam se for uma imensa esfera girante de amônia e metano?"
    O ser humano é assim mesmo. Você pode ser assumidade em um assunto talvez dois, mas será sempre um neófito, - se tanto, - nos demais. Muitas vezes passa o ridículo vexame de ser incapaz de conhecer ou fazer fora de suas atividades.
    Na outra face da mesma moeda, o homem cerebral do cientificismo concreto, o academista nato e imponderável, o retilíneo e uniforme dos teoremas e equações, é incapaz de desnudar a visão mística e espiritual da realidade que se esconde detrás das formas da matéria e mais além da pequena vida na Terra.
    Essas coisas tão óbvias para esotéricos, místicos e certa gama de poetas, inexistem para o tal, e ele estará se achando o dono da pedra de roseta que traduz todo o saber das ciências.

  3. Sr. Salame disse:

    Poesia e misticismo sempre me lembra do Mahabharata e do Hinduismo.
    A história se repete em todas religiões: lendas, poemas, mitologias, fábulas e seus personagens se tornam seres reais que existiram a muito tempo e apareceram para poucos escolhidos, foram fonte de inspiração para moral, comportamentos e culturas, e são idolatrados por isso.
    Quantos personagens mágicos da história moderna você conhece que servem de inspiração para seguidores de seitas e cultos?
    Tocados por seres espirituais, aliens, deuses.

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