Experimento Micro-ondas: Dia 01

Acompanhe o experimento desde o começo:

Dia 0: Um garoto contra um mito: Tulio vs Micro-ondas

Dia 1: Experimento Micro-ondas: Dia 01

Dia 3: Experimento Micro-ondas: Dia 03

Dia 20: Mudou o pH, e agora?!

Dia 22: O resultado final

Olá, meu nome é Tulio Baars e eu amo ciência.

Não é como uma música especial ou um filme que se tem um apreço. Eu realmente amo a ciência. Sem delongas, para mim é a mais pura e linda forma de expressão humana, criando uma forma de contemplar e entender o Universo, do micro ao macro, em uma escala sem precedentes. Me pego as vezes, em momentos de reflexão, pensando emocionado no quão insignificantemente especiais nós somos, assunto que já abordei em um texto no blog do meu projeto principal (http://alexaradio.org/singularidade-insignificancia-a1/).

Minha ideia é tentar aplicar ao máximo o método científico e o ceticismo no meu dia a dia. O ceticismo não serve apenas para questionar hipóteses novas, mas é uma filosofia de vida. É uma forma não de interpretar o mundo, mas de interpretar e avaliar com clareza as informações que recebemos dele. E é partindo dessa ideia que bolei um experimento simples, mas digno de acompanhamento.

Depois de muito ler sobre os alegados “perigos” dos microondas, principalmente utilizando como evidência uma planta que morria ao ser regada com água aquecida num forno micro-ondas, resolvi fazer algo a respeito. Elaborei um simples e barato experimento para testar a hipótese da alegação alarmista, utilizando o pouco que conheço do método científico. Convido você, leitor, a embarcar nessa “jornada” em busca de confirmar ou refutar uma lenda urbana, divulgando os benefícios do pensamento sistemático ao mesmo tempo em que eu mesmo aperfeiçoo minhas noções do mesmo. Convido você também a comentar sua opinião e quaisquer sugestões, elogios e críticas.

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O teste, que tem a duração estimada em 15 dias (estendível se necessário), busca avaliar o efeito de cada tipo de água escolhido em dois momentos da vida de uma planta: vida adulta e germinação. Os tipos de água escolhidos são: água mineral, água de torneira não-filtrada, água de torneira fervida em fogão e água de torneira fervida em forno micro-ondas.

Para o teste de sobrevivência em vida adulta, selecionei duas espécies de plantas, Torenia fournieri (Torênia) e Cuphea gracilis (Cufeia) para o teste. A escolha não foi arbitrária, resistência a calor, durabilidade, idade e preço foram levados em conta. São 60 mudas, 30 de cada, distribuídas do seguinte modo:

– 12 mudas (6 de cada espécie) receberão água mineral;

– 12 mudas (6 de cada espécie) receberão água de torneira não-filtrada;

– 12 mudas (6 de cada espécie) receberão água de torneira fervida em fogão;

– 24 mudas (12 de cada espécie) receberão água de torneira fervida em forno micro-ondas.

A terra utilizada é padrão para todos os testes, aumentando ainda mais a credibilidade deste (simples) experimento.

Para o teste de germinação, escolhi duas plantas que tem uma relativa boa capacidade de germinação nesta época do ano: Eruca sativa (Rúcula) e Cichorium endívia (Chicória). São 52 de cada, em uma sementeira, conforme a Figura 1:

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Figura 1: sementeira para testes de germinação.

Para efeitos didáticos, também separei 20 copinhos com o clássico feijão-no-algodão, que todos já fizemos nas séries iniciais, conforme a Figura 2:

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Figura 2: Feijões-no-algodão para testes de germinação.

O procedimento de pesquisa é simples. Todos os dias de manhã, às 7h30, pegarei uma medida de cada água que já deixei preparada no dia anterior e rego as plantas, todas na mesma quantidade. Após regar, peso individualmente cada planta (que já foi individualmente catalogada) e tiro uma foto.

Ao final do dia, as 19h30, somente o procedimento de regar é repetido.

O objetivo é ter um acompanhamento da evolução do peso de cada planta ao longo de todo o procedimento, por meio de um banco de dados. Cada planta recebeu uma etiqueta individual, que a caracteriza em um grupo de 12 plantas, conforme a Figura 3:

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Figura 3: Exemplo de uma Torenia fournieri fotografada e catalogada.

O mais interessante de tê-las fotografadas de forma individual e diária é depois poder fazer um timelapse para cada planta e acompanhar seu desenvolvimento de forma visual. Vale lembrar que o experimento está sendo realizado com duplo-cego, graças a ajuda de minha mãe.

Aliás, cabe aqui um sincero agradecimento a ela, que sempre me incentivou a perseguir as respostas para minhas inquietações e que não apenas ajudou a custear e transportar os insumos, plantas e apetrechos, mas ficou até a noite me ajudando a etiquetar e catalogar cada plantinha. Valeu, mãe!

Os resultados colhidos serão agrupados em forma de um artigo e devidamente submetido aos periódicos adequados. Por enquanto, você pode acompanhar o andamento do experimento por aqui. Ou pela televisão, se você é da região de Rio do Sul – SC. Hoje mesmo (05/02/14) a RBA TV veio aqui fazer uma reportagem sobre o experimento.

Os textos serão organizados e escritos de modo a serem facilmente lidos para qualquer um, mas sem dispensar o devido rigor científico. Ao final de cada texto teremos um indicativo do que vem a seguir e um pouco de transcrições do meu logbook, onde escrevo tudo aquilo digno de nota dos experimentos realizados.

Nos próximos dias, vocês poderão conhecer com um pouco mais de detalhes as plantas que usamos, as motivações para o experimento, o que é real e o que não é com os mitos do micro-ondas e é claro, quem sou eu que estou aqui tomando seu tempo.

Lembrando que tenho 17 anos e ainda sou muito novato nestes assuntos (quaisquer que sejam, rs). Aceito de bom grado sugestões de condução do experimento, dicas de literatura a ser consultada, críticas e elogios.

Até a próxima!

Tulio Baars – http://alexaradio.org/

 

LOGBOOK 05/02/2014:

– Deixar mais água fervida preparada para regar, grande demora em esfriar totalmente;

– Documentar temperatura ambiente na hora de cada regada;

– Documentar hora de cada regada;

– Aumentar quantidade de água para as plantas, todas se mostram levemente desidratadas;

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Um garoto contra um mito: Tulio vs Microondas

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Não existe nada mais poderoso do que uma mente humana focada (fenômeno também conhecido como “um cabra encanado”).

E se essa pessoa encanada ainda tiver iniciativa e gostar de pôr a mão na massa, pronto, temos um desbravador. Não vou falar que essa pessoa é uma cientista, porque há gente assim em todas as áreas, nas artes e na filosofia, e na falta de palavra genérica melhor usei “desbravadores” mesmo.

E sabe do que desbravadores não gostam? Respostas fáceis.

Vamos começar um experimento neste blog com um desbravador: Tulio Baars – o cara interessado por astronomia que com 16 anos fez um curso a distância; aprendeu sobre uma tal Anomalia Magnética do Atlântico Sul; se inscreveu num programa da NASA e ganhou dela um kit para coletar seus dados; se interessou por Perturbações Ionosféricas Súbitas; falou com a Universidade de Stanford e ganhou mais dois kits para pesquisa e depois mais um detector de raios cósmicos.

Mas chega de puxar o saco dele, veja a história toda aqui.

Mesmo com tanta atenção voltada para o universo, o Tulio não se desligou das pequenas perguntas terrenas – curiosidade não é seletiva e perguntas são perguntas. Ficou encucado agora com um monstro cheio de mistérios e magias: o forno de microondas.

Tão presente e tão controverso, uns dizem que ficar perto dele dá câncer, tomar água fervida nele dá câncer, comida requentada nele dá câncer, e por aí vai. [Fora aqueles shows pirotécnicos com metais dentro de microondas que sempre aparecem na TV com um aviso “Não façam isso em casa”.]

Um experimento tem rodado o mundo das internets, usando água fervida (e esfriada depois, claro) para regar plantas, onde supostamente essas plantas sofrem mais em comparação com as regadas com água normal.

O Tulio não se aguentou e vai tocar mais esse experimento no maior estilo FAÇA-VOCÊ-MESMO. Nós do ScienceBlogs Brasil vamos acompanhar e publicar esse experimento que qualquer um pode fazer em casa. De hoje em diante vamos publicar o diário do Experimento Microondas.

Fique ligado. E se quiser fazer o seu em casa, escreva para a gente!

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Homenagem ao centenário do naturalista Alfred Wallace (1823-1913)

Josmael Corso*

Provavelmente, muitos não sabem, poucos conhecem e um número menor lembra-se que o Brasil abrigou por longo período um dos maiores naturalistas do século XIX. Poderíamos estar nos referindo a Charles Darwin (1809-1882) o que seria verdade, mas este esteve por um pequeno período– quatro meses – e além do mais é bastante conhecido. Refiro-me aquele que ficou à sombra, como dizem alguns, pai esquecido da evolução, dizem outros, Alfred Russel Wallace (Figura 1). Ele que neste ano, em 07 de Novembro, completa um século do seu falecimento e possui méritos de sobra para lembrarmos um pouco da trajetória de contribuições à ciência,que iniciou aqui em solo brasileiro.

Figura1. O naturalista inglês Alfred Russel Wallace (1823-1913) foi um foi um autodidata zoólogo, botânico e filósofo da ciência. Foi fundador da biogeografia e co-fundador da evolução biológica por seleção natural. Fonte: NationalPortraitGallery, London.

Figura1. O naturalista inglês Alfred Russel Wallace (1823-1913) foi um foi um autodidata zoólogo, botânico e filósofo da ciência. Foi fundador da biogeografia e co-fundador da evolução biológica por seleção natural. Fonte: NationalPortraitGallery, London.

O esperado de um naturalista é que tenha feito descobertas de novas espécies, estudado plantas, animais, ou seja, relacionado as ciências naturais, porém, Wallace foi além e se envolveu com também com questões sociais e exatas. Em relação a ciência dos números, incrivelmente ele se meteu a demonstrar que a Terra não é plana, mas antes de chegar nessa questão vamos ler um pouco do seu caminho até lá.

Diferentemente dos primeiros naturalistas da Era Vitoriana, Wallace era fruto de uma família bastante modesta e trabalhou a vida inteira para sobreviver.Aos 14 anos teve que deixar a escola para tornar-se aprendiz de construtor. Pouco tempo depois aprendeu também ofício de agrimensor realizando levantamento de propriedades rurais. A atividade ao ar livre acabou por desenvolver o interesse por história natural, especialmente botânica, geologia e astronomia.

Wallace que nunca estudou em uma universidade, chegou a ministrar aulas de topografia, cartografia e desenho. Como todo grande curioso passava seu tempo livre na biblioteca, imerso em leituras que influenciaram fortemente sua vida futura, como o livro “Uma viagem pelo Rio Amazonas” de William H Edwards (1847) que empolgou a Wallace conduzir sua primeira expedição no Brasil.

Wallace na Amazônia (1848-1852)

Em abril de 1848, ao lado de seu amigo Henry Walter Bates (1825-1892), Wallace chegou à atual cidade de Belém, no Pará. Os jovens aventureiros, Wallace com 25 e Bates 23 anos, esperavam custear a expedição com a captura e venda de espécies coletadas para museus e colecionadores particulares. Bates permaneceu por 11 anos no país e sua principal descoberta ilustra todos os livros didáticos de biologia – mimetismo Batesiano (Figura 2). Wallace a exemplo dos naturalistas do seu tempo mantinha curiosidade em tudo ao seu redor, o que era vivo e não vivo. Escreveu ensaios sobre diferentes campos da biologia, geografia e até sobre antropologia, descrevendo vocabulários das tribos do Rio Uaupés, Amazonas (Figura 3).

Figura 2. Mimetismo batesiano, primeira e terceira fileira pertencem a mesma família, a segunda e quarta fileira são espécies que ‘imitam’ as anteriores. Fonte: Henry Walter Bates 1862, wikipedia.org.

Figura 2. Mimetismo batesiano, primeira e terceira fileira pertencem a mesma família, a segunda e quarta fileira são espécies que ‘imitam’ as anteriores. Fonte: Henry Walter Bates 1862, wikipedia.org

Figura 3. Mapa do Rio Amazonas, realizado por Alfred Russel Wallace durante sua expedição pelo Brasil 1848-1852. Fonte: archive.org

Figura 3. Mapa do Rio Amazonas, realizado por Alfred Russel Wallace durante sua expedição pelo Brasil 1848-1852. Fonte: archive.org

Em 1852, em retorno a sua terra natal, o navio em que se encontrava incendiou-se, perdendo grande parte dos itens coletados, incluído espécimes vivas. A coleção particular de insetos e aves formadas desde que chegou ao Brasil perdeu-se, assim perdendo a oportunidade de descrever centenas de novas espécies. Wallace e a tripulação tiveram muita sorte em sobreviver e foram resgatados após dias em alto mar. Com as anotações que conseguiu salvar do naufrágio elaborou dois livros: Palmeiras da Amazônia e seus usos e Narrativa da viagem ao Rio Negro e Amazonas (Figura 5). Os trabalhos repercutiram certo prestígio que lhe forneceram condições para reiniciar suas atividades de explorador com uma segunda expedição.

Figura 5. Palmeira piaçava (Leopoldiniapiassaba) descrita por Alfred Russel Wallace, espécie amplamente utilizada em construção civil até os dias de hoje. Fonte: wallace-online.org

Figura 5. Palmeira piaçava (Leopoldinia piassaba) descrita por Alfred Russel Wallace, espécie amplamente utilizada em construção civil até os dias de hoje. Fonte: wallace-online.org

Wallace no Arquipélago Malaio (1854-1862)

Durante o período que esteve na região realizou centenas de expedições às ilhas, coletou uma incrível quantidade de espécimes: em torno de 125 mil, próximo de 5 mil eram espécies novas à ciência. As experiências desse período estão relatadas na obra O Arquipélago Malaio (1869), considerado o melhor livro de viagem científica do século XIX, descrevendo a captura de orangotangos, aves-do-paraíso e o convívio com os povos nativos (Figura 6).

Figura 6. Ave-do-paraíso vermelha(Paradisaearubra) umas das incríveis espécies de aves encontradas na região por Alfred Russel Wallace. Fonte: wallace-online.org

Figura 6. Ave-do-paraíso vermelha (Paradisaea rubra) umas das incríveis espécies de aves encontradas na região por Alfred Russel Wallace. Fonte: wallace-online.org

A polêmica correspondência entre Darwin e Wallace O ano de 1858 foi marcado por um acontecimento histórico muito importante para aciência, considerado um impasse entre Wallace e Charles Darwin. Wallace passou anos investigando os mecanismos que atuavam sobre a evolução dos organismos, porém foi através de um episódio de febre por malária, quase custando-lhe a vida que concebeu a teoria pela qual organismos com atributos melhor ajustados ao ambiente possuem uma chance elevada de sobreviver e transferir características aos seus descendentes. Empolgado com sua descoberta escreveu um ensaio e enviou para Darwin, com quem já se correspondia há anos. A teoria de Wallace embora muito semelhante era distinta da proposta de Darwin. Sem prévia permissão de Wallace, seu ensaio juntamente com fragmentos inéditos da futura e mais importante obra de Darwin foram apresentados por membros na reunião da Sociedade Lineana de Londres em 1° de Julho de 1858. Darwin estava a cerca de 20 anos trabalhando em um volume muito maior e detalhado sobre o surgimento de espécies, e muitos estudiosos afirmam que o ensaio de Wallace o auxiliou no estímulo para que concluísse de forma compacta e simples a obra marco das ciências naturais – A Origem das Espécies (1859), publicada 18 meses após a leitura dos ensaios.

Interpretado muitas vezes como uma competição entre os dois naturalistas esse acontecimento permitiu que Wallace se tornasse conhecido e abriu portas para que participasse dos diálogos científicos em grupos restritamente fechados. Wallace pode usufruir dessa oportunidade e manteve se como admirador do trabalho de Darwin, escrevendo uma dedicação no livro O Arquipélago Malaio (1869)e uma obra completa para difundir as idéias sobre seleção natural em Darwinismo (1889).

Wallace e a Terra plana

Em 1870, anos depois do retorno da ultima expedição, Wallace aceita uma aposta com o líder da Sociedade da Terra Plana, John Hampden, no valor de 500 libras – que na época deviam valer muito mais – para provar em publico que a Terra possui curvatura (Figura 7). Para a entidade se a Terra fosse plana, o raio de curvatura seria infinito e não poderia ser medido. Wallace, estimulado pelo desafio e por dificuldades financeiras, desenvolveu um experimento em um canal de navegação. Estabelecendo dois pontos com estacas de mesma altura distantes a cerca de 10km em linha reta no canal acima do nível da água, com auxilio de teodolito. Conseguiu demonstrar que as estacas não permaneciam alinhadas por conta da curvatura da Terra. O teste ainda apontou o raio da terra de 6.428 km, ou seja, levemente maior que a atual estimativa de 6.378 km. Tudo fiscalizado por engenheiros, o juiz da aposta declarou Wallace vencedor, porém o líder ativista não aceitou a derrota e lançou uma extensa campanha de combate à Wallace. Esse fato ficou conhecido como Experimento do Canal Bedford, Wallace ficou envolto em uma batalha judicial que afetou profundamente a sua imagem. Pois as sociedades científicas britânicas da época não queriam conflitos com grupos religiosos, mantiveram-se apáticos e deixaram Wallace desamparado academicamente.

Figura 7. Ilustração mostrando, acima, o experimento do ativista da Sociedade da Terra Plana, e abaixo o experimento de Alfred Russel Wallace.Fonte: Wallis, T.W. (1899) Autobiography ofThomas Wilkinson Wallis, Sculptor in Wood, p. 181, J.W. Goulding& Son.

Figura 7. Ilustração mostrando, acima, o experimento do ativista da Sociedade da Terra Plana, e abaixo o experimento de Alfred Russel Wallace. Fonte: Wallis, T.W. (1899) Autobiography of Thomas Wilkinson Wallis, Sculptor in Wood, p. 181, J.W. Goulding& Son.

Contribuições de Wallace a Ciência

Wallace durante seus 90 anos de vida produziu 22 livros e mais de 700 artigos englobando uma grande diversidade de temas. Atualmente, Wallace foi reconhecido por suas contribuições à ciência entre elas é considerado o pai da biogeografia pela descoberta da descontinuidade da distribuição da fauna. Também é considerado co-fundador da astrobiologia e antropologia evolutiva, sendo o primeiro a sugerir que a extinção de animais no final do Pleistoceno (Era do Gelo – 12 mil anos atrás) poderia ter sido causado por excesso de caça pelos humanos pré-históricos. Foi presidente da Sociedade pela Nacionalização de Terras por cerca de 30 anos promovendo discussões sobre a reforma agrária na Inglaterra.

Embora pouco popular Wallace foi membro de um grande número de sociedades acadêmicas, recebendo títulos e premiações de diversas universidades e instituições. Entre elas recebeu a medalha de Ordem de Mérito em 1908, premiação fornecida pelo império britânico. Foi a quinta personalidade a receber a medalha de ouro da Sociedade Lineana, em 1892. A mesma sociedade estabeleceu o prêmio ‘Medalha Darwin-Wallace’ para descobertas relacionadas à biologia evolutiva, uma forma de reconhecer e reparar as contribuições de Wallace.

Pelos menos duas hipóteses podem explicar o menor reconhecimento acadêmico de Wallace: pertencia a uma classe sócio-econômica diferente da tradicional elite social inglesa, responsável pelo conhecimento científico reconhecido na época; envolveu-se e escreveu sobre espiritismo, embora houvessem membros religiosos na academia científica, não eram espíritas. Em conjunto, esses fatos podem ter refletido para aresistência as suas ideias pela sociedade que dominava o cenário científico.

Alfred Russel Wallace possui muitas razões para ser lembrado neste mês e todos os outros. Representa um fantástico exemplo de autodidata, aventureiro, cientista e mais importante de tudo um curioso. O nome de Wallace deve ser posto ao lado de Galileu, Darwin, Einstein, entre outros gênios. Gradualmente as suas contribuições à ciência e a humanidade estão sendo reconhecidas e tributos tendem a aumentar ao passo que se conhece mais sobre esse singular naturalista.

 

*Josmael Corso é Doutorando em Genética e Biologia Molecular – UFRGS

Mais uma prova de que mulheres são mais ciumentas que homens

Por Bruno Camera

As chuteiras da discórdia

As chuteiras da discórdia

A esposa olha para o par de chuteiras no fundo do armário transitando entre a incredulidade e o ódio puro. Minutos antes o marido se despedira, sacola de academia na mão, saindo como todas as quintas-feiras para o futebol com os amigos. Ela sempre desconfiou: não conhecia os amigos de pelada; os amigos que conhecia não jogavam futebol. Agora aquelas chuteiras ali, denunciando a mentira. Ela nem se lembrava mais quantos anos fazia que ele ia todas as semanas àquele jogo. Como pôde ser tão burra?

Sempre achei que mulheres são mais ciumentas que os homens e que sentem ciúmes por motivos diferentes. Será só impressão? Um grupo de pesquisadores gaúchos testou o nível de ciúme sexual e emocional em mais de 400 voluntários, homens e mulheres ao redor dos 27 anos, a maioria comprometida. Os entrevistados responderam se seria mais difícil perdoar infidelidade emocional ou sexual.

O resultado foi realmente interessante, mostrou que mulheres sentem mais ciúmes do que homens. Entre elas os ciúmes emocionais são mais fortes que os sexuais. Já nos homens não houve diferença entre o ciúme emocional e sexual.

De acordo com a teoria da seleção sexual, fêmeas de diversas espécies perdem mais quando seus parceiros deixam de investir nelas do que quando acasalam com outras parceiras. Machos, por outro lado, seriam prejudicados ao criar filhos de outro macho, daí o ciúme sexual.

Foram horas remoendo o flagrante, pensando no retorno iminente do marido à casa e em como o colocaria contra a parede. O ódio transmutado numa secreção ácida que fervia no estômago. Sentada na poltrona de frente para a porta, a esposa ouve a maçaneta. Do outro lado da porta o marido, com uma folhinha de grama estrategicamente colada à testa, um esfolado no joelho esquerdo e o suor azedo rescindindo à distância, proclama: “Estou com os pés em carne viva! Esqueci as chuteiras e tive que jogar descalço.”

 

Por Bruno Camera

Fernandes, H. B. F.; Natividade, J. C. e Hutz, C. S. 2011. Diferenças Sexuais em Ciúme: Teste de Hipóteses Evolucionistas Através de Medidas Escalares. Resumo publicado no Salão de Iniciação Científica da UFRGS.

A Rainha e o Sexo

Luiz Max Fagundes de Carvalho,
Setor de Epidemiologia de Doenças Infecciosas, UFRJ.

O sexo faz parte de nossas vidas de diversas e profundas formas. Ao mesmo tempo em que gera a vida, é alvo das mais acirradas polêmicas nos âmbitos moral e ético. Em diversas culturas é tido como um ritual, um evento divino em que homem e mulher se tornam um só para trazer ao mundo um novo ser humano. É visto nos animais como um instinto inexorável na busca do objetivo último da existência: a perpetuação da espécie.

A idéia de sexo está diretamente associada à reprodução. Contudo, nem sempre sexo resulta em reprodução. Se considerarmos que é preciso que o número de indivíduos aumente ao final do processo reprodutivo, nem sempre há reprodução quando há sexo. Bactérias e ciliados praticam uma modalidade de sexo não reprodutivo, na medida em que apenas trocam material genético. No entendimento da biologia moderna, o sexo é a atividade caracterizada pelo intercâmbio de material genético entre indivíduos. Há seres que se reproduzem sem este intercâmbio, isto é, apenas dividindo-se (reprodução assexuada), outros misturam material genético durante a reprodução (reprodução sexuada).

Conjugação Bacteriana

Esquema do sexo em bactérias, também chamado conjugação (fonte: Wikimedia Commons)

Observando a natureza, porém, constatamos que o sexo é de longe a forma de reprodução mais disseminada entre os seres vivos atuais. Isso é espantoso, já que o sexo é um processo oneroso para o indivíduo que o pratica como forma de reprodução. Para entender porque, imaginemos que uma fêmea pode gerar sozinha um filho – que terá todos os seus genes –, ou contribuir com metade de seus genes para a formação de um novo indivíduo. Se concordarmos que o “objetivo” da fêmea é passar o maior número de genes para a próxima geração, a melhor opção se torna óbvia. A fêmea que escolher gerar um filho com apenas metade de seus genes pagará o custo dobrado pela opção sexual¹.

A sua quase universalidade, a despeito da desvantagem intrínseca, sugere que o sexo tem de concederalguma vantagem valiosa àqueles que o usam. Mas qual? Várias teorias foram desenvolvidas para explicar o aparente paradoxo do sexo. Uma delas argumenta em favor da seleção de grupo. De acordo com essa teoria, grupos que realizassem reprodução sexuada teriam vantagem na competição com outros, na medida em que evoluiriam mais rapidamente – e se extinguiriam menos -, já que teriam maior diversidade genética.

O argumento apesar de coerente não é convincente. Isso porque há diversos seres, como afídeos, plantas e rotíferos que podem se reproduzir tanto sexuada quanto assexuadamente. Desta forma, o sexo tem de ser vantajoso para o indivíduo, do contrário uma população que realizasse apenas reprodução sexuada seria facilmente invadida por variantes que se reproduziriam assexuadamente, aumentando a freqüência dos genes destes últimos nas gerações seguintes. Como se pode perceber, a seleção de grupo no sexo não constitui uma estratégia segura a longo prazo, isto é, não é uma estratégia evolucionariamente estável².

Outras duas teorias procuram mostrar as vantagens do sexo. São elas: a teoria mutacional do sexo e a hipótese da Rainha Vermelha (ou Rainha de Copas), cunhada por Leihg Van Valen em 1973, que foi a inspiração para o título deste texto. A teoria mutacional – proposta por Kondrashov em 1988 – diz que a vantagem do sexo para as fêmeas a curto prazo seria a de diminuir o número de mutações deletérias na prole. Essa tese é convincente, porém apenas quando assumimos que a taxa de mutações deletérias é alta. Infelizmente os dados quanto a essas taxas ainda são conflitantes³. Além disso essa hipótese deixa no ar a dúvida de como seres assexuados lidam com o acúmulo de mutações deletérias*.

A explicação mais sólida para o sexo vem do estudo da coevolução antagônica entre parasitas e hospedeiros. Essa perspectiva se encaixa exatamente num ponto que ainda não analisamos: a influência do ambiente no processo evolutivo. Se o ambiente fosse pouco variável não haveria justificativa para o sexo porque a variabilidade genética que ele traz não constituiria uma vantagem sensível. Porém, se o meio estivesse em constante e rápida transformação, faria sentido combinar uma parte do genoma com um parceiro para aumentar as possibilidades de adaptação e sobrevivência da prole. A segunda situação é que mais se aproxima da realidade, e na maior parte dos ecossistemas o elemento mais variável são os parasitas.

Por serem, em sua maioria, estrategistas r, os parasitas tem ciclos de vida curtos e altas taxas de replicação, o que acelera sua evolução. Isso faz deles um elemento extremamente variável do ambiente e força seus antagonistas (os hospedeiros) a modificarem constantemente suas defesas. Numa relação bilateral, o aperfeiçoamento dos sistemas de defesa dos hospedeiros força os parasitas a se modificarem para infectar seus alvos. O tempo de replicação do parasita pode ser bem menor que o do hospedeiro, portanto este ultimo precisa ter opções de rápida variabilidade: o sexo.

Como numa corrida armamentista, cada adversário impõe ao outro condições desafiadoras para a próxima geração. Como conseqüência, temos o equilíbrio entre as taxas evolutivas de parasitas e hospedeiros – exemplo disso é o ajuste do relógio molecular de vírus aos de seus hospedeiros4 -, criando uma espécie de “esteira rolante” evolutiva, em que os participantes correm sem nunca saírem do lugar. E é dessa peculiaridade que vem o nome Rainha Vermelha: do livro de Lewis Caroll, Alice Através do Espelho em que a rainha de copas diz a Alice: “aqui neste país Alice, você precisa correr o máximo que puder para permanecer no mesmo lugar…”.

Alice e a Rainha Vermelha A rainha puxa Alice na incansável corrida para não sair do lugar. (fonte: Wikimedia Commons)

A hipótese da Rainha Vermelha não foi formulada para explicar o sexo, mas sim o comportamento de curvas de sobrevivência de várias espécies expostas a parasitas. William D. Hamilton (1936-2000) explicou que isto podia ser decorrente do potencial de variação genética introduzida pela reprodução sexuada, mesmo com o custo dobrado que ela representa. Ele então juntou fatos que apoiassem sua teoria e formulou modelos matemáticos que apoiassem a hipótese da dinâmica da Rainha Vermelha. Várias de suas publicações mostram fortes indícios de que a luta para escapar à virulência dos parasitas pode ter mesmo dados origem ao sexo.

Desde Hamilton, muitos trabalhos foram publicados mostrando evidencias experimentais da hipótese da Rainha Vermelha, tanto da perspectiva dos parasitas como dos hospedeiros. Joachim Kurtz5, por exemplo, publicou uma revisão em que mostra a dinâmica evolucionária entre tênias, copépodes (um tipo de crustáceo) e o esgana, um peixe parente do cavalo-marinho. No artigo, Kurtz mostra que ovos de tênia gerados por fecundação cruzada têm maior poder infeccioso. Ora, a tênia é hermafrodita, o que significa que pode se reproduzir assexuadamente. Mas como o autor mostra, os ovos competem pelo hospedeiro (apenas um tipo é encontrado infectando o mesmo indivíduo), o que significa que a tênia que se reproduza sexuadamente levará vantagem sobre as outras e aumentará sua prole.

Existem também trabalhos que mostram existir seres que realizam reprodução sexuada apenas quando estão infestados de parasitas. A forte evidência experimental posiciona o efeito Rainha Vermelha para explicar o surgimento do sexo. È bom que se diga, no entanto, que nada está definido e que a literatura sugere que a teoria mutacional pode ser válida em alguns casos. Desta maneira, uma explicação mais completa para um assunto tão complexo quanto a origem e a distribuição taxonômica do sexo talvez deva levar em conta a multifatorialidade.

A evolução do sexo tem sido um quebra-cabeças (e uma dor de cabeça!) para os biólogos há tempos e essa história ainda promete ainda encher muitos livros.

Luiz Max é microbiologista (UFRJ), assistente estatístico no Centro Panamericano de Febre Aftosa (OPAS/OMS), onde pesquisa como aplicar toda sorte de métodos matemáticos e estatísticos aos problemas das ciências da vida. Seus principais interesses científicos são Evolução Molecular, Redes Complexas e Estatística Espacial. Nas horas vagas gosta de não fazer nada, treinar judô e ficar com a namorada. Perfil no ResearchGate (em inglês).
Leituras Recomendadas

O blog Rainha Vermelha, traz dois textos muito bons sobre o assunto e ainda ótimos textos sobre temas diversos relacionados à biologia celular e molecular. O texto Parasitas, evolução e sexo, também é uma boa leitura para quem quiser a visão mais leve e descontraída do genial Sergio Pena. Para os mais técnicos recomendo dois textos de Hamilton: Sexual reproduction as an adaptation to resist parasites (A Review) e Sex against virulence: the coevoluton of parasitic diseases.

 

* Existe uma teoria, a catraca de Muller, que propõe a acumulação irreversível de mutações deletérias nos genomas assexuados. Essas mutações, no entanto, acabam sendo eliminadas através de processos de recombinação.

 

Referências
1- Lewis, W.M. in The Evolution of Sex and its Consequences. Birkhauser Verlag, Basel, Switzerland, 1988.

2- Dawkins, C.R. O Gene Egoísta. 2ed. São Paulo, Companhia da Letras, 2007.

3- Ridley, M. Evolution.3ed. Porto Alegre, Artmed, 2006.

4- Villareal, L.P. Viruses and The Evolution of Life. 1ed. Washington, ASM Press, 2005.

5- Kurtz, J. Sex, parasites and resistance – an evolutionary approach. Deutsche Zoologische Gesellschaft 106 (2003) 327-339.

 

Alea jacta est*

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Por Fernando “Joey Salgado” Heering Bartoloni

O Problema de Monty Hall é um exemplo interessante de que o simples cálculo de uma probabilidade não necessariamente leva à resposta correta, sendo necessário se entender todo o desenvolvimento lógico de um dado problema.
Retomando brevemente o que já foi dito: após você ter escolhido a porta de número 2, seu orientador abre a porta de número 3 para lhe revelar uma pilha de relatórios da graduação ávidos por correção, que deverão ser passados para algum outro aluno de pós coitado (ou você achou que ele ia corrigir? rá!). Ou seja, sua porta de número 2 ou contém seu exemplar final da tese, chave para abrir os grilhões das sombras, ou uma segunda pilha de relatórios precisando de correção. Ainda, há a possibilidade de que você continue apostando na porta de número 2 ou mude para a de número 1, esperando que um golpe de sorte lhe seja benéfico. Tecnicamente, pensando em termos somente dessa segunda etapa, onde ambas as portas possuem chances iguais de terem qualquer um dos dois itens, trocar ou não trocar de porta não influência no resultado, uma vez que a chance de ser vitorioso é de 50%. 
Entretanto, a resposta correta é trocar de porta, de qualquer forma, para se aumentar as possibilidades de se ganhar o tão desejado prêmio. O motivo?
Dois cenários diferentes podem ocorrer decorrentes da primeira escolha de portas: você escolheu a porta que contém a tese (cenário A) ou a porta que contém a pilha de relatórios (cenário B). No cenário A, as duas portas que sobraram contém itens iguais. Uma vez que seu orientador precisa abrir uma delas para lhe revelar o conteúdo como sendo uma pilha de relatórios, a escolha de qual será é, em si, irrelevante. Ou seja, trocar a escolha da porta irá inevitavelmente fazer com que você passe a noite em claro. No cenário B, seu orientador possui duas portas com itens diferentes, sendo que ele deverá abrir uma delas para lhe mostrar o conteúdo. Como definido no problema (e um pouco por sadismo também) seu orientador, que sabe qual é o conteúdo de cada uma das portas, irá escolher a porta que contém a pilha de relatórios para ser aberta (aumentando a tensão final e a sudorese). Ou seja, no cenário B, a opção de trocar de porta irá lhe beneficiar e garantir seu sono. Como o cenário B possui uma probabilidade duas vezes maior (2 em 3, ou 66,666…%) de acontecer do que o cenário A (1 em 3, ou 33,333…%), trocar de porta sem pestanejar é, no fim das contas, a melhor opção para se livrar de uma tarefa hercúlea e ser admitido no Olimpo dos pós-graduados.
Fez bem quem optou trocar de porta: Davi e Hugo.
E melhor fez o Igor, que optou por fundir o cérebro do orientador.
*expressão em latim para “os dados estão lançados”.

É a porta dos (pós-graduandos) desesperados!

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Por Fernando “Joey Salgado” Heering Bartoloni

Li o tão aclamado livro de Leonard Mlodinow, The Drunkard’s Walk (Penguin Books, adaptado para o português como O Andar do Bêbado, Ed. Jorge Zahar).

Ainda não me decidi se gostei ou não gostei deste livro em que Mlodinow mostra como nossa noção de racionalidade é muito subjetiva e alheia a processos randômicos que ocorrem em nossas vidas. Apesar da leitura ser meio densa, uma vez que ele enrola demais para chegar aos finalmentes de certos pontos e devido a um preciosismo dispensável no formalismo matemático usado em alguns momentos, incontestavelmente, as histórias contadas por Mlodinow são excelentes. Tanto que teve uma que me deixou deveras pensativo.

Na verdade, é uma demonstração muito clara de que o emprego da lógica para a solução de um problema não depende somente da matemática, mas do problema como um todo. Irei apresentá-lo em uma versão modificada em relação ao livro e deixarei o “enigma” aqui pendente até semana que vem, quando irei publicar a solução do mesmo. Palpites ou resoluções completas são bem vindas nos comentários. Até por quem já leu o livro, ainda mais porque me parece que esse “estudo de caso” é bem conhecido de maneira geral. 😉
Seguinte…
Digamos que seu orientador do doutorado, que por acaso também ministra uma disciplina da graduação em que você é monitor, lhe oferece a oportunidade de escolher uma entre três portas, numeradas de 1 a 3, para “ganhar” seja lá o que for que estiver escondido atrás da mesma (a pós-graduação, afinal, é uma loteria…).
Ele então lhe diz que uma das portas esconde o exemplar final da sua tese, pronta para ser depositada e defendida no prazo, enquanto que as outras duas escondem pilhas de centenas de relatórios da turma do diurno e noturno da “Introdução à Orgânica Experimental”, que devem ser corrigidos até o dia seguinte. Você deve escolher uma entre as três portas, ao passo que, após a sua escolha, o seu orientador, que está ciente do que está por trás de cada uma delas, abre uma das duas portas que não foram escolhidas para revelar o que você “perdeu”. Digamos que você escolheu a porta de número 2. Seu orientador, então, abre a porta de número 3, somente para lhe revelar uma pilha de relatórios sem notas. Por enquanto, ufa! Logo após esse sopro de alívio momentâneo, ele lhe oferece trocar de porta ou continuar na mesma. Ou seja, uma vez que você viu que a porta de número 3 não possui sua tão sonhada tese, você deve decidir se continua apostando na porta de número 2, ou se muda de aposta para a porta de número 1. Dito se a troca será realizada ou não, seu orientador irá revelar, com um prazer sádico, diga-se de passagem, se a sua madrugada será passada na companhia prazerosa de Morfeu, ou na companhia amarga da Cafeína. 
A pergunta, finalmente, é: qual o melhor negócio? Se manter firme e forte com a porta de número 2, ou mudar de ideia e trocar a aposta para a porta de número 1?
Divirtam-se!

Fim de jogo

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Por Fernando “Joey Salgado” Heering Bartoloni
Aproximadamente há quinhentas e quatro horas, ou vinte e um ciclos claro/escuro, no dia 27 de novembro outubro de 2010, passei por uma das experiências mais assustadoras e, ao mesmo tempo, gratificantes que um homem ou mulher podem ter: uma defesa de doutorado (o que mais poderia ser?).
Meus 23,6 MB de produção científica, intitulados “Mecanismos do Sistema Peróxi-Oxalato em Meios Aquosos e da Quimiluminescência de 1,2-Dioxetanonas”, foram avaliados por uma banca composta pelos professores Fernando Coelho (UNICAMP), José Carlos Netto-Ferreira (UFRRJ), Frank Quina (IQUSP) e Omar El Seoud (IQUSP), bem como pelo meu orientador Josef Wilhelm “Willi” Baader. Todos os professores fizeram valiosas sugestões e muitas perguntas, algumas que pude responder e outras que nem consegui compreender. De maneira geral, achei que me saí bem (quem assistiu também achou), não falei nenhuma besteira e, principalmente, não chorei quando o resultado da aprovação da banca foi divulgado. 
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A banca (da esquerda para direita): professores José Carlos, Fernando, Willi, Omar e Frank.
Rindo de que ou de quem? 
Devo dizer que foram quase cinco anos, ou praticamente sete anos, se contado o tempo de iniciação científica, agradabilíssimos dentro do grupo de pesquisa do Prof. Willi. Apesar de ter terminado essa fase de pré-cientista, sei que não irei me afastar do meu (agora) ex-laboratório, uma vez que pretendo manter colaborações com o mesmo durante meu pós-doutorado, de alguma forma que ainda não foi concebida. Mas inventarei algo. 
Aliás, no momento em que iniciava a preparação esse texto, recebi um e-mail de aprovação do meu pedido de bolsa de pós-doutorado para trabalhar com o Prof. Erick Bastos da UFABC, o que, de certa forma, me instigou ainda mais a escrevê-lo (e a abrir uma garrafa de cerveja também, claro). Terminei um jogo, mas começarei outro logo mais.
Espero continuar assim por tanto tempo quanto minha curiosidade científica permitir.
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Essa foto vou guardar para quando me candidatar a Vereador.

Memorial à Ivar Lovaas: Como nasce – e cresce – uma ciência.

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Por Aninha Arantes, dO Divã de Einstein

Este post é uma tradução, autorizada pelo autor, de dois comentários à nota de falecimento do Professor Ivar Lovaas, pioneiro da Análise do Comportamento Aplicada e um dos maiores pesquisadores e difusores do Método ABA para o tratamento de pessoas com autismo e outros déficits cognitivos.

Ole Ivar Lovaas nasceu na Noruega, mas desenvolveu seus trabalhos na UCLA (University of California in Los Angeles), onde fundou um centro para tratamento de autistas: o The Lovaas Institute. Foi um dos maiores pesquisadores do autismo e responsável pelo desenvolvimento de um dos métodos mais bem sucedidos e recomendados (inclusive pela Associação Médica dos EUA) para a reinserção social e adaptação de pessoas com autismo. O texto a seguir é de autoria do Professor James T. Todd, do Departamento de Psicologia da Eastern Michigan University, e foi publicado originalmente em resposta a um comentário de uma leitora no Autism Blog, de Lisa Jo Rudy, no dia 4 de agosto deste ano – dois dias depois da morte de Lovaas. Republico aqui, traduzido, o que acho a mais concisa e objetiva explicação de como as descobertas experimentais de vários cientistas se acumulam e se completam para dar suporte a tecnologias que melhoram a vida das pessoas.

“O Behaviorismo, como uma filosofia específica da ciência, foi inicialmente desenvolvido por John B. Watson nas primeiras décadas do século XX. O principal objetivo de Watson era tratar o comportamento objetivamente, usando as técnicas da ciência natural. O comportamento dos organismos é o resultado natural de sua história genética e interacional. Uma abordagem completa do comportamento pode ser encontrada na análise completa desses fatores. Watson nunca desenvolveu completamente muitos aspectos críticos do seu Behaviorismo, apenas apontou a necessidade de uma maior sofisticação na abordagem, antes de entrar para a carreira publicitária. A devoção de Watson ao condicionamento pavloviano e a rejeição qualificada da Lei do Efeito, de Edward Thorndike (que descrevia os efeitos de recompensas e punições) deixou sua formulação sem os princípios comportamentais necessários para dar conta, minimamente, dos comportamentos mais complexos. Os equívocos sobre determinados aspectos de sua teoria metafísica, especialmente na análise do comportamento privado – como o pensamento – levaram muitas pessoas a ver o seu Behaviorismo como irremediavelmente mecanicista e superficial, apesar de haver maior profundidade do que é aparente em uma primeira leitura. Há muitos outros nomes associados ao Behaviorismo precoce, tais como Albert Weiss e Knight Dunlap, cujas idéias foram, de certa forma, mais completamente desenvolvida do que as de Watson. Faltava-lhes a verve retórica de Watson, e suas opiniões agora vêm até nós, em grande parte, como informações históricas incidentais. Ao considerar as contribuições de Watson para a Psicologia, é melhor ignorar totalmente o parágrafo obrigatório e superficial que vemos nos capítulos iniciais dos livros de introdução à Psicologia, e mesmo em Histórias da Psicologia de nível um pouco superior. Ao contrário do que essas obras podem levar a crer, suas reais contribuições ajudaram a estabelecer a Psicologia como uma disciplina acadêmica distinta da Filosofia e da Biologia, e a tornar a observação objetiva do comportamento o dado padrão em toda a Psicologia (mesmo em áreas como a psicologia cognitiva, que não estendem a objetividade para a teorização), ajudando no estabelecimento do condicionamento pavloviano como base dos tratamentos para transtornos de ansiedade.

Começando em 1920, e continuando até a sua morte em 1990, BF Skinner ampliou e elaborou as formulações de Watson, legando-nos o “Behaviorismo Radical” que nós associamos a ele até hoje. (“Radical”, aqui, significa “raiz” ou “fundamental”, e não “extremo”.) Basicamente, a abordagem de Skinner abrange todos os comportamentos, incluindo a parte dos comportamentos que é privada ao indivíduo, tais como sentir e sonhar, e trata-os como eventos reais e objetivos existentes no tempo e no espaço. (Sim, pensar, sentir e sonhar estão dentro do escopo do sistema de Skinner, não importa o que os textos introdutórios dizem). Nesse sentido, Skinner concorda com Watson: o comportamento é o que surge quando histórias genéticas e ambientais de um organismo se encontram com os eventos atuais. A Análise do Comportamento consiste em encontrar, na história do organismo, os eventos que se relacionam ordenadamente com o comportamento presente. Skinner, é claro, enfatizou a importância do “condicionamento operante”, essencialmente uma versão muito mais sofisticada da Lei do Efeito de Thorndike. Tanto o condicionamento pavloviano, quanto o condicionamento operante estavam, então, disponíveis para descrever uma quantidade surpreendente de comportamentos dos organismos, que podiam ser previstos e controlados com uma precisão tipicamente associada com as hard sciences. A enorme variabilidade nos dados dos comportamentos, previamente proveniente de estudos com labirintos e outras técnicas, foi transformada em curvas muito suaves e regulares, demonstrando a realidade das “leis do comportamento”. Hoje em dia, nós associamos o trabalho de Skinner com ratos e pombos, especialmente na área de “esquemas de reforçamento”, em que diferentes padrões de recompensas produzem importantes efeitos comportamentais. Mas, a partir desta formulação, dezenas de milhares de experiências sobre os princípios básicos do comportamento vieram à luz. A contingência de três termos de Skinner, popularmente concebida e simplificada em “antecedente-comportamento-consequência”, é uma ferramenta analítica de extraordinário poder, especialmente em sua versão mais tecnicamente sofisticada. As variáveis responsáveis por praticamente qualquer episódio especificamente definido de comportamento podem ser descobertas através da análise. Também é uma maneira altamente eficaz de estabelecer comportamentos novos: reforçe o comportamento requerido, e você tem grande probabilidade de ter mais do mesmo. (Às vezes, é mais fácil falar do que fazer!) Claro, não podemos esquecer as contribuições culturais de Skinner, implorando-nos para perceber – com livros como o tão incompreendido Beyond Freedom and Dignity (1971), e o essencial Ciência e Comportamento Humano (1953) – que muitos dos problemas que enfrentamos hoje, como sociedade, advêm do nosso próprio comportamento. Para resolver esses problemas é necessária uma ciência do comportamento efetiva. Para uma descrição mais completa do pensamento e das teorias de Skinner, eu recomendo começar pelo livro Ciência e Comportamento Humano, disponível no site da Fundação BF Skinner. E, para uma visão mais técnica, embora ainda amplamente acessível, ler os artigos da Edição Especial da American Psychologist, de novembro de 1992. A leitura do “best of” de Skinner, recolhidos no livro Cumulative Record seria um excelente passo seguinte.

Quanto à Análise do Comportamento Aplicada (Applied Behavior Analysis, ou a conhecida sigla ABA), Lovaas não a inventou. Pode-se argumentar que Skinner a inventou, ao menos conceitualmente, em seu romance de 1948, Walden Two. A contribuição especial de Lovaas foi mostrar que é possível, com a aplicação integral e intensiva de princípios da teoria da aprendizagem, tratar efetivamente, e de forma eficaz, o autismo como um todo, em um número considerável de indivíduos, ou ao menos levar melhorias substanciais para aqueles que não alcançam totalmente os benefícios do tratamento. Por “eficaz” e “substanciais” entende-se que cerca de metade das crianças submetidas às intervenções ABA obtêm desempenho dentro dos limites “normais” em certos testes padrão. Em termos práticos, isso significa que essas crianças são capazes de frequentar a escola sem apoio especial. Antes que Lovaas fizesse isso, já havia provas científicas suficientes que mostravam que a ABA podia ser utilizada efetivamente para aspectos específicos de autismo.

A ABA ainda era bastante jovem quando Lovaas usou o método pela primeira vez para tentar criar um tratamento global para o autismo, na década de 1960. Mas, antes de Lovaas, começando na década de 1950, o trabalho reconhecido como ABA foi aplicado a todos os tipos de problemas de comportamento, tipicamente em pessoas com deficiência de desenvolvimento e esquizofrenia e geralmente em laboratórios e instituições. Grandes programas dedicados à Análise Comportamental Aplicada, como o Departamento de Desenvolvimento Humano e Vida Familiar (Department of Human Development and Family Life, HDFL) da Universidade do Kansas, foram estabelecidos na década de 1960. O HDFL é hoje o Departamento de Ciências do Comportamento Aplicadas. O Journal of Applied Behavior Analysis foi fundado em 1968, quase 20 anos antes de Lovaas publicar seu artigo seminal, em 1987, “Tratamento comportamental e funcionamento educacional e intelectual normal em jovens crianças autistas” (Behavioral Treatment and Normal Educational and Intellectual Functioning in Young Autistic Children), no Journal of Consulting and Clinical Psychology. Assim, ao contrário de praticamente todos os “tratamentos” para o autismo de que temos ouvido falar, ABA não é um novo “método” esperando alguém para fazer um estudo e descobrir se ele funciona em tudo. Intervenções ABA para problemas específicos de comportamento foram baseadas diretamente em princípios descobertos e comprovados em laboratórios comportamentais. Intervenções ABA abrangentes são construídas à partir de tratamentos mais direcionados, que já demonstraram eficácia. ABA não está esperando para entrar em todas as revistas científicas, ela vem de todas as revistas científicas. A pergunta típica não é o quanto a intervenção irá funcionar – esta é a parte fácil – mas se esta pode ser efetivamente aplicada no mundo real, com todas as complicações que o mundo real traz.

Mas, antes de Lovaas, não havia sido estabelecida ainda a possibilidade de efetivamente tratar o autismo como um todo através da criação de um programa abrangente de intervenções ABA. Agora, o termo ABA é muitas vezes incompreendido como significando apenas o que Lovaas fez – sua “terapia de tentativa discreta”, por exemplo – mas “ABA” realmente significa muito mais. O que é ABA? Citando livremente algo que eu escrevi para uma outra finalidade, podemos definir como ABA:

O uso sistemático de princípios de aprendizagem cientificamente estabelecidos, técnicas de condicionamento comportamental e modificações ambientais relacionadas para criar terapias baseadas em evidências, comprovadamente eficazes e humanas, com o objetivo principal de estabelecer e reforçar habilidades de vida independente, socialmente funcionais e importantes.

Na prática, uma análise comportamental aplicada utiliza técnicas baseadas na teoria da aprendizagem para modelar comportamentos novos e importantes em indivíduos com determinados excessos ou déficits comportamentais. Intervenções realizadas por analistas do comportamento geralmente incluem os seguintes componentes:

• Uma análise baseada em dados funcionais das condições responsáveis pelo comportamento problema.

• Objetivos e metas de tratamento específicos e verificáveis.

• Um plano bem definido usando os princípios da teoria de reforço para atender as metas e objetivos.

• Uma coleta de dados contínua para mostrar que a intervenção foi realmente a responsável pelos ganhos do tratamento.

• Um plano para garantir a generalização e a manutenção dos ganhos do tratamento.

• Medidas para garantir a validade social dos objetivos e metas do tratamento, e para assegurar que todos os envolvidos possam contribuir de forma substancial e construtiva para a melhoria de suas habilidades ao máximo de sua capacidade.

Eliminar a automutilação e ensinar habilidades acadêmicas para crianças com autismo, restabelecer habilidades de vida independente em pessoas com lesões cerebrais, treinar hábitos de higiene adequados em crianças com enurese, melhorar o atendimento médico a pessoas doentes, estabelecer hábitos de estudo eficazes em crianças em situação de risco, reduzir os hábitos repetitivos como a mania de roer unhas e a tricotilomania e reforçar o comportamento social adequado em pessoas com déficits de habilidades sociais são ilustrativos, mas não esgotam a gama de problemas de comportamento endereçados aos analistas do comportamento aplicados. Há, é claro, e sopa de letrinhas das coisas que realmente são – fundamentalmente – ABA, ou derivadas dela: Treino por Tentativas Discretas (Discrete Trial Training, TDT), Treino de Resposta Pivotal (Pivotal Response Training, PRT), Intervenção Comportamental Precoce Intensiva (Early Intensive Behavioral Intervention, EIBI), Modelo Denver, Apoio Comportamental Positivo (Positive Behavior Support, PBS) e muitos outros. Tem incomodado, ultimamente, os constantes esforços por parte dos promotores de algumas dessas coisas em tentar passá-las como não sendo ABA, ou como não sendo em grande parte baseadas em ABA, mas como algo completamente diferente. Olhe sob o capô: se é de alguma forma eficaz com autismo, você irá encontrar algum tipo de gestão de contingências em funcionamento.

Nomes associados aos esforços iniciais em construir a ABA incluem Paul Fuller, Nathan Azrin, Teodoro Ayllon, Donald Baer, Sidney Bijou, Todd Risley, Jack Michael, Montrose Wolf, Charles Ferster, Kurt Salzinger, Israel Goldiamond, e muitos outros. Aqueles que conhecem um pouco da história recordarão o primeiro esforço sistemático para aplicar ABA ao autismo por Mont Wolf, Todd Risley e Hayden Mees: “Aplicação de princípios do condicionamento operante à problemas comportamentais de uma criança autista” (Application of Operant Conditioning Principles to the Behaviour Problems of an Autistic Child) publicado em março de 1964 no Behaviour Research and Therapy. Eu acho que um bom lugar para encontrar uma visão abrangente da moderna ABA é no excelente livro de Cooper, Heward e Heron, Análise Aplicada do Comportamento (Applied Behavior Analysis). Alguns elementos da ABA também estão contidos na referida edição da American Psychologist, de novembro 1992. No entanto a ABA é um campo enorme, com uma história que remonta, se incluirmos a pesquisa básica, a bem mais de 100 anos. Assim, é impossível para um único livro para captar tudo.

A perda de Lovaas, em si, é uma ocasião de grande tristeza para os seus amigos e colegas. Mas suas contribuições vivem em suas obras e nas obras de seus alunos. Aqueles dentre nós que vieram depois aspiram imitar seu modelo e, assim, talvez, contribuir com uma fração do que ele fez para ajudar pessoas com autismo a conseguir muito mais independência e dignidade do que era possível antes do trabalho de Lovaas mostrar como poderia ser feito.”

Síntese de proteínas: um épico no nível celular*

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Por Fernando “Joey Salgado” Heering Bartoloni
Todo fenômeno científico pode ser entendido com base em um modelo simplificado, principalmente quando o “mecanismo” associado a esse evento não pode ser visto a olho nu (já não falei disso? Que falta de imaginação…).
Isso é tão verdade hoje quanto será daqui há muitos anos e como era em 1971, quando o pessoal do Departamento de Química da Universidade de Standford resolveu tomar um ácido e encenar o processo de tradução do RNAm para a síntese de uma proteína. Desde a formação do ribossomo, à entrada da fita de RNAmensageiro, ao papel do RNAtransportador e à liberação do novo polipeptídeo formado, entre outros processos, tudo é representado de forma artística. Atribuir isso à cultura hippie da época, traçando um paralelo com o Festival de Woodstock, é inevitável, ainda mais com uma banda fazendo um som totalmente improvisado à la Grateful Dead como trilha sonora da sessão de expressão corporal. O épico mesmo começa aos 3 min 10 s, logo após uma introdução esclarecedora de Paul Berg, laureado com o Nobel de Química em 1980 pela sua contribuição dada para o esclarecimento de processos químicos envolvendo ácido nucléicos. O próprio Berg reconhece a limitação do seu modelo estático desenhado no quadro-negro antes de dar espaço aos hippies da liberdade de acesso ao conhecimento. Em todos os sentidos.
Precisão da informação científica passada junto com poesia. Sensacional.
Each tRNA approached the site
Bearing it’s amino acid load
Whose sequence was determined by
The mRNA messaging-unit “magic code”

Ou ainda:

Long time did biocomplex churn
The protein grew by tibs & tomes
Aminoacids linked in turn
By the catalytic ribosome

Muito mais interessante do que uma animação sem música e sem graça, não é?


*Tradução livre do título original do vídeo “Protein synthesis: an epic on the cellular level”.
Via Prof. Erick Bastos, por e-mail.