Físico(a) de Sexta
Seguindo, ou imitando, os vizinhos lablogueiros, trago um evento semanal. Toda sexta colocarei a foto de um(a) Físico(a) famoso(a) para meus queridos leitores (se é que vocês existem, hehe) adivinharem. Eis o primeiro:
Dicas:
[1]: Não, não é o Arnaldo Antunes.
[2]: Nenhuma palavra é dele.
Então? Quem é esse poke… digo… Físico?
Resposta:
O Físico de Sexta é Lev Landau. Parabéns ao Brudna pelo acerto (ele falou errado de primeira, mas como não falei nada sobre mais de uma tentativa… essa regra fica para a próxima vez, hehe).
Landau foi um Físico fenomenal. Não importa a área da Física que você escolha, você VAI encontrar “alguma coisa de Landau” sendo usada nela. Seus trabalhos sobre a superfluidez do Hélio líquido lhe renderam o Nobel em 1962.
Sobre a dica número dois: Landau escreveu vários livros-texto sobre diversos campos da Física em parceria com Eugene Lifshitz. Diz-se que Landau teria dito certa vez: “Nenhuma palavra é minha, nenhuma idéia é dele”. Um pouco pretensioso demais? Talvez. Mas qual Físico não é?
Acidente em Experimento Mental deixa mortos e feridos
Certa vez, uma amiga andava pelos corredores da universidade quando furtou o seguinte fragmento de conversa entre dois outros alunos de engenharia que andavam mais a frente:
“(…) É sério, cara. Eles pegam um gato, põem numa caixa, põem o veneno dentro e fecham. (…)”
Talvez nosso engenheiro ficasse bastante decepcionado em saber que, para alívio dos felinos, toda essa história de gatos, caixas e venenos, chamada de Gato de Schrödinger, não é nada mais que um experimento mental (Thougth Experiment ou Gedankenexperiment).
O experimento é o seguinte:
Imagine que dentro de uma caixa são colocados um Gato e um compartimento de veneno. O compartimento é equipado com um sistema de acionamento a partir da detecção do decaimento de uma pequena amostra de átomos radioativos. A cada meia-vida de um átomo radioativo, ele tem 50% de chance de decair, emitindo alguma partícula que acionará um dispositivo que quebra o compartimento de veneno, matando o gato.
Fechemos a caixa. Após uma meia-vida, o gato estará vivo ou morto? Vivo E Morto?
Troquemos o gato por um Voltímetro ligado a algum amplificador de sinal. Quando o núcleo decai e uma partícula atinge o detector, o Voltímetro ligado ao circuito marca 2 Volts. Quanto o voltímetro marcará após uma meia vida? Zero Volts ou 2 Volts? Zero Volts E 2 Volts?
Não faz sentido dizer que o gato está vivo E morto, assim como não faz sentido dizer que um voltímetro marca zero Volts E 2 Volts. Um gato, ou um voltímetro, é um objeto macroscópico e não está sujeito às bizarrices quânticas como a superposição de estados, certo?
Esse é justamente o problema. O “estado” do Gato está intimamente ligado ao estado do átomo que decairá ou não. Isso faz o Gato ter também comportamento quântico? Onde se dá a separação em um sistema quântico e outro clássico? Essas são questões que ocupam os Físicos desde a criação da Mecânica Quântica e estão longe de serem resolvidas.
O que não impede que muitos apressadinhos MUCHOLOKOS queiram concluir que é o observador consciente e de preferência humano que cria a realidade ao abrir a caixa de acordo com sua vontade. Malditos pós-modernistas franceses.
Muitos outros experimentos mentais acabam passando por reais com o descuido dos textos de livros didáticos e de divulgação, e a Física acaba ainda mais mistificada. Nosso engenheiro foi apenas mais uma provável vítima. Assim como muitos livros ainda hoje dizem como Galileu lançou de cima da Torre de Pisa objetos para refutar a gravidade aristotélica, fico imaginando daqui alguns anos os livros trazendo informações de como os Físicos do século XX maltratavam os pobres gatinhos para construir o motor de improbabilidade infinita.
Einstein e Eddington
O Astrônomo Inglês Arthur Eddington foi um dos grandes responsáveis por espalhar a Teoria da Relatividade Geral de Einstein para o ocidente. Os primeiros artigos foram publicados na Alemanha em 1915, em meio aos conflitos da Primeira Guerra Mundial, e se não fosse pelo apoio de Eddington, e das expedições que organizou em 1919 para comprová-la, talvez muito tempo se passaria antes que a Relatividade Geral fosse finalmente aceita.
A BBC produziu um filme para TV sobre essa relação de Eddington e Einstein, que será transmitido pela BBC2, na Inglaterra, no dia 22 de Novembro.
O Filme tem, nos papéis principais, David Tennant (protagonista da série de ficção científica Doctor Who) como Eddington e Andy Serkis (que interpretou o personagem Gollum em O Senhor dos Anéis) como Einstein. Nerd-Physicist-gasm a vista. Quem puder assistir não pode perder.
Quanta ‘Qu’oisa Quântica, não?
Sempre digo que “Física Quântica” virou uma palavra-coringa para se falar de coisas que não se faz idéia do que são. “I don`t know how it works, but it’s surely quantum!”. Com o lançamentos de “filmes” (seria mais preciso chamá-los de mockumentaries, mas…), como Quem Somos Nós e O Segredo, a Física Quântica virou sinônimo de doideira mística. Mas não só isso. Essa “popularização” fez com que qualquer coisa que envolvesse probabilidades e incertezas fosse automaticamente atribuída à Física Quântica.
Na Inglaterra, uma poeta resolveu criar poemas construídos aleatoriamente com a ajuda de ovelhas. Cada ovelha foi pintada com uma palavra e, de acordo com os ritmos de movimento e descanso dos animais, os poemas são escritos. Da BBC [1]:
A North East writer has been given a grant of £2,000 to use sheep to create random poems, which also utilise the deepest workings of the universe.
The money has been provided by Northern Arts for Valerie Laws to create a new form of “random” literature.
Each of the animals has a word from a poem written on their backs and as they wander about the words take a new poetic form each time they come to rest.
But the exercise is not just an attempt to create living poems, it is also, according to the poet, an exercise in quantum mechanics.
The animals being sprayed belong to farmer Donald Slater of Whitehouse Farm Centre, Morpeth, in Northumberland.
Mrs Laws, 48, said: “I like the idea of using living sheep to create a living poem, and creating new work as they move around.
“Quantum mechanics is a branch of physics which a lot of people find hard to understand, as it seems to go against common sense.
“Randomness and uncertainty is at the centre of how the universe is put together, and is quite difficult for us as humans who rely on order.
“So I decided to explore randomness and some of the principles of quantum mechanics, through poetry, using the medium of sheep.”
Mrs Laws created a poem for the project, based on the traditional Japanese haiku form of poetry.
Each sheep had a word from the poem sprayed on their back, and when they came to rest a new text was created.
Farmer Donald Slater said: “After last year’s devastation (of foot-and-mouth) we all needed cheering up and this might just do it.”
A spokesman for Northern Arts called the scheme “an exciting fusion of poetry and quantum physics”.
One of the poems created by the sheep reads:
Warm drift, graze gentle, White below the sky, Soft sheep, mirrors, Snow clouds.
Na parte que grifei lê-se:
“Então eu decidi explorar a aleatoriedade e alguns princípios da Mecânica Quântica, através da poesia, usando as ovelhas como meio.”
Exploração de aleatoriedade pode até ser, mas está longe de se relacionar de qualquer maneira, mesmo metaforicamente, com Mecânica Quântica. Até porque todo mundo sabe que os únicos animais sujeitos a efeitos quânticos são os gatos.
De outro artigo [2], dessa vez sobre esportes:
“Every year, each team has just as much chance to win every game as it does to lose every game,” Morris said. “It’s called quantum physics and the laws of chance and probability. Thirty-one other teams have already gone down in flames. But the Titans have a 50-50 chance each week to win, and those chances never improve beyond 50-50, because on any given Sunday, anyone can win. As long as you keep that in perspective, you have a chance to win every game.”
A vitória de um time está relacionada com acaso e probabilidades mas nem um pouco com Física Quântica. Bem, há alguns casos de Tunelamento de times de futebol brasileiros para a primeira divisão quando deveriam ser rebaixados, mas isso é totalmente metafórico.
Mas não podemos rir apenas da ignorância estrangeira. Aqui vai uma pérola de uma atriz brasileira [3]. Não é exatamente sobre Física Quântica, mas é provável fruto da leitura desses livros misticóides quânticos de gosto duvidoso:
Quais são os outros? A amorosa reprodução. Quando você gera um filho amorosamente, você se sente Deus, sabe? Você é mãe?
Não. As pessoas não querem mais ser mãe. Se você for, vai ver. Vai entender o lado divino do ser humano e vai passar para uma segunda dimensão. Os físicos falam isso, não é?
Pois é caro leitor, você era uma Reta e nem sabia disso. Vai ver é algum tipo de metáfora para o quanto as mulheres engordam depois que tem filhos. Sei lá.
É claro que existem utilizações e citações bem piores, principalmente as vindas dos meios “intelectuais” (Qwa Qwa Qwa). Mais dessas coisas ficarão para outra hora. O que já ouvi de Psicólogo (ah, como eles gostam do Quem Somos Nós…) e “Cientista” Social falando besteira em nome da Física Quântica, Teoria do Caos, Fractais…
[1] Encontrado no blog do Michael Nielsen.
[2] Encontrado no Physics and Physicists.
[3] Enviado por uma amiga.
Positivista é quem me chama!
Em poucas palavras, podemos definir o Positivismo como a filosofia segundo a qual o único conhecimento autêntico é o conhecimento adquirido através do método científico que, para o positivista, tem como base o empirismo, o inducionismo etc. A crítica às afirmações é bem-vinda e justa, e inclusive todos os problemas do positivismo já foram dissecados há muito pelos filósofos da ciência. É surpreendente portanto que ainda se veja críticas extremamente ingênuas ao positivismo.
Ontem, estava eu na aula de Francês. O tema de discussão do livro-texto se referia à religiosidade dos franceses e como a adesão às religiões tradicionais vinha caindo no país. Ao final da aula, a discussão decaiu para a velha briga “inexistente” entre religião e ciência. Uma das alunas, num argumento fraquíssimo, comparava as ciências sociais à religião a fim de concluir que “dava tudo na mesma”. Eu a interrompi afirmando que o argumento era forçado por que ALGUMAS das ditas ciências sociais eram sequer um exemplo de boa Ciência. Neste momento, como se eu tivesse ofendido a mãe de todos os outros alunos, fui bombardeado de acusações de positivista. “Como poderia eu afirmar aquilo?” “É claro que as ciências sociais são ciências! Por que não seriam?” Ao que eu perguntei: E por que precisariam ser?
Em nenhum momento, eu disse que, por não serem Ciência, algumas ciências sociais seriam invariavelmente inúteis. Perceberam a ironia da situação? Os alunos que me acusavam de positivista, provavelmente por pensarem que eu defendia o método científico da maneira positivista, eram talvez ainda mais positivistas! Ao se ofenderem com minha afirmação, eles demonstraram sua própria crença de que um conhecimento é apenas válido se for considerado Ciência! Uma das afirmações BÁSICAS do positivismo!
Essa ingenuidade é geral não só nos alunos, mas também nos profissionais de algumas ciências sociais. Talvez devido ao sucesso do lixo filosófico pós-moderno nesse meio, a definição de ciência vira um Vale-tudo. Querem, desesperadamente, ter o mesmo Status das Ciências Naturais, mas ficam para morrer quando a CAPES resolve usar os mesmo critérios de avaliação! Ora, ou é tudo igual ou não é tudo igual! Se não há diferença entre um Física e uma Pedagogia, os critérios de avaliação devem ser os mesmos! E se há diferença suficiente para que não sejam os mesmos por que precisam ter o mesmo título? É aquela velha história de que quem desdenha quer comprar. Denunciam abertamente o positivismo, mas todo dia antes de dormir acendem uma velinha para Comte.
Livro: Tudo se Conta
Fazia bastante tempo que eu não lia um livro desses leves e despretensiosos, talvez por isso mesmo tenha gostado de Tudo se Conta. Primeiramente, trata-se de um livro cuja personagem principal possui um Transtorno Obsessivo Compulsivo por contar e medir tudo, daí o nome do livro em Português que, apesar de perder o trocadilho do título original (Addition), continua a fazer sentido diferentemente da praga que é a maioria das traduções de nomes de livros e filmes.
Grace Lisa Vandenburg conta os passos que dá até o banheiro ao se levantar, as escovadas no cabelo, nos dentes, os passos que dá até a cozinha. Tudo. Além disso só comprar coisas às dezenas. Xampu, sabão em pó, bananas. E é comprando bananas que conhece Seamus por quem mais tarde se apaixona e por quem tenta até mudar.
Por cima, Tudo se Conta é seu típico livro de romance. Paixões, brigas e reconciliações preenchem esse pequeno livro 200 páginas. Entretanto, os detalhes da personagem e da narrativa me chamaram a atenção. Grace é fanática pelo inventor/cientista/quase-tudo Nikola Tesla e vários acontecimentos de sua vida são citados no decorrer do livro. Além disso, os diálogos são muito engraçados. A astúcia de Grace ao responder às pessoas “normais” é fascinante. É uma pena, portanto, que no fim da história se caia numa liçãozinha de “seja você mesmo” para lá de descartável. Grace merecia um final menos “normal”.
Quanto à tradução não tenho o que reclamar. Algumas piadas foram obviamente perdidas. Há inúmeras notas de rodapé explicativas dessas piadas e de referências pop mais obscuras. Há inclusive exageros. Em determinado momento é citado um Ábaco, que o tradutor faz questão de dizer que se trata do instrumento de cálculo quando o contexto já deixava isso bem claro.
Enfim, Tudo se Conta não é um livro que vai mudar sua vida, mas é bastante agradável. Se estiver com tempo e um dinheiro sobrando, vale a pena.
Este artigo possui 356 palavras. Pode contar, a Grace contaria.
Saiba mais sobre o livro clicando aqui (está disponível inclusive um capítulo do livro).
Recebi o livro como cortesia da editora Ediouro numa parceria com o Lablogatórios.
Como se mata um mito?
A língua possui regiões específicas para cada sabor: Amargo, Ácido, Salgado e Doce. As papilas de cada região são capazes de detectar apenas determinado sabor. Então, se não quiser sentir o sabor de um alimento, basta não deixar que ele toque a parte da língua que sente aquele sabor.
Quando você aprendeu pela primeira vez a informação acima? Há uns 30 anos com a tia Maricota, sua professora da primeira série? Há 12 anos com o professor de Biologia da sétima série? Ou ano passado enquanto fazia pré-vestibular? Não importa. É muito provável que o leitor fique surpreso ao saber que tal “mapa” da língua é simplesmente um erro. Os culpados são D.P. Hanig, que em 1901 propôs tal mapa baseado nas impressões subjetivas de voluntários, e Edwin Boring, que em 1952 reexaminou os dados e plotou-o num gráfico de uma maneria que fazia parecer que regiões de baixa sensibilidade indicassem nenhuma sensibilidade. Essa idéia foi provada falsa em 1974 mas, surpreendentemente, continua a ser ensinada.
Da mesma forma, ainda podemos ouvir, inclusive de professores, que a Força de Coriolis interfira no escoamento da água de uma pia, que o bojo nos Vitrais de catedrais demonstrem que o vidro é um líquido e escorra, que a Teoria da Relatividade diga que tudo é relativo ou que a Teoria do Caos verse sobre borboletas e furacões, independentemente de nossos esforços em mostrar o quanto essas idéias são erradas.
Por que isso acontece?
Pronto. Chega de Pânico.
Ligaram o LHC. O mundo não explodiu. Os jornais podem parar de fazer o papel de Doommongers e mudar de assunto por favor? Uma jovem já até se suicidou por causa dessa papagaiada de fim do mundo. Parecem seguir à risca aquele história de “se é ruim é jornalismo, se é bom é propaganda”. Espero sinceramente que só voltem a falar do LHC daqui a uns 3-4 anos quando o CERN tiver data suficiente para confirmar se o Higgs surge na faixa de energia operada pelo acelerador.
O quê? 3-4 anos? Mas não é ligar e achar o bicho não, Renan?
Definitivamente não. Primeiro porque as experiências só começam mesmo em 2009, até lá a máquina passará por calibrações. Depois porque a produção de uma partícula subatômica específica numa colisão é um evento dificílimo de se detectar. O experimento DZero do Fermilab, que objetivava encontrar o Quark Top, teve que realizar Trilhões de colisões a partir 1992 para só em 1995 ter um punhado delas que apontassem a presença daquele Quark.
Mas e se não encontrarem o Higgs depois desse tempo todo?
Bom, se encontrarem o Higgs com massa entre 115 e 180 GeV estará tudo perfeito. Será uma evidência de que o Modelo Padrão funciona bem (adendo: funciona bem nessas faixas de energia. O Modelo Padrão pode, e muito provavelmente deve, quebrar para além da escala de TeV). Se a massa for maior que aquela faixa começam a aparecer os problemas do Modelo Padrão, dos quais não sei muita coisa.
Além disso, a procura pelo Higgs não é o único objetivo do LHC. Muitas outras descobertas estão ao alcance do acelerador. Não será dinheiro jogado fora.
E não custa nada lembrar:
Roubei a figura lá do Bad Astronomy.
Dispersões de velocidades de um aglomerado de estrelas
Com o curioso título acima, este artigo tenta analisar o que seria do recorde olímpico dos 100m rasos, de 9,69 segundos, batido pelo Jamaicano Usain Bolt se ele não tivesse começado a comemorar mesmo antes de atravessar a linha de chegada. Usando duas hipóteses diferentes para os dois últimos segundos da corrida: 1. que Bolt pudesse manter a aceleração do segundo colocado Richard Thompson; 2. que Bolt pudesse manter uma aceleração 0.5 m/s² maior que Thompson.
Assim, constataram que o novo recorde seria algo em torno de (9,61 ± 0,04) segundos para o primeiro caso e (9,55 ± 0,04) segundos para o segundo caso. A figura a baixo (clique para ampliar) mostra onde Bolt estava/estaria aos 9,5 segundos. À esquerda o Bolt “real” e à direita a projeção para a segunda hipótese.