Que tal um Físico na sua carta?
Este site possui um arquivo muito interessante de Selos Postais com ilustrações de Físicos famosos. Alguns são bem interessantes. Vale a pena conferir.
Alguns exemplos:
Físico(a) de Sexta 6
Para compensar pela ausência do Físico de Sexta de semana passada que deve ter sido ansiosamente aguardado por todos os meus milhões centenas seis leitores, trago dois físicos de uma vez só esta semana.
Dica:
[1]: A Dica está na Foto.
Resposta:
Parabéns ao André por ter acertado (e até encontrado uma fonte da foto XD).
Os físicos são Arno Allan Penzias (o de óculos) e Robert Woodrow Wilson (o careca). Wilson e Penzias, enquanto regulavam uma antena bastante sensível dos laboratórios Bell, perceberam que havia um ruido de fundo isotrópico (a mesma intensidade em qualquer direção que apontassem a antena). Após excluirem vários fatores de interferência, incluindo certo material dielétrico branco proveniente de pombos, os dois publicaram seus achados. Eles haviam detectado a chamada Radiação Cósmica de Fundo prevista quase trinta anos antes pelos trabalhos de Gamow e Alpher, e que é, através das medições atuais mais precisas, uma das melhores evidências para o modelo do Big Bang, o início quente e denso do Universo.
Post Lens culinaris, ergo propter Lens culinaris
Já arranjou uma simpatia para a virada do ano? Já se preparou para pular as 7 lentilhas e comer as 7 ondas? Não?? Que bom. Eu também não entendo todo esse monte de tolices que as pessoas fazem no final do ano. Quando posso, faço questão que virar o ano vestido de preto e comendo frango e tudo continua na mais pura normalidade.
O Réveillon deve ser o dia de celebração da falácia favorita de dez entre dez seres humanos. Se eu fiz aquela montuera de rituais e simpatias no fim do ano passado e este ano foi ótimo, ora, é ÓBVIO que foi por causa das simpatias! Isso é EVIDENTE!
Post hoc, ergo propter hoc. Depois disso, logo por causa disso.
É claro que, caso o ano tenha sido uma bosta, você irá prontamente ignorar que fez tais simpatias e vai fazê-las novamente, porque, ora bolas, todo mundo diz que dão sorte não é? Por via das dúvidas, não custa arriscar.
É esse “por via das dúvidas” o que mais me irrita.
Ninguém se mantem sempre amarrado a um poste, por via das dúvidas, caso a gravidade “se desligue” de repente, não é? Ou faz seguro por morte devida ao decaimento simultâneo de todos os prótons de seu corpo só para garantir?
Mas, por via das dúvidas, repete-se gestos arbitrários e inócuos para “atrair boa sorte”. Vá entender esse humanos…
Apesar dessas reclamações rabugentas, desejo a todos uma boa celebração do dia arbitrário para a mudança de numeração arbitrária de um Período do movimento da Terra em torno do Sol e um feliz Período subseqüente. Ou mais compactamente: Feliz Ano Novo a todos!
Físico(a) de Sexta 5
O Físico dessa semana está bem fácil. Eu poderia até não dar dica alguma, mas para manter a tradição:
[1]: Unificação
Resposta:
O físico é James Clerk Maxwell. Parabéns ao Ernane pela resposta.
O trabalho de Maxwell sobre Eletromagnetismo é com certeza o mais conhecido. Aliás, se há o nome Eletromagnetismo é por que Maxwell promoveu a unificação dos fenômenos elétricos e magnéticos, antes vistos como coisas completamente distintas. As chamadas Equações de Maxwell (que, verdade seja dita, de Maxwell só há um termo em uma delas) descrevem o comportamento dos campos Elétrico e Magnético e as relações entre os dois. Entre outras coisas, através dessas equações mostra-se também que a luz é uma onda eletromagnética.
Quem são os cientistas brasileiros?
No último “Físico(a) de Sexta“, coloquei a foto do Físico brasileiro José Leite Lopes para que os leitores adivinhassem seu nome. Como eu já esperava, esse foi o que mais demorou para ser adivinhado. Todos os outros foram descobertos ainda na sexta-feira, enquanto Leite Lopes teve que esperar até a segunda-feira. Outro leitor, Felipe, chegou a comentar:
Momento de reflexão: O brasileiro foi o mais difícil até agora.
Obviamente, uma coisa é conhecer um cientista brasileiro, outra é identificar o sujeito numa foto. Entretanto, não saber sequer o nome de um cientista é a situação da maioria dos brasileiros. Segundo uma pesquisa do Ministério da Ciência e Tecnologia realizada em 2007, com 2004 participantes, constatou que 86% não conheciam cientistas brasileiros.
OITENTA E SEIS PORCENTO!!!
Se houvesse alguma pesquisa sobre qualquer bizarrice, tipo “Você conhece alguém que beba refrigerante pelo nariz?”, eu apostaria uma perna que o resultado do “não” seria menor!
A título de curiosidade, 13% das pessoas citaram como cientistas brasileiros: Oswaldo Cruz (36 citações), Santos Dumont (32), Carlos Chagas (8), Cesar Lattes (4), Elsimar Coutinho (3), Vital Brazil (3), Marcelo Gleiser (3) e outros com apenas uma citação cada.
Por que isso acontece? E como melhorar essa situação?
Físico(a) de Sexta 4
Espero que o João Carlos ache o Físico desta semana desafiador o suficiente… hehe
Opa… Esqueci a dica:
[1]: Bósons Vetoriais
Resposta:
O Físico de Sexta é o brasileiro José Leite Lopes. Parabéns ao Ernane Lopes pelo acerto (deve ter acertado por ser parente =P).
Uma das contribuições de José Leite Lopes foi a previsão de Bósons (partículas com spin inteiro) Vetoriais (spin diferente de zero) Neutros (sem carga) como um dos mediadores da força fraca, o que pavimentou a estrada para os trabalhos de unificação das forças fraca e eletromagnética por Steve Weinberg, Sheldon Glashow e Abdus Salam.
E aí? Esse foi muito difícil?
Físico(a) de Sexta 3
Vamos ver se o de hoje demora um pouquinho mais para ser adivinhado. ^^
Dica:
[1]: Limite.
Resposta:
Novamente, foi preciso apenas pouco mais de uma hora. Deixem comigo. O próximo apenas alguém com um Ótimo Google-fu vai acertar. Bom, eu tenho uma péssima capacidade de memorizar rostos… então eu sempre acho que adivinhar um é difícil… eheh
Enfim, o Físico da Semana é Subrahmanyan Chandrasekhar. Parabéns aos que acertaram, especialmente ao Ernane Lopes que foi o primeiro.
Entre suas contribuições está o “Limite de Chandrasekhar”.
A “vida” de uma estrela pode acabar de várias manerias, uma delas é a formação de uma Anã Branca. No fim do processo de evolução de uma estrela de massa entre 0,7 e 10 massas solares, a estrela expulsa suas camadas mais externas, sobrando apenas o núcleo que não é mais capaz de produzir energia suficiente por fusão nuclear para contrabalancear a atração gravitacional. O nucleo colapsa sob ação do próprio peso. Se o núcleo possuir até 1,4 massas solares, entretanto, a pressão de degeneração dos elétrons é capaz de segurar o colapso. Esse limite de massa é chamado de “Limite de Chandrasekhar” e o objeto formado é chamado de Anã Branca.
Acima desse limite, a pressão de degeneração dos elétrons não é capaz de segurar o colapso. Se o núcleo possuir de 1,5 a 3,0 massas solares, a pressão de degeneração dos nêutrons poderá segurar o colapso e se formará umas estrela de nêutrons.
Chandrasekhar foi ainda homenageado através do satélite Observatório em Raios-X Chandra.
Um Soneto à Ciência
Science! true daughter of Old Time thou art!
Who alterest all things with thy peering eyes.
Why preyest thou thus upon the poet’s heart,
Vulture, whose wings are dull realities?How should he love thee? or how deem thee wise?
Who wouldst not leave him in his wandering
To seek for treasure in the jewelled skies,
Albeit he soared with an undaunted wing?Hast thou not dragged Diana from her car?
And driven the Hamadryad from the wood
To seek a shelter in some happier star?Hast thou not torn the Naiad from her flood,
The Elfin from the green grass, and from me
The summer dream beneath the tamarind tree?Edgar Allan Poe
Uma tradução:
CIÊNCIA! Do velho Tempo és filha predileta!
Tudo alteras, com o olhar que tudo inquire e invade!
Por que rasgas assim o coração do poeta,
abutre, que asas tens de triste Realidade?Poderia ele amar-te, achar sabedoria
em ti, se ousas cortar seu voo errante e ao léu
quando tenta extrair os tesouros do céu,
mesmo que a asa se eleve indômita e bravia?Não furtaste a Diana o carro? E não forçaste
a Hamadríade do bosque a procurar, fugindo,
estrela mais feliz, que para sempre a esconda?Não arrancaste à Ninfa as carícias da onda,
e ao Elfo a verde relva? E a mim, não me roubaste
o sonho de verão ao pé do tamarindo?
O Eu-lírico julga que a Ciência tenha acabado com as fantasias do Poeta, e portanto demonstra agressividade contra ela.
Quantas não são as pessoas que pensam, da mesma forma que o poema acima, que saber demais tira a beleza das coisas?
Sobre isso, mais que apropriadamente, escreveu Richard Feynman certa vez:
Poets say science takes away from the beauty of the stars — mere globs of gas atoms. Nothing is “mere”. I too can see the stars on a desert night, and feel them. But do I see less or more? The vastness of the heavens stretches my imagination — stuck on this carousel my little eye can catch one-million-year-old light. A vast pattern — of which I am a part… What is the pattern or the meaning or the why? It does not do harm to the mystery to know a little more about it. For far more marvelous is the truth than any artists of the past imagined it. Why do the poets of the present not speak of it? What men are poets who can speak of Jupiter if he were a man, but if he is an immense spinning sphere of methane and ammonia must be silent?
E traduzindo porcamente:
Poetas dizem que a ciência tira a beleza das estrelas – meros globos de gás. Nada é “mero”. Eu também posso ver as estrelas à noite e sentí-las. Mas eu vejo menos ou mais? A vastidão dos céus expande minha imaginação – preso neste carrossel meu pequeno olho pode captar luz de um milhão de anos. Uma estrutura vasta – da qual eu faço parte… Qual é a estrutura ou o significado ou o por quê? Não prejudica o mistério saber um pouco mais sobre ele, porque a verdade é muito mais maravilhosa do que qualquer artista do passado tenha imaginado. Por que os poetas do presente não falam dela? Que pessoas são os poetas que podem falar de Júpiter como se fosse um homem mas que se calam se for uma imensa esfera girante de amônia e metano?
E o que vocês acham?
Achei o vídeo no 3 Quarks Daily.
Físico(a) de Sexta 2
A Física dessa semana não é exatamente Física. É na verdade uma Matemática, mas que deu uma contribuição tão importante para a Física que eu não poderia deixar de colocá-la aqui (e também porque a Marie Curie seria muito fácil de adivinhar =P).
Dica:
[1] Conservação.
Então? Quem é essa “Física”?
Resposta:
A “Física” de Sexta é Amalie Emmy Nöther. Ponto para o João Carlos que acertou na primeira hora de sexta-feira (E eu aqui achando que seria difícil… esperem só pelo próximo…).
O trabalho de Nöther é importantíssimo (menção honrosa aqui ao “MacAllister” por tê-lo citado). O Teorema de Nöther mostra (em termos simples) que se as leis da Física obedecem determinada simetria, há algum tipo de quantidade associada, que pode ser calculada, que deve se conservar. Por exemplo:
A simetria por translação no tempo leva à conservação da Energia.
A simetria por translação no espaço, ou homogeneidade do espaço, leva à conservação do Momentum Linear (ou Quantidade de Movimento).
E a simetria com relação à orientação no espaço, ou isotropia do espaço, leva à conservação do Momentum Angular.
O Amigo de Wigner
Falemos um pouco mais dos problemas de quando e onde se dá a separação entre o mundo clássico e o quântico. Vou usar um pouco de termos técnicos e expressões matemáticas que não devem comprometer o entendimento geral. Espero não cometer erros muito graves, mas correção de qualquer erro é bem-vinda.
Se você está lendo esse artigo pelo feed, as equações podem não aparecer corretamente. Acesse a página que tudo fica normal.
Pense no seguinte experimento:
Suponha que temos uma partícula quântica num estado ψ. O equipamento de medição pode assumir dois auto-estados φ1 e φ2. Podemos escrever o estado da partícula em função dos auto-estados do equipamento de medição como:
onde:
são as projeções do estado ψ nos auto-estados φ1 e φ2 respectivamente. Vamos considerar que a detecção de qualquer um dos dois auto-estados é igualmente provável, portanto:
Então:
Suponhamos agora que quando o estado φ1 é medido, o equipamento pisca uma lâmpada. Isso não acontece quando o estado φ2 é medido. Chamaremos de ρ1 o estado da lâmpada acesa e ρ2 o estado da lâmpada apagada. Considerando a lâmpada como parte do sistema, o estado total ψ’ do sistema pode ser escrito como:
Se o equipamento está numa sala fechada, temos um caso análogo ao do Gato de Schrödinger. Sem, claro, o risco de ter seu laboratório invadido por defensores dos direitos dos animais. O estado de índice 1 é equivalente ao “Núcleo Decaído + Gato Morto” e o estado de índice 2 é equivalente ao “Núcleo Não-decaído + Gato Vivo”. Diferentemente da experiência com o felino, você QUER saber se a lâmpada acende ou não, e basta esperar um pouco para verificar em qual estado o sistema será medido.
Primeiramente, você entra na sala e põe o equipamento para funcionar. No entanto, você recebe um chamado da natureza e precisa se ausentar. Você não quer perder nem um instante do experimento e pede para um amigo acompanhar o funcionamento do equipamento.
Depois de enviar aquele FAX, você volta à sala e pergunta a seu amigo se a lâmpada se acendeu.
Antes que ele responda, você pensa no seguinte. Será que seu amigo faz parte do equipamento de medição? Se sim, poderíamos escrever o estado total como:
Onde “s” significa que seu amigo pode responder sim e “n” significa que ele pode responder não.
Suponhamos que a resposta de seu amigo seja afirmativa. Neste instante, o estado ψ” colapsou para o estado da resposta afirmativa, que significa que a lâmpada se acendeu e que o equipamento mediu o estado φ1 da partícula. Não parece um pouco estranho que o estado mental do seu amigo estivesse numa superposição de “sim” e “não” antes que você perguntasse? Ele já deveria ter decidido se a lâmpada acendeu, ou não, bem antes de você perguntar. Você conclui que o estado ψ” não é, portanto, apropriado para a descrição do sistema.
E se substituíssemos seu amigo por um sistema composto por um único átomo que absorvesse a luz emitida pela lâmpada? A descrição correta do sistema total seria equivalente ao estado ψ” e ninguém acharia estranho que átomo estivesse numa superposição de estados.
O problema acima foi proposto, com algumas diferenças, por Eugene Wigner, na década de 60, e recebe o nome de O Amigo de Wigner. Wigner conclui, para evitar a conclusão da superposição dos estado mentais, que o primeiro observador consciente, no caso seu amigo, que entrasse em contato com o sistema deveria causar o colapso do estado.
Errr… bizarro?
Colocar o observador consciente num lugar especial no universo não parece um pouco estranho? Bom, inicialmente não. Essa é uma interpretação para o “colapso da função de onda” tão válida quando qualquer outra.
O problema vem das conseqüências adversas de aceitarmos tal interpretação. O “mundo macroscópico” não exibe superposição de estados. Será que, antes do surgimento no primeiro ser consciente, todo o Universo estava em um estado superposto? Gente MUCHOLOKA não só afirma que sim, como também afirma ser isso uma prova da existência de uma consciência superior, a.k.a. um deus, que fez “colapsar a função de onda do universo”.
Ora, primeiramente, o Amigo de Wigner não é prova de coisa alguma. É um interpretação para o colapso da função de onda, e como já disse, válida como qualquer outra. Escolha a interpretação que te satisfaz e seja feliz. Elevar isso à condição de prova da existência de deus é, no mínimo, apressado. Será que as pessoas que aceitam essa prova, num eventual abandono da Mecânica Quântica em favor de uma teoria que não precisa do colapso da função de onda, abandonariam a idéia de deus?
Outros MUCHOLOKOS afirmam: Ora, se é o observador consciente que causa o colapso da função de onda, é o observador consciente que escolhe o resultado do colapso pela sua vontade. Então se você ficar preso num maldito engarrafamento é por que você assim escolheu. Qualquer coisa é possível, basta querer.
Isso não é de forma nenhuma uma conclusão do Amigo de Wigner. Mesmo que seja o Amigo que colapse o estado do sistema, ele só pode ser colapsado para os estados possíveis, no caso φ1 e φ2. Nenhum observador, por mais consciente que seja, será capaz de obter um estado que não seja um desses. Aliás, não é possível que o observador sequer escolha O resultado entre os possíveis. Não parece um “Segredo” tão poderoso olhando desse ângulo, não é?