Altruísmo: faz bem pros outros, pra você e para seus genes!

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O Teleton está aí. E como o RNAm irá participar do evento no palco do SBT, porque não falar de um tema científico que tem a ver com o evento?

Como faz bem fazer o bem, não é mesmo? Mas será? Isto é o que chamamos de altruismo, ou seja, fazer o bem sem querer nada em troca.
Mas será que o altruísmo é bom? A imensa maioria dirá que sim. Mas daí eu pergunto: bom pra quem? Para a sociedade, a bondade de uma pessoa que se doa para o bem maior é bom, afinal o “maior” é a própria sociedade. Agora e o pobre coitado que se doa, ganha o quê? Uns dirão boa reputação, satisfação pessoal ou mesmo o reino dos céus (aqui a gente já percebe que não se faz o bem a toa, sempre há algum motivo ou “recompensa”).

O maior mistério da evolução

O altruismo é um dos maiores mistérios da biologia. Um mistério evolutivo, mais especificamente.
Afinal a concorrência na sociedade e na natureza é acirrada. Não há perdão para erros nem desperdícios. O objetivo é adquirir recursos para se reproduzir e manter seus filhos e passar os genes para a frente. E se o mundo é assim, como é que uma aberração como a altruismo pode aparecer?

Oferecer mordida no Sonho-de-Valsa é vantajoso?

Ajudar os outros? Doar dinheiro? Emprestar o carro? Dar uma mordida do Sonho-de-Valsa e um gole do Yakult? Isso só diminui os recursos, o que no fim das contas diminuiria suas chances de se reproduzir. Diminuindo as chances de reproduzir, mesmo que muito pouco, em milhares de anos de cruzamentos, o comportamento altruísta seria extinto, não acha?

Este pensamento parece bem lógico, mas como explicar que ele ainda exista? Em evolução, quando uma característica é mantida ela está presente por alguns motivos: ou ela é vantajosa (um cérebro grande, por exemplo); ou ela é neutra, não ajuda nem atrapalha (dente do siso); ou ela traz uma pequena desvantajem e está em processo de sumir (como o apêndice que só serve para dar apendicite). – Atenção biólogos puristas: estes são exemplos ilustrativos. Desculpem se não são necessariamente corretos ou consensuais

Neste caso o altruismo, por ser bem caro para quem o pratica, só pode trazer vantagens muito importantes. O caso é que só vemos a vantagem para o grupo, não para o indivíduo. E um grupo não se reproduz, não passa os genes pra frente.
Daí surgiu a idéia da Seleção de Parentesco (Willian Hamilton), ou seja, a gente só faria o bem para nossos parentes. Afinal eles possuem nossos genes também, e para evolucionistas, quem manda na evolução é o gene.
A Seleção de parentesco parece ter resolvido grande parte das perguntas sobre altruísmo.

Não me mato por um irmão, mas por dois irmãos ou oito primos talvez.

Alguns pesquisadores (Wilson e Wilson) acham que o grupo mesmo pode ser um mandante na evolução. Se isso for verdade fica mais facil entender o altruismo. Afinal um grupo com muitos altruistas agindo pelo bem maior do grupo seria melhor que um grupo cheio de egoistas cada um pensando só no seu umbigo. Isso explicaria como surgiram os insetos sociais, como formigas e abelhas, onde de toda a colônia só um indivíduo se reproduz, e os outros tratam de cuidar e ajudar esta rainha, mesmo que elas mesmas não tenham como se reproduzir. As operárias de colméias e formigueiros seriam o mais puro e extremo exemplo de altruísmo. (A Seleção de Parentesco ainda vale aqui, afinal operarias e rainha são
irmãs, mas a questão é como este comportamento começou, quando ainda
formigueiros e colméias não existiam.)

Nosso corpo é um exemplo de sociedade altruista. Nossas células aceitam benevolentes os comandos centrais do organismo. Elas até mesmo se suicídam quando necessário. As que fogem deste controle podem gerar tumores.

Muita gente até acha que o ideal de sociedade humana seria se ela fosse como um formigueiro. Isso pode dar trela a um tipo de autoritarismo, onde não se tem muita liberdade individual e só se pensa no bem maior. Será que queremos pagar este preço? Mas este é outro assunto.

Mas afinal, qual a vantagem de ser altruísta? Talvez o altruísmo seja mantido nos humanos pela seleção sexual. Assim como chifres grandes e pesados ou rabos gigantes e chamativos foram selecionados pelas fêmeas por elas acharem eles bonitos, o altruísmo talvez atraia mulheres. Assim haveira uma vantagem reprodutiva em ser altruísta, compensando as desvantagens. Isto manteria os “genes altruístas” na população, tornando o grupo altruísta mais apto a sobreviver.

Ainda é dificil saber todos os comos e porquês do altruísmo. Precisamos é saber que este assunto não precisa ser tratado apenas pela religião, filosofia ou psicologia. A biologia pode também estudar este tema, e descobriu que é uma estratégia evolutiva que funciona e já faz parte de nós humanos.

Mas o que vale é que fazer o bem faz bem sim. Portanto FAÇA! DOE! Participe do Teleton 2009 (veja como no fim do post).

Para mais:

A sociobiologia e a crítica dos antropólogos – Revista ComCiência – recomendo fortemente. Uma critica ao determinismo genético e ao antropocentrismo antropológico. Mas lembrem-se que a sociobiologia é apenas UMA das abordagens biológicas do comportamento humano

A evolução da bondade – SuperInteressante

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As doações para a campanha já podem ser feitas desde o dia 8 de Outubro, e seguirão até o dia 6 de Novembro. Veja como fazer para contribuir:

Por telefone, para doar:

R$ 5 ligue 0500 12345 05
R$ 10 ligue 0500 12345 10

Para doações a partir de R$ 30,00 as ligações devem ser feitas para 0800 775 2009

Quem doar R$ 60 pode escolher um dos “mascotes” da campanha, o Tonzinho OU a
Nina. Doações de R$100 ganham o Tonzinho E a Nina. Só prá lembrar: a promoção não é cumulativa.

logo-aacd.gifPara doar pela Internet, acesse o site da campanha clicando AQUI (esse endereço é válido durante o ano todo). Para conhecer mais sobre a AACD visite o site deles AQUI!

EXTRA EXTRA! Trofeu do IgNobel roubado!!!

Interrompemos esta sequência de postagens especiais sobre o IgNobel para trazer uma notícia bombástica: Um dos prêmios IgNobel foi roubado!

trofeu ignobel 2009 roubado.jpgSim, senhoras e senhores, alguém mal intencionado saiu de Havard, onde acontece a premiação, com um troféu que não lhe pertencia.
Ao menos é o que noticia o blog oficial do IgNobel.

Eles pedem encarecidamente que devolvam e que perguntas não serão feitas. Afinal os troféus são esculturas feitas à mão para o prêmio – de gosto duvidoso, devo dizer (imagem no inicio do post), mas ainda sim é uma sacanagem levarem. O que só levanta mais estranheza: afinal, quem levaria uma coisa dessas e pra quê? Existe um mercado negro de colecionadores interessados nesse tipo de prêmio científico? Se sim, fico até feliz por saber que a ciência esta tomando estas proporções!

O roubo do Nobel de verdade

Esta história me lembra de uma lenda que paira sobre um dos ganhadores também lendário de um Nobel de verdade.

Kary Mullis ganhou o prêmio Nobel de química em 1993 por desenvolver o famoso PCR, Reação em Cadeia da Polimerase, que é um processo usado muito em labs de biologia molecular para multiplicar uma pequena quantidade de DNA em muito DNA, facilitando nosso trabalho.

kary mullis.jpg

Esse cara nunca foi muito ortodoxo. Adora surfe, mostrou não acreditar no aquecimento global e no HIV como causador da AIDS, além de já ter usado LSD algumas vezes (mas nos anos 70 quem não tomou?) e inclusive atribuiu a este uso parte da descoberta do PCR (abriu a mente para o insight, tá ligado irmão?!). Depois que vendeu sua idéia, vivia de renda e dava festas regularmente em sua casa de praia. Foi numa dessas festas que teve a medalha do prêmio Nobel roubada. Sumiu.

alfred-nobel-medallion.jpg

Tempos depois recebe uma ligação de uma loja de penhores que havia comprado a medalha a preço de banana.
Chegando a loja Mullis ainda teve que pagar para reaver seu troféu.
Verdade ou não, esta história é uma viaaaagem, morou?!

Veja como o PCR é importante, tem até dois clipes musical hilários. Um no estilo “We are the world” e outro a la Vilage People:

Agora podemos continuar com a programação normal da série de posts sobre os ganhadores do IgNobel 2009

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Vaca Mimosa ganha IgNobel

cow1.jpgEste é o RNAm, seu radar do IgNobel

Afinal nós já havíamos comentado antes sobre o trabalho que ganhou o IgNobel este ano, que constatou que vacas que recebem um nome dão mais leite. Para ler o post original, clique aqui.

Lá você vai encontrar divagações sobre porque exatamente dar um nome ao bicho faz ele produzir mais leite, e comentários abalizados como este: “Sendo assim um fazendeiro que tenha 5.000 cabeças de gado vai gastar uma graninha fazendo crachás pra fazer as vacas se sentirem melhor.”

Se bem que, na área de “bovinologia” eu acho que o trabalho das vacas magnéticas merecia mais o premio IgNobel. Ele é fantástico!

Com, isso iniciamos uma série de posts sobre o IgNobel deste ano. Nada muito rebuscado, só vamos tentar extrair o máximo de piadas e também algo de útil deste lado bravatesco da ciência.

Algo de útil sim. Porque o objetivo desse prêmio não é denegrir e mandar as pesquisas para o brejo, mas sim provocar pesquisadores e publico. E funciona!

Bom, o post da vaca estava pronto. Bom pra mim, porque sobra espaço pra mandar um salve pro pessoal da fazenda Santa Xurupita:

Mandá um salve pá Mimosa da Xurupita

Mandá um salve pá Estrela da Xurupita

Mandá um salve pá, …pá, …pá…

Mandá um salve pá Morena da Xurupita

Mandá um salve pu Zebu da Xurupita

Aliás, falando em Zebu, será que boi com nome também dá mais leite?

Bom… talvez seja melhor deixar essa dúvida pra lá, seria um experimento muito bizarro mesmo para um IgNobel.

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Aparelho bioquântico: castigo por não sair sábado anoite

Você sabia que a eletricidade estática pode lhe matar pela descompensação do seu campo energético, podendo levar a descompasso cardíaco? NÃO?! Ainda bem. Então você não assistiu ao mesmo programa que eu no sábado anoite no canal CNT.

Horas de um programa no estilo Best Shop, com um cara de jaleco entrevistando um outro senhor, falando sobre energias, eletricidade no coração e problemas decorrentes do controle defeituoso do ritmo cardíaco. Estes problemas de ritmo, arritmia e tudo mais existem, agora se têm a ver com eletricidade estática já não sei não.

Eu sei que ela pode me deixar de cabelo em pé. Mas não pelos motivos abordados no programa.

O fato é que foram mostradas imagens interessantes no programa, como uma mulher pegando fogo ao abastecer o carro e outro de um cidadão se esfregando e tocando fogo em um liquido inflamável.

UAU, isso mostra que a eletricidade estática existe e que ela pode fazer mal, mas só para um frentista que se esfrega muito (não me pergunte esfregar em quê ou quem). Ou então tenho que processar minha professora de escola, que tentou várias vezes matar a mim e a meus coleguinhas com a prática de esfregar a régua no cabelo para atrair pedacinhos de papel ou quando nos levou ao Tecnorama e nos forçou a encostar num gerador de Van der Graaff.

Dessa constatação se pula para o conclusão de que a energia estática pode alterar o ritmo do coração. Como? Porquê? Onde? Com quem? Ninguém falou. Mas por que duvidar do homem de jaleco?

Confiem no cara de jaleco

Alias não entendi nem por que puseram o jaleco no cara que claramente é só o apresentador da coisa. Sendo que seria mais esperto colocar o jaleco no cara que inventou o tal aparelho que estabiliza a sua aura energética.

Este aparelho é o Aparelho Bioquântico. Feito com o que há de mais moderno na ciência atual. Tecnologia da NASA? Do MIT? Do LHC? Não, mas do quintal de um professor de escola técnica.

Poxa, eu que não sou burro nem nada, conheço pessoas de exatas, de engenheiros a físicos, que não entende ou não conseguem explicar o que é quântica pra mim. E já tem gente usando isso com materiais que você pode encontrar na sua própria cozinha?! Fantástico.

Quanto custa o aparelho? Calma, o esquema funciona assim:

Eles não falam quanto custa. Você liga para o número que aparece no seu televisor e agenda uma visita totalmente grátis de um iridologista, que vai olhar para a Iris dos seus olhos e diagnosticar os seus problemas. Aí sim ele vai indicar o tratamento, que já é dito de antemão ser o uso do aparelho bioquântico. O aparelho vai equilibrar sua energia estática usando a energia quântica.

Se já se sabe que o aparelho vai resolver o problema, então pra que a consulta mesmo? Ainda mais de um especialista em Iridologia, técnica que não é aceita pela medicina e provavelmente não funciona. Mas de graça até injeção na testa, não é mesmo?

Eu procurei por cima e não achei site nenhum sobre esse aparelho. Mas achei muita coisa sobre colchões quânticos, que por si só são uma piada, invalidando qualquer esforço meu para esculachá-lo. Esculacham-se por si só.

Mas a culpa toda é minha. Quem mandou ficar em casa vendo TV no sábado anoite?!

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Ratos flutuantes: não é feitiçaria, é tecnologia

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Ratos flutuantes: Uhúúú! Crédito: Da-Ming Zhu et al.


!Esto no ecziste! Os camunduengos flutuam. É um milagre!!!

Mas não é feitiçaria, é tecnologia! E como aqueles travesseiros, é tecnologia da NASA, meus caros.

Microgravidade não é nada novo. Este detalhe chamado gravidade que mantém as maçãs caindo de suas árvores já foi vencido há muito tempo, sempre usando supercondutores. A supercondução é uma propriedade física de alguns materiais que, em condições específicas, tornam-se condutores tão bons que a eletricidade que transmitem gera um campo magnético muito forte (para mais, pergunte a um físico, este é o máximo que o biólogo aqui vai chegar).

Claro que uma coisa tão maravilhosa assim não podia ser fácil de fazer. A supercondução só é atingida em materiais que sejam resfriados a temperaturas muito, muito baixas… normalmente inferiores aos 120 graus negativos (falei que eram MUITO baixas, não falei?). O trunfo agora foi que fizeram um supercondutor com um espaço no meio a temperatura ambiente. Grande o suficiente para caber um ratinho.

Já haviam sido feitos experimentos desse tipo usando supercondutores e outros animais, como gafanhotos e sapos, como vocês podem ver clicando nesse vídeo hilário que vi no Brontossauros no meu Jardim, complementando o texto do MeioBit.

supermouse.jpgE o bichinho no começo não entendeu muito o que estava acontecendo. Quando começou a levitar se debateu, o que só piorou sua situação, pois sem fricção ele rodou cada vez mais rápido. Mas depois de 4 horas os ratinhos se acostumaram e se comportaram normalmente.

Mas tudo isso por quê? Sadismo dos cientistas? Claro que para testar os efeitos dos organismos sob microgravidade. Por enquanto os animais que já ficaram por 10 semanas não apresentaram nenhum efeito adverso. A não ser uma sensação indescritível de leveza e transcendência. (Ok, não tem como medir se isso é verdade, mas o dia em que isto for possível a ciência estará realmente avançada!)

Prá terminar, alguém aí consegue imaginar o que se passou pela cabeça desses camundongos? Vejam a imagem abaixo e pensem nas legendas, queremos ver as melhores idéias nos comentários!

RATO_redimensionado.jpg

Faça as legendas!

Fonte LiveScience, via @carloshotta

Estatísticas inúteis do futebol. E na ciência?

galvão.jpg

Imagem: retidara da gafe do Galvão aqui e editada por Rafael_RNAm. O “p<0,05” é um limite em estatística e significa 0,05% de chance do seu resultado ser fruto do acaso.

Bem amigos do RNAm!!! Estamos aqui para mais um show de transmissão científica. Um show de imagens, de comentários abalizados, e de dados completamente inúteis!

Sim, eu não me conformo com a quantidade de dados inúteis em uma transmissão de jogo de futebol. E isso não é novidade pra ninguém, afinal há muito tempo já se tira sarro de estatísticas do tipo “só em 1843 o Piraporense do Bom Jesus ganhou de 3 a 0 do Itaquaquecetubense em um ano bissexto”. Mas assistindo a Brasil e Chile vi um nível de sofisticação fantástico na coleta de dados.

A todo momento aparecia o quanto cada jogador havia percorrido na partida, ali, em tempo real. Também o quanto desse tempo ele havia andado, trotado e corrido. No fim do jogo um gráfico mostrou a média percorrida pelos times, posse de bola, arrancadas e até um gráfico mostrando a região mais percorrida do campo por cada equipe.

Coleta de dados perfeita. Provavelmente uma câmera fixa ligada a um computador com um programa de analise de imagem fez esse serviço.

Adendo – E não é nada muito novo. Essa mesma técnica é usada para analise de comportamento de camundongos. Deixa-se uma câmera filmando a movimentação do bicho, analisando assim o comportamento depois de tratado com determinada droga, por exemplo. O software faz tudo sozinho.


Mas a pergunta é PARA QUE?!
Afinal as estatísticas no fim do jogo eram praticamente as mesmas entre os dois times (posse, distância percorrida, etc). Mas o Brasil ganhou de 4 a 2, que é uma bruta diferença. Diferença esta que existe, mas que a coleta de dados não pegou.

Ou seja, se tivéssemos só os dados estatísticos da partida, a técnica de coleta de dados durante os jogos ainda não é sensível o suficiente para prever quem ganhou de goleada.

Esse é um paralelo interessante para muitas pesquisas científicas. Muitas áreas estão ainda ajustando sua coleta de dados. E muitas já têm uma quantidade imensa de dados, mas ainda falta aprender a interpretar essa quantidade de informação. Falta fazer isso tudo fazer sentido e ajudar a prever um resultado. É o caso de áreas como a genômica, proteômica e outras ômicas: muita informação gerada e pouco tempo para análise e integração com outros dados.

Uma das críticas ao Projeto Genoma Humano era essa: muito dinheiro pra coleta de dados e pouco para análise. Bom, agora que o esforço foi concluído, realmente os resultados prometidos não vieram tão rápido, mas lentamente virão.

Na Globo, o Galvão ainda está assim: dirigindo uma Ferrari de dados mas sem saber pra onde ir. Mas sigamos coletando (principalmente quando há dinheiro sobrando)! Quem sabe um dia alguém aprende a usar isso tudo.

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Segredo (ou sacanagem) dos bastidores da ciência: o auto-engano

Vou contar mais um segredo de como a ciência funciona nos bastidores.
Exemplo resumido de uma pesquisa:
Você quer descobrir como as células respondem a um tratamento. E para isso cultiva as células com a droga de teste. Para saber se está funcionando podemos fixar as células testadas (como a gente vê com orgãos no formol) e usar marcações que brilham se o tratamento funciona, e assim ver no microscópio.
Daí tiramos fotos. Quanto mais brilho, maior marcação, e melhor para confirmar a eficácia do tratamento. Então contamos as células positivas e comparamos com células que não foram tratadas (o que chamamos de “controle”). O controle não pode brilhar, entende? Ou se brilhar deve ser menor que as células tratadas. E se brilhar igual? Sinto muito mas isto significa que sua hipótese não funciona. Tem que dar diferente do controle!
Claro que no laboratório nada é preto no branco. Nunca TODAS as céluas estão lindas e brilhantes. Por mais que a técnica usada esteja corretíssima, nunca sai perfeito. E outra, umas aparecem muito brilhantes e outras pouco. Por isso usamos estatística. Sempre é preciso fazer um experimento várias vezes pra ter certeza de que aquele aumento na média é um aumento mesmo. Se só 5% das vezes as células brilham, na média, o tratamento não funciona, certo?
O viés maldito do maldito cientista
Se até quem não é cientista entende, como é que um baita pesquisador já conhecido no seu meio, com publicações científicas boas e alunos sobre sua orientação, pode querer pegar justo uma foto dos 5% que funcionam para ilustrar o tratamento?!
E ainda acha bonito: “Olha que foto bonita, vamos usar esta.” E o pobre aluno orientado, que fez o experimento, suou e sangrou para fazer todas as repetições, vendo a sacanagem se formar não tem nem o poder de gritar “MARMELADA”.
É vergonhoso mas acontece. E MUITO!
Muita gente põe a culpa na pressão em ter resultados, e resultados bons para publicar numa revista científica melhor; as publicações trazem mais alunos e mais dinheiro para o pesquisador continuar pesquisando mais.
Mas pra quê pesquisar se já mostrou que não está nem aí? Porque burlar o método científico desse jeito é mostrar que não está nem aí para ciência. Então pra que continuar? Ou parte do tesão é enganar o mundo e a si mesmo?
Eu fico imaginando o que se passa na cabeça de um pesquisador deste que, do alto de seu cabedal científico, ainda se regozija com um resultado que intimamente sabe ser exagerado ou falso mesmo.
Acho que esta é só mais uma amostra da maior e mais forte das capacidades humanas: O AUTO-ENGANO.

O fim do mundo não será em 2012. Será em 2019

profecia maia fim do mundo.jpgNada de fim do mundo Maia em 2012, ou na virada do século novamente. Nada de Nostradamus ou São Malaquias. Nada de borra de café, tarot ou Oráculo de Delphi. Nada de pólos da Terra se invertendo ou meteoros e planetas assassinos como o Hercólobus. Isso é coisa do passado. O novo futuro é 2019. Aqui o mundo como conhecemos irá acabar.
Em uma revelação feita a mim cheguei a este ano cabalístico. Mas o profeta não sou eu, sou apenas um mensageiro. Os verdadeiros profetas são os gurus científicos de nosso tempo.
Eu apenas percebi os padrões e o significado de suas previsões. Tudo se encaixa perfeitamente. Todos eles prevêem que suas idéias terão aplicação prática para daqui o mesmo tempo: 10 anos!

  • O guru criador de vidas Craig Venter, o paladino solitário da biologia atual, do alto de suas empresas ele vislumbra o futuro da biologia sintética: criar vida e editá-la como bem entender. Com seu cajado, em dez anos fará brotar combustível refinado de algas em biorreatores e que capturam o carbono do ar. Pode ser o fim dos problemas energéticos. Um admirável mundo novo.
  • Levanta-te e andaMiguel Nicolelis, o Antônio Conselheiro de Natal, traz consigo o conhecimento de terras estrangeiras para desenvolver a interação mente-máquina, e assim, permitir que membros paralisados possuam próteses que entendam os comandos do cérebro para se movimentar. É um milagre.
  • De 2019 não passarásGordon Moore, o verdadeiro profeta. Previu, com boa precisão, toda revolução tecnológica gerada pela computação ao nos dar a Lei. A Lei de Moore diz “a cada ano, a capacidade de processamento do microprocessador – o chip – irá dobrar, e também os preços despencarão. Palavra de Moore”. Dito e feito. Mas o limite chegará em 2019. Moore fez nova previsão: que em dez anos atingir-se-á o limite atômico da miniaturização. Mas nem tudo está perdido, pois poderemos desenvolver maneiras mais otimizadas e criativas de usar os miniprocessadores do futuro.

Pode não ser o fim, e os maias têm que estar errados para passarmos de 2012 e chegarmos lá em 2019. Mas uma coisa é certa: cada vez que damos um passo o mundo sai do lugar, e um novo mundo é o fim do mundo velho.
Paraquedistas1.jpg* Este texto faz parte da Blogagem Coletiva Caça-paraquedista (conheça mais sobre essa iniciativa aqui). Se você entrou aqui pelo Google, seja bem-vindo e aproveite para conhecer um pouco mais sobre o blog e ciência!
Blogagem coletiva Fim do Mundo
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