Vai um Táquion aí?

A que ponto chega a charlatanice (negritos meus):

Introdução à energia de Tachyon, os produtos da Galaxy Nº1 e uma sabedoria muito antiga

Por diversos anos a Galaxy Nº1 tem produzido os primeiros produtos europeus Tachyon. Desde 1998, estes produtos são conhecidos internacionalmente como produtos Terra Tachyon. Os produtos constroem um campo constante da energia Tachyon ao redor deles, com sua habilidade de atrair e focalizar esta energia.

O físico americano Gerald Feinberg foi a primeira a pessoa a predizer e definir a existência dos Tachyons em 1964. Escolheu o termo tachyon,  da palavra grega tachys ‘rapidamente’ e  íon ‘mover’. Isto para definir as partículas subatômicas hipotéticas que viajam mais rapidamente do que a velocidade de luz. Estas partículas são conhecidas por não ter nenhuma massa, mas conter a energia. De acordo com as definições mais atrasadas, Tachyons é um tipo da energia cósmica livre, que nos cercam e a nosso planeta em toda parte e que normalmente permeia a matéria continuamente. A definição da Galaxy Nº1 de Tachyons expande a compreensão desta palavra como também tendo uma consciência independente e sendo portadores da informação do universo. Sua habilidade de viajar aos cantos distantes do universo em um instante, os faz onipresente.

Com nossos produtos não há nenhum risco de over-dose porque seu corpo aprende como usar os Tachyons. Isto se dá pela integração do princípio criativo da árvore da vida no processo de alterar os materiais. A árvore da vida é um símbolo antigo e poderoso da Kabbala.

A Fabricação dos produtos Terra Tachyon

Muitos perguntam como o conhecimento para produzir produtos Tachyon foi gerado e porque não é mais conhecido. A resposta é muito simples: (1) Primeiramente, a existência dos Tachyons é ainda cientificamente controversa. (2) Em segundo, a informação de fundo da Galaxy Nº1 não veio das vias normais: é baseada na informação canalizada. Você é bem-vindo a ler mais sobre canalizar e o significado tipo do trabalho para a Galaxy Nº1, em outra parte deste site.

Apoiado por seres espirituais elevados, nós desenvolvemos o procedimento de Tequence. Este é um processo técnico e energético que altera substâncias como o vidro, a seda, o metal, os líquidos e mesmo a espuma de borracha em um centro de drop-in (em gota) terreno (pequenos portais que os trazem a nossa realidade física) para permitir a energia cósmica dos Tachyons.

Este processo altera permanentemente a estrutura molecular e energética destes materiais. Com exceção da espuma de borracha, os materiais nunca perderão sua nova qualidade. Mesmo que o material quebre, ou danifique permanecerá a trabalhar como uma antena para os Tachyons.

(…)

Tachyons pode trazer a informação do futuro. Por isso são capazes de permitir ao seres humanos a liberar seu passado e realizar seus potenciais. Este é reconhecido agora como um processo interdimensional, visto que dá credibilidade às recentes teorias da ciência (tais como a teoria das Super cordas), que reconhece até 12 dimensões na estrutura atômica, e vê o “tempo” como uma fusão de passado e do futuro.

“Ah… Renan… mas ninguém é estúpido, ou ingênuo, o suficiente para gastar dinheiro com isso!”

Au contraire, caro leitor. Há, sim, gente disposta a desperdiçar dinheiro com esse tipo de lixo. Mas nem precisa ir tão longe quanto esse produtos de “Táquions”.

Filtros Magnetizadores de Água, Filtros com Infravermelho, Colchões e Paumilhas com Ímãs, Purificadores de Ar que “emitem íons Negativos”, Secadores de Cabelo com Íons são todos produtos que alardam propriedades absurdas e que são bastante comprados pelos consumidores ingênuos.

Essas coisas me deixam revoltado… como não tive esse tipo de idéia antes?

Quanta ‘Qu’oisa Quântica, não?

Sempre digo que “Física Quântica” virou uma palavra-coringa para se falar de coisas que não se faz idéia do que são. “I don`t know how it works, but it’s surely quantum!”. Com o lançamentos de “filmes” (seria mais preciso chamá-los de mockumentaries, mas…), como Quem Somos Nós e O Segredo, a Física Quântica virou sinônimo de doideira mística. Mas não só isso. Essa “popularização” fez com que qualquer coisa que envolvesse probabilidades e incertezas fosse automaticamente atribuída à Física Quântica.

Na Inglaterra, uma poeta resolveu criar poemas construídos aleatoriamente com a ajuda de ovelhas. Cada ovelha foi pintada com uma palavra e, de acordo com os ritmos de movimento e descanso dos animais, os poemas são escritos. Da BBC [1]:

A North East writer has been given a grant of £2,000 to use sheep to create random poems, which also utilise the deepest workings of the universe.

The money has been provided by Northern Arts for Valerie Laws to create a new form of “random” literature.

Each of the animals has a word from a poem written on their backs and as they wander about the words take a new poetic form each time they come to rest.

But the exercise is not just an attempt to create living poems, it is also, according to the poet, an exercise in quantum mechanics.

The animals being sprayed belong to farmer Donald Slater of Whitehouse Farm Centre, Morpeth, in Northumberland.

Mrs Laws, 48, said: “I like the idea of using living sheep to create a living poem, and creating new work as they move around.
“Quantum mechanics is a branch of physics which a lot of people find hard to understand, as it seems to go against common sense.
“Randomness and uncertainty is at the centre of how the universe is put together, and is quite difficult for us as humans who rely on order.
“So I decided to explore randomness and some of the principles of quantum mechanics, through poetry, using the medium of sheep.”
Mrs Laws created a poem for the project, based on the traditional Japanese haiku form of poetry.
Each sheep had a word from the poem sprayed on their back, and when they came to rest a new text was created.
Farmer Donald Slater said: “After last year’s devastation (of foot-and-mouth) we all needed cheering up and this might just do it.”
A spokesman for Northern Arts called the scheme “an exciting fusion of poetry and quantum physics”.
One of the poems created by the sheep reads:
Warm drift, graze gentle, White below the sky, Soft sheep, mirrors, Snow clouds.

Na parte que grifei lê-se:

“Então eu decidi explorar a aleatoriedade e alguns princípios da Mecânica Quântica, através da poesia, usando as ovelhas como meio.”

Exploração de aleatoriedade pode até ser, mas está longe de se relacionar de qualquer maneira, mesmo metaforicamente, com Mecânica Quântica. Até porque todo mundo sabe que os únicos animais sujeitos a efeitos quânticos são os gatos.

De outro artigo [2], dessa vez sobre esportes:

“Every year, each team has just as much chance to win every game as it does to lose every game,” Morris said. “It’s called quantum physics and the laws of chance and probability. Thirty-one other teams have already gone down in flames. But the Titans have a 50-50 chance each week to win, and those chances never improve beyond 50-50, because on any given Sunday, anyone can win. As long as you keep that in perspective, you have a chance to win every game.”

A vitória de um time está relacionada com acaso e probabilidades mas nem um pouco com Física Quântica. Bem, há alguns casos de Tunelamento de times de futebol brasileiros para a primeira divisão quando deveriam ser rebaixados, mas isso é totalmente metafórico.

Mas não podemos rir apenas da ignorância estrangeira. Aqui vai uma pérola de uma atriz brasileira [3]. Não é exatamente sobre Física Quântica, mas é provável fruto da leitura desses livros misticóides quânticos de gosto duvidoso:

Quais são os outros? A amorosa reprodução. Quando você gera um filho amorosamente, você se sente Deus, sabe? Você é mãe?

Não. As pessoas não querem mais ser mãe. Se você for, vai ver. Vai entender o lado divino do ser humano e vai passar para uma segunda dimensão. Os físicos falam isso, não é?

Pois é caro leitor, você era uma Reta e nem sabia disso. Vai ver é algum tipo de metáfora para o quanto as mulheres engordam depois que tem filhos. Sei lá.

É claro que existem utilizações e citações bem piores, principalmente as vindas dos meios “intelectuais” (Qwa Qwa Qwa). Mais dessas coisas ficarão para outra hora. O que já ouvi de Psicólogo (ah, como eles gostam do Quem Somos Nós…) e “Cientista” Social falando besteira em nome da Física Quântica, Teoria do Caos, Fractais…

[1] Encontrado no blog do Michael Nielsen.

[2] Encontrado no Physics and Physicists.

[3] Enviado por uma amiga.

Pipocas de Celular?

O leitor deve ser um dos quazilhões de pessoas que assistiram ao vídeo abaixo do YouTube em que três amigos usam seus celulares para estourar pipocas. Se você acreditou no vídeo, meus parabéns. Você é oficialmente um trouxa.

Wired traz uma matéria em que o Físico Louis Bloomfield comenta o Fenômeno. Não que fosse realmente necessário. Se as ondas emitidas pelos celulares transferissem energia o suficiente para estourar um caroço de pipoca em 20 segundos, imagine a quantidade de pessoas com queimaduras severas após telefonarem!

As pessoas deveriam pensar um pouco mas antes de aceitar toda besteira que assistem nos tubos. Se para cada besteira espalhada pela internet for necessário que um Físico se movimente para refutar, eles não vão fazer mais nada na vida.

Guia da Prática Impostora, Lição 112: A Exaltação do Irrelevante

Caro Leitor,

É notavel a incrível quantidade de novos produtos fabricados todos os anos que simplesmente não funcionam da forma como são anunciados. Um exemplo são os inúmeros produtos para emagrecimento.  Há, inclusive, certa parcela que alarda capacidades terapêuticas e medicinais a partir de propriedades que são simplesmente inócuas.

A lição de hoje se destina aos adeptos desse tipo de impostura industrial. Vamos aprender como se faz para, em face da pouquíssima cultura científica da população em geral, fazer algumas montanhas de dinheiro.

Analizemos os famosos jarros/bebedouros/filtros magnéticos, por exemplo este:

Com refil filtrante, que e purifica a água e elimina o cloro, o filtro magnetizador ainda magnetiza a água, proporcionando propriedades benéficas a saúde. Além disso é de fácil limpeza, prático e higiênico.
A água imantada proporciona:
– uma melhora da circulação sanguínea, diminuindo a fadiga e o cansaço;
– o melhor funcionamento dos rins, bexiga e sistema digestivo;
– qualidade físico-química do sangue, ajudando a combater o colesterol, ácido úrico, triglicérides, glicose e creatina.

Vamos por partes.

De forma simples, o que significa imantar/magnetizar um material?

Considere as moléculas de uma material qualquer. Elas possuem uma propriedade chamada Momento de Dipolo Magnético (que pode ser natural ou induzido). Vamos representar essa propriedade por uma setinha em cada molécula.

Quando um campo magnético (de um imã, por exemplo) é aplicado ao material, suas moléculas tenderão a se alinhar com o campo. Se a substância é Paramagnética as setinhas apontam no mesmo sentido do campo (ou paralelamente), mas se é Diamagnética as setinhas apontam no sentido contrário (ou antiparalelamente). A esse alinhamento, tanto paralelo com antiparalelo, damos o nome de Magnetização.

Entretanto, a Magnetização não é, nem de longe, perfeita. As moléculas de um material se movimentam aleatoriamente, se chocando umas com as outras e com as paredes do recipiente, que chamamos de Agitação Térmica.

Nos sólidos as moléculas se movimentam pouco, praticamente só vibram em torno de uma posição. Nos Líquidos, e em grau maior nos Gases, as moléculas estão livres para se movimentar.

Então, quando aplicamos o campo magnético, as moléculas tenderão a alinhar suas setinhas com o campo. Porém, elas continuam se movimentando e se chocando o tempo todo, perdendo continuamente seu alinhamento com o campo. Quanto maior a intensidade do campo aplicado, maior é a tendência ao alinhamento e menor é o efeito da Agitação Térmica. Num sólido, com um campo forte o suficiente, é relativamente fácil magnetizar a boa parte das moléculas. Mas num Líquido ou Gás isso é muito difícil em condições ambiente.

Quando, então, retiramos o campo magnético, o efeito da Agitação Térmica se torna dominante e o material é rapidamente desmagnetizado. Exceto por algumas substâncias, tipicamente sólidos, que pondem manter a magnetização por um grande período de tempo mesmo depois da retirada do campo, sendo chamadas de Ferromagnéticas.

Agora podemos avaliar o que acontece com a água magnetizada:

  • A água é uma substância Diamagnética, ou seja, suas “setinhas” alinham-se antiparalelamente ao campo magnético.

  • Por ser um líquido, a magnetização que adquire está longe de significativa para campos de baixa intensidade, como o de um imã pequeno.

  • Quando retiramos a água da influência do campo magnético ela perde rapidamente sua magnetização já que ela não é uma substância Ferromagnética.

Ora, evidentemente, para bebermos a água do filtro devemos retirá-la do mesmo e colocá-la num copo, ou algo equivalente.

E o que acontece? A água do copo não está mais sob influência do campo magnético do imã que está no filtro, suas “setinhas” não tendem mais a ficar alinhadas com o campo, ou seja, magnetizadas. Então a água perde sua magnetização assim que a colocamos no copo para bebê-la. Então para todos os efeitos, inclusive biológicos, ela nunca esteve magnetizada.

O que não impede os fabricantes desses filtros de alardarem a “Água Magnetizada” como uma panacea. O que eles não falam é que ela estará magnetizada apenas, no máximo, enquanto estiver DENTRO do filtro, então pouco importa se a água magnetizada cura realmente alguma coisa, já que a água que você beberá não estará magnetizada.

Existe outra infinidade de produtos como o acima. Fazem questão de anunciar que funcionam por tais e tais processos, e que emitem tais e tais “ondas”, e curam tais e tais doenças, mas no fim são, quase completamente, inúteis.

São eles: os Colchões “Magnéticos”, os Secadores de Cabelo com “Íons” ou “Infravermelho”, Filtros com “Infravermelho”, Purificadores de ar que emite “Íons Negativos” e outros.

Entretanto, o leitor pode argumentar: “Mas eu tenho o Produto X que você falou e ele funcionou muito bem comigo. Estou mais Saudável/Bonito/Rico, então o Produto X funcionou, certo?

ERRADO!

Todo impostor desenvolve seu produto para parecer que funciona. Para mais detalhes leia a Lição 314 deste guia.

Então lembre-se, querido impostor, que você deve sempre atribuir ao seu produto propriedades incríveis devido a mecanismos que o público não faz idéia do que significam, citando, quando possível, termos científicos ininteligíveis aos leigos.

Ignorância é Dinheiro deve ser o mote de todo impostor eficiente.

Agora mãos à massa. Façam os seguintes exercícios para praticarmos os conceitos dessa lição.

Exercício 1: Você precisa anunciar um produto feito de “moléculas instáveis” e outro que emite “Quarks Charm de Alta Energia”. Atribua-lhes qualidades que atrairiam potenciais compradores.

Exercício 2: Determinado produto diz aumentar as capacidades psíquicas dos usuários. Descreva seu funcionamento.

Coloquem suas respostas para os exercícios nos comentários abaixo.

Até a próxima lição.

Guia da Prática Impostora, Lição 314: Validação Seletiva

Caro Leitor,

Benvindos a mais uma lição do Guia da Prática Impostora. Na lição de hoje veremos mais um dos métodos ao qual você, pequeno impostor, deve estar antento ao desenvolver e popularizar sua impostura.

É evidente que sua Impostura não funciona de verdade, afinal não a chamaríamos de Impostura se ela funcionasse. Contudo, mais importante que ela funcionar, devemos tomar medidas para que nossos clientes tenham certeza que ela funcionou com eles. Assim, nossa impostura pode ser espalhada no “boca-a-boca” a despeito do que os céticos chatos possam falar.

É sabido que nós, humanos, tendemos a favorecer, em nossa memória, acontecimentos que validam nossa visão de mundo e que tendemos a favorecer as observações sobre um fenômeno que se adequam ao que esperávamos. Em outras palavras: nós contamos os acertos e esquecemos os erros.

Qualquer impostura que dependa da confirmação do público-alvo deve valer-se desse fato. Nossa estratégia é fazer com que o público se lembre de quando a impostura funcionou e se esqueça de quando ela falhou. Chamaremos isso de Validação Seletiva.

Aliás, é bem possível que você mesmo, pequeno impostor, tenha sido vítima de um efeito semelhante enquanto desenvolvia sua impostura.

Chamemos então de Observação Seletiva quando o impostor escolhe os “dados bons” de uma experiência de acordo com o que se esperava dele. É uma tática interessante porque no fim o impostor só mostrará os “dados bons” ao público, que não terá motivos para desconfiar. Bom, exceto por aquele punhado de céticos chatos espalhados por ai. A Observação Seletiva nem sempre é consciente, por isso que em muitos testes de medicamentos, por exemplo, usam-se grupos de controle e testes duplo-cegos para evitar esse tipo de efeito. Mas não se preocupe, querido impostor, nós não precisamos desse tipo de precaução em nossa imposturas.

Tome o seguinte exemplo:

Desde o lançamento do documentário “Quem Somos Nós?” (talvez mesmo antes) um certo cientista foi alçado à notoriedade. Masaru Emoto teria descoberto que a forma de cristais de água era afetada por palavras escritas em papéis que eram colados nos frascos onde estavam.

Então, os cristais no frasco escrito “Você me deixa doente, eu vou te matar” se formariam bastante deformados (abaixo, à esquerda), enquanto os do frasco em que estava escrito “Obrigado” se formariam perfeitamente (abaixo, à direita).

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Aprenda com o senhor Emoto, pequeno impostor. Ele, muito provavelmente, já tinha em sua mente o que queria achar. Emoto acreditava que a consciência, as intenções e os sentimentos seriam capazes de interferir com o mundo externo. Então ele estava, mesmo que inconscientemente, propenso a favorecer obervações que confirmavam aquilo que esperava.

Numa única gota de água congelada, se formam uma quantidade enorme de cristais. Ao olharmos através de um microscópio veríamos uma infinidade de cristais diferentes e de forma alguma seria difícil encontrar entre eles um que se adequasse à hipótese inicial. E tendo em vista que valorizamos aquelas observações que concordam conosco e ignoramos as que nos contradizem, a hipótese de Emoto está confirmada. Por ele mesmo é claro.

E se não era ele quem manipulava os microscópios? Pode-se perguntar. Ora, considerem que eram assistentes que observavam os cristais pelo microscópio e os fotografavam, se eles sabiam a conclusão a que o senhor Emoto queria chegar, eles, mesmo inconscientemente, favoreceriam aqueles cristais que confirmassem suas espectativas. Ou você afirmaria tão facilmente que seu empregador estaria errado.

Pois bem, com todos esses defeitos metodológicos (incluindo ainda a falta de um grupo de controle) a impostura de Masaru Emoto prosperou. O público-alvo não se importa com esse pequenos detalhes, então a Observação Seletiva de Emoto acabou se mostrando uma vantagem no concorrido mundo das imposturas (rendendo inúmeros livros, por exemplo).

Mas a Observação Seletiva não esgota o assunto desta lição. Veremos agora alguns casos em que é a Validação Seletiva do público-alvo que entra em ação. Dois exemplos são o bastante para ilustrar o quanto o cérebro humano é capaz de ajudar-lhe, caro impostor, na propagação de imposturas.

Tomemos como primeiro exemplo as descrições de personalidades que podemos encontrar em livros de astrologia. Imaginemos que uma pessoa cujo signo astrológico seja Gêmeos. Ela abre o livro no capítulo dedicado a tal signo. Lendo o texto, é certo que ela se identificará com a maioria das características ali presentes (incluindo os defeitos). Enquanto se ela ler o capítulo de outro signo, digamos Escorpião, não estará tão disposta a aceitar como verdadeiras para si as características daquele signo.

Ora, será então que as descrições feitas pelo livro são tão precisas assim? É um fato, que pode ser averiguado por qualquer um, que esse tipo de livro é escrito da forma mais genérica possível (quanto menos incisiva for uma afirmação mais difícil dela ser considerada falsa) e as características (qualidades e defeitos) se distribuem e se repetem mais ou menos uniformemente. Há igual probabilidade de uma pessoa se identificar ou não com qualquer um dos signos ao lê-lo sem saber de qual deles se trata.

Praticamente a partir do nascimento, é martelado na cabeça de cada um de nós o signo a que “pertencemos” e dessa forma somos inconsientemente levados a favorecer e considerar válidos aqueles textos que falam explicitamente de nosso signo. E mais uma impostura prospera. Já viu a quantidade de livros que existem sobre astrologia? (Aliás, livros e imposturas possuem uma ligação bastante estreita, mas isso fica para outra lição).

Outro exemplo pode ser encontrado nas chamadas “Medicinas Alternativas“. Todos já ouviram falar de dezenas de receitas “caseiras” para curar resfriados e gripes. Ora, é também sabido que resfriados e gripes comuns costumam ser curados naturalmente pelo corpo dentro de uma semana. Algumas “medicinas alternativas” se valem desse fato para sua proliferação.

O cérebro humano é ótimo para associar relação de causa entre dois eventos quaisquer que se sucedam no tempo, ou seja, se um evento B aconteceu logo depois de um evento A, é comum que nosso cérebro considere que A causou B. Então, se fizermos uso de alguma “medicina alternativa” lá pelo sexto dia do resfriado, no sétimo ou oitavo dia, quando o resfriado ceder, estaremos condicionados a aceitar que aquela medida que tomamos foi o que curou o resfriado. Mas se fizermos uso da mesma “medicina alternativa” no primeiro ou segundo dia do resfriado e ela não fizer efeito (ignorando o Efeito Placebo) não consideraremos aquilo como uma falha. Como ela já “funcionou” antes com tanta gente, nós simplesmente ignoraremos a falha.

Então, nobre aspirante a impostor, se quiser que sua impostura seja um sucesso, fique atento para que ela explore a Validação Seletiva do público-alvo, como os exemplos acima o fazem. Assim, não importa o que aqueles céticos chatos falem, se o púbico achar que “se comigo funcionou é verdade” sua impostura possui grandes chances de figurar entre as mais bem sucedidas.

Agora mãos à massa. Façam os seguintes exercícios para praticarmos os conceitos dessa lição.

Exercício 1: Pense em quantas vezes algo que você sonhou alguma noite se realizou no dia seguinte ou num dia próximo. O que você pode concluir disso?

Exercício 2: Agora pense em quantos sonhos você teve que NÃO se realizaram no dia seguinte ou num dia próximo. O que você pode concluir disso?

Exercício 3: Pense em quantas de suas “preces” foram atendidas. O que você pode concluir disso?

Exercício 4: Pense em quantas de suas “preces” NÃO foram atendidas. O que você pode concluir disso?

Coloquem suas respostas para os exercícios nos comentários abaixo.

Até a próxima lição.

~6,02 x 10²³ motivos para rejeitar a Homeopatia

Será que há qualquer argumento em defesa dessa prática que é simplesmente absurda dos pontos de vista físico, químico e biológico? Veremos que não.

Mas, para começarmos, o que é a Homeopatia, afinal? Segundo o site da Associação Médica Homeopática Brasileira (AMHB), a Homeopatia:

É um método de tratamento criado pelo médico alemão Samuel Hahnemann, em 1796, que se fundamenta na Lei dos Semelhantes, citada pelo Pai da Medicina Hipócrates no ano 450 a.C. Segundo esta lei, os semelhantes se curam pelos semelhantes, isto é, para tratar um indivíduo que está doente é necessário aplicar um medicamento que apresente (quando experimentado no homem sadio) os mesmos sintomas que o doente apresenta.

Exemplificando: Se uma pessoa sã ingerir doses tóxicas de certa substância, irá apresentar sintomas como dores gástricas, vômitos e diarréia; se, por outro lado, for administrada essa mesma substância, preparada homeopaticamente, ao enfermo que apresenta dores gástricas, vômitos e diarréia, com características semelhantes àquelas causadas pela substância em questão, obtêm-se, como resultado, a cura desses sintomas.

Hummm… então a Homeopatia é um tratamento criado há mais de 200 anos baseado numa “Lei” de Hipócrates de 2450 anos atrás, quando a medicina apenas engatinhava? Putz…

Um dos preceitos mais fundamentais, depois da “cura pelos semelhantes” (que faz tão pouco sentido que não vou nem me dignar a comentar), é a Diluição da substância do futuro medicamento

Mas como funciona essa Diluição? É um princípio da Homeopatia (para não dizer Dogma) que quanto mais diluida uma substância maior é o efeito posterior.

Tomemos uma substância W. Há dois métodos de Diluição: num deles faz-se diluições sucessivas em 1 parte de W para 10 partes de água, noutro método as diluições são de 1 parte de W para cada 100 partes de água. Como para fins de argumentação será irrelevante qual o método escolhido, vou utilizar o primeiro.

Suponhamos que eu tenho certa quantidade de W. A primeira coisa a fazer é diluí-la em 10 partes de água. Essa é a primeira diluição ou 1X (o “X” nos diz que a diluição é de 1 para 10, a diluição de 1 para 100 é denotada “C”).

Agita-se a solução. Retira-se a décima parte da solução e dilui-se em outras 10 partes de água. Temos 2X. É fácil notar que temos em cada parte dessa segunda solução aproximadamente 100 vezes menos substância que originalmente, ou seja, continuamos com 1 centésimo das moléculas que tínhamos anteriormente.

Retiramos uma décima parte da nova solução e repetimos o processo sucessivamente até a diluição desejada. Então, teremos:

  • 3X : Um milésimo dos átomos originais ou 1/1000.

  • 4X : 1/10000

  • 5X : 1/100000

E assim em diante diminuindo em dez vezes a concentração da substância W original.

Agora vem o pulo: uma concentração comum para medicamentos homeopáticos é 30X, ou 30 diluições sucessivas. O que isso significa? Que esperamos ter:

1/1000000000000000000000000000000

da substância original.

Mas e se tivermos um mol da subtância original, ou seja, cerca de 6,02 x 10²³ átomos da substância W? Na 24° diluição possivelmente já teríamos  cerca de um átomo do soluto na solução inteira. E na 30° solução teríamos UMA chance em UM Milhão de existir UMA molécula da substância W na solução.

Mas isso é bobagem perto de outras soluções homeopáticas. Algumas diluições alcançam a incrível marca de 200C, ou seja, a substância W seria sucessivamente diluída em 100 partes de água por 200 vezes. No final teríamos 1 parte de substância para 100200 ou 10400 de água (1 seguido de 400 zeros). Segundo nossa conta anterior, teríamos então UMA chance em 10376 de encontrarmos UMA molécula da substância W na solução!!!

Ora, como a Homeopatia pode ter qualquer efeito se não sobra nem sombra da substância original? Como pode haver efeito molecular na ausência de moléculas? Ora, NÃO HÁ EFEITO ALGUM ou será que toda a Física e Química estarão erradas?

Pense no seguinte caso: pegamos um mol de HCl e fazemos uma solução 200C. Em seguida, misturamos a solução à um mol de NaOH. Algum de vocês acha que se formaria alguma molécula de NaCl?

Entretanto, segundo esse princípio da homeopatia deveriam ser formados até mais moléculas de NaCl que o normal, afinal a diluição torna a substância mais potente, ou não? Será que essa “potência” não tem a ver com a capacidade de reagir com outras substância? Não é nisso que está baseado todo conhecimento médico atual?

Mas um bom impostor nunca desiste, não é? Os Homeopatas, para escaparem desse beco sem saída, postulam uma misteriosa “Memória da Água”, que é tão misteriosa quanto risível.

Guia da Prática Impostora, Lição 231: Quote Mining

Caro Leitor,

Apresento agora um passo importante para ingressar no maravilhoso mundo da impostura. Não se preocupe caso não possua experiência anterior, prometo ser o mais didático possível. Posso até desenhar. O importante é que essa lição seja aprendida devidamente.

Considerarei que você já possui uma Impostura pronta, e que seguiu todas as lições anteriores. Mas para o caso de ter começado a leitura deste guia por esta lição, procurarei apresentar diversos exemplos ilustrativos de como aplicá-la para que não se perca no processo.

Muito bem. Você acabou de criar sua impostura novinha em folha — que não seja muito original, afinal, um impostor que se preze apenas recicla idéias antigas. Não estamos aqui para criar nada novo ou explicar nenhum fenômemo novo, os cientistas já fazem isso — e precisa agora de alguns elementos para autentificá-la e dar-lhe credibilidade?

Ora, até que seria possível fazer com que cientistas famosos escrevessem algumas palavras gentis sobre sua impostura, mas sabemos que dificilmente fariam isso já que são muito chatos, sempre preocupados com “a avaliação dos resultados experimentais”, “a concordância com a realidade observável” e outros mitos.

Mas que tal fingirmos que eles falaram bem de sua impostura? Ou pelo menos que falaram algo que serve de apoio para ela? Como se faz isso? Pelo processo de Quote Mining.

O Quote Mining é uma expressão inglesa que pode ser traduzida como Mineração de Citações e que consiste em selecionar, dentre um grande número, uma citação de determinado autor que, ao ser analisada fora de contexto, pareça dizer algo totalmente diferente do que o autor dizia originalmente. Também pode ser chamado de Cherry Picking ou Contextomy. Essa prática pode estar misturada às falácias do Espantalho e Argumento à Autoridade.

Difícil? Vamos para um exemplo:

Todos devem conhecer a frase de Einstein:

A Religião sem a Ciência é cega, a Ciência sem a Religião é aleijada,

usada frequentemente para afirmar que Einstein de alguma forma apoiava a Religião Institucionalizada. Mas o trecho completo é este:

Even though the realms of religion and science in themselves are clearly marked off from each other, nevertheless there exist between the two strong reciprocal relationships and dependencies. Though religion may be that which determines the goal, it has, nevertheless, learned from science, in the broadest sense, what means will contribute to the attainment of the goals it has set up. But science can only be created by those who are thoroughly imbued with the aspiration toward truth and understanding. This source of feeling, however, springs from the sphere of religion. To this there also belongs the faith in the possibility that the regulations valid for the world of existence are rational, that is, comprehensible to reason. I cannot conceive of a genuine scientist without that profound faith. The situation may be expressed by an image: science without religion is lame, religion without science is blind.

Though I have asserted above that in truth a legitimate conflict between religion and science cannot exist, I must nevertheless qualify this assertion once again on an essential point, with reference to the actual content of historical religions. This qualification has to do with the concept of God. During the youthful period of mankind’s spiritual evolution human fantasy created gods in man’s own image, who, by the operations of their will were supposed to determine, or at any rate to influence, the phenomenal world. Man sought to alter the disposition of these gods in his own favor by means of magic and prayer. The idea of God in the religions taught at present is a sublimation of that old concept of the gods. Its anthropomorphic character is shown, for instance, by the fact that men appeal to the Divine Being in prayers and plead for the fulfillment of their wishes.

Publicado em “Out of My Later Years” (1950)

Ou, para os leitores pouco familiarizados com o inglês:

Apesar dos reinos da religião e da ciência serem claramente demarcados separados um do outro, ainda assim existe entre eles fortes dependências e relacionamentos recíprocos. Apesar de ser a religião que determina seus objetivos, ela aprendeu com a ciência, no mais amplo senso, quais meios contribuirão para alcançar esses objetivos. Mas a ciência só pode ser criada por aqueles que estão profundamente carregados com a aspiração pela verdade e pela compreensão. A fonte desse sentimento, entretanto, vem da esfera da religião. A ela também pertence a fé na possibilidade que as regras válidas para o mundo da existência são racionais, isto é, compreensíveis pela razão. Eu não posso conceber um cientista sem esta profunda fé. A situação pode ser ilustrada por uma imagem: ciência sem religião é aleijada, religião sem ciência é cega.

Apesar de ter afirmado acima que, na verdade, um conflito legítimo entre religião e ciência não pode existir, eu devo, entretanto, qualificar essa afirmação mais uma vez num ponto essencial, com referência ao conteúdo real das religiões históricas. Essa qualificação tem a ver com o conceito de Deus. Durante o período juvenil da evolução espiritual da humanidade, a fantasia humana criou deuses à sua própria imagem, que, pela operação de suas vontades, deveriam determinar, ou de alguma forma influenciar, o mundo dos fenômenos. O Homem procurava alterar a disposição desses deuses em seu favor por meio de magias e preces. A idéia de Deus nas religiões ensinadas atualmente é uma sublimação daquele velho conceito de deuses. Sua personalidade antropomórfica é revelado, por exemplo, pelo fato de que a humanidade apela ao Ser Divino em preces e imploram pela realização de seus desejos.

O trecho completo mostra que Einstein queria dizer, basicamente, o contrário do que a citação isolada parecia afirmar, já que mesmo a definição de religião do texto parece ser diferente daquela comumente utilizada. Entretanto, nada impede que tomemos certa liberdade criativa de separar a frase de seu contexto e usá-la para os propósitos que quizermos, certo?

Àqueles que ainda não conseguiram compreender o processo de Quote Mining, mostrarei um outro exemplo. Não se preocupem. Não os censuro. Eu sei que o processo de criação da Impostura é intelectualmente exaustivo.

Muitos são os Criacionistas que utilizam, em seus argumentos contra a Teoria da Evolução, a seguinte frase escrita por Charles Darwin em A Origem das Espécies:

To suppose that the eye, with all its inimitable contrivances for adjusting the focus to different distances, for admitting different amounts of light, and for the correction of spherical and chromatic aberration, could have been formed by natural selection, seems, I freely confess, absurd in the highest possible degree.

The Origin of Species, 1st Edition, Chapter 6, pp. 186-7

Ou:

Supor que o olho, com seus inimitáveis mecanismos para ajustar o foco para diferentes distâncias, para controlar a entrada de diferentes quantidades de luz, e para correção de aberrações esféricas e cromáticas, possam ter sido formadas pela seleção natural parece, eu confesso, absurdo no mais alto grau possível.

Tal citação pode ser usada, mais específicamente, para apoiar a hipótese de Michael Behe da “Complexidade Irredutível” do olho humano. Hipótese que não encontra qualquer apoio na Biologia moderna, e por isso mesmo precisamos fazer parecer que até mesmo Darwin apoiaria tal idéia.

O trecho não para ali, mas continua:

Yet reason tells me, that if numerous gradations from a perfect and complex eye to one very imperfect and simple, each grade being useful to its possessor, can be shown to exist; if further, the eye does vary ever so slightly, and the variations be inherited, which is certainly the case; and if any variation or modification in the organ be ever useful to an animal under changing conditions of life, then the difficulty of believing that a perfect and complex eye could be formed by natural selection, though insuperable by our imagination, can hardly be considered real.

Ou:

Ainda assim a Razão me diz que se numerosas graduações, de um olho perfeito e complexo a um muito imperfeito e simples, mas com cada grau sendo útil ao seu possuidor, puderem ter sua existência mostrada; se além disso, o olho variar apenas levemente, e as varições forem herdadas, o que é certamente o caso; e se cada variação ou modificação no orgão for útil ao animal sob mudanças em suas condições de vida, então a dificuldade de acreditar que um olho complexo e perfeito pode ser formado por seleção natural, apesar de insuperável por nossa imaginação, pode dificilmente ser considerada real.

E continua por outras trê páginas a tratar desse assunto. Podemos ver que Darwin não considerava o olho “irredutivelemente complexo” como a citação parecia afirmar. O que realmente não importa para quem esta usando a citação, não é mesmo?

Até aqui espero ter deixado claro como o Quote Mining funciona. Mas como fazer na prática? Como fazer parecer que algum cientista aprova nossa Impostura? Não se inquiete pequeno Impostor. Observe o esquema abaixo (Clique para ampliar):

quote-mining.gif

Não existe possibilidade de erro se seguirmos as instruções acima. Mas se mesmo assim você não conseguir executar o Quote Mining corretamente não se preocupe. Existem outras formas de fazer sua impostura parecer cientificamente legítima, que abordaremos em lições futuras.

Agora mãos à massa. Façam os seguintes exercícios para praticarmos os conceitos dessa lição.

Exercício 1: Imagine que sua impostura diga que todas as doenças são causadas pelo baixo consumo de água, e que todas elas podem ser curadas apenas aumentado a quantidade de água ingerida diariamente. Use o mecanismo aprendido nessa lição para encontrar uma citação que apóie sua afirmação.

Exercício 2: Encontre citações, através do mecanismo aprendido nessa lição, de Biólogos especializados na Teoria da Evolução que apóiem a impostura criacionista.

Exercício 3: Encontra citações, através do mecanismo aprendido nessa lição, que apóiem uma impostura de sua própria criação.

Coloquem suas respostas para os exercícios nos comentários abaixo.

Até a próxima lição.

Se a Física não concorda com você, modifique a Física!

O que uma pessoa normal faria se, ao desenvolver uma determinada argumentação, esbarrasse em um pequeno detalhe: as Leis da Física não apoiam seus argumentos?

É de se esperar que a pessoa modifique seu argumento de forma que não mais vá de encontro à Física, ao menos se ela quiser ser levada minimamente a sério.

Mas o que o Impostor faria?

Modificaria a Física é claro!

Em 20 de Julho de 1969 quando a Apollo 11 pousou na superfície lunar, marcando “um grande salto para a humanidade”, marcou também uma nova classe de conspiracionistas: aqueles que diziam que a Nasa havia forjado o pouso da Apollo 11 e, após algum tempo, das outras 5 missões (Apollo 12, 14, 15, 16 e 17) que também levaram tripulantes à Lua. Esses conspiracionistas nunca tiveram muito espaço. Isto é, até o advento da Internet e de sua capacidade de dar espaço a todo tipo de lunático (com o perdão do trocadilho).

Um desses é André Basílio, o autor do site A Fraude do Século. Dentre a grande quantidade de erros que Basílio comete, abrangendo diversas áreas, encontra-se um que chama à atenção pelo absurdo de sua construção.

Observe a foto abaixo (clique para ampliar) :

Basílio argumenta que a Penunbra vista na foto, no traje do astronauta, é uma prova da fraude das missões lunares porque, pasmem, não existe formação de penumbra na Lua porque ela não possui atmosfera! Não, você não leu errado. Confira abaixo o trecho do site em que Basílio comete essa pérola:

(…)

Agora, note como são perfeitas as definições de sombra na roupa do astronauta Edwin Aldrin sendo que, na Lua, não há refração da luz. Ou seja, não existe penumbra. Ou a sombra é total (totalmente preta), ou não há sombra. Penumbras como estas, perfeitamente visíveis na roupa de Aldrin, são impossíveis de existirem na Lua porque na Lua não há atmosfera. E são os gases existentes na atmosfera os responsáveis pelas penumbras no nosso planeta.

(…)

Como é que funciona a refração? Para ficar mais fácil de você entender, utilize a sua mão próxima ao tampo de uma mesa. Veja como é a sombra de sua mão incidindo sobre a mesa. Aproxime a sua mão do tampo da mesa e perceba que a sombra passa a ficar mais escura. Aproxime mais ainda, quase encostando a sua mão na mesa e você verá que a sombra ficou ainda mais escura. Se você fizer isso à noite, com uma luz acesa, você verá que a tendência é de se criar uma sombra tão escura que fique impossível conseguir ver a mesa com perfeição quanto mais próxima da mesa estiver a sua mão. Por quê isso acontece? É devido às partículas de oxigênio (e outros gases) existentes no ar. Quando a sua mão está mais distante da mesa, há uma sombra, mas você ainda consegue enxergar esta parte da mesa com perfeição. Isto ocorre porque a luz que incidiria diretamente sobre a mesa foi barrada pela sua mão. Mas, parte da luz ainda conseguiu chegar à mesa porque entre a sua mão e a mesa existem partículas de oxigênio; e a luz que estava incidindo, de cima para baixo, conseguiu fazer uma pequena curva, através da refração da luz, uma vez que uma partícula iluminada de oxigênio conseguiu iluminar, em menor escala, uma partícula de oxigênio ao lado, que refletiu esta luminosidade para outra partícula, para outra, outra, até que chegasse ainda um pouco de luz na mesa. Portanto, com sua mão um pouco distante da mesa, você vê a sombra da sua mão, mas ainda consegue enxergar a parte da mesa na qual há a sombra. Mas, quanto mais perto sua mão fica da mesa, menos partículas de oxigênio existem para refletir a luz. Então, a sombra fica mais escura. Portanto, esta é a explicação sobre a formação da penumbra no nosso planeta, que existe devido às partículas de gases existentes no ar. Mas, e na Lua? Por quê não deveria haver penumbra na Lua? Simplesmente porque na Lua não existe atmosfera. Muito menos oxigênio! Não há gás algum sobre a superfície lunar, o que impede que haja penumbra. Portanto, se a foto acima possui penumbra, pode ter certeza que ela não foi tirada na Lua! Foi tirada na Terra! No nosso próprio planeta! E nos fizeram todos de trouxas!

(…)

Ou seja, segundo Basílio é o fenômeno da Refração da Luz o responsável pela formação da penumbra, e como a Refração ocorre devido reflexão da luz nas moléculas da atmosfera, e como a Lua não possui atmosfera não é possível haver Penumbra na Lua. Brilhante não?

Mas completamente ERRADO!

O surgimento de penumbra não têm qualquer relação com a refração da luz, fenômenos que Basílio parece não conhecer já que sua explicação, e a suposta ligação entre os dois, não passa nem perto da verdade.

As sombras são formadas quando um corpo se encontra no caminho da luz emitida por uma fonte qualquer, seja primaria ou secundária. Quando a fonte é pontual, ou seja, é possivel desprezar suas dimensões, a sombra formada é completamente escura. Entretanto, quando a fonte é extensa a sombra formada é composta de duas partes distintas: uma escura, a Umbra, e uma clara, a Penumbra. Note que em nenhum momento é necessária a presença de atmosfera para a formação de penumbra, o único pré-requisito para o fenômeno é a presença de uma fonte de luz extensa.

Mas quais as fontes extensas que iluminam a Lua?

Primeiramente o Sol. Assim como sombras formadas aqui na Terra devido à luz solar apresentam penumbra, também o fazem as formadas na Lua. O Sol não está a uma distância suficientemente grande para que o consideremos como fonte pontual. Como fontes extensas secundárias (fontes de luz refletida) podemos citar a reflexão da luz solar no solo lunar e a na própria atmosfera da Terra . Essa ultima, a propósito é a responsável por podermos, às vezes, perceber mais nitidamente a parte da Lua não iluminada pelo Sol nas fases Crescente e Minguante.

Ora, e a refração? O fenômeno da refração ocorre quando a luz passa de um meio de propagação para outro (do ar para a água, por exemplo) o que, devido à mudança de velocidade de propagação (que depende do meio), provoca alteração na direção de propagação da luz. Mas pode ocorrer refração sem mudança de meio? Sim, desde que o meio possua “camadas” com, por exemplo, densidades diferentes, fazendo com que a luz tenha velocidades diferentes para cada camada do meio. Entretanto, não há diferenças significativas de densidade no ar entre sua mão e uma mesa. E muito menos a refração têm qualquer relação com a reflexão da luz nas moléculas de gás da atmosfera.

Enfim, Basílio ou erra feio ao tentar definir penumbra, refração etc ou mente descaradamente apenas para tentar convencer seus leitores (tipicamente adolescentes com um forte sentimento anti-EUA), menos familiarizados com a Física, de que a ida do Homem à Lua foi uma farsa. Mentir para provar que algo é uma mentira parece não ser contraditório para Basílio afinal.

Aliás, se Basílio comete um erro tão básico de Física de Ensino Médio, como alguém pode confiar nas outras informações, ou “provas”, de que as missões à Lua foram forjadas?

Uma análise mais completa pode ser encontrada no site Projeto Ockham, com refutação de boa parte dos argumentos conspiracionistas.

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