The 22nd First Annual Ig Nobel Prize Ceremony

Sim, Senhoras e Senhores.

Está chegando o dia da premiação mais importante da Ciência. O Ig Nobel 2012, que mais uma vez irá premiar as pesquisas que fazem rir, e depois pensar.

A premiação desse ano acontece na próxima Quinta-Feira, dia 20 de Setembro e o tema é O Universo. As clássicas atrações estão confirmadas. Os discursos Welcome, Welcome e Goodbye, Goodbye, e a  mini opera O Design Inteligente e o Universo.

No 24/7, (onde o palestrante precisa dar uma explicação técnica completa sobre o assunto em 24 segundos, e uma explicação para qualquer um entender em sete palavras), o Nobel de Física de 2005, Roy Glauber, falará sobre o Universo. Erika Ebbel Angle, Miss Massachussetts 2004 e Bioquímica, explicará a espectrometria de massa. E Rich Roberts, Nobel de medicina em 93 participará do 24/7 com a temática da vida baseada em arsênio.

Alguns vencedores de Ig Nobel passados estarão de volta, dentre eles John Senders, que recebeu o prêmio pela pesquisa sobre atenção na direção, onde uma viseira era colocada na frente do condutor. Elena Bodnar, que inventou um sutiã que em caso de emergência pode facilmente ser convertido em uma máscara. E Dan Meyer, que pesquisou os efeitos colaterais da prática de engolir espadas.

Você pode acompanhar a cerimônia de premiação do Ig Nobel 2012, dia 20 ás 20:30, pela transmissão ao vivo no canal do evento no Youtube, e comigo, pelo twitter.

Atualização

Já está disponível o vídeo da premiação. Começa no minuto 48.

Existem fotos de Armstrong na Lua?

Don’t Panic!

Não lerão aqui que as fotos da missão Apollo são fraudes, e que tudo não passou de uma encenação em algum deserto americano, ou mesmo na Área 51. Essa postagem contém uma história interessante.

Lendo notícias sobre a morte de Neil Armstrong, vi a foto que ilustra o artigo. A legenda era algo como “Armstrong na Lua”. Pensei por um instante, “espera aí, era Armstrong quem tirava as fotos, não há fotos dele na Lua”. Será?

Fui tirar a dúvida.

Pra deixar claro, estamos falando aqui das fotos tiradas com a Hasselblad 70mm, que os astronautas carregaram durante a caminhada lunar. As fotos mais conhecidas, como Aldrin descendo do Módulo Lunar, a pegada no solo, e Aldrin posando com a bandeira dos EUA, vem dessa câmera.

Encontrei a foto em questão no catalogo. É a AS11-40-5886.

Para o desespero de qualquer conspiracionista, essas missões foram muito bem documentadas, todas essas fotos possuem uma história. Bastava então procurar a história da AS11-40-5886 e saber se quem aparece trabalhando no Módulo Lunar era o Armstrong ou o Buzz.

E é aqui que as coisas ficaram interessantes. Eric Jones conta a história.

Havia um desentendimento na própria NASA, que acreditava que Aldrin não havia pegado a câmera, e portanto, não haveriam fotos de Neil Armstrong. Ao revisar a transcrição das conversas durante a missão, Jones percebeu que Buzz pegou a câmera por um tempo. Antes mesmo que Jones pudesse analisar o acervo de fotos, ficou sabendo que dois pesquisadores britânicos,  H. J. P. Arnold e Keith Wilson, em 1987, haviam descoberto a foto que Aldrin tirou de Armstrong. Sim, a AS11-40-5886.

Em 1991, durante a revisão da missão, Eric Jones, junto com Neil Armstrong e Edwin Aldrin, pode tirar a história a limpo, concluindo que realmente se tratava de Armstrong na imagem.

Na ocasião, Armstrong comentou:

“Sim. Eu venho continuamente falando. Mas o problema é que a NASA divulgou que não existem fotos minhas. Porque eles acreditam nisso. Mas eles não sabem. Eu acho que nunca perguntaram ao Buzz ou a mim. Eu acho que muitos deles não sabem que você [Buzz] tirou fotos com a Hasselblad. Eu não sei por que não fizeram; porque se olhassem o dialogo onde você afirma que fará as panorâmicas, a NASA não cometeria esse erro.”

Em 1996, Keith Wilson enviou uma carta para o Eric Jones, contando detalhes da pesquisa.

O primeiro contato de Keith foi com o Dr. David Compton, então historiador do Johnson Space Center. Compton respondeu que havia apenas uma Hasselblad, e que era Armstrong que tirava fotos do Aldrin, portanto não acreditava que existissem fotos do Armstrong.

Wilson também falou com Brian Duff, relações públicas do JSC durante a Apollo 11. O mundo queria uma foto do primeiro homem na Lua e foi sugerido que Duff perguntasse diretamente ao Armstrong sobre alguma possível foto. Duff perguntou se Neil havia entregado a câmera para Buzz, e ele respondeu que não.

A partir daí, a foto do “reflexo no capacete” de Aldrin ganhou o mundo.

Duff interpretou a resposta de Armstrong como uma negativa para existência de uma foto do primeiro homem na Lua. Mas é possível que Neil apenas tenha respondido ao que lhe foi perguntado. Armstrong nunca entregou a câmera ao Aldrin. Ele deixou a câmera no MESA (Modular Equipment Stowage Assembly) , e Aldrin pegou de lá.

Em contatos com o próprio Neil Armstrong, Keith Wilson conseguiu confirmar a existência da imagem. O resultado veio a público pela primeira vez na seção de cartas da revista Spaceflight de Agosto de 1987. David Compton considerou que Wilson poderia estar correto. Duff não estava totalmente convencido, e o Relações Públicas do JSC na época apenas afirmou que a imagem não existia, porque Aldrin nunca teve a câmera.

Douglas Arnold, que também pesquisou o assunto independentemente, publicou sobre o tema nessa mesma revista um tempo mais tarde.

Seria essa, então, a única imagem de Neil Armstrong na Lua?

A resposta, obviamente, é Não.

Olhando no catalogo de uma das panorâmicas tiradas por Buzz Aldrin, é possível perceber, no canto de uma das imagens, as pernas e costas de um homem.

Ele mesmo, Neil Alden Armstrong, o primeiro humano a pisar na Lua.

 

 

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Armstrong: Houston, aqui é Tranquility Base. O Eagle pousou.

CAPCOMM: Roger, Tranquility. Deixou uns caras aqui azul. Podemos respirar novamente. Obrigado.

Armstrong: Obrigado.

CAPCOMM: Daqui parece estar tudo bem com vocês.

Armstrong: Okay. Vamos ficar ocupados por um tempo.

 

*   *   *

Armstrong: Hey Houston, deve ter parecido uma longa fase final. O piloto automático nos levou para uma cratera do tamanho de um campo de futebol, com um grande numero de pedregulhos e rochas por cerca de [ruído] uma ou duas vezes o diâmetro da cratera, por isso foi necessário um [ruído] em P66 e voar manualmente sobre o campo de rochas para encontrar uma área razoavelmente boa.

CAPCOMM: Roger. Entendido. Foi lindo daqui, Tranquility. Over.

Aldrin: Nós teremos os detalhes do que está em volta, mas parece com uma coleção com todo tipo de forma, ângulo, granulação, de todo tipo de rocha que você pode encontrar. As cores… bem, variam muito dependendo do ângulo que se olha, mas não parecem diferir muito no geral. Entretanto há algumas próximas dessa área que parece ter cores interessantes. Over.

*   *   *

CAPCOMM: Tranquility. Fique sabendo que há vários rostos felizes nessa sala, e ao redor do mundo. Over.

Armstrong: Bom, há dois deles aqui em cima.

Collins: E não esqueçam um no Módulo de Comando.

CAPCOMM: Roger.

Collins: E obrigado por me colocar na transmissão, Houston. Eu estava perdendo toda a ação.

*   *   *

Armstrong: Da superfície não conseguimos ver estrelas através da janela, mas pela escotilha sobre a minha cabeça vejo a Terra. É grande, e brilhante, e linda. Buzz está indo tentar ver alguma estrela pelo ‘óptico’.

CAPCOMM: Roger, Tranquility. Nós entendemos. Deve ser uma lida vista. Over.

CAPCOMM: Columbia, Houston. Dois minutos para LOS. Você está bem aí em cima. Over.

Collins: Fico feliz em saber que os sistemas estão bem. Você tem uma sugestão de altitude para mim? Com esta aqui parece estar tudo certo.

CAPCOMM: Aguarde.

Collins: Vão me avisar quando for a hora do almoço, não?

CAPCOMM: Repita.

Collins: Ah, ignorem.

CAPCOMM: Columbia, Houston. Você está em uma boa altitude.

Collins: Okay. Obrigado.

*   *   *

Aldrin: Houston, Tranquility.

CAPCOMM: Prossiga Tranquility.

Aldrin: Nossa recomendação para o momento é planejar a EVA para às 8 horas dessa manhã, no horário de Houston. Isso é daqui a três horas.

CAPCOMM: Aguarde.

Aldrin: Bem, vamos lhe dar um tempo pra checar sobre isso.

CAPCOMM: Tranquility Base, Houston. Nós checamos. Estamos com vocês.

Aldrin: Roger.

CAPCOMM: Olá, Tranquility Base. Houston. As oito horas no horário de Houston se referem a abertura da escotilha, ou ao inicio das preparações para o EVA? Over.

Armstrong: A abertura da escotilha.

CAPCOMM: Foi o que pensamos. Muito obrigado.

Armstrong: Pode ser um pouco mais tarde do que isso, mas em outras palavras, a preparação para a EVA começa em cerca de uma hora.

*   *   *

Armstrong: Okay, você pode puxar um pouco mais a porta?

Aldrin: Certo.

Armstrong: Okay.

Aldrin: Liberou o MESA? 

Armstrong: Estou puxando agora mesmo.

Armstrong: Houston, o MESA foi liberado.

CAPCOMM: Roger. Temos uma imagem na TV.

Aldrin: Você tem uma imagem boa?

CAPCOMM: Há um grande contraste, e por enquanto está de cabeça pra baixo, mas percebemos uma boa quantidade de detalhes.

Aldrin: Okay. Você vai verificar a posição – a abertura que eu tenho que eu devo usar na câmera?

CAPCOMM: Aguarde.

CAPCOMM: Okay. Neil, nós podemos ver você descendo a escada agora.

CAPCOMM: Buzz, aqui é Houston. F/2 1/160 segundos.

Aldrin: Okay.

Armstrong: Estou no pé da escada. Os pés do Módulo Lunar afundaram apenas uma ou duas polegadas, embora a superfície se pareça com finos grãos, conforme se aproxima. É quase como um pó. Descendo, isso é muito bom.

Armstrong: Vou sair do Módulo Lunar agora. 

“Este é um pequeno passo para o homem, um salto gigantesco para a humanidade” — Neil Alden Armstrong (5/8/1930 – 25/8/2012)

 

Não eram Klingons

Era final de Novembro de 2010 e eu participava ativamente de um fórum de discussão sobre Ufologia. A NASA convocou uma entrevista coletiva para tratar de uma descoberta astrobiológica que impactaria na busca por vida extraterrestre. Enquanto a maioria do grupo subia pelas paredes imaginando que a Área 51 seria aberta, eu pensei que era mais um meteoro marciano. Ambos errados, no fim das contas.

“HochlIj waw’pu’ maH wIghaj”

Dr. McCoy nos explica que, enquanto para os humanos, o arsênio é altamente venenoso, para os Klingons é parte fundamental da dieta. Sem esse elemento, os Klingons ficam sujeitos a diversos problemas de saúde. Sabendo disso, não é surpresa que “ENGAGE” ecoou pela USS Enterprise quando a tripulação ficou sabendo do anúncio da NASA sobre bactérias que não somente sobreviviam em ambiente rico em arsênio, mas também haviam substituído o fósforo pelo tira gosto trekker em seu DNA.

Enquanto uns falavam em novas formas de vida, outros eram mais cautelosos e apontavam equívocos na pesquisa.

Existem duas coisas que eu faço quando alguém divulga algo extraordinário, e eu não estou diretamente envolvido com essa coisa: ou, eu faço uma aposta com alguém, sento e espero; ou, eu apenas sento e espero.

Sentei, esperei, e periodicamente acessei o blog da Rosemary Redfield.

Rosie é microbiologista, fez críticas aos métodos e controles utilizados pela Felisa Wolfe-Simon, autora do artigo das bactérias arsênicas, e resolveu repetir o experimento. Para nooooossa alegria, ela compartilhou o passo a passo, dia a dia, da pesquisa no blog. Desde o início dos trabalhos, os resultados conforme a pesquisa avançava, e finalmente o envio para publicação.

Outros posts podem ser encontrados procurando por “GFAJ-1”, um nome bastante Klingon, para uma bactéria que não come arsênio.

Com publicação na Science essa semana, as bactérias GFAJ-1 não sobrevivem sem o fósforo, nem o substituem por arsênio em seu DNA. O artigo pode ser lido aqui.

Seria legal se essas bactérias fossem realmente um novo tipo de vida, mas não foi dessa vez. Mas esse processo todo mostra que science works, bitches, e isso também é legal.

A ameaça Klingon passou e a USS Enterprise pode agora continuar audaciosamente indo onde nenhum homem jamais esteve.

True Story

Trânsito de Vênus

É hoje.

Em aproximadamente uma hora Vênus irá iniciar sua passagem em frente ao Sol. Um espetáculo interessante de ser observado, e que só irá se repetir em 2117.

Infelizmente o Sol já se pôs, e portanto o evento não será visível no Brasil (o começo poderá ser visto do Acre, mas como o Acre não existe…). De qualquer forma, sempre é importante lembrar que você nunca deve olhar diretamente para o Sol. 😉

Felizmente existem pessoas de bom coração que podem transmitir o Trânsito através da web.

Mas se vocês aí da Terra pensam que são os únicos com um acontecimento especial no dia de hoje, saibam que também temos novidades aqui em Magrathea. Sim, pela primeira vez realizaremos uma postagem em tempo real!

Você deveria estar se perguntando (sei que não está) “como isso acontecerá?”.  Simples. Esse post será atualizado conforme o trânsito for acontecendo, com imagens, links e outras informações.

Também estarei no twitter, em @alamuss.

Pra começar, links (Ingês) para as transmissões ao vivo:

– http://www.planethunters.org/transit

– http://cosmoquest.org/Hangouts/

– http://www.transitofvenus.org/

http://venustransit.nasa.gov/transitofvenus/

http://sunearthday.nasa.gov/webcasts/nasaedge/ 

Atualização (19:10):

Quase lá.

 

Atualização (19:20):

Esse Hangout está muito bom. Merece espaço especial. 🙂

 Atualização (19:42):

Estamos dentro. O final do Trânsito está previsto para 1:49.

Atualização (20:15):

Vênus, na mitologia, é a deusa do amor e da beleza. Vênus, o planeta, é o segundo corpo a partir do Sol. Em tamanho, é bastante parecido com a Terra, com 80% da massa terrestre e raio cerca de 600km menor. Por outro lado, Vênus tem uma atmosfera bastante densa, composta principalmente de CO2, a pressão na superfície é cerca de 90 vezes maior que a terrestre. Um ano em Vênus equivale a 224,7 dias terrestres.

Atualização (20:55):

Ibagens: Flickr da NASA onde as pessoas podem enviar suas fotos do Trânsito de Vênus.

http://www.flickr.com/groups/venustransit/

Atualização (21:22):

Diferentes filtros para diferentes comprimentos de ondas geram imagens com o Sol em cores diferentes.

Vermelho:

Amarelo:

Verde:

 

Atualização (22:03):

Hora do recreio.

 

Atualização (23:18):

De volta para acompanhar o final do Trânsito. O Hangout legal com o Phil Plait, Pamela Gay, a Nicole Gugliucci, entre outros, continua rolando, agora em outro link (o Youtube tem um limite de tempo).

Atualização (23:50):

A exploração de Vênus iniciou em 12 de Fevereiro de 1961 com o lançamento da Sonda Soviética Venera 1, que sobrevoou o planeta em 19 de Maio de 1961. Com a Venera 9, em 1975, tivemos as primeiras imagens do solo de Vênus.

Atualização (00:40):

O pessoal do @universetoday terminou o Hangout. Acompanhando o finalzinho pelo Slooh.

Atualização (01:16):

O próximo Trânsito de Vênus ocorrerá em 10 de Dezembro de 2117. Em seguida, outro ocorrerá em 8 de Dezembro de 2125 (esse, visível na América do Sul).
Os trânsitos ocorrem em um intervalo de 8 anos, com um espaço de 121 ou 105 anos entre esses intervalos. O trânsito anterior aconteceu há 8 anos, em 2004, o próximo daqui a 105.

A inclinação do plano da órbita de Vênus em relação ao plano da órbita da Terra é que torna os trânsitos situações especiais.

Mais IBAGENS: Sequências completas  do Trânsito, em diversos filtros.

http://venustransit.gsfc.nasa.gov/

Atualização (01:50):

O Trânsito de Vênus de 2012 está oficialmente encerrado. Certamente ter visto ‘ao vivo’ seria uma experiência incrível, mas acompanhar pelas transmissões online dos mais diversos lugares foi interessante também.

Agradeço a todos que durante essas quase sete horas compartilharam pelos menos uns instantes do evento aqui pelo NiM. Foi outra experiência divertida realizar essa “cobertura”.

Ainda pretendo (talvez em outras postagens), mostrar outras imagens e, claro, comentar sobre as pesquisas realizadas.

Por hoje é tudo.

Até. 😉

Tem Ciência nisso… n°1

A Ciência está em todos os lugares, mas ver Ciência em tudo que é coisa a todo instante só vai torna-lo ao longo do tempo um maluco, ou pior, um chato, ou ainda pior, os dois.

Vou correr o risco…

“Tem Ciência nisso…” é uma série de postagens que eu lanço hoje, sem quantidade ou frequência definida (mas que ajuda muito a tapar buraco), sobre coisas com algum fundo científico, mas que talvez você ainda não tenha percebido.

E pra começar, música! Do fundo do baú!

Se você tem quarenta anos ou mais, deve lembrar do Righeira (ou não). Se você é dessa geração que escuta Restart e Justin Bieber, saiba que Righeira é um dueto formado por Stefano Rota e Stefano Righi. Em 1983 ficaram mundialmente bastante relativamente bem conhecidos com o single Vamos A La Playa. Mais do que um grande sucesso de Italo Disco (?), Vamos A La Playa é uma música sobre Bombas Atômicas (!).

Escute enquanto continua lendo…

A tradução da música é simples, basicamente, “vamos para a praia” seguido de uma espécie de gemido repetido várias vezes. Outros trechos são mais interessantes.

“Vamos para a praia / todos de chapéu / O vento radioativo / despenteia o cabelo”

O Atol de Bikini no Oceano Pacífico, além da casa do Bob Esponja, é um dos mais famosos sítios de testes nucleares. Entre 1946 e 1958 os EUA realizaram 23 detonações.

Detonação nuclar no Atol de Bikini

A Bomba Tsar, da ex União Soviética, é a maior bomba de Hidrogênio já construída, com 50 megatons, é equivalente a 2500 vezes a bomba que foi jogada sobre Nagasaki durante a Segunda Guerra. Se uma dessas fosse detonada em uma praia do Rio de Janeiro, seu cabelo seria despenteado junto com várias cidades próximas.

“As radiações queimam / e pintam de azul” … “Sem peixes mal cheirosos / Somente água fluorescente”

Eu já falei aqui sobre como coisas potencialmente destrutivas podem ser bonitas. Os cogumelos das explosões de bombas nucleares são bastante bonitos, mas a música fala sobre tons de azul e água fluorescente.

Isso me faz lembrar que quando uma partícula viaja em um meio, com velocidade maior que a da luz naquele meio, ela libera um tipo de radiação. Também conhecido como efeito Cherenkov, visto em reatores nucleares.

Como parece, você se pergunta. Bem, a água fica azul e fluorescente:

Radiação de Cherenkov

Por hoje é isso, porque agora eu vou pra a praia (só que não).

Do outro lado da montanha

Percival Lowell já era um cientista reconhecido em 1894 quando fundou seu próprio observatório em Flagstaff, no Arizona, com a motivação de observar os Canais de Marte. Lowell acreditava que tais canais eram construções de uma civilização.

Marcianos só invadiriam a Terra na famosa adaptação de Orson Welles do clássico Guerra dos Mundos de H.G. Wells. Os canais de Marte eram apenas ilusão de ótica.

Percival Lowell (1855 - 1916)

Lowell publicou “Marte e seus canais” em 1906, no mesmo ano iniciou suas buscas ao Planeta X. A posição observada de Netuno e Urano não eram aquelas previstas, alguma coisa estava interferindo nas órbitas dos dois planetas, provavelmente, um outro planeta, desconhecido, não visto, uma incógnita, X. Percivall Lowell morreu em 12 de Novembro de 1916, sem encontrar seu planeta perdido.

Também em 1906, nascia em Streator no estado americano de Illinois, Clyde Tombaugh. Filho de fazendeiros, viu seus planos de ir para a faculdade frustrados após uma tempestade destruir a plantação da família. Muitos teriam desistido aqui, mas Tombaugh construiu um telescópio com suas próprias mãos e começou a fazer observações por conta própria. Ele enviou alguns desenhos de suas observações para o Observatório Lowell, que gostou de seu trabalho e lhe ofereceu um emprego.

Clyde Tombaugh com seu telescópio

O trabalho de Tombaugh no observatório era capturar a mesma posição do céu durante várias noites, e tentar encontrar algum objeto se movendo entre as imagens. Encontrar o Planeta X. Em 18 de Fevereiro de 1930, Clyde Tombaugh percebeu um objeto em movimento além da órbita de Netuno. Ele havia descoberto Plutão.

Tombaugh entrou para a Universidade do Kansas em 1932. Saiu do Observatório em 1943 para trabalhar com a Marinha dos Estados Unidos. Após o fim da Guerra, alegando falta de recursos, o Observatório Lowell não devolveu o emprego para Tombaugh que voltou a trabalhar em projetos militares. Durante sua vida pesquisou sobre Objetos Voadores Não Identificados e atravessou os EUA e Canadá, dando palestras para conseguir fundos para a Universidade do Estado do Novo México.

Clyde Tombaugh morreu em 17 de Janeiro de 1997.

Hoje sabemos que a massa de Plutão não seria suficiente para influenciar as órbitas de Netuno e Urano como proposto pelo Percival Lowell. Novos dados mostraram que a diferença entre a posição prevista e observada era na verdade causada por um erro na determinação das massa dos planetas, e não pela existência de um outro corpo. É consenso que o Planeta X, como descrito por Lowell, não existe.

Em 2006, a União Astronômica Internacional decidiu modificar a definição de planeta, e Plutão foi reclassificado para a categoria de planeta anão.

Também em 2006, a sonda New Horizons foi lançada com o objetivo de estudar corpos além da órbita de Netuno. Ela passará por Plutão em 2015 levando em sua carga, além dos materiais para a analise científica, as cinzas do ex ultimo descobridor de um planeta no Sistema Solar, Clyde Tombaugh.

"Eu sempre quis saber o que tinha do outro lado da montanha" -- Clyde Tombaugh (1906 - 1997)

"Eu sempre quis saber o que tinha do outro lado da montanha" -- Clyde Tombaugh (1906 - 1997)

 

Eu, robô. Ou não.

Você já deve ter visto imagens como essa ao confirmar o envio de algum tipo de formulário na Internet. Isso chama-se CAPTCHA e serve para determinar se você é um humano ou um robô, tornando o sistema mais seguro. Ou seja, se você costuma sentir dificuldades, ou erra com frequência o preenchimento do CAPTCHA, são grandes as chances de, na verdade, você ser uma máquina.

Quando eu era garoto de programa programador, usava o reCAPTCHA em meus sistemas. Além de ser chato e atrasar suas atividades no site como todo CAPTCHA tradicional, o reCAPTCHA tem uma funcionalidade interessante.

Um página de um livro, ao ser digitalizada, é para todos os efeitos uma imagem. Se você quiser aquela página em formato texto, precisa transformar a imagem em texto. Existem programas que fazem isso, mas nenhum é tão bom nessa tarefa quanto um humano. Cada palavra que o reCAPTCHA mostra pra você faz parte de um livro digitalizado. Ao passar pelo teste, além de confirmar para o sistema que você é um humano, você também está ajudando a digitalizar livros. Muito mais legal, não?

Qual deles é robô?

Uma máquina pode reconhecer um humano. Mas será que você conseguiria diferenciar um humano de um robô?

Eve no jikan (Time of Eve, na versão em inglês) é um anime de ficção científica. Em um Japão futurista, praticamente todo cidadão possuí um robô humanoide, que deve seguir certas regras para uma convivência agradável como os humanos, como por exemplo, manter sempre a vista sua “identificação de robô”. Porém existem lugares onde os robôs podem frequentar sem a identificação. Um desses lugares é o bar da imagem acima, onde a principal regra é que robôs e humanos tem tratamento igual.

O divertido dessa série é que até a conclusão dos episódios, é praticamente impossível determinar com alguma fundamentação quem é robô ou quem é humano. Enquanto assiste, você está constantemente participando de um Teste de Turing.

Alan Turing

Alan Mathison Turing tem uma história de vida incrível que merece um post especial. Trabalhou em algoritmos para decifrar códigos nazistas, foi condenado a prisão por homossexualidade, mas preferiu ser submetido a castração química como pena alternativa, e morreu ao comer uma maçã envenenada com cianeto.

Em 1950, publicou Computing Machinery and Intelligence, introduzindo o que viria a ser conhecido como Teste de Turing. Partindo da questão “máquinas podem pensar?” Turing propõe um jogo de imitação. Uma pessoa em um terminal acompanharia uma conversa, e teria que julgar qual dos participantes da conversa é humano, e qual é uma máquina. Quanto mais elaborada uma inteligência artificial, mais difícil para um julgador perceber a diferença.

Atualmente as inteligências artificiais não suportam o teste por muito tempo. Há alguns exemplos divertidos de inteligências artificiais com as quais você pode bater um papo, como a Sete Zoom (em Português) o Cleverbot (em Inglês), ou aceitar o desafio do Akinator, que acerta quem você está pensando em até 20 perguntas.

CAPTCHA é um acrônimo para o que em Português significaria mais ou menos “Teste de Turing Público Completamente Automático para separar Computadores de Humanos”. Basicamente, um teste de Turing ao contrário.

Eu acabo de fazer outra coisa que um humano é muito superior em relação a uma máquina. Traduzir um texto.

O Duolingo é um novo projeto da mesma equipe criadora do reCAPTCHA. A ideia agora é traduzir a web aproveitando a vontade das pessoas de aprender uma nova língua. Mesmo iniciantes em uma língua conseguem resultados de tradução melhores que algoritmos de tradução.

E antes que os robôs aprendam demais, dominem o mundo e nos exterminem, assista a palestra do Luis von Ahn (integrante dos projetos reCAPTCHA e Duolingo), onde ele comenta com mais detalhes sobre os projetos. Com legendas em Português, feitas por um humano. 😉

Se o vídeo não funcionar, clique no link: http://www.ted.com/talks/luis_von_ahn_massive_scale_online_collaboration.html

A segunda coisa mais bonita para se ver na Terra…

Se eu trabalhasse para a Megadodo Publications, essa seria a definição que eu usaria.

Lugar comum no discurso criacionista, já ouvi muitas vezes que “nada de belo pode sair de uma explosão”, em referência ao atual modelo cosmológico para explicar a expansão do Universo.

Explosões podem ser legais…

Imagine uma bola muito grande. Agora imagine ela maior, muito maior. Uma bola beeem grande pelo espaço. Uma gigantesca bola com uma usina de fusão nucelar no seu interior. Muito grande.

Imagine que ao redor dessa bola existam outras bolas menores, e que em uma delas, existe vida. Um certo dia, alguns seres da bola menor resolveram que chamariam a bola maior de Sol, e eu não sei se todo mundo concordou com a escolha, mas é assim que eles chamam até hoje.

O núcleo do Sol está transformando Hidrogênio em Hélio e a energia liberada nesse processo sai do núcleo para as camadas mais externas criando campos magnéticos. Na parte mais externa, muito quente, forma-se plasma (partículas ionizadas, ou seja, que ganharam ou perderam elétrons).

As vezes o plasma arrasta um campo magnético para fora do Sol. Temos aí uma explosão solar, tempestade solar, ou também Ejeção de Massa Coronal. No caminho dessas partículas ionizadas viajando pelo espaço, a praticamente inofensiva Terra. Mas não entre em pânico, Magrathea engenhosamente projetou um gigantesco escudo protetor.

Quando o plasma está para atingir a Terra, é desviado pelo Campo Magnético terrestre. O Campo Magnético acaba sofrendo uma deformação momentânea. Mais do que ser um dos fatores que torna possível a vida na Terra, o resultado das explosões solares contra o campo magnético da Terra cria o fabuloso, magnifico, espetacular e maravilhoso fenômeno das Auroras.

Infelizmente não há legendas para esse vídeo, mas as imagens já devem ajudar bastante a compreensão.

Observadas desde a antiguidade, a explicação só veio em 1896 com o Físico norueguês Kristian Birkeland. No link, uma galeria de imagens das Auroras Boreais (para o Hemisfério Norte, no Hemisfério Sul são chamadas de Auroras Austrais) resultantes das tempestades solares do inicio desse ano.

Agora você deve estar se perguntando o que fazer para ver um aurora.

“O que eu faço para ver auroras?”

Para realmente ver, você precisa estar em uma região de alta latitude, preferencialmente próxima dos polos. Mas pra você, que assim como eu, está em uma região onde não é comum o fenômeno acontecer, sempre tem um jeitinho.

Primeiro, descubra quando há a possibilidade das auroras acontecerem. Vocês podem descobrir através dos dados de atividade solar disponíveis aqui. Eu sigo o @VirtualAstro (que além das auroras também comenta sobre outros acontecimentos astronômicos interessantes, sempre com a participação dos seguidores que enviam suas fotos) e o @Aurora_Alerts (o nome é auto explicativo, não? 😀 ).

Sabendo que há um alerta de aurora, uma boa ideia é acompanhar o Aurora Sky Station, que transmite em tempo real fotos das auroras. A câmera está localizada no Parque Nacional Abisko, na Suécia.

Há ainda o fator inconveniente do efeito das explosões solares nos satélites, sistemas de comunicações e redes elétricas. Mas isso fica pra outra hora, afinal, esse é um post sobre a beleza das coisas.

Clique para mais fotos

Silvio Santos, professor de Teoria dos Jogos

Então, por um instante, você é uma criança. Você está em lugar um tanto estranho, várias pessoas, luzes, sons, equipamentos estranhos. Um sujeito com um boné de helicóptero olha para você, faz uns barulhos estranhos e grita “RÁÁÁ, QUER TROCAR DE PORTA?”.

Ah, a boa e velha Porta dos Desesperados, apresentando o Problema de Monty Hall para uma geração de crianças lá pelos anos 80/90. Hoje em dia, todo mundo sabe que é vantagem trocar de porta, tornando a brincadeira impraticável e condenando Serginho Mallandro a aposentadoria carreira de comediante de stand up. Particularmente, eu sempre suspeitei que as portas eram abertas na parte de trás e que os monstros apareceriam independente da porta escolhida pela criança.

Pegadinha do Monty Hall

Em 2002, pegando carona no hype do Show do Milhão, Silvio Santos, com uma peruca mais avantajada que a atual, resolve lançar mais um jogo de perguntas e respostas. Sete e meio era o nome. Para quem não lembra (ou não viu), era dividido em duas partes, na primeira, vários participantes disputavam entre si respondendo perguntas, os dois melhores passavam para a fase final, onde poderiam sair com todo o prêmio, ou sem nada.

Nessa segunda parte, os dois participantes em cabines individuais deveriam escolher entre duas opções de cartas (7 ou ½, para justificar o nome do programa, suponho) que poderiam resultar nos seguintes resultados.

Se os dois participantes colocassem ½, os dois dividiriam o prêmio do programa. Se um escolhesse 7, e outro  ½ , o que escolheu 7 levaria tudo, o que colocou meio não levaria nada. Por fim, se os dois colocassem 7, ninguém ganhava.

Assista: youtube.com/watch?v=LsZLf7rNvzU (A incorporação foi desativada pra esse vídeo, então, clica aí  :D)

Adaptação do Homem do Baú de um programa americano que adaptou o Dilema do Prisioneiro, um problema da Teoria dos Jogos.

Se você não sabe o que é, e não clicou no link, eu vou copiar aqui a parte importante:

Dois suspeitos, A e B, são presos pela polícia. A polícia tem provas insuficientes para os condenar, mas, separando os prisioneiros, oferece a ambos o mesmo acordo: se um dos prisioneiros, confessando, testemunhar contra o outro e esse outro permanecer em silêncio, o que confessou sai livre enquanto o cúmplice silencioso cumpre 10 anos de sentença. Se ambos ficarem em silêncio, a polícia só pode condená-los a 6 meses de cadeia cada um. Se ambos traírem o comparsa, cada um leva 5 anos de cadeia. Cada prisioneiro faz a sua decisão sem saber que decisão o outro vai tomar, e nenhum tem certeza da decisão do outro. A questão que o dilema propõe é: o que vai acontecer? Como o prisioneiro vai reagir?”

Uma diferença entre o Dilema do Prisioneiro tradicional e a versão do SBT é que os participantes conversam antes da decisão, tentando convencer o outro a tomar uma decisão favorável aos dois. Na verdade tentando fazer com que o outro coloque ½ para que ele coloque 7, enquanto aguentam a pressão do Silvio trollando geral. (Eu confesso, sempre torço para o participante perder).

Outra diferença é que a “pena” é pequena em comparação ao Dilema do Prisioneiro clássico. O máximo que você perde é sair como entrou, sem o dinheiro. Escolher o sete não só dá a oportunidade de ganhar tudo, como garante que o adversário não vai ganhar nada, o que pode ser consolador, se pensar que aquela pessoa tentou te convencer a colocar um ½ pra ficar com tudo.

Na abordagem clássica é vantajoso a cooperação, mas com o Professor Abravanel um 7 pode ser o seu A no fim do semestre do jogo, se você estiver certo de que seu oponente não usará o meio.

Dados mostram que a cooperação acontece em aproximadamente metade das vezes, e é o ambiente do jogo um dos fatores para determinar qual vai ser a escolha dos participantes. O modo como os participantes se comportaram durante a fase de perguntas, se eles assistiram outros episódios, como querem ser vistos pelo público, e olha só, até mesmo o gênero e idade dos participantes. Mulheres cooperam mais que homens jovens, mas a cooperação entre os gêneros fica equilibrada se os homens forem mais velhos. [1][2]

Professor Silvio Santos

Agora falta descobrir como ganhar naquela brincadeira do “você troca esse vídeo game, por um sapato velho?”

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1- Social Learning and Coordination in High-Stakes Games Evidence from Friend or Foe

2- Split or Steal? Cooperative Behavior When the Stakes are Large