Artefatos que importam: Asherah (?)

asherah peituda.jpgDepois de um inverno dos mais tenebrosos, estou de volta. Putz, faz mais de um ano. Vergonha. Mas, se serve de desculpa, nesse meio tempo virei editor de Ciência da Folha, depois foi nomeado também editor de Saúde, esse negócio de ser pai dá um trabalhão e, como diria Tolkien, “tive também muitos outros deveres, que não pude negligenciar”.
Mas chega de chororô. Voltamos com os artefatos que importam, desta vez com um exemplar das centenas de estatuetas de terracota achadas no território do antigo reino de Judá (a parte sul dos territórios israelitas da Antiguidade), datadas em torno de 700 a.C. e 600 a.C.
Elas tendem a ter a parte de baixo do corpo trocada por um pilarzinho, os seios absurdamente exagerados, numa pose que o finado especialista americano William Foxwell Albright apelidou de “dea nutrix” (deusa nutridora, em latim). A se acreditar na interpretação oferecida por muitos arqueólogos, elas representam ninguém menos que a esposa de Deus. Nada menos que a Juno do Júpiter bíblico, a Hera do Zeus monoteísta. You get my drift.
Ou, usando o nome próprio da moça, Asherah. Antes, achava-se que a deusa, uma divindade dos cananeus (povo que teria precedido os israelitas na Palestina), teria sido apenas uma inimiga de Javé, o Deus monoteísta adorado pelos autores bíblicos. No entanto, a descoberta das estatuetas, e a de inscrições que associam Javé a “sua Asherah”, andam levando muita gente a defender que, em muitos círculos do antigo Israel, os dois eram adorados juntos, como casal divino.
Uma interpretação não mutuamente excludente para as estatuetas é que elas seriam “orações em forma de argila”: uma maneira de as mulheres israelitas pedirem os atributos superabundantes da imagem para si mesmas, para gerarem e amamentarem filhos saudáveis.
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Discussão - 8 comentários

  1. Pelo menos pra essa estátua da ilustração as mamas não parecem exageradas. É até de um tamanho relativamente modesto: relativamente ao tamanho da cabeça e das mãos.
    []s,
    Roberto Takata

  2. Betina disse:

    Aleluia! Seja bem vindo de volta! Eu já achei q o blog tinha ido para o espaço.
    [F.: Do heb. Halelu Ia 'louvai o Senhor', pelo lat. aleluia]
    :o)
    Betina

  3. Tem razão, mestre Takata. Troquei a imagem por outra um pouco mais representativa.

  4. Essa marafona tem um aspecto mais fálico. Será q serviam como pr0n 0.1?
    []s,
    Roberto Takata

  5. Alaor disse:

    Reinaldo, fico feliz que tenha encontrado um tempo para voltar ao blog. Sou um eterno órfão do visões da vida!

  6. Asherah tem ligação com Ishtar/Astarte?
    Há representações iconográficas similares a essas marafonas em grupos recentes de caçadores-coletores ou agricultores 'primitivos'?
    []s,
    Roberto Takata

  7. Ishtar/Astarte é da segunda geração de deuses, Asherah da primeira no panteão do noroeste semítico.
    Sobre caçadores-coletores atuais, não sei. Mas há, como vc bem sabe, muitas Vênus paleolíticas com peitão e bundona.

  8. No mito chines, a humanidade eh criada a partir da argila (amarela) por Nuwa, uma deusa com cabeca de mulher e corpo de serpente, e fornece a ciencia e as artes para os homens. É repreendida pelo Imperador Celeste, que diz que, agora que os homens tem o conhecimento, nada os impedira de fazer todas as coisas e de um dia questionar a propria existencia do Imperador Celeste. Alguma relacao com o mito de Genesis? Nuwa = Asherah? http://en.wikipedia.org/wiki/N%C3%BCwa

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