Este é o primeiro posto deste blog. É também o meu primeiro post em um projeto de extensão, com objetivo de divulgar, difundir e discutir sobre Ciências, Geociências e Paleontologia.
Como uma feliz coincidência este blog surge quase um ano após a divulgação do resultado que me fez entrar para o corpo de docentes da UNICAMP. E quase seis meses após a primeira “palestra” que assisti, já como docente, dentro da Instituição. Uma apresentação que está muito relacionada ao blog, a minha ideia sobre o papel da ciência e também sobre o papel de um professor universitário, na minha visão.
A palestra a que me refiro era sobre o livro “A utilidade do inútil, um manifesto” do professor e filósofo italiano Nuccio Ordine. Por coincidência eu já havia ouvido falar do livro, e já estava interessada quando soube que ele ministraria a aula magna de abertura da UFRGS, este ano. Senti orgulho por ter sido aluna da UFRGS (onde fiz toda a minha pós-graduação) na ocasião. E foi por pura contingência que acabei descobrindo que no mesmo dia da aula Magna, o prof. Nuccio viria à Unicamp para falar sobre seu livro. E apesar da chuva, estávamos, eu e mais umas 40-50 pessoas, ansiosos por ouvi-lo. Com maestria, o professor Nuccio foi capaz de transmitir sua paixão sobre arte, cultura e, em especial para mim, sobre as ciências puras, aquelas que não tem aplicação direta, ou que tenham como produto imediato uma aplicação ou o lucro. A paleontologia é uma ciência pura. Quando usada para prospecção de petróleo e gás natural tem a sua aplicação. No entanto, grande parte dos estudos paleontológicos no Brasil e no mundo, são puros.
“A única coisa que não se pode ser comprada é o saber” diz Nuccio quando fala sobre sua produção.
Qual o motivo para se estudar algo que não dá lucro? Por que alguém teria interesse em saber sobre paleontologia? Perguntas comuns para quem resolveu viver estudando paleonto, em meio a uma sociedade que está tomada pela lógica utilitarista. A discussão apresentada pelo prof. Nuccio trata também de justiça, solidariedade, tolerância, direito à crítica e até mesmo de amor. Mas a sua relação com as ciências não aplicadas e também com as artes é inquestionável: o conhecimento, e não o lucro, é a base para uma sociedade que valoriza a cultura, a igualdade e a ética; ele constrói os nossos valores.
Acredito que todos os profissionais que trabalham com ciências puras têm em si um grande amor e dedicação pelo que fazem. Alguns conseguem extrapolar esta extrema reverência pelo conhecimento para além dos termos científicos e se transformam em grandes divulgadores de ciências, tais como Carl Sagan, S.J. Gould, Neil de Grasse Tyson… a maioria, porém (como eu) vivem da ciência e realizam a difusão do seu conhecimento para pessoas de sua própria área; constroem o que o filósofo da ciência, Thomas Kuhn, considera “ciência normal”. Divulgando ciência ou não, criando dados dentro de paradigmas ou derrubando-os, as ciências puras, a paleontologia e a paixão por se fazer o que se gosta andam lado-a-lado. A construção do conhecimento, a descoberta do novo, a explicação de fatos cotidianos ou raríssimos está no âmago dos estudos científicos. É como quando fazemos algo pela primeira vez. A repetição é algo monótono. Tente experimentar pequenos hábitos diferenciados e perceba o quão prazeroso é aprender algo novo, conhecer alguém diferente, criar algo único, e que te simplifique a vida. A ciência está aí para isso. E é a paixão por ela e seus desdobramentos que me move.
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