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Abstrato e concreto: as duas caras de uma concreção

As concreções são aquelas bolas, bolinhas, etc. que estão presentes em muitos locais, associadas a camadas de rochas. Em geral elas são produto da cimentação diferencial de minerais como cálcio, sílica, ferro, pirita, etc. ao redor de um núcleo, por efeito de variações no meio circundante, que podem ser consequência de mudanças no pH, por exemplo. Caso do núcleo ao redor do qual acontece a deposição seja um resto orgânico, poderá ocorrer a preservação e, por conseguinte, a fossilização. Também podem ser formadas concreções nos rins ou cálculos renais, mas aí é bem mais doloroso que no caso das fossilíferas. Um tipo muito famoso de concreções são aquelas que contêm os fósseis de peixes da Formação Romualdo, do Cretáceo da bacia do Araripe. Nelas, o concreto são os fósseis e o abstrato, a interpretação de quando, como e por que. A maioria dessas concreções possui no seu interior osteíctes (peixes ósseos), em muitos casos com todo o corpo e até com músculos, como o coração, e a última refeição ainda a meio digerir dentro do estômago. No caso das concreções (ou ictiólitos) da Formação Romualdo, o mineral associado a elas é o carbonato de cálcio. Uma das explicações acerca da sua formação e abundância refere-se a episódios de mortandade em massa, como consequência de variações na salinidade, temperatura e oxigênio. Neste caso, muitos dos peixes teriam sido preservados devido à liberação de gases produzidos pela sua decomposição (principalmente metano), gerando mudanças do pH, o que que criou um micro ambiente ao redor deles, dentro de um lago hipersalino, propiciando a deposição do carbonato sobre os organismos, o que favoreceu a sua rápida preservação. A deposição do carbonato só parou na medida em que a emissão de metano cessou.

Trincheira para coleta de concreções na Formação Romualdo, as setas vermelhas indicam a localização das concreções no meio das camadas de rocha

Em diversas pedreiras de carbonatos da Formação Irati, aqui no estado de São Paulo, é possível encontrar, entre as camadas rochas calcárias, concreções de sílica cujas dimensões variam de centímetros a metros. Neste caso, as camadas de rocha correspondem à deposição de carbonato num ambiente de sedimentação marinho raso dentro um clima semi-árido. Assim, o silício que estava dissolvido nessas águas alcalinas (pH acima de 7) foi sendo depositado na forma de um gel em momentos de nível do mar mais baixo, ou de pH mais ácido devido à decomposição da matéria orgânica, que libera CO2. Podendo ser encontrados níveis mais ricos em concreções de sílica do que outros ou mesmo camadas completamente silicificadas. Algumas concreções crescem em formatos mais alongados, tocando concreções vizinhas, formando o que denominamos “bonecas de sílica”. No meio delas muitas vezes tem microfósseis, como pólens, fragmentos de carvão de queimadas, cianobactérias etc.

Outras concreções podem ser ferruginosas, ou seja, compostas por camadas sucessivas de ferro e associadas a locais com climas muito úmidos e quentes, característicos de regiões equatoriais, com a Amazônia. Outras concreções, mais familiares a nós, são os cálculos renais ou biliares, que tanto fazem sofrer aos seus donos para serem expulsos …enfim, o conteúdo e a composição são a cara concreta das concreções.

Agora, qual seria o lado abstrato das concreções? O lado abstrato está associado às interpretações que são realizadas sobre o conteúdo e os elementos que a formam as concreções, ou seja, interpretações sobre a idade dos fósseis envolvidos nas camadas, qual era o clima reinante na época da deposição, a causa da morte etc.

Concreções de osteites expostas no museu de Santana Ana do Cariri, CE

O mesmo acontece quando somente empilhamos e descrevemos camadas de rochas levando em consideração só a parte concreta, ou seja, apenas o que vemos na rocha, como minerais, fósseis etc., enquanto que outra visão, abstrata, diz respeito à interpretação do que a forma, ou seja, as inferências acerca do significado do seu conteúdo que pode variar conforme a ciência avança… e se refere a uma abstração… Assim, temos o tempo rocha ou litoestratigráfico, que é o lado concreto, e o cronoestratigráfico, que abarca concreto e abstrato… e por fim as unidades geocronológicas que são totalmente abstratas e que tratam das divisões do tempo geológico: (i) Éons (por exemplo Arqueano, Fanerozoico, etc.);

(ii) Eras (por exemplo Paleozoica, Mesozoica, etc.); (iii) Períodos (como Cambriano, Cretáceo, Quaternário, etc.) e (iv) dos seus limites, que estão relacionados a eventos geológicos/biológicos como extinções, orogenias, etc

 

**texto de autoria da Profa. Frésia

ARANHAS, ESCORPIÕES, BARATAS PRÓXIMOS DO INFINITO E TAMBÉM DE UMA CHINELADA!

Existem informações que escutamos numa palestra e nunca mais esquecemos. Um tempo atrás estava eu participando do Congresso de Paleontologia, assistindo as exposições orais, e entre elas uma me chamou particularmente a atenção. Se tratava da apresentação de um colega paleontólogo que estuda fósseis de insetos e ele falou que se nós víssemos uma barata do Carbonífero andando por aí agora …teria chinelada na hora…ou seja, elas eram muito semelhantes as atuais e com certeza ainda existirão por um longo tempo. Quando pensamos em fósseis, não imaginamos nem de longe a diversidade deles, na verdade até se poderia falar que os dinossauros são a ponta do iceberg, e com certeza, existiam muitas baratas e outros insetos, além de aranhas e escorpiões, durante o tempo dos dinossauros.

Exemplares de Trigonotarbida do Devoniano silicificados, Rhynie Chert, Escossia, UK

Os primeiros animais a pisar fora d’água, há uns 420 Ma, foram parentes próximos dos escorpiões e aranhas. Os mais antigos registros desses primeiros habitantes do continente foram os Trigonotarbida, similares com aracnídeos, mas de uma ordem hoje desaparecida. O que permitiu a esses ancestrais dos escorpiões e aranhas sobrevir no meio seco foi o fato de terem apêndices motores (“pernas”) e de poderem respirar oxigênio diretamente da atmosfera, duas características ou pré-adaptações fundamentais para sobreviver fora da água… A partir desse momento começou a se diversificar o enorme grupo dos insetos, que hoje representa o grupo mais exitoso dos animais do planeta Terra, com uma diversidade “próxima do infinito”. Já no Carbonífero, uns 50 milhões de anos depois, os registros fósseis mostram que os insetos foram maiores em tamanho do que os de hoje em dia (como as libélulas e baratas). São conhecidos, por exemplo, fósseis de libélulas de 50 cm e baratas, bom… dá para imaginar …. Mas por que será que eram tão grandes naquela época? Uma coisa que se sabe é que durante o Carbonífero a atmosfera continha muito mais oxigênio do que hoje em dia. Para explicar como uma maior quantidade de O2 influenciou o tamanho dos insetos, há duas hipóteses: uma diz que com mais oxigênio o metabolismo dos insetos poderia suprir corpos maiores; e a outra, que seria uma defesa da fase larval contra o possível envenenamento por excesso de oxigênio. Baratas com mais de 100 exemplares coletados, denominadas como Anthracoblattina mendesi Pinto & Sedor, foram recentemente encontradas no município de Mafra, Estado de Santa Catarina, em camadas de rochas do Grupo Itararé (Permiano). Baratas semelhantes a estas também foram comuns na América do Norte no mesmo período.

Reprodução 3D de um Trigobotarbida devoniano coletado no Rhynie Chert, Escossia, UK . Barra de Escala = 1cm

Embora no Carbonífero existam registros diferentes de insetos voadores, esses ainda não conseguiam dobrar as assas como as borboletas e pernilongos, que vieram a surgir posteriormente, durante a Era Mesozoica.

Enfim, o registro fóssil de insetos é muito rico e variado. Inclusive sabemos do enorme número deles não só por seus fósseis corporais e ecdises (trocas do exoesqueleto, conhecido popularmente como “muda”) se não também por seus icnofósseis, como mordidas em folhas, galhas, minas, fezes etc. muitas vezes observadas em folhas, frutos e troncos. No Brasil, um dos locais com uma enorme quantidade de registros de insetos é a Chapada do Araripe, que fica nos estados do Ceará, Pernambuco e Piauí, onde existem fosseis de abelhas, moscas etc. além dos muito conhecidos fósseis de vertebrados e plantas que datam de mais ou menos 110 milhões de anos atrás, no período conhecido como Cretáceo. Construções associadas com insetos sociais já foram descritas para o estado de Minas Gerais, em solos fósseis (ou paleossolos) da Formação Marília, com idade entre 100 e 72 milhões de anos atrás. Pertinho de Campinas, na Bacia de Taubaté (datada de aproximadamente 50 milhões de anos atrás) também podem ser encontrados fósseis de insetos, mas desta vez, apenas dos vestígios (icnofósseis) que eles deixaram em folhas de angiospermas, e como tem muitos icnofósseis mesmo, essas folhas deviam ser muito gostosas! No Estado de Minas Gerais, na bacia de Fonseca, que tem idade semelhante à da Bacia Taubaté, foram registrados mais de 48 espécimes de insetos das ordens Hemíptera, Coleóptera, Díptera, Hymenóptera, Isóptera, entre outros, que demostram a riqueza de insetos que habitavam a região naquela época.

Outra forma de preservação de insetos dependendo, é claro, do seu tamanho, é no âmbar. Eu já vi abelhas, pernilongos, borboletas e outros insetos mumificados até com as asas abertas dentro de âmbar, dando a impressão de que a qualquer momento bateriam as asas.

Voltando aos escorpiões, os mais antigos que se conhecem datam de 435 Milhões de anos atrás, e já eram bastante assustadores com a sua cauda característica terminada em ferrão. Agora, chinelos fósseis ainda não foram encontrados… logo podemos deduzir que os dinossauros não conseguiam se livrar facilmente das baratas e outros insetos que voavam ao seu redor.

 

Referências para consulta

Nascimento, D.L.; Batezelli, A.; Ladeira, F.S.B. 2017. First record of lobed trace fossils in Brazil’s Upper Cretaceous paleosols: Rhizoliths or evidence of insects and their social behavior? JOURNAL OF SOUTH AMERICAN EARTH SCIENCES, v. 79, p. 364-376.

Ricetti, J. H. Z.; Schneider,  J.W.; Iannuzzi, .R.;  Weinschütz, L.C. 2016. Anthracoblattina mendesi Pinto et Sedor (blattodea, phyloblattidae): the most completely preserved South American Palaeozoic Cockroach I.  Rev. bras. paleontol. 19(2):181-194. doi: 10.4072/rbp.2016.2.03

Raoni de Castro Barbosa. 2010. Tafonomia dos Insetos Fósseis da Bacia de Fonseca, Eoceno Paleógeno de Minas Gerais. Trabalho de Conclusão de Curso. (Graduação em Ciências biológicas) – Universidade Estadual da Paraíba. Orientador: Prof. Dr. Marcio Mendes.

Coleções de Fósseis de A a Z (de Aldrovandi à Zabini)

Quem nunca trouxe para casa uma pedra bonita no bolso que atire a primeira pedra.

Museu do Palazzo Poggi, Bolonha, mostrando a coleção de História Natural montada por Ulisse Aldrovandi

O hábito de “catar pedrinhas” é tão antigo quanto a humanidade. Nossos ancestrais adoravam carregar pedras bonitas que encontravam pelos motivos os mais diversos: por que era bonita, por que tinha uma forma familiar, por que tinha uma forma estranha…o fato é que as pedras nos atraem.

Entretanto, se as “pedrinhas” tiverem um formato conhecido, parecendo um animal ou planta, melhor ainda. Desta forma, ficamos ainda mas fascinados por elas. Ficamos olhando, sentindo na mão suas texturas, seus formatos, vendo seus brilhos conforme as olhamos contra a luz. Por vezes, levamos a rocha ou o mineral ou o fóssil para o quarto, colocamos na prateleira. Ao acordar, olhamos novamente fascinados. No entanto, isso não vai ficar por aí.

Uma nova coleção tem início.

As coleções de fósseis

Com o tempo, o hábito de colecionar estes objetos fascinantes foi se tornando cada vez mais sofisticado. Por outro lado, as coleções foram ficando cada vez maiores e mais volumosas. Não cabiam mais em simples gavetas e prateleiras. Ao final do século XVI o sábio italiano Ulisse Aldrovandi (1522-1605) foi o curador de uma destas grandes coleções, que então envolviam espécies animais, vegetais e minerais.

o Filosofo Natural Ulisse Aldrovandi (1522-1605), o criador da palavra Geologia e um dos maiores Sábios de seu tempo.

Em síntese, Aldrovandi tinha uma grande coleção de Historia Natural. Tinha animais, vegetais e “o reino mineral”, envolvendo o que hoje chamamos de rochas, minerais e fósseis. As gavetas nas quais guardava os espécimes não eram como hoje, separados por tipos de rochas, por minerais e por fósseis. Era tudo misturado, mesmo porque não se tinham claros os processos pelos quais uma rocha se formava.

Naquele tempo, tais coleções eram chamadas de “coleções de fósseis”. O conceito de fóssil durante o Renascimento era muito diferente do conceito moderno, conforme já tratamos aqui. A palavra fóssil vem do latim “fodere”, que significa escavar. Fóssil era tudo que pudéssemos escavar, retirar da terra. Tudo que era retirado da terra era fóssil. Solo, pedra, mineral, rocha, fóssil (no sentido moderno).

O Museum Mettalicum

Assim, Aldrovandi publicou um catálogo de sua exposição de fósseis. O catalogo era tão imenso, o “Museum Metallicum” (folheie suas páginas aqui), que só foi terminado muitos anos depois da morte de Aldrovandi, em 1648, por seu discípulo Batholomeu Ambrosinus. Nele, Aldrovandi e Ambrosinus mandaram fazer xilogravuras detalhadas, mostrando as espécies de sua coleção.

Frontispício do grande catalogo Museum Metalicum, elaborado por Ulisse Aldrovandi e seu discípulo Ambrosinus.

Em primeiro lugar, através de seu estudo, podemos ter uma ideia da concepção de mundo de Aldrovandi. Por outro lado, os critérios utilizados na sua coleção baseavam-se, como os de hoje, na visão de mundo do colecionador. Para nós, alguns destes critérios podem parecer estranhos ou mesmo não-científicos. No entanto, sabemos que Aldrovandi, se não era um moderno cientista – essa palavra só foi inventada dois séculos depois, no século XIX – era um sábio, um Filósofo Natural dos mais importantes.

Aldrovandi e a Geologia

Foi Aldrovandi, inclusive, quem inventou a palavra “geologia”, num livro que publicou em 1603. Em sua definição, geologia seria o estudo de objetos aflorantes e enterrados– os fósseis. O uso mais recente da palavra geologia, próximo do que utilizamos hoje, foi utilizada a partir do final do seculo XVIII.

Em síntese, o conceito de rochas e minerais mudou. Minerais são substâncias orgânicas ou inorgânicas naturais, com composição química definida e propriedades físicas que refletem a sua estrutura interna. Desta forma, um cristal de halita (sal gema ou sal de cozinha) tem as mesmas propriedades que as moléculas de NaCl. Por outro lado, rochas são definidas como agregados de minerais.

Cristais de Halita, ou sal gema, ou sal de cozinha. Os cristais refletem a estruturação das moléculas de NaCl presentes em sua composição.

Fósseis, no sentido moderno, são restos ou marcas  de organismos preservados por inúmeros processos de litificação. Alguns processos foram discutidos aqui no blog, tanto pela professora Frésia quanto pela professora Carolina. para uma discussão mais abrangente veja aqui.

Dinossauros no IG?

Nesta semana abriu uma exposição sobre dinossauros no Instituto de Geociências da Unicamp. Chama-se “Dinossauros (?) no IG” e vai até setembro no saguão principal de nosso novo prédio, na rua Carlos Gomes, 250, no campus de Barão Geraldo em Campinas.

A exposição tem a Curadoria da professora Carolina Zabini, nossa companheira de blog. Carolina, que é bióloga de formação e paleontóloga de carreira e coração e blogueira nas horas vagas(!), montou uma exposição muito interessante, que discute vários aspectos destes ainda estranhos monstros.

Detalhe da Exposição Dinossauros no IG, montada por Carolina Zabini

Desta forma, com uma linguagem ágil e muitas caricaturas engraçadas, feitas de maneira competente pelo Claudinei Fernandes de Oliveira, ela aborda diversos aspectos dos dinossauros: seus hábitos, seus diferentes tipos, as suas linhagens evolutivas. Tudo isso é contado pelas caricaturas e por miniaturas muito realistas e bem-feitas, construídas pelo prof. Luiz Anelli, do IG-USP.

Os Dinossauros no espelho humano

Por fim, uma das partes mais interessantes, ao menos para mim, é a parte em que são apresentadas miniaturas de dinossauros mais antigas (!), feitas nos anos 60. Elas mostram seres reptilianos grotescos e bizarros, como quando eu era menino aprendi que eram os grandes dinossauros . Contudo, de lá para cá, aprendemos também que eles podiam ser coloridos, e que muitos deles usavam penas!

Sim, nossa concepção de dinossauros muda conforme nossa visão deles, que muda com os avanços da ciência. Da mesma forma,  muda também com nossa visão de nós mesmos. Nos inícios da paleontologia, no século XIX, os dinossauros eram representados como grandes e ferozes bestas. De lá até o “Baby” de Família Dinossauro, muita coisa mudou. Mudaram os dinossauros e mudamos nós.

Um monstruoso Pteranodon em réplica dos anos 60; a foto, também monstruosa, é deste blogueiro…

Desta forma, vimos que as coleções de fosseis mudaram muito, de A à Z. De Aldrovandi a Zabini. No início, eram meros catálogos, separando os espécimes segundo critérios os mais diversos. Hoje, as exposições tem conceito, linguagem e são cuidadosamente construídas para públicos específicos.

No entanto, uma coisa não mudou: nosso estranho e esquisito hábito de colecionar objetos do mundo natural.

PARA SABER MAIS:

Duroselle-Melish, C., & Lines, D. A. (2015). The library of Ulisse Aldrovandi († 1605): acquiring and organizing books in sixteenth-century Bologna. The Library16(2), 133-161.

Ogilvie, B. W. (2008). The science of describing: Natural history in Renaissance Europe. University of Chicago Press.

As renas e os cervos surgiram em qual estação do ano?

Na época de mudança de uma estação do ano para outra temos uma ideia de como seria uma mudança climática. A que neste blog nos interessa aconteceu há uns 20 milhões de anos no passado e foi devastadora para muitas espécies. Contudo, graças a ela surgiu um importante grupo de mamíferos, que se diversificou e espalhou por todo o nosso planeta: são os ruminantes, que pertencem ao grupo dos artiodáctilos. Entre eles temos as vacas, porcos, hipopótamos, cabritos, girafas, ovelhas, camelos, além de, é claro, as renas e os cervos, que como outros cervos formam parte da família Cervidae. Mas não os cavalos, os rinocerontes e as zebras, que são perissodáctilos (dedos ímpares). Os artiodáctilos são caracterizados por apresentar, entre outras coisas, patas com número par de dedos e uma inovação no sistema digestivo que permitiu que muitos deles pudessem comer capim, ou seja poder extrair carboidratos a partir da celulose que forma parte do corpo das plantas, por possuir associação com bactérias e protozoários especializados que auxiliam na digestão. Dessa forma, se você observar uma vaca ou uma lhama ela está o tempo todo mastigando ou ruminando o capim para poder moer as folhas em pequenos pedaços e ajudar as bactérias no processamento da matéria vegetal. Inclusive, pelas evidências fósseis, as baleias e os artiodáctilos compartiriam um mesmo ancestral.

Cervo do Pantanal

Voltando à influência das mudanças climáticas para o surgimento das renas, então há uns 45 milhões de anos, o nosso planeta experimentou climas muito úmidos e quentes que permitiram que grandes e densas florestas tropicais se desenvolvessem até na Antártica, e no Norte do Canadá, como já expliquei em outro post. Esse apogeu no mundo vegetal provocou a deposição de um grande volume de biomassa vegetal que foi soterrada e convertida em camadas de carvão, nas quais uma enorme quantidade de carbono ficou sequestrada, não retornando à atmosfera e, por conseguinte, reduzindo a quantidade do nosso principal gás estufa, o CO2. Além disso, ocorreram mudanças importantes na distribuição dos continentes, com as quais a geografia ficou mais parecida com a atual, com o surgimento de grandes cadeias de montanhas como os Andes, o Platô do Tibet (após a Índia bater com a China), etc. Todos esses fatos juntos provocaram um desequilíbrio que levou ao surgimento de uma tendência à diminuição das temperaturas e, por conseguinte, de climas mais secos. Com isso, as densas florestas tropicais se reduziram em tamanho, e um novo tipo de vegetação começou a surgir, uma vegetação mas aberta e composta por variados tipos de capins, onde os artiodáctilos passaram a pastar e ruminar calmamente, além de crescerem em tamanho e correr quando necessário.

Voltando às renas e cervos e por tanto a família Cervidae, essa última possui um extenso, rico e contínuo registro fóssil a partir do Mioceno (~ 20 milhões de anos) até o presente. Os fósseis mais antigos foram encontrados na Eurásia (massa continental que engloba a Europa e a Ásia), na qual possivelmente tenham sido originados, e com o tempo migrado para o resto do planeta.

Já para o Pleistoceno (2 milhões de anos – 10.000 anos atrás) são reportados fósseis de renas gigantes na Europa e na América do Norte. Essas evidências são especialmente baseadas em dentes e chifres, quem sabe os ancestrais das renas do trenó do Papai Noel, pois é no Pleistoceno que aconteceram os intervalos glaciais do Quaternário e o hemisfério norte foi muito afetado por esses períodos frios, chegando a ficar com grandes extensões do seu território cobertas por glaciares continentais.

Deusa Diana www.fanpage.it

Aqui na América do Sul, os cervos chegaram após o surgimento do Istmo de Panamá. Há alguns milhões de anos eles vieram em várias ondas junto com outros migrantes do norte (como já comentamos em alguns texto anteriores). E se deram muito bem, atualmente temos no nosso continente pelo menos 17 espécies que habitam desde os ambientes costeiros até as alturas da cordilheira dos Andes. Nas férias de janeiro fomos para o Pantanal do Mato Grosso do Sul, um passeio que recomendo. Por lá vimos lindos e numerosos exemplares dos cervos pantaneiros (Blastocerus dichotomus), que alcançam grande porte, chegando a pesar até 120 quilos e ter uma altura que varia entre 1,10 a 1,20 m, pelo que são considerados os maiores cervos da América do Sul, e são adaptados para viver em áreas alagadas e até cruzarem rios a nado. Também foi possível apreciar junto aos cervos outros descentes da fauna que veio do hemisfério norte como as onças, além de outras espécies remanescentes da megafauna pleistocênica da América do Sul, como preguiças e capivaras. Bom, quem sabe no próximo natal ou na próxima primavera, ao invés de colocar renas na decoração de natal ou a Deusa Diana estar acompanhada de um cervo da Europa, poderão trocar por um cervo pantaneiro.

Rena na Suecia (Ragifer farandus). http://www.essaseoutras.com.br

Mulher, Paleontóloga. Entrevista com a Profa. Frésia

Primeiro post do ano e uma homenagem dupla!!  Dia 7 de março é o dia do paleontólogo e dia 8 é o dia da mulher. Nada melhor que conhecer melhor a carreira da Paleontóloga Dra. Frésia Soledad Ricardi Torres Branco, professora Livre-docente do Instituto de Geociências Unicamp.

A professora Fresia atua na UNICAMP desde 1998 e já formou cerca de 22 estudantes entre mestrado e doutorado. É chilena e fez mestrado e doutorado com paleobotânica, na USP. Mora no Brasil desde então…

Atualmente a professora está pesquisando na Universidade de Cardiff, País de Gales; então fizemos nossa entrevista via chat. Abaixo você confere nossa conversa.

Frésia: Qual a sua pergunta “número um”?

Carolina: Como foi que você decidiu ser paleontóloga?

Frésia: Eu escrevi um post acerca disso. Ele se chama “Meu primeiro fóssil, o pai de todos”; mas, resumidamente, foi meu pai que me deu de presente um nódulo do Cretáceo da Colômbia com um amonita dentro.

Carolina: ah sim, aquele sobre o amonita…

Frésia: Isso com o amonita, é um molde externo. Aí eu gostei e decidi ser paleontóloga. Isso foi quando eu tinha uns 16 anos. Tenho ele em casa até hoje. Trouxe da Venezuela para o Brasil. Aliás ele foi da Colômbia para Venezuela e depois para o Brasil.

Carolina: É um fóssil viajado!

 Frésia: Isso mesmo, viajou pelos Cretáceos da América do Sul!

Carolina: depois que ganhou ele, já sabia como se tornar paleontóloga? seus pais sabiam?

Frésia: Não tinha a menor ideia. Aí meu pai me falou que devia ser estudando geologia. Mas não tinha geologia não universidade de Merida, onde morávamos. Minha mãe ficou brava pois teria que ir embora para outra cidade para estudar; como ela não queria isso, me aconselhou a estudar geografia. Aí eu prestei para geografia.

Carolina: então você morou com eles na graduação?

Frésia: Claro. Nunca que eu iria morar longe de casa com 17 anos na Venezuela, e menos ainda em Caracas. Caracas eles tenham um pouco de medo, pois não era como o Chile.

Carolina: Entendi. E no seu curso de geografia, tinha sedimentologia e paleonto?

Frésia em sua infância

Frésia: Não tinha. Mas então quando eu estava no quarto ano abriu a geologia como graduação. Eu cursei paleo, sedimento, estrati, tectônica, geo histórica, campo 1 , e geo geral na geologia. Mas aí queria me formar … Pois já estava há 6 anos na graduação… E peguei umas greves grandes de professores também

Carolina: Ah certo. Tinha muitas mulheres cursando geografia ou geologia com você?

Frésia: Geografia tinha, mas geologia tenha umas 5 só. Quase todos eram homens. Foi aí que conheci o professor de paleo que me convidou a trabalhar com ele. O Dr Oscar Odrenan.

Carolina: Você sentiu algum tipo de preconceito por ser mulher ali?

Frésia: Não era legal. Fui muito paparicada. Enfim, não senti na graduação, não. O Dr. Odrenan era especialista em mamíferos da Argentina. Mas trabalha como geólogo de campo na Venezuela e dava aula de Paleo. Aí ele me deu a escolher o que eu preferia invertebrados, plantas etc…

Carolina: Ele que te incentivou para ficar na carreira acadêmica?

Frésia: Ele sim. E os meus pais, que eram professores universitários. Bom, aí eu escolhi as plantas porque podia ter ajuda dos meus amigos da Botânica. O Dr. Odrenan me passou um tema com uma flora do Mioceno.

Carolina: Seus pais eram botânicos, é isso mesmo?

Frésia: Isso eles eram botânicos e eu tinha muitos amigos lá da minha idade, entre os alunos dele. Então eu foi estudar botânica por uns 2 anos fiz vários cursos por lá.

Carolina: E depois, foi logo que decidiu vir pro Brasil?

Frésia: Não. Eu conheci um palinólogo holandês. Ele me convidou a ir para Amsterdam e fazer doutorado com ele com a minhas folhas fósseis do Mioceno. Mas não dava para eu ir fazer porque não tinha mestrado nem publicações. Ele me falou para eu fazer um mestrado e depois ir para Amsterdam com ele e saí procurando um mestrado para mim. Mas não deu certo, em curto prazo. Em seguida eu fui para um congresso de botânica Sul Americano em Havana. Lá eu vi uma palestra do Dr. Oscar Rosler, da USP. Gostei dele e da palestra e perguntei se ele poderia me orientar no mestrado. Ele topou. Ai o Dr. Odrenan me passou uns fósseis de plantas do Permiano. Então fui para o Brasil com 100 kg de fósseis do Permiano da Venezuela para fazer mestrado na USP.

Campo no Ceará, 2017.

Carolina: Nossa, como você trouxe isso para cá? de avião?

Frésia: Ah sim, eram 2 malas, e 6 caixas de amostras. Mas quase não paguei excesso de bagagem porque era para fazer um estudo. Tudo foi registrado na alfandega, levou umas 2 horas…

Carolina: ah, então foi mais tranquilo do que eu pensei.

Frésia: Bom, aí tinha pensado ir para Holanda quando acabasse o meu mestrado. Mas no segundo ano do mestrado conheci o Fábio (atual esposo) e acabei ficando no Brasil. Enfim a gente casou, e o Fábio não quis ir a morar na Venezuela. Entçao fiquei pra fazer o doutorado na USP. Estudei a mina de Carvão de Figueira-PR.

Carolina: Foi um desafio vir pra cá? estudar no Brasil?

Frésia: Foi, quando eu vim para SP nunca antes tinha visto nenhuma fotografia da USP, e nem falava português. Foi uma aventura total.

Carolina: Mas chegou a pensar em voltar pra casa em algum momento? Desisitir?

Frésia: Meus pais tinham me enviado uma passagem de ida e volta de um mês, para o caso de eu não gostar. Eu não tinha que dar conta do recado. Mas se voltasse, iria voltar para casa e ficar na mesma, vendo a vida passar pela janela. Enfim, não foi muito fácil. Mas sobrevivi.

Carolina: Mas a paleo sempre foi sua paixão?

Frésia: Ah sim. Cada vez que olho um fóssil na lupa, sinto que estou fazendo o que mais gosto, e que não trocaria por nada.

Carolina: O que mais te fascina na sua carreira?

Frésia: Poder descobrir como era essa evidência, onde morava, como morava… deixar voa a imaginação com base nas evidências que você tem. Ir no campo e coletar as amostras. As possibilidades de conhecer coisas novas e pessoas diferentes.

Carolina: Tudo isso supera as dificuldades né?

Frésia: Claro. Já imaginou trabalhar a vida toda no mesmo lugar?

Carolina: Você diria que foram o amonita, seus pais e seu primeiro orientador que te inspiraram?

Frésia: Penso que sim, mas você tem que ter sua própria curiosidade, a sua inquietude interna por ir além. Se não todos os nossos alunos da paleo seriam paleontólogos. Seu olho tem que brilhar quando vê um fóssil novo.

Carolina: Certo! Quais são, em sua opinião, as maiores dificuldades de se trabalhar com paleontologia?

Frésia: Na verdade para mim a parte mais difícil começou depois que me tornei professora. Eu dava umas palestras como aula e depois em 2000 abriu o concurso que passei, para trabalhar por 12 h. Aí passou para 20 h. Mas eu era a que mais dava aula no IG.

Carolina: Era difícil porque eram muitas aulas?

Frésia: Não a parte mais complicada é que quando você é doutoranda você tem muitos amigos e os professores são amigos. Mas depois que você é doutor e tem emprego, já não é mais aluno; então se torna colega ou concorrente. Aí a coisa fica muito tensa. Pois as pessoas não sabem ter colegas. E aí começam a ficar estranhos. E mesmo pessoas que você gostava antes, passam a brigar com você. E você vai ficando sozinho se quiser ser livre e pensar como quiser e pesquisar como quiser e quando quiser. E não tem nada a ver com ser homem ou mulher. Mas a gente sobrevive e vai para frente. Depois tem seus colegas. Que fazem a coisa certa, no tema certo, no mundo certo. E você não. Porque não é tudo mundo que é igual, nem tem a mesma história, nem a mesma cabeça. Então a parte mais difícil é quando você se torna um profissional.

Carolina: e tem que mostrar que também é uma cabeça pensante, né? se impor, de alguma forma…

Frésia: Mas com o tempo e depois que chora por um pouco… cansa de tudo isso e vai em frente. E continua a fazer o que você mais gosta, olhar os fósseis né?

Carolina: e você já formou muitos alunos, não é mesmo?     isso não é gratificante?

Frésia: É muito legal mas demora um pouquinho. Depois flui mais fácil…e você vai aprendendo com eles também a respeitar os seus futuros colegas, pois um dia eles terminam e são doutores. Você não vai querer fazer igual que as pessoas que você acha que estão erradas. Penso que tem que somar e multiplicar. Nem sempre você vai ser a dona da verdade ou não vai ter dúvidas.

Carolina: Sim, acho que isso faz parte do nosso desenvolvimento como professoras também né?

Frésia: Como dizia meu pai, tem que dar um jeito e encontrar seu nicho ecológico. Ah claro, e o tempo passa e um dia fazem 15 anos que você é professor, 20 anos que defendeu o doutorado, e quase 30 que saiu da graduação ….tic tac para tudo…

Carolina: E pra finalizar… qual sua opinião sobre o presente e o futuro das pesquisas cientificas no Brasil?

Frésia: Bom é só que todos temos que fazer o nosso melhor para sair adiante. Tentar fazer o melhor com o que você tem e construir para um futuro. Mas sempre há uma saída ..temos que aprender com o registro fossilífero.

Carolina: aprender com os fósseis?

Frésia: Sim, veja o registro desde o Arqueano que tem extinção, variações climáticas, meteoros, etc etc e a vida sempre acha um caminho para seguir. Às vezes um grupinho de bichos …se salva e vai para frente. Claro se você tem o potencial para descobrir um. Ele não vem de graça no seu colo. Aliás nada vem.

Carolina: Entendi. “sempre há um caminho” mesmo.

Frésia: Não precisa ser super valente, é só dar um passinho.

Carolina: Agradeço muito você ter compartilhado conosco uma parte de sua história! Parabéns por todo o sucesso e feliz dia da paleontóloga!

O ANIVERSÁRIO DE ALFRED WEGENER E A FLORA DE GLOSSOPTERIS: IDEIAS QUE LITERALMENTE MUDAM O PLANETA.

Sob a denominação de Flora de Glossopteris, ou Província Florística do Gondwana, são reunidos todos os registros de plantas, sejam eles folhas, caules, sementes, lenhos, pólens, charcoals, etc. que apresentam similitudes morfológicas e aparecem no meio das rochas sedimentares de idade permiana (298 – 252 Ma) que são encontradas na porção sul da África e América do Sul, bem como na Austrália, Antartica, Nova Zelândia e a Índia. Todos esses continentes hoje se encontram separados por oceanos, mas durante muitos milhões de anos, aproximadamente de 500 até 160 Ma ficaram unidos formando um grande paleocontinente denominado como Gondwana. O nome foi inspirado no local da India onde os primeiros indícios do paleocontinente foram encontrados, entre eles a Flora de Glossopteris.

Figura 1. Comparação entre as geografias de hoje e do Permiano, com América do Sul, África, Austrália, Índia, Antártica reunidas no Gondwana

Na Figura 1 podemos observar os locais onde hoje estão localizados os registros das floresta permianas da Flora de Glossopteris. Logicamente parece meio difícil acreditar que a presença de fósseis vegetais com morfologias semelhantes em regiões tão distantes se deva somente uma coincidência. Mas sensato é pensar que possivelmente todos esses locais hoje distantes poderiam ter formado parte do mesmo continente, onde as migrações de plantas e animais foram possíveis, favorecidas por se tratar de uma mesma massa continental.

Fragmento de folha de Glossopteris, coletada na Bacia do Paraná, Brasil. Barra de escala: 5 cm.

Dentro da denominação de Flora de Glossopteris são reunidos vários grupos vegetais, entre eles samambaias e plantas com sementes, como as glossopterídeas (que só ocorrem no Gondwana e apenas durante o Permiano) e outras gimnospermas (vegetais com sementes, mas sem flores) como coníferas, ginkgoales, entre outras. A Flora de Glossopteris reúne os vários tipos de floresta que se sucederam durante o período Permiano e que experimentaram variações climáticas severas. Essas florestas surgiram em climas temperados frios e sobreviveram em climas cada vez mais quentes até semi-áridos próximos ao final do Permiano, quando desapareceram devido a uma grande extinção em massa. Assim, no início do Triássico, apesar de ainda o paleocontinente Gondwana continuar existindo, a vegetação muda bastante na sua composição.

Umas das primeiras Glosspteris conhecidas para o Brasil foi descrita por David White no ano de 1908, em fragmentos de rochas provenientes das minas de carvão de Criciúma, em Santa Catarina. Hoje sabemos que as jazidas de carvão do sul do Brasil, foram formadas graças ao acúmulo de plantas em locais próximos à costa, onde essa biomassa (o corpo das plantas) foi sendo soterrada e amadurecida até se transformar em carvão. Sabe-se também que os bosques da época formavam parte da vegetação que cobria pelo menos a porção Sul do Gondwana durante o Permiano.

Folhas de Glossopteris, coletadas na Bacia de Sidney na Austrália. Barra de escala: 5 cm

Em particular, o gênero Glossopteris reúne folhas de formato ovalado (em forma de língua), de margens retas e caracterizadas por uma venacão distinta, em formato de malha, sulcada por uma série de feixes longitudinais ou nervura central, como pode ser observado nas figuras dessas folhas.

No dia 1º de novembro deste ano, Alfred Wegener celebraria o seu 137º aniversário. Wegener, juntamente com Eduard Suess e Alexander Du Toit, formaram parte do grupo de cientistas que desde o final do século 19 vinham considerando seriamente a possibilidade dos continentes antes mencionados terem estado juntos, formando um grande paleocontinente no hemisfério Sul, e uma das evidências mais importantes dessa união são precisamente os registros das folhas de Glossopteris. A teoria de uma geografia diferente a atual, na qual os continentes estaria reunidos de forma diferente, foi publicada por Wegener em 1915, mas não teve êxito. Uma enorme quantidade de evidências vem sendo acumulada desde então a favor da existência do Gondwana, sendo hoje um fato amplamente aceito sobre a evolução do nosso planeta.

Folha de Glossopteris, ilustrada por Feistmantel na sua publicação de 1889, acerca dos fósseis da Bacia do Karoo na África do Sul.

Uma vez que no Brasil também tem aumentado o conhecimento do registro fóssil do Permiano, hoje em dia existem descritas muitas espécies de Glossopteris, não só para Santa Catarina, mas também no Rio Grande do Sul, Paraná e estado de São Paulo. Quem sabe se você já não viu uma linda folha de Glossopteris no seu quintal….

Referências

Feistmantel, O.1889. Übersichtliche Darstellung der geologisch-palaeontologischen Verhältnisse Süd-Afrikas. Th 1: die Karroo-Formation und die dieselbe unterlagernden Schichten Abh. K. Böhmischen. Ges. Wiss., 7, 1-89

Veevers, J.J. 2004. Gondwanaland from 650–500 Ma through 320 Ma merger in Pangea to 185–100 Ma breakup: supercontinental tectonics via stratigraphy and radiometric dating. Earth-Science Review, 68, 1–132.

White, D. 1908. Relatório sobre as “Coal Measures” e rochas associadas do sul do Brazil. Rio de Janeiro, p.2-300. (Relatório Final da Comissão de Estudos das Minas de Carvão de Pedra do Brazil parte I).

 

Meu primeiro fóssil, o pai de todos.

Quando eu tinha uns 16 ou 17 anos e ainda morava na Venezuela, nas férias fomos com a minha família para a cidade de Cucuta na Colômbia, que fica próxima à fronteira. Nessas férias meu pai me presenteou com um fóssil de uma concha. Algum tempo depois descobri que se tratava de uma concreção de um ammonite que viveu no Cretáceo da Colômbia, na famosa localidade de Villa de Leyva.

Ammonite, Villa de Leyva
Meu fóssil mais antigo

Na época estava quase terminando o colegial, teria que ir para universidade e tinha aquele grande dilema: o que será eu vou ser? Enfim, achei muito legal o presente do fóssil. Na realidade, era um dos primeiros que via na minha frente e não em imagens dos livros, cinema, tv… O primeiro que era tangível e era meu. Penso que esse ammonite selou a minha escolha:

– pai quem estuda os fósseis?

– Ah, são os paleontólogos.

– Bom, então já sei o que vou ser… (como fazer para me tornar um … isto levou mais tempo, como a Carolina já contou, num post).

Lembrei de toda essa história esta semana, quando estava dando a aula prática dos ammonites. Tenho um carinho especial por eles, pois graças a eles descobri muita coisa, embora nunca os tenha estudo de fato.

Mas não fui só eu que fiquei maravilhada com esses fósseis, eles vem encantando a humanidade desde os tempos dos egípcios. O motivo é que o seu registro é bem abundante ao redor do planeta, sempre associados a rochas sedimentares que se formaram em ambientes marinhos. Na verdade, foram um grupo de moluscos cefalópodes, hoje extinto mas muito exitoso na sua época, que habitou nos mares. Eles surgiram no Período Devoniano (400 – 360 milhões de anos atrás) e desapareceram junto com os dinossauros, na grande extinção do final do Cretáceo (há 65 milhões de anos), aquela do meteorito que eu já comentei aqui.

Os ammonites formam um grupo de cefalópodes que possuíram no início uma concha plano espiral, e que com o passar do tempo modificaram o formato da concha para formas espiraladas, retas, etc. Alcançaram tamanhos de poucos centímetros até quase dois metros de diâmetro, nas formas planoespirais. Eles receberam esse nome, porque os fósseis das suas conchas lembram chifres enrolados, que na época do império egípcio foram atribuídos ao deus Ammon e que, aliás, eram considerados provas irrefutáveis da passagem dessa divindade pela terra, segundo conta Heródoto nas suas crônicas acerca do Egipto que foram escritas 500 anos antes de Cristo.

Os Ammonoides podiam nadar livremente e controlavam com grande precisão a profundidade na qual habitavam nos mares, pois as suas conchas foram divididas internamente em câmaras que se comunicavam umas com outras por meio de um canal interno, de modo que o animal conseguia encher com líquido ou gases as diferentes câmaras e, por conseguinte, subir ou descer na coluna de água, calcula-se que até uns 500 metros de profundidade ou mais. O corpo do animal ocupava a última câmara, que sempre era a de maior tamanho. Os ammonites foram predadores ativos e o seus corpo possivelmente foi semelhante ou lembrava ao dos polvos e lulas atuais.

Por serem muito abundantes, eles são utilizados para datação relativa de camadas de rochas, pois apresentam diferenças muito evidentes e fáceis de observar a olho nu entre os primeiros do Devoniano e os últimos do Cretáceo. A feição morfológica que permite organizá-los em categorias temporais é a sutura interna que ser forma no local em que a parede (septos) que divide as câmeras se une à parede interna da concha. Esta feição recebe o nome de sutura, e vai evoluindo de uma sutura sinuosa a uma sutura sumamente complexa, formada por um padrão de lobos dentados. Assim, com base nas suturas se conhecem três grupos principais de Ammonoides: (1) Goniatites (sutura simples com algumas ondulações), que viveram do Devoniano ao Permiano; Ceratites (sutura na qual começam a se definir lobos) encontrada do Permiano ao Triássico; e por fim, a mais complexa ou Ammonitica, que é encontrada nos exemplares do Jurássico ao final do Cretáceo. A sutura é bem fácil de ver em fósseis onde se observe o molde interno da concha, ou seja, naqueles em que a concha foi preenchida e a parte externa foi dissolvida total ou parcialmente.

Embora no meu ammonite não seja possível ver as suturas, pelos fósseis que também são encontrados associados eu soube que ele data do Cretáceo, mas isso eu descobri um longo tempo depois de ganhar meu primeiro fóssil.

O QUE TEM A VER: O MEU CAFÉ DA MANHÃ, O PÃO DA POMPÉIA E OS FUNGOS PRIMORDIAIS?

De manhã uma coisa muito boa é tomar um café com um pão quentinho recém-saído do formo. Esse pequeno prazer vem desde há muito tempo. Existem registros de que os romanos que habitavam a cidade de Pompeia (localizada ao Sul de Itália, próxima da Nápoles) já disfrutavam dele. Pompéia é umas das cidades do mundo antigo mais famosas por ter sido soterrada durante a erupção do vulcão Vesúvio no mês de agosto do ano de 79 antes de Cristo. Como sei que os habitantes de Pompéia gostavam de pão quente? Porque toda a cidade ficou soterrada por uma camada rocha (o nome dessa rocha é lapilli) de 7 a 8 metros de espessura. Dessa forma, dentro de um forno de umas das padarias da cidade ficou preservado um pão que chegou até os dias de hoje, podemos dizer que, “fossilizado”. Esse pão foi estudado por pesquisadores ingleses, que descobriram a receita e hoje em dia é possível fazer pão em casa à moda de Pompéia e desfrutar do prazer do pão quente. Nós, em casa, já fizemos várias vezes seguindo as instruções do mestre Johannes que pode ser vista no seu blog http://massamadreblog.com.br/postagem/pao-de-pompeia.

PÃO DE POMPÉIA.
A. Pão encontrado nas escavações de Pompéia; B. Forno de uma padaria de Pompéia e C. Pão na moda de Pompéia feito em casa

Fora os pães “fósseis” de Pompéia são conhecidos os moldes dos moderadores, cachorros, gatos etc, que ficaram preservados e tiveram uma morte rápida embora terrível, pois o vulcão Vesúvio, fica a 7 km da cidade. Essa tragédia aconteceu primeiro com uma enorme coluna de fumaça e cinzas sendo expelida pelo vulcão e espalhada. A seguir os piroclastos (ou “bombas”, que são fragmentos de rocha expelidos durante a erupção) causaram o maior dano. Em Pompeia, a queda maciça de cinzas causou a queda de muitos telhados e durante a segunda fase, pessoas e animais foram mortos por ficarem expostos às altas temperaturas da lava, mesmo que distante, ou por serem sufocados pelas cinzas, enfim um final trágico para uma cidade e para muitos dos seus 12.000 habitantes.

Vulcão Vesúvio visto do porto de Nápoles (A) , vulcão visto das ruínas de Pompéia (B)  e um molde de uma vitima (C). A seta vermelha em (A) e (B) indica o vulcão Vesúvio.

Os corpos dos habitantes, na verdade, não podem ser considerados fósseis, pois o que você vê são os moldes feitos pelos arqueólogos nos espaços que os tecidos moles dos corpos deixaram ao se decompor. Essas camadas, por serem constituídas de um material fino (como argila), permitiram que os ossos permaneceram no local, e na verdade até a expressões dos seus rostos ficaram registradas em negativo. Assim, ao se moldar esses corpos preenchendo o molde original de cinza com resina produz-se um molde em positivo, que permite visualizar os corpos claramente, e que é facilmente retirado uma vez endurecida a resina.

Molde de um morador morto durante a erupção do Vesúvio em 79 antes de Cristo.

Enfim, voltando ao pão de Pompeia, foi possível descobrir que era utilizada uma forma de levedo que se conhece como o nome de massa madre. Essa massa se produz expondo uma mistura de água e farinha integral, em partes iguais, ao meio ambiente por algumas horas ou dias, para que os esporos de fungos (neste caso leveduras) que estão flutuando no ar caiam na mistura e auxiliem no crescimento da massa. Hoje em dia, o que se utiliza como fermento são tipos de leveduras mais selecionadas e mais efetivas.

Cabe comentar que a origem dos fungos se remonta à Era Paleoproterozoica, ou seja, os vestígios mais antigos de estruturas que podem ser atribuídas a fungos datam de 2.000 a 1.800 milhões de anos atrás e foram encontrados em camadas de rocha da Sibéria, próximas ao lago Baikal. Contudo, há suspeitas de que feições descritas recentemente para o Cráton da África do Sul possam ser filamentos de fungos, o que remontaria a presença de fungos a 2.400 milhões de anos atrás.

Evidências mais seguras de fungos são conhecidas para o Período Cambriano (540 milhões de anos atrás). A partir do Devoniano, fungos associados a raízes, denominados micorrizas, são encontrados junto às primeiras evidências de plantas, que por sinal estão belamente perseveradas silicificadas em camadas de sílex na Escócia. Na bacia do Paraná no estado de São Paulo também detectamos fungos fósseis em troncos permineralizados por sílica ou silicificados, neste caso, mais jovens. Outra pesquisa desenvolvida no nosso laboratório descreveu fungos epifílicos associados a folhas de angiospermas coletado em folhelhos da Formação Fonseca (a Bacia de Fonseca, estado de Minas Gerais, sudeste do Brasil) com idade ao redor de 30 milhões de anos atrás. Assim, vemos que os fungos têm um longo passado fóssil, e utilizá-los para fazer crescer a massa do pão deve ter sido uma prática comum desde que o home começou a fazer pão, ou seja o prazer de comer pão quentinho na primeira refeição do dia deve ser bem antigo.

Água de coco desde o Cretáceo acalmando a sede?

http://www.vix.com/pt/bdm

Na semana passada estive estudando fósseis no Ceará e estava quente, mas nada que uma refrescante água de coco gelada não ajudasse a acalmar, como no verão de Campinas quando, em janeiro, a temperatura chega próximo aos 40oC. Assim, enquanto bebia minha água de coco em Fortaleza, fiquei pensando na origem das palmeiras: quando foi mesmo que elas surgiram? Será que tem fósseis de coco da Bahia? Onde?

Após pesquisar descobri, que os registros mais antigos de palmeiras datam do período Cretáceo. São grãos de pólen sulcados, com uma ou mais aberturas longitudinais (por exemplo Mauritiidites), como os hoje encontrados na Família Arecaceae, à qual pertencem todas as palmeiras. Atualmente esta família possui uma distribuição cosmopolita, com aproximadamente 2.000 espécies agrupadas em 90 gêneros, dentro dos quais se destacam árvores, ervas com rizomas e alguns cipós. A maioria das Arecaceae hoje habita em regiões quentes e úmidas do planeta. No final do Cretáceo (70 milhões de anos no passado) eram plantas muito comuns nos hemisférios norte e sul, tanto que seus pólens são os elementos característicos da “Província Florística Palmae”, constituindo um 50% dos pólens encontrados nas assembleias. Assim, as palmeiras estão entre as monocotiledôneas mais antigas conhecidas. Os domínios da Província Palmae se estendiam desde o Sul da Argentina (dá para imaginar a Patagônia com um clima quente?) até o norte da América do Sul (hoje a Venezuela) e por grande parte da África, Índia (que no Cretáceo estava próxima do leste da África), e as costas do Mediterrâneo.

Pólen atual de uma palmeira.

Esta Província era caracterizada por uma vegetação diversificada e tropical. Além de pólens de palmeiras também foram encontrados folhas, frutos, folhas, lenhos e até flores. Como exemplo de fruto, foi descrito um exemplar de coco no estado de Pernambuco, encontrado associado com rochas da Formação Maria Farinha do Paleoceno. Outros cocos fósseis foram descritos nessa mesma idade na Índia, Argentina e Colômbia.

Já no início do Paleoceno (65 a 55 milhões de anos no passado) os fósseis de palmeiras são encontrados por todo o planeta. Eles são uma das evidências de que durante esse período do tempo geológico a Terra experimentou um regime climático quente e úmido, conhecido como Ótimo Termal, pois as palmeiras só podem habitar em climas onde a temperatura do mês mais frio não cai abaixo dos 5 a 7oC. Por exemplo, para Alberta, no oeste do Canadá, foram descritas grandes folhas de palmeiras que poderiam ter habitado em um clima mais ameno que o hoje encontrado nessa região do planeta. Dessa forma, acredita-se que durante o Paleoceno a temperatura caía pouco até os 50º de latitude.

Sim, como vocês estão pensando, as palmeiras foram contemporâneas dos dinossauros, inclusive tem sido encontrados locais nos quais foram preservados pequenos coquinhos associados a ossos desarticulados de dinossauros ceratopsídeos. Assim, vemos que as palmeiras sobreviveram a uma das maiores extinções do planeta Terra (aquela do limite Cretáceo – Paleógeno) e chegaram até os dias de hoje, ajudando a acalmar a sede… será que o mesmo aconteceu com os dinossauros ou com os mamíferos que surgiram no Paleógeno?

A emoção da Montanha Russa: respire fundo e um passo à frente

Oba, oba, oba que felicidade: a notícia que finalmente o artigo no qual trabalhamos nos últimos anos foi aceito para ser publicado finalmente, depois de idas e vindas!

Fonte: alearned.com/roller-coasters/ e MiNiBuDa/montaa-rusa

Neste texto quero falar acerca de uma das partes mais delicadas de trabalhar com pesquisa: publicar a nossa pesquisa ou conseguir publicar, pois existem as duas caras dessa atividade. Nem todos os artigos pelos quais trabalhei, pesquisei, dei o melhor de mim, foram aceitos para serem publicados e menos ainda aceitos sem correções, sugestões e até devolvidos com comentários terríveis. Outros em contrapartida, após algumas idas e vindas, foram aceitos com muitos elogios. Quem não passou por isso?. Contudo, meu sonho continua sendo ter um artigo aceito sem nenhuma correção ou sugestão de mudança. Como é esse processo? Na minha opinião poderia ser mais simples. Começa, claro, quando você tem uma ideia ou uma inquietude acerca de um fóssil ou um conjunto deles e a sua pesquisa se inicia. Pode ser necessário ir ao campo e procurar, coletar, descrever, fotografar, desenhar… voltar novamente ao local, verificar os seus dados de campo, ir com as suas amostras e exemplares ao laboratório, prepará-los, descrever de novo, interpretar e por fim produzir um dado e sua interpretação e começar a escrever…pensar….pensar…escrever, ler artigos relacionados ou não…discutir com um colega, alunos, acordar a noite e ficar pensando…matutando e ter a ideia de como explicar! Mudar o que se escreveu para melhor ou pior, tentar e tentar e no fim chegar a um texto que descreva o que você pensou e que transmita a sua Ideia para outras pessoas. Claro, não é só texto nas pesquisas em paleontologia em geral os artigos tem umas figuras muito lindas e bem feitas do seu material, aliás, esta é uma das partes mais importantes do texto: as prova do que você está falando. Figuras feias são um passo para o abismo, texto confuso é o próximo. Mas com todo o seu esforço por fazer o melhor possível, o sucesso não é garantido. Não tem, para mim, coisa mais difícil que abrir aquela mensagem da revista científica, em resposta ao artigo que você enviou há alguns meses e no qual trabalhou por alguns anos. Ler a mensagem do editor, que não tem como saber quais foram as dificuldades, problemas, etc. e ter seu artigo avaliado por relatores anônimos, que podem ou não acabar com todo esse esforço… o sistema de avaliação por pares. Vêm os comentários e o veredito, que você lê com o coração saindo pela boca e batendo acelerado, como ir a uma montanha russa a toda velocidade, e que fala: “aceito”, “negado”, “pode ser aceito caso você mude”, “nem mudando daria para aceitar” ou “que artigo mais legal, contudo você ainda não chegou lá”, “temos o prazer de informar que seu artigo está aceito”, etc. Um conhecido meu falava que às vezes, após algumas idas e vindas, você não quer nem escutar falar mais do seu artigo, ou em outras vezes, até tem vontade de emoldurar. Pois bem, não é fácil trabalhar com ciências; tem que estar preparado para ser constantemente questionado, arguido e não tem como escapar. Mas ainda assim, na maioria das vezes quando estudo fósseis, penso que não gostaria estar fazendo outra coisa nesse momento e que afortunada que sou por poder trabalhar com um desafio constante que me estimula e faz ter uma vida pouco rotineira, onde posso ajudar a outros a descobrir essa maravilha e a desfrutar do seu trabalho.

Não acredito que tenha colegas que nunca tiveram um artigo negado como eu, inclusive até grandes cientistas já tiveram as suas maiores contribuições não publicadas em várias ocasiões. Pelo menos não estou sozinha. O que fazer quando seu esforço não tem êxito? Quando a sua decepção ficar menor, pegue os comentários, leia, pense, mude o que achar que deve, defenda o que não é razoável e submeta de novo, e de novo, e de novo… Embora não seja fácil, pense que em cada retomada fica melhor, ou parta para outra pesquisa e experimente o infinito, pode ser que esta vez o sucesso seja seu e, quem sabe, então pegue seu artigo rejeitado mexa nele mais uma vez e submeta a outro periódico e ele seja aceito e se torne a sua melhor contribuição. Vai ver que o mundo ainda não estava pronto para ele..