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Um dinossauro no exílio e a luta contra o colonialismo científico

Poucos imaginariam que um dinossauro do tamanho de um ganso desencadearia uma das maiores polêmicas da Paleontologia nos últimos anos. Para bem ou para mal, “Ubirajara jubatus” tem chamado a atenção como poucos fósseis na história da Paleontologia.

Arte de Saulo Daniel, publicada no Twitter.

Quando foi revelado ao mundo no dia 13 de dezembro de 2020, “Ubirajara jubatus” deveria ter sido visto como uma descoberta interessante do ponto de pista científico, pois tratava-se do primeiro dinossauro não-aviano com penas do Hemisfério do Sul. Contudo, a sua importância foi rapidamente ofuscada por um emaranhado de problemas éticos e legais. O estudo de “Ubirajara” representa um típico caso de colonialismo científico: um fóssil brasileiro que foi parar de maneira suspeita num museu alemão (Museu Estadual de História Natural de Karlsruhe) e uma pesquisa feita exclusivamente por cientistas estrangeiros.

O conceito de colonialismo científico foi definido em 1967 por Johann Galtung como “o processo pelo qual o centro de adquisição do conhecimento sobre uma nação está fora a própria nação”. Isto se aplica ainda à Paleontologia de vários países, cujas pesquisas, em pleno século XXI, são predominantemente feitas por estrangeiros.

Além do Brasil, países como China, Mongólia, Marrocos, República Dominicana e Myanmar, têm estado na mira, tanto de traficantes de fósseis, como de pesquisadores sem escrúpulos. Os fósseis atraem a curiosidade do público e são um valioso recurso em muitos aspectos: científico, educacional, cultural e até econômico, gerando turismo e beneficiando o comércio local. Porém, todos estes benefícios ficam num país estrangeiro, quando os fósseis são levados (legal ou ilegalmente) ao exterior e terminam estudados por equipes de outros países, o que cria dependência científica e perpetua desigualdades sociais.

No Brasil, assim como em toda a América Latina e na maior parte dos países do mundo, os fósseis pertencem legalmente à Nação onde são encontrados. Durante décadas, contudo, milhares de fósseis têm saído ilegalmente da região do Araripe, no Nordeste do Brasil, região muito rica em termos paleontológicos, mas com um baixo índice de desenvolvimento humano. Estes fósseis são adquiridos a preços irrisórios por estrangeiros, chegam ilegalmente a feiras e leilões na Europa e terminam em coleções privadas ou em museus estrangeiros.

Centenas destes fósseis no exílio têm sido estudados por cientistas estrangeiros de maneira impune nas últimas décadas. Este problema é mais do que conhecido pela comunidade científica brasileira, porém estamos acostumados a que as nossas vozes não sejam escutadas no exterior. Problema que não enfrentam, por exemplo, os autores do estudo de “Ubirajara ” e de vários outros fósseis extraídos irregularmente do Brasil. Eberhard Frey (ex-curador da coleção de vertebrados do museu onde ainda hoje está “Ubirajara”) era, até 2021, nada menos que o presidente da Associação Europeia de Paleontologia de Vertebrados (EAVP, sigla em inglês), enquanto que David Martill, também autor do estudo de “Ubirajara”, publicou um artigo defendendo abertamente que os paleontólogos desrrespeitem as leis locais.

É uma luta que sempre tem sido desigual. Porém, desta vez foi diferente. Estamos na era das redes sociais, da comunicação científica online e das hashtags. O uso de hashtags como #BlackLivesMatter e #MeToo têm mostrado que as redes sociais podem unir esforços em torno de uma causa. #UbirajaraBelongstoBR (Ubirajara pertence ao Brasil), criada no Twitter pela paleontóloga e divulgadora científica Aline Ghilardi, se espalhou como fogo na internet, poucas horas após a notícia do novo dinossauro. No Youtube, foram feitas várias lives denunciando o caso, uma delas, pediu ao público pra desenhar “Ubirajara” e protestar nas redes usando a hashtag #UbirajaraBelongstoBR. Em poucos dias este era o dinossauro mais desenhado do mundo: artistas, crianças e público geral participavam da campanha. O ruído produzido foi tão alto que em duas semanas a revista Cretaceous Research retirou a pesquisa do ar e anunciou que investigava o caso.

Em setembro de 2021, o museu de Karlsruhe contra-atacou, publicando no Instagram um comunicado no qual afirmavam que o dinossauro Ubirajara era ‘propriedade do estado de Baden-Württemberg’ e que não seria devolvido ao Brasil. Em poucos dias acumularam-se mais de 10 mil comentários pouco amigáveis de brasileiros usando a hashtag #UbirajaraBelongstoBR. O museu teve que desativar a sua conta no Instagram. Poucos dias depois, a revista Science revelou que “Ubirajara” foi importado pela Alemanha em 2006 por uma empresa privada e, então, comprado pelo Museu Estadual de Historia Natural de Karlsruhe, em 2009, o que contradizia a alegação de Eberhard Frey, que afirmava tanto que ele mesmo tinha transportado o fóssil para Alemanha em 1995, portando uma suposta autorização do governo brasileiro.

No 15 de novembro de 2021, publicamos uma carta na revista Nature Ecology and Evolution, na qual explicamos os problemas legais e éticos envolvendo não só “Ubirajara”, mas vários outros fósseis que encontravam-se no museu de Karlsruhe e em outros museus do país. Enviamos essa carta à ministra de Ciência e Cultura do estado alemão de Baden-Württemberg e, um mês depois, ela nos respondeu prometendo investigar o caso e tomar ações contra os responsáveis.

Em março de 2022 publicamos, então, um amplo estudo onde denunciamos o colonialismo científico em centenas de estudos sobre fósseis do Brasil e do México. E, finalmente, em julho de 2022, o Ministério de Ciência e Cultura de Baden-Württemberg anunciou que o Museu Estadual de Historia Natural de Karlsruhe tinha atuado de maneira desonesta e ordenou a devolução do fóssil ao Brasil. Além disso, solicitou ao museu que informasse sobre todos os fósseis que se encontram irregularmente na sua coleção.

Eberhard Frey aposentou-se prematuramente em 2022 e Norbert Lenz, também autor do estudo e diretor do museu, foi removido do seu cargo em julho de 2022.

Devido à repercussão gerada pelo caso, algumas revistas acadêmicas têm adaptado políticas mais rígidas sobre a origem legal dos fósseis nas suas publicações. Adicionalmente, alguns países começaram a retornar voluntariamente fósseis ao Brasil, como em outubro de 2021, quando uma universidade dos EUA entregou 36 aranhas fósseis ao Museu de Paleontologia de Santana do Cariri, e em fevereiro de 2022, quando a Bélgica devolveu ao Brasil um pterossauro.

No momento em que estas linhas são escritas, seguimos esperando pela repatriação, não só do dinossauro “Ubirajara”, mas de centenas de outros fósseis que se encontram irregularmente em Karlsruhe e em outros museus da Alemanha. Aconteça o que acontecer, a Ciência não será a mesma após este caso. “Ubirajara” está já no salão da fama dos maus exemplos na Paleontologia, junto a Archaeoraptor e ao Homem de Piltdown.

*Este texto foi originalmente publicado em espanhol em http://saberesyciencias.com.mx/2023/02/10/dinosaurio-exilio-la-lucha-colonialismo-cientifico/

Referências:

Smyth, R.S.H. et al. 2020. WITHDRAWN: A maned theropod dinosaur from Gondwana with elaborate integumentary structures. Cretaceous Research.

Martill, D. 2018. Why palaeontologists must break the law: a polemic from an apologist. The Geological Curator 10: 641-649.

Padilha, P. K. 2020. ROUBARAM mais um DINOSSAURO DO BRASIL #UbirajarabelongstoBR. https://youtu.be/Uf_QjXwbEDU

Pérez Ortega, R. 2021. Retraction is ‘second extinction’ for rare dinosaur. Science 374: 14-15.

Cisneros, J.C. 2021. The moral and legal imperative to return illegally exported fossils. Nature Ecology & Evolution, 6:2-3.

Cisneros, J.C. 2022. Digging deeper into colonial palaeontological practices in modern day Mexico and Brazil. Royal Society Open Science 9:210898.

Um dinossauro pescoçudo nanico é o mais novo dinossauro brasileiro

Os maiores animais a caminharem em terra firme foram os dinossauros saurópodes, apelidados de pescoçudos. Algumas espécies de pescoçudos,  como o Argentinosaurus ou o Patagotitan, encontrados na Argentina, podiam ultrapassar 30 metros de comprimento. Verdadeiros colossos capazes de fazer a terra tremer! Mas nem todos os saurópodes eram assim… Existiram centenas de espécies desses dinossauros em quase todos os continentes e, apesar da maioria ser conhecida pelo seu grande tamanho, algumas formas adotaram uma tendência contrária. Existem alguns casos de pescoçudos anões, formas com a altura de um cavalo ou de um camelo, como Magyarosaurus ou Europasaurus, encontrados em ambientes de ilhas antigas. Via de regra, essas formas anãs são encontradas em ambientes de ilhas, pois devido a restrição de área e recursos, a miniaturização do corpo pode ser uma vantagem. Porém, para nossa surpresa, fósseis de uma nova espécie de dinossauro pescoçudo anão foram encontradas aqui no interior do Brasil, em um lugar que esteve bem longe do mar durante toda a Era dos Dinossauros. Essa espécie de dinossauro foi descoberta na cidade de Ibirá, no interior de São Paulo, e se tornou uma das menores espécies de dinossauros pescoçudos conhecidas do mundo!

Reconstituição da nova espécie de dinossauro anão de Ibirá. Arte por Matheus Gadelha.

Por mais de 15 anos o Prof. Marcelo Fernandes (UFSCar) e seu grupo de pesquisa, eu inclusa, têm coletado fósseis no Noroeste Paulista, em uma localidade onde são encontrados abundantes fósseis de dinossauros. As rochas e fósseis dessa localidade datam do Período Cretáceo e têm aproximadamente 80 milhões de anos. Dentre os fósseis recuperados estão restos de dinossauros carnívoros, crocodilos, tartarugas e vários outros animais da “Era dos Dinossauros”. Muitos restos de dinossauros herbívoros foram encontrados na localidade, mas até o momento nenhuma espécie de pescoçudo havia sido nomeada para a região.

Eu procurando por fósseis no sítio onde foram encontrados fósseis do pequeno pescoçudo em Ibirá, SP. Foto por Tito Aureliano.

Fui eu quem trabalhou pela primeira vez, durante a minha graduação, com os fósseis do pequeno dinossauro pescoçudo de Ibirá. Àquela época, o dinossauro não ganhou nome, mas foi reconhecido como diferente das outras espécies descritas para o Brasil até então. Muito tempo se passou, mais fósseis desse pequeno dinossauro foram encontrados e, finalmente, alguns anos atrás, a missão de liderar a descrição da espécie desse misterioso dinossauro nanico foi dada ao paleontólogo Bruno Navarro, atualmente estudante de doutorado no Museu de Zoologia da USP, e especialista em dinossauros saurópodes. Bruno, Marcelo e eu contamos com a ajuda de uma excelente equipe de colaboradores nesse processo e, no último dia 15 de setembro, apresentamos formalmente essa nova espécie de dinossauro ao mundo científico.

O colega Bruno Navarro em Ibirá, SP, procurando por fósseis. Foto do arquivo pessoal de Bruno.

Comparando os fósseis do pequeno dinossauro de Ibirá com materiais de outros animais do mesmo grupo encontrados no Brasil e no mundo, foi possível concluir que ele pertencia à família dos saltassauros, um grupo de titanossauros que inclui algumas espécies de já de tamanho bastante reduzido. Além disso, o pequeno dinossauro de Ibirá apresentava várias características únicas, não compartilhadas com seus parentes mais próximos, logo, uma nova espécie poderia ser batizada. O nome escolhido foi Ibirania parva. Ibirania é a junção das palavras Ibirá – cidade onde a espécie foi encontrada – e ania que em grego significa “caminhante, peregrino”. Já parva é o latim para ‘pequeno’. Como a palavra Ibirá vem do Tupi para “Árvore” – é possível traduzir o nome desse dinossauro como “o pequeno peregrino das árvores”.

Reconstituição artística de Ibirania parva por Hugo Cafasso.

Desde o princípio era possível notar que os fósseis desse pescoçudo de Ibirá eram muito pequenos quando comparado a outros titanossauros, mas ao estimar o tamanho aproximado de um dos espécimes analisados, nos surpreendemos. Ele teria entre 5 e 6 metros de comprimento e seria da altura de uma vaca, o que o colocaria entre as menores espécies de saurópodes já descritas do mundo! Para checar se o tamanho reduzido seria porque o  espécime era apenas um jovem quando morreu, resolvemos analisar o tecido ósseo fossilizado do dinossauro ao microscópio. Essas amostras foram analisadas pelo paleontólogo Tito Aureliano, atualmente estudante de doutorado da Unicamp. A partir da análise do tecido ósseo foi possível concluir que Ibirania realmente era uma espécie de titanossauro anão, já que os fósseis pertenciam a um animal adulto no momento de sua morte, ou seja, ele não cresceria mais ao longo de sua vida.

Tamanho estimado de Ibirania parva comparado a um humano de 1,80m. Em destaque as partes descobertas do esqueleto.

Vértebra dorsal de Ibirania parva. Imagem de Navarro et al. (2022). Escala = 10cm.

No interior de São Paulo, durante o final do Período Cretáceo, há 80 milhões de anos, caminharam muitos dinossauros pescoçudos de grande tamanho, e até gigantes, como o Austroposeidon. Mas havia algo de especial na região de Ibirá, que favoreceu a existência de pescoçudos nanicos. Diferente de outros anões que viviam em ilhas tropicais onde hoje é a Europa, como Magyarosaurus ou Europasaurus, Ibirania vivia no interior do Brasil, em um ambiente semi-árido com períodos chuvosos intercalados por secas intensas. Foi esse ambiente hostil, com recursos limitados periodicamente, que selecionou esses pequenos dinossaurinhos herbívoros, que ao invés de migrar, provavelmente permaneciam residentes na região.

Ibirania é a primeira espécie comprovadamente anã das Américas e viveu em um contexto muito diferente dos outros dinossauros pescoçudos anões já encontrados. Ela acrescenta novas informações sobre a evolução dos titanossauros e também sobre a ocorrência de nanismo em dinossauros saurópodes. Ibirania recebeu o apelido carinhoso de “Bilbo”, em referência ao hobbit de “O Senhor dos Anéis”, por ser um nanico entre gigantes. Se você quiser saber todas as descobertas que este ‘dinossauro-Hobbit’ já forneceu, assista à playlist: https://www.youtube.com/watch?v=_kH96sPGjfg&list=PLHPifkNwYyYYNFP-wvUXNti7NGkfNQ8hz.

O estudo foi publicado na revista Ameghiniana e pode ser acessado AQUI.

Assista também ao vídeo de divulgação:

Referência:

A. Navarro, B., M. Ghilardi, A. ., Aureliano, T., Díez Díaz, V., N. Bandeira, K. L., S. Cattaruzzi, A. G., V. Iori, F., M. Martine, A., B. Carvalho, A., Anelli, L. E., A. Fernandes, M., & Zaher, H. (2022). A NEW NANOID TITANOSAUR (DINOSAURIA: SAUROPODA) FROM THE UPPER CRETACEOUS OF BRAZIL. Ameghiniana, 59(5), 317-354. https://doi.org/10.5710/AMGH.25.08.2022.3477

A separação dos continentes em uma visão histórica

Texto por Mário G. F. Esperança Júnior

As paisagens que reconhecemos à nossa volta possuem uma história bastante dinâmica. Por exemplo: rios mudam de curso, lagos secam, mares retraem e avançam sobre os continentes… Em um intervalo de tempo mais amplo, montanhas são formadas e erodidas, oceanos se fecham, novas espécies de organismos surgem enquanto outras são extintas. Evidências geológicas mostram que esses processos são recorrentes e se sucederam por todo o planeta desde seus primórdios.

No sul do Brasil, afloram rochas do período Permiano, intervalo que compreende de 298 a 252 milhões de anos atrás. Essas rochas são ricas em fósseis da extinta Flora Glossopteris, plantas as quais também são encontradas em depósitos sedimentares da África, Antártida, Austrália e Índia. Atualmente, estas regiões estão separadas por extensos oceanos, que são barreiras intransponíveis para grande parte dos organismos terrestres, incluindo as plantas. Sendo assim, pode-se deduzir que tais áreas estiveram unidas durante o Permiano, e mais tarde se afastaram até chegarem em suas localizações atuais. Dessa forma, as floras e faunas que antigamente colonizaram regiões contíguas, passaram a ser encontradas na forma de fósseis em lugares distantes.

A evolução desse pensamento científico levou muitos anos até chegar aos moldes que hoje conhecemos. Mas para entendermos a sucessão dos fatos que nos levam a resposta acerca de tais semelhanças fossilíferas, precisamos voltar alguns séculos atrás…

As primeiras ideias

Com a chegada dos europeus ao continente americano no século XV e com a confecção dos primeiros mapas em escala global, notou-se que a costa oeste da África e leste da América do Sul possuem contornos semelhantes, assim sugerindo que tais continentes estivessem em algum momento unidos. Àquela época, contudo, perduravam as ideias bíblicas de que a Terra seria jovem, e o conhecimento científico limitava-se à observação direta do meio devido à ausência de tecnologia capaz de comprovar tais fenômenos. Somente no século XVII é que surgiram as primeiras evidências acerca de uma idade para a Terra. Ao observar intrusões de granitos, bem como o ciclo de erosão e deposição de sedimentos, o naturalista escocês James Hutton deduziu que havia muito tempo envolvido nesses processos, concluindo que a Terra seria muito antiga, “sem vestígio de um começo, nem perspectiva de um fim” (Hutton, 1788). Décadas mais tarde, o matemático irlandês Lord Kelvin calculou a idade do planeta, que estaria entre 20 e 400 milhões de anos, dado o presente equilíbrio térmico e fluxo de calor da superfície. Esse cálculo foi posteriormente refinado, mas somente no final do século XIX, com a descoberta da radioatividade por Henri Becquerel e o subsequente desenvolvimento das técnicas de datação radiométricas, é que se chegou à atual idade de 4,56 bilhões de anos. Essa escala de tempo é grande o suficiente para explicar processos naturais muito lentos para a humanidade, porém recorrentes na história da Terra.

A comprovação da existência de um tempo profundo talvez tenha sido um dos principais fatores para o estabelecimento de uma teoria que explicasse o encaixe dos continentes percebido séculos antes. Tais ideias foram fomentadas no início do século XX com o trabalho do geólogo austríaco Eduard Suess (Fig. 1), ao notar a presença das folhas fósseis do tipo Glossopteris na América do Sul, África e Índia. A coocorrência das mesmas plantas em áreas distantes e separadas por oceanos é um indicativo de que essas massas de terra já estiveram conectadas, por fim denominando essa antiga região como Terra de Gondwana (Suess, 1885). A fim de explicar tal observação, Suess deduziu que o resfriamento do planeta causaria o adensamento de certas áreas que consequentemente afundariam formando os oceanos. Entre essas regiões, haveria pontes de terra permitindo o intercâmbio da fauna e flora, sendo que estas conexões mais tarde submergiriam resultando no padrão geográfico atual. Essa teoria, no entanto, não foi bem aceita por não existirem evidências físicas de tais fenômenos. Nos anos subsequentes, propuseram-se, ainda, que uma massa de terra primária poderia ter sido partida em continentes menores devido à expansão volumétrica do planeta (Mantovani, 1889), e também que a movimentação das mesmas seria fruto da força das marés – hipóteses que foram rejeitadas por físicos e matemáticos.

Fig. 1. Autores de importantes trabalhos na construção da geologia moderna. Da esquerda para a direita: James Hutton, Eduard Suess, Alfred Wegener, Arthur Holmes e John Tuzo Wilson. Modificado de commons.wikimedia.org.

Foi assim que, em 1915, o meteorologista alemão Alfred Wegener propôs que as massas continentais outrora estivessem amalgamadas no supercontinente Pangeia (Fig. 2), dadas semelhanças não somente entre os fósseis, mas também com as rochas e estruturas geológicas encontradas nos dois lados do Atlântico (Wood, 1980). Por exemplo, a presença de fósseis de Mesossauros, antigos répteis marinhos encontrados na América do Sul e África, também apontavam para tal proximidade. Além disso, a ampla presença de rochas glaciais, denominadas de tilitos, sugeria uma união de diversas áreas próximo ao polo sul. Com essas e outras evidências, propôs-se a teoria do afastamento, ou deriva dos continentes, fenômeno que seria decorrente da rotação da Terra (Wegener, 1915). Contudo, a explicação de Wegener sobre o motor responsável pela deriva não foi bem aceita pela comunidade científica. O verdadeiro mecanismo responsável pela afastamento dos continentes só foi estabelecido anos mais tarde pelo geólogo inglês Arthur Holmes. Conforme a ideia apresentada, existiriam fluxos convectivos verticais abaixo dos continentes, constantemente alimentados pelo calor gerado por elementos radioativos do interior da Terra. Tais fluxos arrastariam as massas continentais continuadamente, ocasionando na formação de assoalho oceânico nas regiões em que as correntes quentes sobem, e na criação de montanhas na borda em que o fluxo frio desce (Holmes, 1931). Entretanto, as evidências do processo descrito por Holmes surgiram somente anos depois com a ampliação do conhecimento sobre o fundo oceânico.

Fig. 2. Configuração atual dos continentes (à esquerda) e uma definição atualística da Pangeia durante o período Permiano, com os contornos dos continentes modernos (à direita).
 

Nesse sentido, o conhecimento a respeito da Dorsal Mesoatlântica exerceu um papel fundamental no entendimento da deriva continental. Esta cadeia de montanhas submarina foi inicialmente identificada em 1872, em uma expedição liderada pelo naturalista escocês Charles W. Thomson com o objetivo de investigar a área por onde passariam cabos submarinos de telégrafo, ligando a Europa à América do Norte. Mas foi somente após a Segunda Guerra Mundial que realmente se intensificaram as pesquisas sobre o assoalho marinho, o que incluiu os primeiros mapeamentos do fundo oceânico realizados por sonar (Heezen et al., 1959). Com isso, constatou-se que a Dorsal Mesoatlântica, em quase sua totalidade, inclui um vale em rifte – regiões de vulcanismo intenso em que terremotos são frequentes. Além disso, datações do assoalho marinho mostraram que o mesmo é composto por rochas vulcânicas jovens. Dessa maneira, a formação da litosfera oceânica é o resultado da atividade vulcânica recente desses riftes, que pouco a pouco afastam porções mais antigas, expandindo o oceano (Heezen, 1960; Dietz, 1961). Assim, ao menos parte das ideias de Holmes já possuía alguma comprovação no início da década de 60.

O nascimento de uma teoria unificadora

No entanto, existia uma interessante questão em aberto: já que o assoalho dos oceanos é criado ao longo das dorsais, haveria algum mecanismo capaz de destruí-lo? Com o avanço do mapeamento do fundo marinho durante a década de 60, o geólogo canadense John Tuzo Wilson constatou que certas falhas geológicas, dorsais e fossas submarinas se interconectam formando grandes placas. Assim, a litosfera seria dividida em diversas placas rígidas que se movimentam e submergem sob os arcos vulcânicos ao envelhecerem e resfriarem. À medida que o oceano é destruído, os continentes circundantes se aproximam e eventualmente colidem formando cadeias de montanhas, a exemplo dos Himalaias (Wilson, 1963; 1965; 1966). Dessa forma, a abertura e fechamento dos oceanos seria um encadeamento cíclico, e portanto, repetitivo ao longo da história da Terra (Fig. 3). Mais tarde, esse processo foi denominado, em sua homenagem, de Ciclo de Wilson – uma importante contribuição ao que hoje conhecemos por Teoria da Tectônica de Placas (Fig. 4).

Fig. 3. O Ciclo de Wilson. 1 – Desenvolvimento de rifte sobre um continente estável; 2 – Com a continuidade do processo, surge um oceano com uma dorsal entre duas massas de terra; 3 – O oceano se expande afastando os continentes; 4 – A litosfera oceânica esfria e adensa, afundando na astenosfera e resultando numa fossa adjacente a um arco vulcânico; 5 – O oceano é consumido, reaproximando os continentes; 6 – Os continentes colidem formando uma única massa de terra com uma cadeia montanhosa; 7 – As montanhas são erodidas.

Atualmente, o avanço tecnológico permite inferir temperaturas para o interior da Terra através de tomografia sísmica. Com isso, comprovou-se a existência de regiões quentes próximas às dorsais, enquanto que as temperaturas são mais baixas onde antigas placas oceânicas afundaram. Essa ascensão de material quente e descida de rochas frias demonstra o processo de convecção proposto por Holmes no começo do século passado. O desenvolvimento da tecnologia permitiu, também, mensurar com grande precisão a taxa de afastamento dos continentes (e portanto, a taxa de expansão do assoalho oceânico). No caso do Atlântico, o afastamento varia de 1,8 centímetro por ano, próximo à Islândia; até 3,5 centímetros ao ano, entre o Brasil e o sul da África (Grotzinger e Jordan, 2013), velocidades realmente lentas para a percepção da humanidade. Entretanto, distâncias consideráveis podem ser alcançadas, levando-se em consideração o amplo intervalo de tempo que compreende a fascinante história da Terra.

Fig. 4. As placas tectônicas e alguns exemplos dos estágios do Ciclo de Wilson (conforme fig. 3). 1 – Grande Vale do Rifte (África); 2 – Mar do Japão; 3 – Oceano Atlântico (fotografia da porção emersa da Dorsal Mesoatlântica, Islândia); 4 – Andes (Vulcão El Cotopaxi, Equador); 5 – Mar Mediterrâneo; 6 – Himalaias (Ásia); 7 – Eurásia central. Modificado de commons.wikimedia.org (autores: Ævar Arnfjörð Bjarmason, peterhartree, David Ceballos, Shivam Maini).

Referências

Dietz, R.S. 1961. Continent and ocean-basin evolution by spreading of the sea floor. Nature 190, 854-857.

Grotzinger J., Jordan T.H. 2013. Para entender a Terra. 6. ed. Porto Alegre: Bookman.

Heezen, B.C., Tharp, M., Ewing, M. 1959. The floors of the ocean, I. The North Atlantic. Geological Society of America, Special Paper 65.

Heezen, B.C. 1960. The rift in the ocean floor. Scientific American 203, 98-110.

Holmes, A. 1931. XVIII. Radioactivity and Earth Movements. Transactions of the Geological Society of Glasgow 18(3), 559–606.

Hutton, J. 1788. X. Theory of the Earth; or an Investigation of the Laws observable in the Composition, Dissolution, and Restoration of Land upon the Globe. Earth and Environmental Science Transactions of The Royal Society of Edinburgh 1(2), 209 – 304.

Mantovani, R. 1889. Les fractures de l’écorce terrestre et la théorie de Laplace. Bulletin de la Société des sciences et arts de l’Ile de la Réunion, 41–53.

Suess, E. Das Antlitz der Erde. 1885. Leipzig: Freytag.

Wegener, A. 1915. Die Entstehung der Kontinente und Ozeane. Braunschweig: Vieweg.

Wilson, J.T. 1963. A possible origin of the Hawaiian islands. Canadian Journal of Physics 41, 863-870.

Wilson, J.T. 1965. A new class of faults and their bearing on continental drift. Nature 207, 343-347.

Wilson, J.T. 1966. Did the Atlantic close and then re-open? Nature 211, 676-681.

Wood, R.M. 1980. Coming Apart at the Seams. New Scientist 85, 252-254.

A rainha das “cobras-cegas”

Pesquisadores brasileiros em parceria com colegas australianos descreveram recentemente, o fóssil de uma espécie de “cobra-cega”, que viveu no Sudeste do Brasil há mais de 85 milhões de anos. Além de o fóssil ser muito importante para o entendimento da evolução do grupo, a espécie é a maior já encontrada entre as cobras-cegas vivas ou extintas. Boipeba tayasuensis, como foi batizada, tinha cerca de 1 metro de comprimento, e sua descoberta preenche uma grande lacuna na história evolutiva das serpentes Scolecophidia.

Boipeba tayasuensis, uma grande cobra-cega do Cretáceo do Brasil. Arte de Jorge Blanco.

O fóssil de Boipeba foi encontrado no município de Taiaçu no Oeste do Estado de São Paulo, próximo à Monte Alto, localidade já conhecida pela ampla ocorrência de fósseis do Período Cretáceo. O principal responsável pelo estudo foi Thiago S. Fachini, estudante de doutorado, orientado pela Professora Annie S. Hsiou, ambos da USP de Ribeirão Preto. O estudo ainda contou com a participação de outros dois colegas brasileiros, Silvio Onary e Mário Bronzati, e dois pesquisadores australianos.

O trabalho foi publicado dia 19 de novembro na revista iScience e baseia-se na descrição de uma vértebra bem distinta, grande, para uma “cobra-cega”, e com um formato notavelmente achatado. Daí o nome Boipeba, que significa “cobra-achatada” em Tupi-Guarani. O epíteto específico, “tayasuensis”, faz referência ao município de Taiaçu, assim, a combinação do nome da nova espécie fóssil significa “cobra-achatada de Taiaçu”.

A distinta vértebra de Boipeba tayasuensis (Fachini et al. 2020).

Boipeba tayasuensis era uma serpente de médio porte, com comprimento estimado em 1 metro, tamanho bastante semelhante ao de outras cobras fósseis do mesmo período. O interessante, todavia, é o fato de Boipeba ser uma serpente Scolecophidia, ou seja, um tipo de “cobra-cega”. Atualmente, as cobras-cegas são pequenas serpentes escavadoras, de hábitos essencialmente subterrâneos, que tem os seus olhos bastante reduzidos. As espécies atuais de Scolecophidia não ultrapassam 30 cm de comprimento, o que torna Boipeba uma gigante das cobras-cegas. Mesmo as outras formas fósseis conhecidas não têm tamanho comparável ao da “cobra-achatada de Taiaçu”. O fato de ela ser tão grande dá uma pista aos pesquisadores sobre as tendências evolutivas do grupo. A “miniaturização” em Scolecophidia pode ter sido uma tendência mais recente, acompanhando fatores ambientais e ecológicos.

Mas não é só o tamanho que torna Boipeba importante. Fósseis de serpentes são muito raros no Cretáceo, ainda mais na Bacia Bauru, unidade geológica na qual ela foi encontrada. Outros fósseis associados à serpentes já haviam sido descobertos, mas este é o primeiro descrito formalmente como espécie. Boipeba, portanto, amplia o nosso conhecimento sobre a diversidade de organismos do Cretáceo da Bacia Bauru e torna a rede ecológica deste antigo paleoambiente mais complexa.

No Cretáceo brasileiro, o único outro registro inequívoco de uma espécie de serpente é de Seismophis septentrionalis, do Cenomaniano do Maranhão (Bacia de São Luís-Grajaú). Tetrapodophis amplectus, comumente referida como a “cobra com patas” do Aptiano-Albiano da Bacia do Araripe, é questionada por muitos autores e tem uma história bastante complexa (leia mais sobre isso aqui).

Outro aspecto que destaca a descoberta de Boipeba para a Ciência é a idade do seu fóssil. Ela é a espécie mais antiga de cobra-cega já descoberta. Os registros mais antigos de Scolecophidia até então encontrados, eram datados do final do Paleoceno e início do Eoceno da Europa e África (cerca de 56 milhões de anos atrás). Contudo, análises moleculares estimavam o surgimento do grupo para o Cretáceo. Boipeba confirma essa hipótese. A diversificação inicial das cobras-cegas pode ter acontecido na América do Sul e o Brasil pode ter sido um dos palcos principais deste evento evolutivo.

Boipeba estende o registro de Scolecophidia para o Cretáceo Superior do Brasil, preenchendo uma lacuna no espaço e no tempo para a compreensão evolutiva do grupo. As previsões moleculares agora ganharam sustento de evidências paleontológicas.

Boipeba é mais uma descoberta recente que demonstra como o território brasileiro é importante para a Paleontologia mundial. As contribuições que o artigo de Boipeba traz são fundamentais para os estudiosos de evolução de serpentes e, com certeza, atrairão a atenção de paleontólogos do mundo para os estratos rochosos do interior de São Paulo.

NOTA: o grupo mais popularmente conhecido como “cobra-cega” são as cecílias, ou gimnofionas, que são um tipo de anfíbio. As Scolecophidia, um grupo de serpente, todavia, também podem ser chamadas de “cobras-cegas” por conta de seus olhos reduzidos.

Referência:

Fachini, T. S., Onary, S., Palci, A., Lee, M. S. Y., Bronzati, M., Hsiou, A. S. CRETACEOUS BLINDSNAKE FROM BRAZIL FILLS MAJOR GAP IN SNAKE EVOLUTION. iScience, 1-40. doi: https://doi.org/10.101 /j.isci.2020.101834

Vespersaurus: Um novo dino brasileiro

Estudo publicado nesta quarta-feira (26/06/19) na revista Scientific Reports, do grupo Nature, apresenta uma nova espécie de dinossauro brasileiro, que viveu no Período Cretáceo, há cerca de 90 milhões de anos.

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Reconstrução em vida de Vespersaurus paranensis. Crédito da imagem: Rodolfo Nogueira.

O fóssil foi encontrado no município de Cruzeiro do Oeste, PR, e foi estudado por paleontólogos das universidades de São Paulo (USP) e Estadual de Maringá (UEM), além de pesquisadores do Museo Argentino de Ciências Naturales e do Museu de Paleontologia de Cruzeiro do Oeste. A nova espécie foi nomeada Vespersaurus paranaensis.

Vesper (do latim) significa oeste/entardecer, em referência ao nome da cidade onde foi descoberto o fóssil, e paranaensis faz uma homenagem ao Estado do Paraná, já que este é o primeiro dinossauro paranaense descrito.

Os fósseis da nova espécie de dinossauro pertencem a um grupo de dinossauros carnívoros chamados de Noasaurinae. Os Noasaurinae são abelissauros diferentões, de pequeno porte, encontrados desde a Argentina até Madagascar (com possíveis registros na Índia). Estes terópodes viveram em uma época em que os continentes do sul ainda estavam unidos, formando o Gondwana, e transitavam de um lado para o outro, cruzando um imenso deserto que existia entre o Brasil e a África.
Restos de Noasaurinae já eram conhecidos para o Brasil (veja Lindoso et al., 2012 e Brum et al., 2016), mas este é o material mais completo encontrado até o momento. É também o material mais completo de dinossauro terópode descrito para o Brasil até agora, com quase metade do esqueleto encontrado.

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Representação tridimensional do esqueleto de Vespersaurus paranensis indicando (em cor sólida) os ossos que foram encontrados. Crédito da imagem: Rodolfo Nogueira.

O novo dinossauro possuía vértebras pneumáticas, que conferiam leveza ao seu esqueleto, como nas aves viventes, e um braço muito reduzido (com menos da metade do comprimento da perna). Porém, a sua característica anatômica mais peculiar eram os pés. Seu peso era praticamente todo suportado por um único dedo central, sendo o animal funcionalmente monodáctilo, como os cavalos. Os dedos que flanqueavam o dígito central, por sua vez, possuíam grandes garras em forma de lâmina, que deveriam servir para cortar e raspar carne.

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Pata direita de Vespersaurus paranensis como preservada na rocha, note a garra do quarto dedo em forma de lâmina. Foto de Paulo Manzig.

As rochas do noroeste paranaense, nas quais Vespersaurus foi preservado formaram-se em ambientes desérticos, o que sugere que o animal deveria ser adaptado a esse tipo de clima. Na década de 70, em rochas relacionadas, o paleontólogo Giuseppe Leonardi descobriu uma ampla assembleia de pegadas fósseis. Algumas, feitas por um pequeno dinossauro bípede, carnívoro, aparentemente monodáctilo. À época não se conhecia nenhum animal com tais características ao qual elas pudessem ser atribuídas. Muito tempo depois, o produtor parece ter sido encontrado.

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Reconstrução em vida do pé de Vespersaurus paranensis. Crédito da imagem: Rodolfo Nogueira.

Vespersaurus paranaensis não é primeira espécie cretácica a ser encontrada no noroeste do Paraná. No mesmo sítio fossilífero em Cruzeiro do Oeste foram descobertos também o lagarto Gueragama sulamericana e inúmeros indivíduos do pterossauro Caiuajara dobruskii. A descoberta de mais uma espécie fóssil em Cruzeiro do Oeste deve impulsionar as pesquisas paleontológicas na região.

Veja o artigo:

Langer et al., 2019. A new desert-dwelling dinosaur (Theropoda, Noasaurinae) from the Cretaceous of south Brazil. Scientific Reports https://www.nature.com/articles/s41598-019-45306-9

Demais referências:

Brum, A.S., Machado, E.B., de Almeida Campos, D. and Kellner, A.W.A., 2016. Morphology and internal structure of two new abelisaurid remains (Theropoda, Dinosauria) from the Adamantina Formation (Turonian–Maastrichtian), Bauru Group, Paraná Basin, Brazil. Cretaceous Research60, pp.287-296.

Lindoso, R.M., Medeiros, M.A., de Souza Carvalho, I. and da Silva Marinho, T., 2012. Masiakasaurus-like theropod teeth from the Alcântara Formation, São Luís Basin (Cenomanian), northeastern Brazil. Cretaceous Research36, pp.119-124.