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O BIFE DETETIVE E O REFOGADO LAVOISIER

Lavoisier no bandejão

Quando eu escuto falar de Lavoisier, imediatamente lembro do refogadinho de legumes do bandejão. Sim, lá em priscas eras, no século XX, costumávamos dizer que o tal refogadinho, em geral servido nos jantares do bandeco, eram o reaproveitamento das sobras do dia. Logo, eram a mais perfeito tradução do “nada se perde, nada se cria, tudo se transforma” que havíamos aprendido nos bancos escolares. Em geral, o tal “Refogado Lavoisier” era servido juntamente com o sempre presente “Bife Detetive” – duro, frio e com nervos de aço.

No entanto, o que sabemos de Lavoisier?

Retrato de Antoine-Laurent Lavoisier (1743 – 1794)

Quando pensamos nele para além do refogado do bandeco, o significado de Lavoisier é mais difícil, retirado a fórceps da memória. Por exemplo, Lavoisier negou a noção de “flogisto”, uma noção meio primitiva e esquisita sobre a composição das substâncias. Com isso, estabeleceu as bases da Química Moderna. Descobriu o oxigênio? Foi guilhotinado durante o período do terror na Revolução Francesa?

Em resumo: conhecemos pouco de Lavoisier.

 

 

O “Pai” da Quimica?

A discussão como o ele venceu o debate sobre o flogisto é interessante. Vez ou outra, esta narrativa vem com uma afirmação de que Lavoisier trouxe racionalidade para um debate obscuro e primitivo. Apesar de ser parcialmente verdade, esta afirmação traz um pouco a noção de uma ciência que trazia a Luz contra as Trevas.

Na verdade, a discussão sobre o flogisto foi um debate entre dois paradigmas importantes do século XVIII. Entretanto, nenhum dos lados era “irracional” ou obscuro. Lavoisier tem culpas (e responsabilidades) pela Química Moderna, mas ele não foi o “Pai” da Química, como muitos tentam entender.

Da mesma forma, Lavoisier também fez inúmeras proposição de temas e discussões que não tiveram vida longa no arcabouço da Química. Muitos de seus trabalhos e idéias também foram abandonadas por obsoletos.

Da mesma forma, a sua execução em 20 Floreal Ano II da Revolução (8 de maio de 1794) é tida por alguns como uma prova de que a Revolução Francesa era anticientífica. É um debate posterior, dos séculos XIX e XX, durante o qual diferentes correntes políticas disputaram o significado da Revolução Francesa. Lavoisier, entretanto, foi executado menos por ser um cientista, e mais por ter sido um funcionário do Antigo Regime, cumprindo o odiado papel de coletor de impostos.

Entretanto, Lavoisier foi isso, nada disso e muito mais.

A infância e a juventude de Lavoisier

Antoine-Laurent de Lavoisier nasceu em Paris em 26 de agosto de 1743. Pertencia a uma família rica, que fazia parte da chamada noblesse de robe (em português nobreza de toga). A nobreza de toga eram grupos de funcionários do governo francês do Antigos Regime, que ocupavam cargos na administração ou na justiça. Não eram nobres, mas sim burgueses enriquecidos, que eram acolhidos pelos governantes na administração do Estado.

Por outro lado, sua mãe, Émilie Punctis, era filha de uma abastada família de açougueiros parisienses. Os Lavoisier não eram parisienses, mas sim da pequena Villiers-Cotterets, distante cinquenta milhas a noroeste de Paris. O pai de Antoine, Jean-Antoine Lavoisier, embora de família enriquecida, era um forasteiro em Paris.  Na época, as relações familiares eram tudo. Foi graças aos esforços do um tio, que Jean Antoine alcançou o cargo de procurador do parlamento.

Émilie Punctis morreu quando o pequeno Antoine tinha cinco anos. Com a herança recebida da mãe, o menino se tornou uma pessoa rica. Com isso, dedicou-se a estudar: estudou no College des Quatre Nations, também conhecido como Colégio Mazarin, em Paris. Finalizados seus estudos iniciais, Lavoisier primeiro estudou leis, como seu pai. Ingressou  na ordem na Ordem dos Advogado com a idade de vinte e um anos. No entanto, não tinha a menor intenção de seguir a carreira, embora soubesse da importância do título de advogado na sociedade de seu tempo.

Todavia, seu interesse estava noutro lugar. Seu desejo não estava na carreira de advogado de seu pai, mas sim numa carreira na ciência. E aqui o jovem Antoine inicia sua carreira para se tornar um ícone da ciência moderna. E nome de Refogado.

(continua)

 

O ILUMINISMO E AS TRILHAS NO ALTO DO MORRO

(Este texto é dedicado a Gabriela Medero e Georges Goussetis)

No verão de 1776, Adam Ferguson (1723 – 1816) estava intrigado com algumas coisas que havia verificado ao andar pelo morro de Arthur´s Seat, em Edimburgo.

O morro Arthur´s Seat, em Edimburgo

Arthur´s Seat é uma pequena elevação urbana na parte leste de Edinburgo, próxima ao centro da cidade. As rochas que formam o topo do Arthur´s Seat são de composição basáltica, provenientes do resfriamento de uma antiga câmara magmática. No entanto,  embora essa história respire geologia, não é de basaltos que vamos falar aqui, e sim de Iluminismo.

Um trio de peso
Professor Adam Ferguson, Filosofo e historiador escocês

Adam Ferguson, filosofo e historiador escocês, adorava caminhar no Arthur´s Seat. Nestas caminhaadas deve ter tirado alguma inspiração para sua vasta obra. Nela, Ferguson mostrava seu apreço pelas sociedades tradicionais, como os clãs das Highlands, em contraste com os habitantes da cidades, que considerava mais “fracos. Entretanto, neste verão especifico, ao caminhar pelo Arthur´s Seat, Ferguson observou algumas manchas esbranquiçadas formando “trilhas” com formatos diferentes na vegetação do morro. Intrigado, Ferguson chamou alguns de seus amigos para verificarem o curioso fenômeno.

Os amigos chamados por Ferguson foram os medicos Joseph Black e James Hutton. O trio é um dos mais importantes do chamado Iluminismo EscocêsJoseph Black (1728 – 1799), como Ferguson, era professor da Universidade de Edimburgo, médico e um importante nome da química moderna. Foi ele quem descobriu o dióxido de carbono, em 1754. Entre seus feitos também se destacam a invenção de balanças de precisão e a descoberta do calor latente das substâncias.

Dr Joseph Black, um dos maiores nomes da Química no seculo XVIII

James Hutton (1723 – 1799), médico e cavalheiro escocês, por outro lado, é tido como um dos fundadores da geologia moderna. Tendo estudado medicina na Holanda, Hutton foi sobretudo um fazendeiro. De sua experiencia arando as terras das Lowlands escocesas, Hutton percebeu a relação que existia entre erosão, transporte e deposição de sedimentos.

Assim, Hutton estabeleceu claramente o conceito de ciclos de deposição e erosão, os quais formariam as rochas dos continentes e oceanos. Sua obra mais importante nos dias de hoje, Theory of the Earth, foi inicialmente lida por Joseph Black na Real Society of Edinburgh em 1785. Em 1797, após inúmeras revisões, ela foi finalmente publicada.

As “Trilhas” no Arthur´s Seat
O medico e Naturalista James Hutton, um dos pioneiros da geologia no seculo XVIII

Neste verão de 1776, entretanto, os três amigos estavam ainda pelo morro, verificando as marcas na vegetação, e interrogando diversas pessoas das redondezas. James Hutton, dois anos mais trade, escreveria um pequeno texto, publicado nos anais da Real Sociedade Cientifica de Edimburgo.  O texto se chama “Of certain Natural appearances of the ground of the Hill of Arthur´s Seat”.

Este texto, embora não tenha importância na obra de Hutton, é bastante interessante como um exercício de utilização do método científico. Nele, Hutton inicia a introdução com uma breve descrição do problema. Tratava-se de “trilhas” no morro, formada por plantas mortas e esbranquiçadas. De longe, parecia uma trilha, mas não estava relacionada com as trilhas dos caminhantes. Logo, teria outra origem, e que deveriam ser entendidas.

Ver, analisar, estudar

Por outro lado, as explicações de que tais marcas eram devidas a raios não pareceu suficiente. Hutton então, passa a descrever as marcas: elas ocorriam sobretudo nas partes mais altas do morro, e existiam marcas recentes e marcas mais antigas. As marcas mais recentes eram esbranquiçadas, enquanto as mais antigas eram enegrecidas, causadas pelo apodrecimento das plantas.

Assim, Hutton descreve que as marcas eram compridas, mas poderiam também ocorrer marcas com larguras similares aos comprimentos. As marcas eram paralelas umas às outras, e Hutton examinou algumas marcas de um verde intenso, crescendo junto com as marcas dos anos passados. Assim, lhe pareceu que estas marcas mais antigas eram agora cobertas pela vegetação nova, formando faixas de verde mais intenso.

Contudo, ao estabelecer tal sucessão, Hutton indaga: “quantas trilhas sucessivas poderiam ser detectadas pela observação de suas aparências?”. Depois de suas atentas observações no Arthur´s Seat, Hutton estabelece que “no mínimo” cinco sucessões de trilhas poderiam ser detectadas. Deveria haver mais, mas estas são as que se possui evidências concretas, afirma.

Insetos ou Raios?

Depois de descrever as trilhas, Hutton começa a discutir suas causas. Parece evidente que tal fenômeno ocorreu ali no mínimo, nos últimos oito ou nove anos. Embora muitos naturalistas tenham atribuído estes fenômenos aos trovões, Hutton observa que muitas das feições são formadas na primavera, quando não há tempestades elétricas na região. Também observa que as descargas tem direções variadas, o que contrasta com a similitude das trilhas, com sua disposição paralela umas as outras.

Hutton também considera a possibilidade da ação dos insetos na formação das trilhas. Da mesma forma, considera as possiblidades de colônias de insetos construírem as trilhas paralelas.  Mais uma vez, rejeita, com base nas suas observações, tal possiblidade.

Ao discutir estas possibilidades, Hutton observa: nos métodos de investigação do meio natural, é preciso muito cuidado ao considerar causas e efeitos e suas conexões: ambas as prováveis causas do fenômeno (eletricidades, insetos) estão longe de serem consideradas suficientes para uma adequada explicação do fenômeno.

Ciencia e Causalidade

Assim, Hutton termina o texto sem propor uma explicação para a trilhas de diferente coloração na vegetação do Arthur´s Seat.  Entretanto, é importante sua observação sobre a causalidade dos fenômenos. Quantas vezes atribuímos causas sem levarmos em conta uma correta leitura dos fenômenos? Quantas vezes saímos a dizer nossas verdades “cientificas” penduradas em interpretações parciais e (muitas vezes equivocadas) sobre as relações de causa e efeito dos fenômenos que estamos observando?

Contudo, podemos observar que o texto de Hutton tem uma estrutura parecida com nosso atuais papers: introdução, formulação do problema, descrição dos fenômenos, discussão das causas, conclusões.

Era um tempo de profundo questionamento. Intrigados, os três amigos andam pelo Arthur´s Seat procurando respostas. Estas respostas estão vinculadas a questões de causa e efeito (qual é o agente causador das “trilhas”?). No entanto, as respostas disponíveis não são suficientes. Não se pode ir adiante com estas observações. E fim. Encerra-se uma pesquisa, com dicas e questionamentos para os próximos, a subir nos ombros dos gigantes.

Ah, o Iluminismo!

Neste tempo de “autoproclamados” sábios, de terraplanismo social e de fake News, que falta que você faz…

Para saber mais:

Buchan, James. Capital of the mind. Birlinn, 2012.

Playfair, John. “Biographical account of the late Dr James Hutton, FRS Edin.” Earth and Environmental Science Transactions of the Royal Society of Edinburgh 88.S1 (1997): 39-99.

A visão da terra como um disco achatado girando no espaço

NOTÍCIAS DE UMA TERRA PLANA (1)

A TERRA PLANA VENCEU?
Capa de livro com a figura do planeta como se fosse um plano, com o Polo Norte no centro;
Capa do Livro Astronomia Zetética: a terra não é um globo (1ª edição 1878), de Samuel Rowbothan; hoje à venda nos melhores sites da internet…

Sim, a Terra é plana. Um a um, os argumentos científicos que tentam mostrar que a terra é redonda vão sendo contestados. Cientistas e pesquisadores falham na sua tentativa de convencer os que defendem a Terra Plana e são derrotados. Lacrados, como se diria hoje nas redes sociais.

A partir destas mesmas redes sociais, os grupos que defendem a ideia de uma Terra plana conquistam milhares de adeptos e se tornam influencers na internet.

(Este é o primeiro de uma série de textos que foram elaborados de maneira coletiva. Sua origem foi a partir de uma atividade desenvolvida no segundo semestre de 2018 na disciplina História das Ciências Naturais, do Instituto de Geociências da Unicamp. Neste texto vamos apresentar, primeiramente, alguns conceitos envolvidos na teoria terraplanista.)

NASCE A TERRA PLANA

A origem da mais famosa teoria terraplanista se deve ao ingles Samuel Rowbothan (1816–1884). Rowbothan publicou em 1878 escreveu o livro Zetetic Astronomy: Earth Not a Globe.

foto P/B de Samuel Rowbothan, o pai da Astronomia Zetética,
Samuel Rowbothan (1816-1884), o criador da “Astronomia Zetética”

A “Astronomia Zetética” de Rowbothan foi adotada pela mais prestigiosa organização terraplanista da atualidade, a Flat-Earth Society. Fundada em 1959, esta sociedade em seu site propõe que a Terra seria plana, com centro no polo norte, de maneira semelhante à Projeção Polar.

Para os terraplanistas, o Sol seria um corpo 50km em cima da terra e não ao seu redor. Os eclipses lunares seriam causados por “objetos escuros” que se interpõe entre o Sol e a Terra. Estrelas seriam como lâmpadas de led presas no domo que circunda a Terra Plana.

OS DIAS E NOITES DA TERRA PLANA

Portanto, o Sol e a Lua seriam semelhantes a esferas com tamanhos aproximados de uma cidade. Por outro lado, os dias e as noites seriam definidos a partir do local até onde é possível o alcance dos raios solares na circunferência terrestre.

Seguindo esta mesma perspectiva, as estações do ano seriam variantes de acordo com o distanciamento do Solar sobre o “plano” terrestre. Os astros seguiriam um movimento espiralado, com o inverno correspondendo à maior distancia entre o Sol e a Terra. O verão, por consequência, corresponderia à maior proximidade.

A visão da terra como um disco achatado girando no espaço
A terra vista do espaço segundo a Teoria da Terra Plana

O magnetismo terrestre seria causado por uma montanha magnética, que ficaria localizada próxima ao Polo Norte.

UMA TERRA SITIADA PELA CONSPIRAÇÃO

Os militares americanos estão por toda a borda da Terra, segundo a teoria terraplanista. Esta ocupação se dá para que os cidadãos comuns não possam observar que a Terra é, na verdade, plana. Por esta causa é que a Antártida, onde essas provas existiriam, não seria ocupada senão por militares ou cientistas. No entanto, esta condição de ocupação militar (ou cientifica) secreta não é aleatória. Afinal, como toda boa teoria de conspiração, ninguém pode saber desta ocupação militar. Ninguém, a não ser as cúpulas dos governos envolvidos na conspiração.

Por causa desta grande conspiração é que, para os terraplanistas, a Antártida seria um grande paredão de gelo que “segura” toda a água da Terra.  Segundo  a teoria terraplanista, por conta da neblina austral e de uma limitação do olho humano, não conseguimos ver a borda do planeta. No entanto, podemos argumentar, aviões poderiam ver de cima a esfericidade da Terra. Mas, para os terraplanistas, a esfericidade da Terra que vemos nos aeroplanos é uma ilusão dada pela curvatura das janelas.

NEWTON, SOCORRO!

 Contudo, se voce achou tudo até aqui estranho, se segure. Vai piorar.

Para a Flat-Earth Society, a gravitação universal, que é responsável pela atração de todos os corpos para o centro da Terra, simplesmente não existe. Os terraplanistas justificam que os objetos só se encontram juntos ao chão em decorrência de uma força indefinida. Esta força tem a capacidade de atrair a Terra em um movimento vertical de subida, podendo ser comparada a um elevador infinito. Essa mesma força apresentaria o valor idêntico ao da força gravitacional, isto é, uma aceleração correspondente a 9,8m/s².

Newton e a maçã: a gravitação não existe?

 

Dessa forma, as explicações físicas sobre os corpos, as quais são justificadas pela Ciência que se embasa na existência da força da gravidade  são negadas pelos terraplanistas. Estes acreditam que os corpos seriam  o local onde se encontram os corpos são explicados segundo a densidade dos objetos. Ou seja, os corpos mais leves encontram-se acima e os mais pesados embaixo.

E não adianta argumentar, mostrar provas. Voce será “lacrado” pelos terraplanistas.

AFINAL, É PLANA OU NÃO É?

Entretanto, se você chegou até aqui, é justo perguntar: vocês, autores, acham que a Terra é plana ou redonda? Estaria redondamente enganado (com o perdão do péssimo trocadilho!) quem afirmasse ser a Terra plana. No entanto, neste nosso mundo tão cercado de informação e tecnologia, como existem pessoas que acreditam que a Terra é plana? Afinal, por que os argumentos da Ciência não as convencem?

Nesta série de posts (este é o primeiro) vamos conversar quais seriam as explicações para como chegamos nesta estranha situação.

Se até lá os terraplanistas não nos convencerem que a Terra é plana…

nota sobre os autores:

(este texto foi elaborado por  Marcela Moretti, Natasha Marques De Paula Santos, Gabriel Suzuki, Lucas Rios, Artur Dani, Maria Luiza de Oliveira, Jéssica Aparecida Santos Rodrigues e Jefferson de Lima Picanço)

As duas mortes de Luzia

Oi! Quer saber meu nome? A minha tribo me chamava de Loo-dj-ahn. Mas isso foi há muito tempo atrás, antes mesmo de minha primeira morte. Hoje, pelo que sei, me chamam de Luzia. Acho que é como entendem meu nome. Como soa aos ouvidos das pessoas de hoje. Ou é uma coincidência. Sei lá.

O ENIGMA DA CAVERNA
Este é meu Cranio de verdade; atras, está como vocês imaginaram que eu fosse…

Desculpe se sou confusa, se meu raciocínio é meio falho. De fato, tenho problemas em entender o que é a verdade e o que não é. Sei, pelos relatos que escuto, que hoje vocês também estão com dificuldades de entender o que é verdade e o que é mentira. Escutei estes dias um termo que deixou confusa: Fake News, ou noticia falsa. Vocês acreditam em noticia falsa?

Eu vivi boa parte de minha primeira morte numa caverna. Onze mil anos, se minhas contas estiverem certas. Não sei se vocês sabem, mas quando se vive em cavernas a realidade é meio confusa. Não sabemos ao certo se as sombras que vemos são fantasia ou são realidade. Por muito tempo, achei que as sombras que víamos eram a verdade. Contudo, hoje, sei que eram somente projeções na parede da caverna. Soa meio confuso, mas é assim. É um enigma da caverna. Uma alegoria, como dizem alguns de vocês.

A MORTE DE LOO-DJ-AHN

De qualquer forma, meu nome é Loo-dj-ahn, e eu pertenço aos Humanos. Minha tribo representa os melhores caçadores de nosso lugar. Em nosso falar, humano é “Croovijz“. Por isso talvez vocês outros nos chamem de povos de Clovis. Mas, pensando bem,  pode ser também coincidência.

Não me lembro ao certo como morri. Fui ficando doente, tinha dores de barriga, dor de cabeça, não conseguia mais acompanhar as mulheres. Entretanto, minha tribo tentou me curar com ervas e rezas. Meus olhos foram turvando, turvando, e depois não ouvi mais nada. Quando dei por mim eu já estava dentro da caverna, onde me sepultaram. Meu corpo foi coberto por tintas mágicas para avisar os espíritos ancestrais dos Humanos. No meu funeral, devem ter me virado para o norte, que era de onde haviam vindo nossos ancestrais.

Como já disse, minha primeira morte durou onze mil anos. Há uns poucos anos atrás, o que restou de mim foi encontrado por um povo estranho que tirava seu sustento de desencavar gente de seu tumulo ancestral. Mas, antes disso eu soube que um senhor chamado Peter Lund havia começado a explorar as grutas na nossa área. Ele retirou milhares de metros cúbicos de terra e achou milhares de ossos, de animais e de humanos, que ele remeteu para seu país natal, a Dinamarca.

NUM LUGAR CHAMADO MUSEU

Muitos outros foram resgatados por estes povos escavadores. Entretanto, dos humanos, os Croovijz, só eu. Dos outros povos que habitavam nossa região, como os Larga-ossos, os Bárbaros do sul e os Pega-peixe (esses eram os nomes que nós dávamos a eles), vários foram resgatados.

Fomos levados para um lugar escuro, muito longe da caverna onde me acharam. Lá, fomos iluminados, apalpados, medidos. Contudo, quando começaram a me chamar de Luzia, a principio achei que sabiam minha língua. Mas sabem nada. Falam muita bobagem sobre nós, tentam adivinhar o que éramos e o que fazíamos somente olhando nossos ossos e vendo os utensílios que fazíamos.

Depois, tentaram adivinhar como era meu rosto…erraram feio. Tentaram de novo…erraram de novo. Por que eles querem saber tanto do mim?

A MORTE DE LUZIA

No entanto, eu estava tranquila nesta minha nova vida. Pensavam que, como Luzia, estaria tranquila. Foi quando, numa noite dessas eu vi o fogo. Estava muito quente e podia-se escutar as madeiras do teto estalando. Muita fumaça na sala onde estávamos. Foi quando ouvimos um grande estrondo e o teto desabou. Essa foi minha segunda morte.

Esse lugar que vocês chamam Museu, pegando fogo…essa foi minha segunda morte!

Contudo, minha segunda morte foi mais curta. Cerca de um mês depois, eu comecei a ouvir barulhos, movimento acima de mim. Estavam escavando atrás de meus restos de novo? Que obsessão é esta?

Depois de um tempo, me acharam ali, soterrada sob as cinzas do incêndio. Nunca vi tanto alvoroço. Os caras que estavam escavando gritavam. Alguns choravam de alegria. Eu estava de volta.

O MUSEU E A TRIBO

Soube que o lugar onde estava tinha um nome de Museu. Era um prédio grande e bonito. Mas sempre ouvia falar de problemas. O povo que cuidava de mim sempre reclamava que o prédio estava em perigo. Perigo de quê? eu pensava: de um ataque de bárbaros inimigos? De grandes animais selvagens?

No entanto, parece que eles não tinham recebido muito recurso para manter o Museu. Faltavam recursos para o prédio ser seguro, para evitar incêndios. Depois, os chefes da tribo de vocês não estavam interessados nessa história de Museu. Ouvi que um dos chefes havia reclamado: “Já pegou fogo, quer que eu faça o quê?”.

Preciso dizer que achei esta fala típica de bárbaro, desses bem primitivos. Eles nunca assumem a responsabilidade do que fazem, como crianças grandes. Falam alguma coisa, depois voltam atrás. Querem deixar tudo confuso. Ou não sabem direito o que estão fazendo. Minha segunda morte tem a ver com essa confusão dentro da tribo que me resgatou da caverna.

A VIDA É CURTA…

Agora, estou esperando ser reconduzida à minha sala tranquila. Lá, dezenas de pessoas passavam admirando meu esqueleto e vendo o modelo de meu rosto. Contudo, eu sei que ele não é meu verdadeiro rosto. Eu também bem sei, no entanto, que nunca vão adivinhar como era o meu verdadeiro rosto. Mas eu sinto um certo orgulho deste rosto eu virei.

à direita, o paradigma antigo; à esquerda, o paradigma atual…vocês continuam errando…

Os barbaros que me desencavaram  dizem que sou um dos humanos mais antigos do país deles. Me admiram. Os bárbaros que cuidam de mim me tratam muito bem. Entretanto, os chefes da tribo deles, não ligam para ossos de gente. Ouvi dizer que eles gostam de uma coisa chamada dinheiro. Por esse tal de dinheiro brigam o tempo todo. Algumas vezes, se matam.

Contudo, não sei o que aconteceu com minha tribo. Sinto saudades deles. Mas ao mesmo tempo admiro esta tribo barbara que tanto empenho tem de cuidar de mim. Apesar dos chefes que eles escolhem para eles mesmos. Podem me chamar de Luzia. Loo-dj-ahn já morreu uma vez. Luzia, outra. Espero ainda durar mais um pouco, ver mais algumas coisas, aprender.

Mas o que se pode esperar mais de uma curta vida de onze mil e poucos anos?

 

PS – agradeço à Gustavo Teramatsu por me alertar sobre o novo paradigma do rosto de Luzia

Política e Ciência: Newton morde a maçã

Não se pode pensar Ciência sem Política. Ciência pressupõe pesquisa, busca, invenção. Politica significa antes de mais nada fazer escolhas. No mundo em que vivemos, uma convive com a outra, se interconecta com a outra. No Brasil também sempre foi assim, com as suas peculiaridades. Existem muitos problemas a serem resolvidos e enfrentados usando ciência e usando política. Isso é fazer política. E isso também é fazer ciência.

CIÊNCIA, NEWTON E A MAÇÃ

Uma maçã caindo no chão é somente uma maçã. Para que essa maçã vire ciência, é preciso Newton observando a maçã cair. Para que Newton observe a maçã cair e isso vire ciência, Newton precisa subir no ombro de gigantes: isso pressupõe escolas, professores, despesas com educação. E isso é política: escolhas que devemos ter sobre quais escolas, quais professores e qual financiamento devermos controlar para que possamos ter Newton vendo a maçã cair e isso vire ciência.

Newton e a maçã: uma alegoria (e uma lenda) da Ciência…

Você não precisa de ciência para viver. Isso é uma escolha. Política. Podemos viver naturalmente, tendo o que a natureza nos dá. Alguém se habilita? Nós também não precisamos fazer Ciência. Se tivermos recursos, comprar ciência, comprar tecnologia. Como fizemos no passado, podemos vender borracha e comprar pneus. Vender ferro e comprar navios. É uma escolha política sem muitos riscos. Claro que continuaremos pobres. Alguns, que possuem o seringal e a mina de ferro, viverão confortavelmente. Aos demais, restará o trabalho duro e uma subsistência difícil. Mas, como sempre, é uma escolha política da ciência que queremos ter em nossas vidas.

QUE CIÊNCIA QUEREMOS?

Mas, e se nós quisermos ter Ciência? Ciência de verdade? Que tal não viver com a lenda de Newton e a maçã, a qual, como já mostraram seus biógrafos, não passa de uma lenda? O que precisamos para ter nosso próprio desenvolvimento cientifico? O que precisamos para vencer nossos problemas de educação, saúde, produção industrial, produção intelectual?

Não existe milagre na ciência. Ciência requer trabalho. Leitura, estudo, experiencia. Como recentemente disse uma colega, horas-bunda na cadeira. E isso requer que tenhamos pessoas que façam isso como profissão. Pessoas que possam cada vez mais viver disso. E que tenham condições de fazer suas pesquisas, discutir livremente os seus resultados e suas ideias com outros cientistas, com os políticos, com a sociedade.

QUE CAMINHOS TRILHAR?

Todos os países que tem um nível razoável de vida para seu povo fizeram e fazem isso. A Inglaterra, desde o século XVIII tem uma cultura de manutenção e financiamento de pesquisas. A Alemanha, desde que era Prússia, reformulou a sua universidade a partir de 1811 e num século deixou de ser um país atrasado que era para se tornar uma potencia mundial.

No século XX tivemos a Coreia, um país pobre e arrasado por guerras. Em 1960, os índices de vida e renda da Coreia eram inferiores aos do Brasil. No entanto, o país investiu firmemente em educação e hoje é uma das principais potencias industriais do planeta.

Tudo isso são escolhas. Tudo isso é política. A forma como escolhemos nossa Ciência, por outro lado, impacta nossa maneira de ser e estar no mundo.

O BRASIL CONSTRÓI SUA CIÊNCIA

Nos últimos 100 anos, o Brasil também investiu em ciência. Neste tempo, erradicamos diversas doenças de nossas cidades. Ainda falta muito, mas a medicina brasileira progrediu. Hoje, conquistamos, com ajuda da ciência, solos que até então não eram férteis, e os fizemos produzir. Se hoje há agronegócio no Brasil, é porque houve pesquisa agropecuária, é porque houve a Embrapa.

No início do século XX, éramos um país que não conseguia se desenvolver porque não tínhamos fontes de energia suficientes e boas. Hoje, graças ao esforço de varias gerações de geólogos, temos uma reserva de petróleo das maiores do Mundo, a qual só é possível explorar com altíssima tecnologia.

Tá OK. Mas e a parte vazia deste copo?

Ainda precisamos avançar. Como ter uma indústria competitiva e inovadora? Como ter uma Ciência de alto impacto? Como resolver os grandes problemas de nossa sociedade, como saúde, segurança, trabalho? Como resolver isso?

POLÍTICA E CIÊNCIA. CIÊNCIA E POLITICA

Precisamos de uma politica que invista mais, e não menos, em ciência. Se queremos realmente um futuro, devemos plantar as sementes hoje. Investimos pouco, e mal. Nossa despesa com ciência em 2015 (um ano ainda “rico”) foi de U$199 dólares por habitante. Empatamos com a Turquia. Perdemos feio para os países do Leste Asiático, Europa, América do Norte.

E isso apesar de termos uma das maiores comunidades cientifica da América Latina. Uma comunidade briosa, que vem aumentando sua participação no quinhão da ciência nos últimos 15 anos. Mas que, como uma flor sensível, ainda corre sérios riscos.

A participação publica vem diminuindo sua participação no financiamento da ciência desde 2015. E a política, que poderia trazer soluções, só nos tem trazido pesadelos. Claramente, ciência e a tecnologia não são prioridade de governo. As ameaças vêm de todos os lados.

PARA ONDE VAMOS?

Há os que sonhem com uma ciência sem estado. Houve o assessor de um candidato que chegou a dizer que “as pessoas subestimam o poder da filantropia”. Com isso, o douto senhor está nos dizendo que a contribuição privada para a ciência era uma fonte que nós não exploramos direito. Por outro lado, o financiamento privado é hoje irrelevante no financiamento da ciência.

Entre os candidatos a presidente, qual deles menciona em seu programa a palavra ciência? E dos que o fazem, quais deles confundem ciência com ensino? Embora sejam parceiras, ciência e educação são coisas distintas, com pautas necessidades distintas. Não se faz ciência tirando dinheiro do ensino.

A política vai ditar a ciência que queremos. Será que vamos escolher seguir um caminho de mais financiamento e uma busca maior de eficácia na resolução de nossos problemas? Ou será que vamos achar que não precisamos fazer ciência?

São Heisenberg, rogai por nós!

O MUSEU, VOCÊ E EU

UMA TRAGEDIA ANUNCIADA

Todos estão chocados e boquiabertos com a tragédia do Museu Nacional. O incêndio, que durou somente algumas horas, destruiu um patrimônio que levou mais de 200 anos para ser juntado. Em termos do valor que se perdeu, como muitos disseram, não há como calcular. É como se perdêssemos a maior parte de nossa memória de uma vez, de maneira irrecuperável. Podemos usar os fragmentos, podemos começar tudo de novo a juntar mais memória. Mas a que se perdeu, se perdeu.

As chamas consumindo o valiosíssimo acervo do Museu Nacional no Rio

Outros ficam chocados com as condições do Museu. Soubemos, pela imprensa, que o Museu Nacional estava sem recursos. Estava sem condições de sobreviver, o que fazia de maneira precária. Só faltava, mesmo, um acidente para acontecer a tragédia. E e tragédia veio, em sua forma mais cruel, na forma de um incêndio. O incêndio do Museu Nacional é, sem sombra de dúvida, somente mais uma das tragédias anunciadas de nossa cultura.

OUTROS INCÊNDIOS

Outros ainda lembram de incêndios recentes que destruíram parte significativa de nosso patrimônio cultural: Museu da Língua Portuguesa (2015), Instituto Butantan (2010), Memorial da América Latina (2013) e Cinemateca (2016). Sem contar o incêndio do MAM em 1978, que destruiu boa parte de um acervo riquíssimo.

Os incêndios são fenômenos aleatórios. O que define nossa resiliência a eles é nossa capacidade de enfrenta-los. O mesmo fogo, num museu com estrutura, não passaria de uma queimadura leve, dessas vermelhidões de sol na pele. No entanto, nosso descaso e falta de preparo fazem com que qualquer fagulha cause uma tragédia de grandes proporções,

POR QUE OS MUSEUS PEGAM FOGO?

Segundo os especialistas, acidentes nestas instituições tem como causa deficiência orçamentária, infraestrutura precária e equipes de trabalho especializada com numero abaixo do numero ideal. Nossas instituições de uma forma ou de outra, sempre tem um ou mais desses problemas. Na Unicamp, só para dar um exemplo, tivemos, uma grande discussão recente sobre estes temas. Embora algumas soluções provisórias tenham sido alcançadas, a maior parte delas continua sem solução.

Mas o que me deixa mais triste não é a aparente falta de visão dos governantes, O que me deixa mais triste é saber que a falta de visão dos governantes reflete um quadro ainda mais sombrio: vivemos numa sociedade inculta e que não vê um valor na cultura. Por isso, nossos museus são poucos, precários e vazios.

O INCÊNDIO E A REVOLTA

A nossa população não cobra dos governantes cuidado com a memória. Os motivos são os mais diversos, e é claro que a falta de cultura não é um projeto dos explorados, mas dos exploradores. Mas é importante salientar que somos sim, por ação ou omissão, um povo que, por falta de cultura, não se importa em fazer dela um valor. Este círculo vicioso faz com que nossa rica cultura se perca, se esvazie, se deteriore. Ou se queime.

A pesquisadora Aparecida Vilaça escreveu que, ao ver o esqueleto do museu destruído pelas chamas, ela viu a imagem de alguém se imolando, ou seja, alguém que coloca fogo no próprio corpo em protesto. Uma revolta por tantos anos de maus tratos e descaso. As imagens que circularam eram cruéis, mostrando as cenas de desolação causadas pelo fogo.

Quem sabe se a imolação do Museu Nacional faça com que nossa visão sobre os museus, os institutos de pesquisa e arte sejam mais valorizados. Que as pessoas tenham por hábito visitar Museus, Exposições e Centros de Cultura. E que esse hábito possa fazer com que a população cobre de nossos governantes o respeito que nossa Cultura merece.

OS POLÍTICOS NÃO TEM VISÃO?

Vi também que poucos candidatos à presidência tem um programa de cultura. Existem candidatos que afirmaram que a tragédia “agride a identidade nacional” e disse também que “é dever resgatar o compromisso de zelar permanentemente” pela preservação do patrimônio. Mas, quando foi governo, este mesmo candidato deixou estas instituições à míngua.

Outro candidato ainda, quer relegar a Cultura ao status de Secretaria em seu governo. Não se pode acusar este candidato, aliás bem posicionado nas pesquisas, de incoerente. Em seu programa, realmente, ele não faz qualquer referência à Cultura. Na certa, se alguém falar a ele sobre Cultura, ele puxa o revólver…

A TRAGEDIA DA NOSSA CULTURA

Estes políticos dizem essas leviandades porque nós os autorizamos. Nós não nos importamos, sejamos francos. Nós não valorizamos a nossa própria cultura. Por isso, pense sobre o que você e eu estamos fazendo com a Cultura em nosso país. Pense no quanto você defende isso como uma política, como uma ação efetiva. E pense o quanto nós cobramos de nossos governantes ações efetivas a este respeito. E faça. Façamos.

Da mesma forma, vá a museus, visite exposições. Participe de atividades de crowfunding cultural. Valorize quem trabalha com a Cultura. Valorize-se.

Ou queime, inapelavelmente, como todos nós brasileiros nos queimamos, nas chamas da Quinta da Boa Vista.

Não há segunda chance para um povo sem memória.

Fazer Ciência no Brasil: a que será que se destina?

Fazer Ciência no Brasil nunca foi fácil.

No entanto, sem Ciência o Brasil não existiria. Como pensar o país que temos e queremos sem Ciência?

CIENCIA E DESCOBRIMENTO
Jean (ou Nicole) D`Oresme, provando, no seculo XII,que a Terra era redonda…

Sem os avanços tecnológicos do fim da Idade Média, por exemplo, a expansão europeia não aconteceria. Com a introdução da bússola e da pólvora (invenções chinesas) e sem o avanço técnico da navegação jamais Cabral aportaria aqui.

E não só isso: sem os grandes cartógrafos e matemáticos, como Jean de Oresme e outros, Colombo não saberia que a terra era redonda. Ficaria lá na sua Gênova natal dando milho aos pombos(aliás, nem milho, porque o milho é americano..). O mundo jamais poderia ser cartografado, como o fez Mercator.

CIÊNCIA E COLONIZAÇÃO
Os métodos de pesquisa de minerais seguiam os preceitos da alquimia e da astrologia, alem da procura dos sinais da natureza. ilustração do De Re metellica (1556) de Georgius Agricola (1494 – 1555)

Os avanços da maquinaria durante o Renascimento é que permitiram a instalação dos primeiros engenhos de cana que fizeram a riqueza nos primeiros anos de Brasil. Sem os conhecimentos técnicos de mineração, tanto europeus quanto indígenas, as jazidas de ouro e prata das Américas jamais teriam sido riquezas.  Para isso foram importantes o conhecimento de pessoas como Georgius Agricola, Martine de BertereauBartolomeu de Medina, entre outros.

No século XIX os solos de São Paulo foram exaustivamente pesquisados para melhor acolher as lavouras de café. A Comissão Geográfica e Geológica de São Paulo, liderada por Orville Derby pesquisou exaustivamente os rios e cachoeiras paulistas para determinar seu potencial para a produção de energia elétrica. Ciência para alavancar a agricultura e a indústria.

CIÊNCIA E DESENVOLVIMENTO

Inúmeras pesquisas foram feitas para achar carvão mineral no Brasil. Nosso carvão era (ainda é) pouco e ruim. É o que temos para hoje. Mas isso não é culpa de Wagoner, Francisco de Paula Guimarães e outros que o pesquisaram. Nosso ferro foi trabalhado com carvão vegetal, com custos ambientais muito maiores e com eficiência menor. Graças aos esforços de homens com Varnhagen, Bloem, e Mursa  no século XIX, temos uma produção siderúrgica respeitável.

No século XX o Brasil se industrializou. Para isso foi necessário construir estradas, ferrovias, melhorar os portos. Nossa engenharia foi convocada e deu conta do recado. Ainda falta muito a se fazer, mas não é por culpa da Ciência ou da Técnica.

SER CIENTISTA NO BRASIL
Orville Derby, ainda moço, quando veio ao Brasil pela primeira vez; depois, comandaria a Comissão Geografia e Geologia que desbravou e fez o reconhecimento cientifico do interior paulista requerido pela pujante cafeicultura.

O cientista brasileiro sempre foi um ser bizarro e raro. Na Colônia e no Império, os poucos que entre nós haviam estavam sempre sobrecarregados. Além de seu trabalho de pesquisar, estudar e ensinar, também tinham que cuidar dos serviços públicos, do governo e até da aplicação das leis.

Além de ser um Filósofo Natural importante na Minas Gerais dos Setecentos, Simão Sardinha foi encarregado também de prender o célebre facínora Cabeça de ferro (dá pra colocar isso no Lattes?). Desviados de sua atividade científica para os necessários labores do país que então se fazia temos nomes ilustres, como José Bonifácio e o Barão de Capanema, entre tantos outros.

UMA CIÊNCIA NACIONAL?

Ao longo do século XX esta Comunidade Cientifica brasileira cresceu e se especializou. Somos um grupo importante da Ciência Mundial. Mas fazer Ciência no Brasil não é fácil. Temos os nossos problemas, as nossas deficiências. Mas estamos aí, trabalhando duro, fazendo muito com pouco, fazendo Ciência e formando gente qualificada.

Uma Ciência Nacional, pensando os interesses do Brasil foi responsável, entre outras coisas, pela erradicação das doenças tropicais no século XX, com Vital Brasil e Oswaldo Cruz, Carlos Chagas . A ciência no Brasil sempre foi, ao contrario do que se pensa,  uma Ciência aplicada, de resultados. Nossa realidade nunca nos permitiu torres de marfim.

Contudo, temos as maiores safras agrícolas do mundo, conquistando solos que seriam impensáveis há poucos anos, por causa de nossa pesquisa agropecuária, com destaque para a Embrapa. No início do século XX, por outro lado,  conseguimos alcançar as jazidas de petróleo em grande profundidade, graças aos esforços dos geólogos da Petrobrás, liderados por Guilherme Estrella.

FAZER CIÊNCIA NO BRASIL

A Ciência Brasileira contribuiu enormemente para que o país crescesse tivesse o destaque que teve. Alguém vai dizer que termos uma ciência pobre, subdesenvolvida. Claro que é. É possível uma ciência desenvolvida num país subdesenvolvido?

Ao contrário, todo país que se desenvolveu e se tornou um país dinâmico e complexo o fez porque tinha a sua ciência. Vejam a Alemanha e os Estados Unidos no século XIX. TAmbem são exemplos notaveis  o Japão e os demais países asiáticos no presente. Basta olhar mais de perto estas sociedades para ver se algum deles prescindiu de uma ciência forte. Vejam a China, a Coréia.  Em cada um haviam cientistas. Foram comunidades que plantaram e protegeram a planta tenra e frágil da ciência, para depois colher os frutos da grande arvore que ela depois se transformaria.

UM SALTO PARA TRÁS

No entanto, em anos recentes a Ciência Brasileira estava para dar um salto para frente. Além de crescer, aumentar seu impacto. Estávamos conseguindo nos impor no cenário mundial. Entretanto, vieram os cortes nas verbas de pesquisa. Estamos retrocedendo. A planta da Ciência Brasileira precisa de água para voltar a crescer.

Contudo, mais preocupante que isso são os discursos que dizem que não precisamos de Ciência no Brasil. Que fazemos ciência inútil. Por certo, alguns desses ignorantes devem ainda achar, contra todos os sábios medievais, que a terra é plana. Só pode ser isso. Ou que as espécies não se transformam e mudam. Ou que os continentes não se movem.

EXISTE?

Pior, alguns ignorantes dizem que não existe Ciência no Brasil. Entretanto, dizem por dizer, como sempre, levianamente a falar de suas pós-verdades. É uma gente que vira as costas para o futuro, ignorando uma pujante comunidade cientifica

que vai, aos trancos e barrancos fazendo seu papel, contra tudo e contra todos.

Nunca foi fácil fazer ciência no Brasil.

Mas pensem no que seria um país sem ciência.

 

PS – Daí porque é necessário Historia da Ciência: entender que construir uma Ciência Nacional leva seculos de esforço e luta contra as trevas e a ignorância ; essa luta não acaba nunca…. 

SHE SELLS SEA SHELLS ON THE SEA SHORE

É de manhã cedo. O mar está calmo, e a maré baixa. Na grande falésia branca da praia de Lyme Regis, em Dorset, na Inglaterra, um grupo de pessoas está trabalhando nos rochedos. Usando martelos e picaretas, eles cortam o paredão em busca de fósseis. Entre eles está uma mulher. Mary Anning, acompanhada de seu cãozinho vira-lata Tray, está protegida do frio e da maresia usando roupas largas. Na cabeça, usa um chapéu de palha amarrado no pescoço para não ser arrancado pelo vento do mar .

Praia de Lyme Regis, Dorset, onde Mary Anning viveu e “caçou” diferentes tipos de fósseis…
FÓSSEIS PARA (SOBRE)VIVER

Mary Anning (1799-1847) é a chefe do grupo de coletores de fósseis. Dona de uma pequena mas bem sortida loja, ela é uma das maiores fornecedoras de fosseis para colecionadores e museus de toda a Europa. Mesmo dos Estados Unidos vem pesquisadores e colecionadores para ver – e comprar! – suas preciosidades.

Mary Anning (1799 – 1847) e seu cãozinho Tray, A pintura é de 1842.

De origem humilde, a família de Mary Anning começou a coletar fosseis para complementar a parca sobrevivência. No entanto, seu pai Richard, sua mãe Molly e seu irmão Joseph também eram exímios coletores de fosseis. Entre os fosseis mais importantes que coletaram estão os famosos esqueletos dos plesiossauros, grandes lagartos marinhos.  Hoje, boa parte dos fosseis coletados por Mary Anning e sua família estão expostos no Museu de História Natural em Londres. Da mesma forma, na França, na Inglaterra e na Alemanha, quase todos os grandes Museus de História Natural têm fósseis  coletados por ela.

Mesmo sem uma educação formal, Mary Anning chegou a participar da construção da Paleontologia moderna. No entanto, ela chegou mesmo a participar de alguns debates,  corrigindo algumas distorções e classificações incorretas. Dona de um saber prático, Mary Anning ajudou muito neste estagio embrionário da paleontologia.

DORSET NO JURÁSSICO

Embora tenha chegado a ter uma loja, vendendo fosseis para toda a Europa, Mary Annning sempre passou por varias necessidades financeiras. Para tanto, várias pessoas ao longo de sua vida, penalizadas com as duras condições de Mary Anning e sua família, fizeram subscrições para ajudar.

 

Duriea Antiquor (Dorset antigo) de Henri de la Beche (National Museum of natura History of Wales). A luta fictícia entre o ictiossauro e o plesiossauro ficou tão famosa que Julio Verne a incluiu em seu “Viagem ao Centro da Terra”.

Entretanto, uma das mais criativas e interessantes subscrições foi feita por um grande amigo de Mary Anning, o geólogo Henri De La Beche. Bom desenhista e caricaturista, De La Beche desenhou uma gravura cujas vendas pudessem ajudar financeiramente Mary Anning, já então bem doente de um câncer de seio. Contudo, a gravura, intitulada Duriea Antiquor (“Dorset antigo” em latim), retrata com precisão e bom homor qual teria sido, há milhões de anos atrás, a vida dos fósseis coletados por Mary Anning.

Bem desenhado e bem elaborado, Duriea Antiquor é um dos primeiros e mais importantes desenhos sobre o mundo anterior aos humanos. Contudo, a sua representação da vida no jurássico até hoje é uma das mais influentes da paleontologia. A gravura até hoje baliza a maneira como representamos até hoje a vida antiga na  Terra.

VENDER CONCHAS DO MAR NA BEIRA DO MAR…

A vida e os perrengues pelos quais passou Mary Annning dariam um poema. Ou um livro. Ou um filme. Ou tudo isso.

No início do século XX o escritor inglês H. A. Forde  publicou “The Heroine of Lyme Regis: The Story of Mary Anning the Celebrated Geologist”. Baseado no relato de Forde, muitas histórias inspiracionais sobre Mary Anning foram escritas. Entretanto, talvez ela seja também a inspiração para o poema – e terrível trava-línguas –  que todos os estudantes de inglês língua estrangeira se confrontam:

She sells seashells on the seashore
The shells she sells are seashells, I’m sure
So if she sells seashells on the seashore
Then I’m sure she sells seashore shells.

MERYL STREEP?

Em 1969 outro escritor inglês, John Fowles, escreveu um romance histórico chamado “The French Lieutenant´s Woman” (a mulher do tenente francês). Contudo, na história de Fowles, está patente a denúncia do preconceito de classe e de gênero que  Mary Anning sofreu. Mesmo tendo ajudado tantos cientistas, ela nunca ficou, em vida, com a fama da descoberta. O único que homenageou Mary Anning durante sua vida, entretanto, foi o zoólogo franco-suíço Louis Agassiz, que a conheceu pessoalmente em 1834 e nomeou duas espécies de peixe com seu nome.

O livro de Fowles foi um grande sucesso de público e crítica. Em 1982 foi adaptado para o cinema pelo teatrólogo e roteirista Harold Pinter, e dirigido por Karol Reisz. Como protagonistas, ninguém menos que Meryl Streep e Jeremy Irons. Da mesma forma, o livro também virou peça de teatro de grande sucesso.

Poster do filme “A mulher do tenente francês”, de 1982, com Meryl Streep e Jeremy Irons. A historia é livremente baseada na vida de Mary Anning
UM GRANDE VULTO DA CIENCIA

Entretanto, em 1999, bicentenário de seu nascimento, houve um grande evento em seu nome na praia de Lyme Regis. Da mesma forma, em 2005, o Museu De História Natural de Londres incluiu seu nome ao lado de outros grandes vultos da ciência. Nesta exposição, ela está ao lado de personalidades como Carl Linné  e William Smith.

Mary Anning morreu em 1847, vítima do câncer. Ela viveu toda a vida entre os penhascos de Lyme Regis, escavando a lama do mar jurássico em busca de fosseis para sobreviver. Mas, inadvertidamente, foi uma das maiores paleontólogas de todos os tempos.

Contudo, Mary Anning nos desvendou os abismos do tempo e os fantásticos animais que o habitaram. Desta forma, para ajudá-la foram feitas as primeiras representações sobre o mundo antigo que conhecemos. Foi vítima do preconceito de classe e de gênero. No entanto, Com sua vida, inspirou muitas outras.

Mary Anning é tanta inspiração que ultrapassou a Ciência. Mary Anning é pop. Foi livro, peça, filme. Virou até trava-línguas!

Não é pra qualquer um…

Rodólitos: bolas fósseis, embora não de futebol

Esta semana lembrei do meu aluno que passou um bom tempo estudando comigo os organismos e minerais associados aos Rodólitos… será que ainda lembra deles? Também lembrei da vez em que tentei brincar com um rodólito na aula de Paleontologia acerca de recifes e, como não consegui pegar de volta na mão, um belo exemplar se espatifou no chão, e aí a turma toda parou para rir. Mas o que são os rodólitos? São algas vermelhas (Corallinales, Rhodophyta) calcárias, não articuladas, que habitam os mares do nosso planeta de forma extensiva desde as latitudes equatoriais até as polares, ocorrendo a partir das zonas de marés, até profundidades de 268 m. Uma das tantas curiosidades dessas estruturas é que as algas vermelhas possuem uma maior quantidade de carotenoides, que permitem utilizar mais intensamente a radiação azul para realizar a fotossíntese. Esta característica é importante porque a radiação azul penetra mais profundamente na água, permitindo que essas algas façam fotossíntese a profundidades maiores. Uma vez que os carotenoides refletem a radiação vermelha, essas algas possuem coloração avermelhada, diferente das plantas verdes que habitam a superfície que utilizam também a radiação vermelha para realizar a fotossíntese, refletindo a radiação verde.

Rodólito coletado na Ilha de Itaparica, BH. Barra de escala = 1 cm

O que poucos sabem é que na costa brasileira está localizado o mais extenso e contínuo banco de rodólitos do mundo, com cerca de 4.000 km, indo do Maranhão até Rio de Janeiro. Desse banco de rodólitos faz parte o arquipélago de Abrolhos, no litoral sul da Bahia, o qual eu quero muito conhecer já faz um bom tempo. Com relação à espessura desse enorme banco, ela geralmente varia entre 10 e 26 cm, chegando até 1 m de espessura em alguns locais. Na costa brasileira são encontrados verdadeiros mantos de rodólitos no topo e na margem de recifes e em depósitos isolados no fundo não consolidado.

Bancos como esses podem gerar rochas reservatório de petróleo, além de ser uma enorme fonte de calcário (CaCO3) e, portanto, um importante agente de sequestro de carbono na crosta terrestre.

Além de tudo isso, esses bancos são um paraíso de diversidade marinha, pois eles são constituídos por várias espécies de algas calcárias, que estão entremeadas em camadas juntamente com outros organismos incrustantes (p. ex. foraminíferos, poliquetas, etc.).

Rodólito
coletado na Praia de Maragoji, Alagoas. Barra de escala = 1 cm

As algas calcárias vermelhas, ao constituírem os rodólitos, podem modificar fisicamente o ambiente, pois são capazes de transformar o sedimento de fundo não consolidado em substrato duro e heterogêneo, produzindo um substrato firme sobre o qual outros organismos podem vir a se fixar. Seu registro geológico é continuo e bastante abundante a partir do Paleoceno (60 milhões de anos atrás), e seus fósseis podem ser encontrados em todos os continentes, embora eles não sejam tão famosos como os dos dinossauros e, portanto, desconhecido.

Uma vez que um mesmo rodólito por alcançar diâmetros semelhantes ao de uma bola de futebol, e que por apresentar crescimento continuo, porém lento (1 mm/ano), o mesmo exemplar pode sofrer a agregação de algas calcárias, além de outros organismos e sedimentos minerais ao longo de um século, compondo verdadeiros livros abertos ao estudo das mudanças ocorridas nos mares, pois camadas ou mantos de rodólitos possuem registros das variações climáticas ocorridas durante o seu desenvolvimento, já que mudanças de distribuição de luz, temperatura, turbidez, salinidade, pH, nutrientes, soterramento, etc. influenciam diretamente no seu crescimento. Dessa forma, períodos com temperaturas mais altas das águas marinhas induzem a maior precipitação de carbonatos e, portanto, um aumento sensível na sua espessura. Uma vez que seu desenvolvimento acontece de forma concêntrica, as camadas mais internas podem ser consideradas mais antigas e externas mais recentes, o que faz possível realizar datações utilizando métodos como C14 pelo menos até 60.000 anos atrás.

Mas como achar uma estrutura dessas? Com certeza quem já foi na praia no Brasil, já topou, ou quem sabe até chutou uma estrutura dessas. Elas muitas vezes são encontradas nas praias, pois como não se fixam ao substrato, podem ser facilmente transportadas pelas correntezas marinhas até a praia, de onde podem novamente ir para no fundo do mar.

 

 

Por que os filmes encantam a gente?

Ainda não assisti ao novo filme (Jurassic World), e vocês? Mas, claro, já me falaram muito bem dele.

‘Life cannot be contained. Life breaks free,
life finds a way’

Neste post aqui foi comentado sobre  a (im)possibilidade de criarmos um dinossauro a partir de um genoma. Muitos vídeos na internet e muitos livros abordam o tema. Do ponto de vista paleontológico,  a preservação de material genético é impossível. A molécula de DNA é uma estrutura complexa e delicada, que se destrói rapidamente (já falamos aqui sobre o processo de fossilização). Não há como manter algo assim preservado numa rocha por milhões de anos. Então todo o início da série de filmes Jurassic Park e Jurassic World não é cientificamente viável.

Mas não é por isso que histórias de ficção baseadas em conceitos científicos não nos tocam. Conheço uma geração inteira de paleontólogos (vertebradólogos, ou seja, que estudam vertebrados, dentre eles, dinos), que surgiu com o encantamento ocasionado pelo(s) filme(s). No caso da paleontologia, trazer alguns conteúdos à tela foi excepcional.

Existem inúmeros posts e livros que podemos citar que debatem as etapas impossíveis que deveriam ser ultrapassadas para criar a situação representada nos filmes, mas, vamos aos pontos positivos?

Jurassic Park trouxe…

1- …talvez pela primeira vez, dinos retratados como animais, não como meros monstros malignos (apesar de eles gostarem de matar despropositadamente, mesmo nas séries Jurassic Park e seguintes);

2- …uma representação muito acurada destes animais vivos. Eles são imensos, desafiam a imaginação de qualquer um! de seus restos criamos as lendas de dragões, deuses, e outros mitos em quase todas as culturas humanas… vê-los em tamanho real, interagindo com pessoas, numa perspectiva extremamente realista é, simplesmente, sensacional.

Uma das  críticas mais comuns da exposição de bonecos de dinos que temos atualmente no instituto é o fato de não termos quase nenhum em tamanho real (com exceção do pterossauro que não faz parte da expo em si, e do banner com 3 dinos em tamanho real – mas não são bonecos, só fotos!);

3- …um pouco de ciência, no meio de muita ficção. Mas é isso que faz as pessoas se perguntarem:

  • tem gente que trabalha com dinossauros? sim, o paleontólogo, geólogo ou biólogo estão aí pra isso (dentre outras funções)…
  • será que é possível reconstruir um animal desses por um DNA preservado em âmbar? já vimos que não, mas…
  • e se tivessem mesmo como reproduzir um animal desses, o que poderia acontecer…? por mais que a história do filme traga muitas situações críticas, refletir sobre o assunto, por si só já é interessante;

Trazer as possibilidades à tona instiga as pessoas a saberem mais sobre a ciência; isso, por si só, é muito importante. A beleza da divulgação científica está em despertar o interesse. Plantar a semente.

4- …situações críticas (ambientais, ecológicas, biológicas) num mundo -relativamente- real, com pessoas normais. Não são super-heróis que lidam com os dinossauros. Em geral, os dinossauros não são monstros com poderes infalíveis, existe um certo compromisso com conceitos científicos modernos. Essa proximidade conosco instiga nossa imaginação e  desperta um efeito “wow”. É encantamento pelo grande, pelo desconhecido, pelo assutador.

Existem inúmeras maneiras de se divulgar ciência para o grande público. Investir milhões de dólares, em geral, não é algo disponível para quem tem esse objetivo e trabalha na universidade; mas uma série de filmes como Jurassic Park e Jurassic World traz a oportunidade de debate na paleontologia. Muitas coisas podem estar cientificamente erradas ali. Muitas outras têm fundamentos corretos. Quais? Como? Porquê?
Leiam, comentem, assistam, debatam!

É  assim que a ciência progride.