Assista ‘O homem que conserta estrelas’

O Homem que conserta estrelas” é um documentário de curta metragem que conta um pouco do envolvimento de Ary Nienow com o Planetário da UFRGS, desde a sua fundação no começo da década de 70 .

A obra venceu o prêmio Histórias Curtas 2013, da RBS TV, nas categorias Melhor Curta – Juri Oficial, Música Original e Montagem.

Você pode assistir ao curta clicando aqui.

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Ary Nienow em frente ao Planetário.

 

 

Estacionando com matemática

 

Estacionar é como tentar encontrar alguém para um relacionamento. Você até dá algumas voltas procurando por uma boa vaga, mas no fim das contas acaba parando na que está disponível.

Duas categorias de profissionais, os flanelinhas e manobristas, se encarregavam de auxiliar aqueles com poucos pontos de experiência na habilidade “manobrar máquinas motorizadas”. Agora chegou a vez dos matemáticos.

austin

A pedido da Vauxhall Motors o matemático Simon Blackburn, da Universidade de Londres, desenvolveu um modelo para estimar qual a menor distância entre dois carros o motorista precisaria para fazer a baliza (aquele procedimento de estacionar entre dois carros, entrando na vaga de ré, com um único movimento de S).

E o resultado foi esse:

blacburneq

Apesar de parecer algo assustador, a fórmula é simples, e originária do clássico Teorema de Pitágoras. Sim, aquele mesmo do colégio, que diz que “o quadrado da hipotenusa é igual a soma do quadrado dos catetos”.

O espaço mínimo da vaga é representado por D. O comprimento do carro é DC.

Blackburn usou os arcos de círculo que o carro percorre quando o carro está fazendo o movimento de “S” da baliza.

blackburnfig

EX = R, EF = L, AE = K, GH = W. Queremos saber AH = D.

 

Se o carro está se movendo com o volante todo virado para um lado, ele irá percorrer a menor trajetória circular possível. O raio desse círculo é o R da equação. A distância entre eixos é L. A distância da roda dianteira, até o para-choque dianteiro é K. E a largura do carro estacionado na sua frente é W.

O carro mais vendido no Brasil é Gol, então vamos usa-lo para os cálculos.

R = 5,4 m
L = 2,4 m
K = 0,7 m
W = 1,6 m  (considerando que o outro carro também é um Porsche Gol)

blackburnresult

Então, o espaço necessário para a baliza com um Gol é 5,5 m (3,9 m do comprimento do carro, mais 1,6 m do resultado do modelo).

O matemático Jerome White achou o modelo do Simon Blackburn muito conservador, e resolveu aperfeiçoa-lo.

Além das variáveis do primeiro modelo, White também usa a distância que o motorista pretende deixar entre o carro e o meio fio, o ângulo que o carro faz com o meio fio durante a manobra, e a largura dos três carros envolvidos. No site há um aplicativo Java para simular a baliza.

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Utilizando os dados do Gol, e supondo que o carro ficará 20 cm do meio fio, a distancia necessária pra estacionar é de 4,8 m. (novamente, 3,9m do Gol, mais 0,9 do modelo.)

No modelo do Jerome White precisamos de um espaço 70 centímetros menor que no modelo do Blackburn, para estacionar um Gol.

Em um ponto, ambos modelos concordam. Tendo um número ilimitado de manobras, é possível estacionar em qualquer vaga que tenha, pelo menos, o tamanho do seu carro. E com os sistemas automáticos para estacionamento, não precisamos mais de manobristas e flanelinhas. Nem matemáticos.

 

P.S.

Alguém afim de calcular quanto espaço é necessário pra estacionar um Smart? 😛

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Referências:

Modelo do Blackburn: http://personal.rhul.ac.uk/uhah/058/perfect_parking.pdf

Modelo do White: http://www.talljerome.com/NOLA/parallelparking/

Ficha Técnica do Gol: http://quatrorodas.abril.com.br/imagens/reportagens/633_gol_tx1.jpg

Cosmos na Comic-Con 2013

cosmos

Na década de 80 a série Cosmos se tornou a obra prima da divulgação científica com o carismático Carl Sagan explicando de forma simples e didática, conceitos científicos muitas vezes complexos e distantes das pessoas comuns.

Em 2011 foi anunciada a produção um remake da série, com o Astrônomo e meme Neil deGrasse Tyson. E a hora está chegando. Ontem, em um painel na San Diego Comic-Con 2013 (a mais importante convenção de TV, Cinema, Quadrinhos, Games e todas essas nerdarias), a Fox divulgou o trailer oficial de Cosmos: A Spacetime Odyssey.

Ann Druyan, co-criadora da série original e esposa do Carl Sagan, Brannon Braga, produtor e diretor, e Neil de Grasse Tyson, responderam as perguntas dos fãs durante o painel.

Ann Druyan, Neil deGrasse Tyson e Brannon Braga na San Diego Comic-Con 2013. - Foto: @kimbosliice

Ann Druyan, Neil deGrasse Tyson e Brannon Braga na San Diego Comic-Con 2013. – Foto: @kimbosliice

Também faz parte da equipe de produção Seth MacFarlane, conhecido criador das séries Uma Família da Pesada e American Dad, e do recente filme Ted.

Estreando na primeira metade de 2014, assim como na versão original, serão 13 episódios de uma hora de duração. A série será exibida em 171 países, em 48 idiomas.

O trailer:

Estou na expectativa. E vocês, o que acharam? 😀

Chemtrails x Contrails

Você andando pela rua olha para o céu e vê um OVNI avião comercial.  Você percebe que ele deixa pelo caminho uma espécie de nuvem branca. Você não sabe o que isso é, mas como não pode controlar a curiosidade, ao chegar em casa tenta achar algo sobre isso na Internet. Então, é bastante provável que você acabe lendo algo sobre chemtrails.

Chemtrail (do inglês, trilha química) é uma teoria conspiratória, daquelas bizarras. Os adeptos da conspiração do chemtrail alegam que aviões supostamente comerciais são usados para jogar produtos químicos na atmosfera, com o objetivo de controle climático e populacional.

Spock não vê lógica nos chemtrails.

Não que eu queira tirar o direito de alguém pensar que os Illuminatis, a NWO, ou o governo estão tentando nos matar. Mas acontece que o que os conspiracionistas chamam de chemtrail é um fenômeno conhecido e um pouco mais inofensivo.

Contrail (do inglês trilho de condensação) é o nome daquela trilha de “fumaça” branca que acompanha algumas aeronaves em altitude de cruzeiro. É uma trilha de condensação deixada pela presença do gás quente da saído da turbina do avião em contato com a atmosfera fria. Conspiracionistas dirão que há “diferença” entre contrails e chemtrails. Dirão que os contrails duram poucos segundos, enquanto os chemtrails permaneceriam até por horas na atmosfera. Por isso, entender como os contrails podem ser formados é um passo importante para entender porque os conspiracionistas estão errados.

Os dois principais fatores responsáveis pela formação de contrails são a temperatura e a umidade da atmosfera. Veja o gráfico:

 

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Esse gráfico vai nos ajudar a descobrir quando e como um contrail vai se formar. A área azul é uma região de condensação (mudança de gasoso para líquido), ali os trilhos podem ser formados (carinha feliz). A área cinza é uma região de formação de gelo, é o que define a duração do contrail. E a área branca é uma região de sublimação (mudança de sólido para gasoso), onde nunca teremos a formação de rastros (carinha triste). O combustível do avião é queimado e o escapamento libera o gás da combustão, quente e úmido. Então colocamos nosso avião no canto superior direito do gráfico.

O ponto A no gráfico representa a condição atmosférica na altitude de voo da aeronave (temperaturas abaixo de 0 °C). O material liberado vai começar a entrar em equilíbrio com o ambiente, descendo para o ponto A no gráfico.

Três tipos de contrails podem se formar, dependendo da posição do ponto A, e das áreas que o caminho entre o avião e o ponto A cruza.

 

Contrail de vida curta

Contrail de vida curta

 

Esse é um Contrail de vida curta. Ele vai se formar quando a atmosfera estiver seca (o ponto A está na área branca). No gráfico o caminho da temperatura entre o avião e ponto A passa muito pouco por dentro da área azul, passa rapidamente pela área cinza (pelo tempo de duração do contrail) e sai para a área branca, desaparecendo.

 

Contrail persistente

Contrail persistente

 

Em um Contrail Persistente o ponto A está exatamente na borda que divide a área cinza da área branca (um pouco úmido). No caminho entre o avião e A, há um tempo maior dentro da área azul e da área cinza, tornando o rastro visível por muito mais tempo.

 

Contrail espalhado

Contrail espalhado

 

Em um Contrail espalhado o ponto A está dentro da área cinza (umidade maior). O gelo não vai sublimar e se espalhará pelo céu com características de uma nuvem do tipo cirrus.

Se o caminho não passar pela região azul, então não serão formados contrails.

E ainda pode ficar mais interessante. Se onde você mora é possível ver o trafego de aeronaves, você pode usar o conhecimento sobre os trilhos de condensação para estimar a umidade do ar na altitude de voo em que o avião está. Um ar seco não deixará rastro, um ar um pouco úmido deixará um contrail que logo se dissipará. Caso o contrail persista, temos um ar úmido, e se ele se espalhar pelo céu, significa que o ar está bastante úmido. Faça o teste, acompanhe os contrails por alguns dias e confira com a meteorologia do local. 😉

Um pouco de Física e uma conversa com Albert Fert

Algumas tecnologias surgem para suprir alguma necessidade humana. A necessidade de armazenar cada vez mais pornografia, por exemplo, nos trouxe mídias com capacidades cada vez mais alta em tamanhos cada vez menores. Em algum momento da história, os discos rígidos magnéticos foram dominantes no mercado de computadores.

O funcionamento do HD se baseia em um fenômeno físico chamado de magnetorresistência gigante, descrito em 1988 com uma importante participação do Físico brasileiro Mario Baibich. Em 1997, a Academia Real das Ciências da Suécia premiou a descoberta com o Nobel. Foram laureados Albert Fert, chefe do laboratório francês onde o Baibich fez a descoberta, e Peter Grünberg que obteve os resultados de forma independente na Alemanha.

Peter Grünberg e Albert Fert.

Peter Grünberg e Albert Fert.

Um sanduíche muito, muito fino. Pães de material ferromagnético e recheio de um material não magnético. Nessa configuração, cada um dos pães tem uma orientação magnética para um lado diferente (anti paralelas). Quando sanduíche recebe um campo elétrico externo, as orientações se alinham (paralelas), e a resistência do sistema cai drasticamente. Isso, minha gente, é a magnetorresistência gigante.

Na presença do campo, a orientação é paralela e a resistência cai.

Na presença do campo, a orientação é paralela e a resistência cai.

Na semana passada Fert esteve em Porto Alegre para receber da UFRGS o título de Doutor Honoris Causa. Uma das atividades do Físico francês foi uma especie de encontro com os alunos da Universidade. Uma hora, disponível para responder qualquer uma das nossas perguntas.

Entre perguntas sobre a carreira de físico e a pesquisa que levou ao prêmio, alguns pontos chamaram a minha atenção.

Acho curioso como a opinião do Fert sobre o prêmio seja muito parecida com a do Feynman, que diz no seu livro algo como o Nobel ser quase um fardo a ser carregado para o resto da vida. Fert não vai tão longe, mas nos contou que a posição de “Relações Públicas da Ciência” que assume todo laureado, fez com que ele tivesse que parar de dar aulas, por exemplo, algo que ele diz gostar muito por “renovar o conhecimento”.

Ainda sobre o prêmio, comentou que existem muitos pesquisadores bons que não ganham, e que a pesquisa é emocionante por si mesma, “explorar” o conhecimento é divertido, um Nobel é só “uma cereja no bolo”.

Sobre a pesquisa no Brasil, Fert falou não conhecer muito, mas destacou um ponto que eu confesso nunca ter considerado. O isolamento. Colaboração é importante na Ciência, e estar distante dos grandes centros na Europa e EUA pode ser um dificultador. Fert falou que é muito prático poder sair da França, visitar um colaborador na Alemanha, e voltar pra casa no mesmo dia.

A colaboração com a iniciativa privada também é importante na visão do francês. Ele vê com entusiasmo aplicações práticas para os resultados das pesquisas.

E vocês, o que acham?

Tudo que você precisa saber sobre meteoros HOJE

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Aparentemente, na madrugada de hoje (horário do Brasil) um meteorito caiu na região de Chelyabinsk, Rússia, cerca de 1500 km distante de Moscou. Há relatos de ferimentos causados principalmente por cacos de vidros das janelas quebradas por causa da onda de choque.

Os registros são impressionantes.

Esse é um tipo de evento em que uma onda de desinformação é uma merda um problema. Então, aqui está uma lista de respostas para perguntas que possivelmente alguém deve estar se fazendo agora.

Ainda há risco?

Para ter relação com o evento russo seria necessário algumas condições, como esse meteorito estar acompanhado de outros fragmentos. A principio não é o que aconteceu. Entretanto, o risco sempre existe.

Vi que um asteroide passará perto da Terra nessa sexta. Tem algo a ver com o meteorito russo?

É possível estimar uma possibilidade de órbita do meteorito russo baseado nas posições que as filmagens mostram. Essa seria um orbita diferente do asteroide próximo da Terra (chamado 2012 DA14). Também há uma diferença de tempo entre o horário do choque do meteorito, com a máxima aproximação do asteroide. Isso são indícios de que um não tem nada a ver com o outro.

Qual a diferença entre asteroide, meteorito e meteoro?

Semântica. Asteroide é uma pedra vagando pelo espaço. Meteoro é o efeito visual causado pelo contato dessa pedra com a atmosfera terrestre, e meteorito é o nome dado para a pedra depois que há o choque com o solo. Tomando o caso russo como exemplo, ele foi as três coisas. Um asteroide que entrou na atmosfera da Terra, foi filmado como meteoro, e agora é um meteorito.

Não são pedras, são aerolitos.

E cometas?

Cometas são parecidos com asteroides, mas compostos basicamente de gelo, o que faz com que ganhem a famosa cauda ao se aproximar do sol.

Qual era o tamanho dessa pedra? Desculpe, aerolito…

Isso ainda precisa ser calculado. Baseado em alguma possível cratera ou mesmo restos do meteorito.

Atualização: As estimativas da NASA são de 17 metros de diâmetro e massa de 10 mil toneladas.

Do que ela é feita?

Não dá pra saber sem ver ele primeiro. Mas asteroides em geral são divididos em grupos de composição, sendo a maior parte do tipo condrito. Rochas de silicatos.

Ataualização: Confirmando as estatísticas, o meteorito russo é do tipo condrito ordinário.

Por que ninguém avisou que ele iria cair?

Asteroides são pequenos. Existem dois problemas para achar esse tipo de objeto. Eles refletem pouca luz e ocupam uma área pequena no céu. Os telescópios que procuram por esse tipo de objeto precisam varrer uma área grande, e isso (por questões de ótica) dificulta ver coisas pequenas que estejam longe.

Mas avisaram do asteroide… 

O asteroide é provavelmente maior que o meteorito russo. Talvez tenha ainda um “golpe de sorte” dele ter passado pela área de varredura de um dos nossos telescópios. Mesmo assim, não faz nem um ano da sua descoberta.

Quem busca esse tipo de coisa?

Existem alguns programas ao redor do mundo que fazem a varredura do céu e mapeiam objetos próximos da Terra. Lincoln Near-Earth Asteroid Research, Catalina Sky Survey e Siding Spring Sky Survey  são os programas de maior sucesso. São números que no total passam da casa dos 200 mil objetos. O Catalina, por exemplo, atinge uma taxa de aproximadamente 500 objetos próximos da Terra por ano.

E o Brasil?

O Brasil também possuí um programa de varredura de asteroides. É o IMPACTON.

Você pode garantir que o asteroide não cairá?

Eu, particularmente, não. Mas os cálculos mostram isso, e podemos confiar neles.

Qual a frequência desse tipo de evento?

Asteroides pequenos caem todos os dias. A atmosfera acaba consumindo eles completamente antes que atinjam o solo. São as chamadas estrelas cadentes.

Asteroides de 4 metros caem em média uma vez por ano. Conforme o tamanho aumenta, mais raro de acontecer. Grandes asteroides muitas vezes associados com eventos de extinção em massa costumam aparecer em intervalos de milhões de anos.

Você pode me falar de algum caso recente?

Um caso recente e interessante é o meteorito 2008 TC3 que caiu no Sudão em 2008. Foi o primeiro que foi rastreado desde a determinação de sua orbita, até o local de queda. Os astrônomos puderam acompanhar seu trajeto passo a passo. Estimado em 80 toneladas e cerca de 5 metros de diâmetro o meteoro se desfragmentou durante a queda, resultando em cerca de 600 pedaços somando algo em torno de 10 kg.

Fragmento do meteorito 2008 TC3

Fragmento do meteorito 2008 TC3

Governos escondem informações a respeito de eventos astronômicos que podem por em risco a população?

Não que eu tenha como saber. Mas a maior parte desses dados são públicos, além de astrônomos amadores ao redor do mundo. Eventos como esses costumam se dividir entre aqueles que não temos como prever e aqueles que não temos como esconder. Governos talvez estejam interessados em saber de um potencial asteroide que destruirá a Terra, mas não penso que essa informação não fosse divulgada por alguém.

Esse evento tem algo a ver com a renúncia do Papa?

Não.

Esse evento tem algo a ver com alguma mensagem divina?

Não.

Esse evento tem algo a ver com Aliens?

Err…

NO

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Para outras dúvidas, usem os comentários. 😉
ATUALIZAÇÃO

Alguns leitores querem saber de onde o asteroide que passará perto da Terra poderá ser visível.

De que lugar do mundo é possível ver o asteroide?

O mapa abaixo mostra (em tons de verde) de onde o asteroide será “visível”. Visível aqui quer dizer que ele estará ‘acima do horizonte’, já que o asteroide não pode ser visto sem auxilio de binóculos ou telescópios.

2012da14vis

Gráfico de autoria de Geert Barentsen.

Instituto Brasileiro de Unidades Nonsense #1

Você já deve estar acostumado com aquelas comparações que dizem que “com o prêmio da mega sena você compraria 300 carros populares”, ou que “a energia gasta no evento X seria suficiente para abastecer uma cidade de 10 mil habitantes por três dias”.

Eu gostei dessa aqui:

newsexp

“A quantidade de artefato seria suficiente para explodir até três agências bancárias.”

Não sei quanto a vocês, mas eu não costumo sair por aí explodindo agências bancárias, então a informação não foi muito relevante para saber, afinal, quanto de explosivo havia no local.

Mas a sociedade espera por respostas e eu sou um desocupado, então, declaro aberta a sessão do Instituto Brasileiro de Unidades Nonsense.

Nós não sabemos a quantidade de material que havia lá, nem a composição exata do explosivo. Só nos resta iniciar uma série de suposições.

Vamos supor eram bananas de dinamite tradicionais. Ou seja 20 cm de comprimento por 3,2 cm de diâmetro. Isso dá um volume aproximado de 160 cm³. Multiplicando por 8 bananas (de dinamite) e dividindo por três agências, temos a nossa primeira unidade.

Volume de material explosivo necessário para explodir uma agência bancária (vmeab): 426,6 cm³ 

Agora em embalagem de 4,68 meab

Agora em embalagem de 4,68 vmeab

A próxima suposição será de que as dinamites eram de trinitrotolueno. O famoso TNT. Como nós já definimos o volume de material explosivo necessário para explodir uma agência bancária, basta multiplicar esse valor pela densidade do TNT e teremos a nossa segunda unidade definida:

Massa de material explosivo necessário para explodir uma agência bancária (mmeab): 705,6 g

Não foi por acaso que eu escolhi TNT como o material da nossa hipotética dinamite. Um grama de TNT é 4184 Joules, por definição. Então o IBUN não se esforçará para definir a terceira unidade.

Energia necessária para explodir uma agência bancária (eneab): 2,852 x 10^6 J

Se você não tem ideia do quanto é essa energia, bom, é equivalente a da colisão de um carro popular a aproximadamente 280 km/h.

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***Como vocês perceberam, há um #1 no título do post. Sim, tenho a intenção de criar uma série com comparações e analogias curiosas encontradas em notícias. Mas não garanto que eu vá ir atras disso, então conto com a ajuda, colaboração e solidariedade de vocês. Grato. 🙂

 

Tomara que caia

Acho bastante interessante mulheres em vestido (fica a dica). Não entendo nada de moda, então pra mim só há dois tipos: o tomara que caia e o tomara que tire. Se o desejo implícito no apelido carinhoso dado ao vestido sem alça se realiza, polêmica.

Tricia McMillan, para os íntimos.

Mas por que ele (geralmente) não cai? Diante de uma questão tão importante, obviamente que algum desocupado curioso já tratou de destrinchar os detalhes por trás dessa peça do vestuário feminino. Meninos e meninas, papel e caneta na mão, é hora de Física.

Esse post é baseado em um pequeno artigo do engenheiro Charles E. Siem, com o título “A Stress Analysis of a Strapless Evening Gown” publicado em um livro de mesmo nome. Assumindo que as mulheres não utilizam truques ao usar esse tipo de vestido, o artigo é puramente físico.

Essa figurinha aí (sério, é do artigo) mostra o diagrama das forças que atuam em um tomara que caia.

Começando pela parte de baixo (indicadas por Ya e Xa) considere um pequeno pedaço do tecido. Há uma força W para baixo, o peso do vestido, e uma força V para cima, gerada pela porção de tecido imediatamente acima. Essas duas forças, W e V, se anulam mantendo o vestido em equilíbrio, até a parte de cima, onde o vestido termina e não há mais uma força V para compensar o peso (Yb  e Xb, no desenho). Usando as palavras do artigo, uma mulher abençoada com desenvolvimento peitoral suficiente, conseguirá gerar a força que manterá o tomara que caia em equilíbrio. Caso contrário, essa força terá que ser gerada artificialmente.

Culpem o atrito.

Apenas mais exemplos.

A equação da força de atrito é F = µN, onde µ é uma constante que representa o coeficiente de atrito do material usado para construir o vestido, com a pele da mulher (ou com o material do sutiã). N é a força Normal, que é perpendicular ao atrito. Como  µ é constante, os engenheiros de roupas devem cria-las de modo a aumentar o valor de N.

Um modo de aumentar a Normal é reduzir o diâmetro da região frontal do vestido. Isso significa apertar o vestido contra os seios da mulher, o que pode ser desconfortável.

E se os engenheiros de vestidos a.k.a. estilistas, não tivessem problemas suficientes com esse modelo, alguns deles vem sem tecido na parte das costas.

Estrutura interna de um vestido tomara que caia.

Isso faz com que as forças horizontais F1 e F2 do primeiro desenho não sejam exatamente horizontais, mas inclinadas para baixo, aumentando ainda mais a força W. Não havendo tecido pra envolver o corpo da usuária, o engenheiros devem usar a criatividade para criar estruturas que garantam a sustentação do vestido, sem estragar a aparência.

O autor termina o artigo lamentando que tudo isso seja apenas teórico, já que ele não conseguiu realizar a parte experimental… por falta de voluntárias.

Versão online do artigo aqui.

 

Inspire-se

Sábado, centenas de pessoas acompanharam o passeio da nave Endeavour pelas ruas de Los Angeles. No Domingo, Felix Baumgartner saltou em queda livre de uma cápsula na estratosfera, 39 km do solo.

As imagens dos dois eventos estão logo mais abaixo.

Por um mundo onde lutar por um sonho não é encarado como viver de uma ilusão. Boa Segunda pra você.

Foto: Divulgação

Foto: L.A. Times

Foto: L.A. Times

 

O nosso sinal wow

Jerry R. Ehman, em 15 de Agosto de 1977, detectou um intenso sinal vindo região da constelação de sagitário. Escreveu wow!, batizando aquilo que muitos acreditam ser uma comunicação extraterrestre.

Entre especulações sobre a origem natural ou artificial para o sinal, fato é que ele nunca se repetiu (ou nunca foi detectado outra vez), e talvez, nunca vamos conhecer realmente sua origem.

Em 21 de Setembro de 2012, durante o Simpósio Internacional de Arte Eletrônica, os artistas Nathaniel Stern e Scott Kildall apresentaram o Tweets in Space.

O conceito é simples. Durante meia hora, todos os tweets com a hashtag #tweetsinspace foram armazenados para serem enviados ao exoplaneta GJ667Cc, 22 anos luz distante da Terra, que possuí características favoráveis para a existência de vida.

 

As mensagens levarão 22 anos para chegar até Gliese 667 Cc. Se alguém de lá nos responder, só saberemos daqui 44 anos. Supondo que nossas transmissões (de dados, rádio e TV) tenham capacidade de chegar até lá sem se confundir com ruído, há alguns anos que um suposto habitante poderia nos detectar. Mas se existem seres vivos em GJ667Cc, é bastante provável que não tenham capacidade para nos ouvir, entender, e responder.

O Tweets in Space foi financiado pela internet, nasceu com uma proposta artística, e não científica. Uma arte de humanos, para humanos.

Mensagens com pedidos de ajuda, declarações informais de guerra espacial ou comida preferida. Paz, amor e ajuda, estão no topo da lista das palavras mais usadas. Enviar as mensagens do Twitter para o espaço não deve auxiliar em nada na busca de extraterrestres, mas nos ajuda a entender um pouco mais sobre esses tais de humanos.

No fim das contas, quando estamos conversando com uma civilização imaginária, quando compartilhamos nossos medos, desejos e dúvidas com seres distantes que provavelmente nem existam, estamos na verdade, conversando com nós mesmos.

Talvez, alguém no futuro vai encontrar essas mensagens, e escrever um wow! ao lado delas.