Os Tomates da Discórdia

Uma guerra de tomates costuma acontecer na Espanha toda última quarta feira de agosto. Desde 1940, durante a festa, os moradores da cidade de Buñol atiram tomates uns sobre os outros, pintando uns aos outros e as fachadas das casas da cidade com o vermelho da polpa do tomate. Durante a festa, a população desta pequena vila mediterânea quadriplica e participam da Tomatina em torno de 38 000 pessoas, dentre moradores da cidade e turistas de todas as regiões do mundo. A origem do festival vem de uma brincadeira de crianças, quando algumas crianças usaram seus almoços para guerrear na praça da cidade. [Fonte: Wikipedia]

Bom seria se os tomates, armas na guerra de Buñol, fossem usados também para todas as outras: ganharia aquele que ficasse menos sujo, não custa sonhar. Por enquanto, só podemos levá-los em conta como munição para a festa espanhola.

E talvez para alguns críticos do empreendimento científico.

De fato, não é raro que ouçamos críticas à Ciência que parecem ter sido redigidas após um episódio do Globo Repórter: “Semana passada o tomate fazia mal, esta semana o tomate faz bem, semana que vem ele fará mal e na seguinte fará bem novamente“. E concluem de forma tosca que em consequência disso não se pode confiar na Ciência ou nos cientistas, afinal eles não têm certeza de nada“.

Espero não cometer injustiças ao culpar os Jornalistas por essa situação, tão sedentos que são por manchetes do tipo “Alimento X faz mal/bem, dizem cientistas” esquecem-se de explicar claramente a metodologia empregada, a dificuldade de diferenciar-se casualidade e causalidade numa pesquisa assim e de como sempre se está sujeito a erros e interferências externas.

Daí, cria-se a caricatura da Ciência como arcabouço da Verdade Absoluta. E quando percebe-se que o buraco é mais em baixo, o Critíco da Ciência não conclui que a caricatura é falsa e que as verdades científicas são temporárias mas imprescindíveis para iluminar a ignorância que temos da realidade, ele simplesmente julga todo o esforço científico perda de tempo.

Em essência, o Crítico não pode demonstrar a validade de sua própria visão de mundo, e se utiliza da depreciação da Ciência (atacando a caricatura que se formou) como ferramenta para empurrar aos outros suas tolices. E não são poucos os que ficam encantados pela bela canção de obscurantismo travestido de pluralidade. Afinal, propõem eles, se a Ciência não pode ter certeza nem se Tomates fazem bem ou mal à saúde, deve-se também ensinar outros tipos de conhecimento e dar a chance às pessoas de escolherem no que querem acreditar.

Não deve ser portanto surpresa ver tantos apoiando que se ensine a Mitologia criacionista em escolas públicas mundo afora como alternativa à Teoria da Evolução. Só fico me perguntando por que ninguém ainda propôs ensinar-se Astrologia como alternativa à Astronomia, ou os quatro elementos de Aristóteles como alternativa ao Modelo Padrão.

Talvez seja só questão de tempo, já que enquanto os Tomates (ou a gordura Trans, ou o consumo de Alcool) continuarem sendo usados como armas para o Discurso obscurantista podemos esperar de tudo.

Discussão - 2 comentários

  1. Se eu já não espero mais nada dos canais especializados na divulgação da ciência, quem dirá dos canais mais variados.
    Pior, posso contar nos dedos da mão o número de pessoas que sabem que esses programas não trazem tom científico algum, apenas as evidências do momento e suposições fantásticas.
    PS: Tive que fazer logoff da WordPress para conseguir comentar no blog. Quando se tenta comentar estando logado, o blog recusa o comentário reclamando que não digitei nome e email. Esse não é o comportamento esperado.

  2. Wesley disse:

    Cara, vc escreve melhor do que fala...
    Ainda bem que vc não está fazendo Direito, hahahaha!!!!
    Excelente artigo. Mereceu um link permanente na minha lista.
    Abraços
    P.S.: Não vá ficar "bloqueado" por aí...

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