Arquivo mensais:agosto 2016

Fósseis mais próximos de nós, ou seja, do estado de São Paulo: de 1.700 M.a. até 250 M.a.

A minha intenção é realizar um relato sobre a variedade fóssil do nosso entorno. Assim, vou primeiro fazer um resumo bem geral acerca dos milhões de anos de biodiversidade que ocorrem ao nosso redor para depois ir detalhando essas ocorrências. Então lá vou eu…

Os registros fósseis de vida no nosso planeta datam de aproximadamente 3500 milhões de anos (M.a.**) atrás, ou da forma resumida 3,5 giga anos (G.a.*). Desde então os organismos deixaram registro da sua evolução e interação com o meio físico, dito abiótico. Essas evidências fósseis, conhecidas como registro fossilífero, são mais abundantes do que se pode imaginar.

No Estado de São Paulo, o registro fossilífero se inicia com evidências de um dos ecossistemas, mas antigos, os estromatólitos (ver post da Flávia) de Itapeva, que representam comunidades de procariontes (seres vivos formados por uma única célula que não possui núcleo) que se desenvolveram sob uma atmosfera com baixa concentração do oxigênio, ou redutora, e que habitavam o mar que cobria o estado por volta de 1.700 e 850 Ma.

Muitos milhões de anos depois encontramos fósseis da Era Paleozoica, na qual aconteceu a explosão em diversidade dos seres com mais de uma célula, devido ao incremento do oxigênio na atmosfera, e a geografia era muito diferente da atual, assim como o clima.

Figura 1. Folhas associadas às florestas riparias do início do Permiano no Município de Tietê.
Figura 1. Folhas associadas às florestas riparias do início do Permiano no Município de Tietê.

A Era Paleozoica é dividida em seis períodos dos quais temos fósseis nos dois últimos, que são conhecidos como Carbonífero e Permiano. Contudo, nosso planeta era ainda muito diferente do atual. Começando pela distribuição dos continentes que eram concentrados em dois grandes blocos: um ao norte, denominado de Laurasia; e outro ao sul, o Gondwana. Neste último se encontrava a América do Sul unida à África, junto com a Austrália, a Nova Zelândia, a Antártica, a Índia e Madagascar. Os registros fósseis do Carbonífero e do Permiano que temos no estado podem ser também encontrados em outras localidades do Gondwana e estão relacionados a um extenso período glacial e às mudanças climáticas derivadas do aquecimento posterior.

Figura 2. Lenho de gimnosperma, final do Permiano no Município de Conchas.
Figura 2. Lenho de gimnosperma, final do Permiano no Município de Conchas.

O registro fóssil do Carbonífero é caracterizado por abundantes fósseis pertencentes a vários tipos de vegetação que moravam sob um clima terrivelmente frio (p.ex. Salto, Campinas, Monte Mor), enquanto que o do Permiano, pelo registro de uma variada vegetação (figuras 1 e 2) conhecida como Flora de Glossopteris (p.ex. Taguaí, Piracicaba, Saltinho). Com relação à fauna, também podemos conhecer dos moluscos, artrópodes e vertebrados (p.ex. Rio Claro, Saltinho) que habitavam o mar que na época banhava as praias do estado. Por enquanto, vou deixar por aqui. No próximo texto vem os últimos 250 M.a. e mais fósseis.

* Giga ano, ou bilhões de anos

** Milhões de anos atrás

Texto produzido por Frésia R.S. Branco

Microbialitos – fósseis mais persistentes

Os fósseis são importantes ferramentas para se entender o passado da Terra e a evolução da vida nela. Chamam a atenção por muitas vezes serem bonitos, por apresentarem formatos e espécies não mais existentes que causam curiosidade e aguçam o interesse de pessoas de todas as idades. Porém, nem todos os fósseis são visíveis ou mostram claramente um organismo preservado. Os seres vivos são capazes de deixar seu registro de uma maneira indireta, como se fosse uma assinatura escrito: “passei por aqui”.  Fósseis como estes são chamados de icnofósseis (icno = marca) e podem ser um produto do metabolismo de algum organismo (cocô e xixi, por exemplo), pegadas, bioconstruções, etc.

Figura 1 – Estromatólito de Vazante/MG, Brasil. Este exemplar possui cerca de 1,2 bilhões de anos.
Figura 1 – Estromatólito de Vazante/MG, Brasil. Este exemplar possui cerca de 1,2 bilhões de anos.

Os microrganismos foram os primeiros seres a conseguirem deixar no registro geológico sua marca. Desde os primórdios da vida na Terra, eles foram capazes de deixar bioconstruções chamadas de microbialitos. Estes são formados através do aglutinamento de grãos de sedimento, como areia, na substância mucilaginosa secretada pelas bactérias, o EPS (substância extracelular polimérica), e pela indução da precipitação de carbonato de cálcio devido ao metabolismo delas. Descomplicando um pouquinho, é como se as bactérias construíssem estruturas que mais tarde litificam (viram rocha!). Com o passar do tempo, os microrganismos que ali viviam deixam de existir, ficando somente o registro de sua atividade metabólica, os microbialitos.

Figura 2 – Estromatólitos gigantes de Santa Rosa de Viterbo/SP, Brasil.
Figura 2 – Estromatólitos gigantes de Santa Rosa de Viterbo/SP, Brasil.

Um microbialito pode ser desde um simples biofilme preservado em um substrato (as chamadas MISS – estruturas sedimentares microbialmente induzidas); esteiras microbianas, que são comunidades de microrganismos diferentes vivendo em associação; ou bioconstruções chamadas estromatólitos (figura 1), que podem alcançar até mais de dois metros de altura (figura 2).

Os microbialitos são importantes por diversas razões, além do pioneirismo em questão de registro fossilífero. Eles são excelentes reservatórios de petróleo (vide o petróleo das camadas do Pré-Sal, que estão alojados em estromatólitos), fornecem informações a respeito do ambiente em que foram formados e podem até serem associados ao que se espera encontrar como sinais de vida fora da Terra, como as estruturas “suspeitas” registradas pela sonda Curiosity, em Marte (figura 3), muito semelhantes às MISS observadas em variados lugares da Terra (Noffke, 2015). Salvo a sua diminuição em abundância a partir de 540 milhões de anos atrás, quando os organismos multicelulares encontraram em seus microrganismos formadores uma fonte de alimento, os microbialitos abrangem um grande intervalo no tempo geológico, extendendo sua existência mesmo após todos os eventos de extinção, estando presentes até os dias de hoje.

Figura 3: Comparação de estruturas encontradas em Marte com MISS da Terra.
Figura 3: Comparação de estruturas encontradas em Marte com MISS da Terra.

Referências

Noffke, N. 2015. Ancient Sedimentary Structures in the <3.7 Ga Gillespie Lake Member, Mars, That Resemble Macroscopic Morphology, Spatial Associations, and Temporal Succession in Terrestrial Microbialites. Astrobiology, 15(2): 169-192.