Do Higgs e de quando a tradução caga tudo

Volta e meia vê-se a mídia em língua portuguesa fazendo referências ao Bóson de Higgs como a “Partícula de Deus“. Algumas pessoas MUCHO LOKAS em seguida podem concluir que os Físicos consideram a existência dessa partícula como prova da existência de um ser super-fodástico que se preocupa com se comemos porco aos sábados ou não ou algumas outras coisas MUCHO mais LOKAS ainda.

O equívoco é até certo ponto compreensível já que uma rápida pesquisa pode nos levar ao livro The God Particle: If the Universe is the Answer, What is the Question?” de Leon M. Lederman. O título do livro pode dar a noção de que Lederman pense que o Higgs seja algum tipo de chave para se entender, ou provar, a existência de alguma divindade.

O Livro trata, na verdade, da história da Física de Partículas Elementares de forma bem humorada, e o título vem do entusiasmo do autor (como afirma no prefácio das edições seguintes) com as perspectivas das futuras descobertas que seriam feitas no SSC (Superconducting Super Collider – acelerador de partículas que seria construido nos EUA). O colisor, no entanto, foi cancelado logo após o lançamento do livro, deixando o título fora de lugar. Desnecessário dizer que Lederman não pretendia imprimir qualquer conotação religiosa no título, apenas deixar claro (talvez claro demais) a importância que a Partícula teria para a Física de Partículas (importância que não é unânime deve-se dizer).

A Mídia, no entanto, comprou a idéia de que o Higgs teria importância quase religiosa e não perdeu tempo em fazer o termo God Particle praticamente onipresente nas reportagens sobre o assunto, não só causando problemas com o significado do “apelido” mas também com o exagero da importância desse Bóson. E a MERDA só aumentou com a tradução do termo para o português. No lugar de “A Partícula Deus” o nome que colou foi o “A Partícula de Deus”, simplesmente piorando o mal entendido.

Digamos que o ele seja encontrado e que a mídia noticie a descoberta da “Partícula de Deus”, qual não vai ser o tamanho do barulho religioso em torno disso? “Oh, os cientistas provaram a existência de deus. Toma essa ateu feioso”. Desfazer a confusão pode levar bastante tempo.

Mas pior será se o Higgs não for encontrado e a teoria em torno dele for abandonada. Por quê? Ora, “A Partícula de Deus” foi tão absorvida pelas camadas MUCHO LOKAS da sociedade que se for noticiada o abandono do Higgs serão imediatas as manifestações de como a “Ciência Materialista” (como se houvesse outra) está jogando deus para escanteio e blá blá blá, dificultando ainda mais a populariazação da Física.

As conseqüências acima podem até ser exageradas, mas mostram o quanto é importante que os Cientistas sejam bastante cuidadosos com suas metáforas (que podem se voltar contra eles facilmente), e que os Jornalistas evitem propagar termos que não são unanimidade entre os cientistas (NENHUM físico usa “Partícula de Deus” e mesmo assim as reportagens afirmam “o Bóson de Higgs, ou a Partícula de Deus como chamam os cientistas”) só para gerar manchetes atrativas.

Pipocas de Celular?

O leitor deve ser um dos quazilhões de pessoas que assistiram ao vídeo abaixo do YouTube em que três amigos usam seus celulares para estourar pipocas. Se você acreditou no vídeo, meus parabéns. Você é oficialmente um trouxa.

Wired traz uma matéria em que o Físico Louis Bloomfield comenta o Fenômeno. Não que fosse realmente necessário. Se as ondas emitidas pelos celulares transferissem energia o suficiente para estourar um caroço de pipoca em 20 segundos, imagine a quantidade de pessoas com queimaduras severas após telefonarem!

As pessoas deveriam pensar um pouco mas antes de aceitar toda besteira que assistem nos tubos. Se para cada besteira espalhada pela internet for necessário que um Físico se movimente para refutar, eles não vão fazer mais nada na vida.

Documentário sobre Richard Feynman

Tudo sobre o tocador de bongôs que de vez em quando brincava de Físico. Via Meus Apontadores.

A sequência está nos vídeos relacionados.

Livro: O mundo sem nós, Alan Weisman

Este é um livro ímpar. Poucos são os autores que, ao escreverem sobre o impacto ecológico humano sobre a Terra, conseguem escapar do discurso Eco-chato típico. Weisman parte de “E se nossa espécie desaparecesse de repente amanhã” e explica de maneira impressionante o processo da natureza para se livrar de nossos rastros. Nossas casas, cidades, fazendas, a poluição que causamos. O que vai ser o primeiro a desaparecer? E o último? Algo ainda durará para sempre? Será que algo sobrará depois que o Sol inchar numa Gigante Vermelha?

Weisman intercala capítulos em que descreve o impacto da espécie humana em determinado ambiente, por exemplo na Megafauna americana do Pleistoceno, com capítulos descrevendo o processo de degradação dos ambientes “humanos”, como o complexo petrolífero do Texas, e o processo de retomada da natureza de espaços de fazendas e outros ambientes severamente modificados.

É impressionante perceber a extensão do estrago que causamos. E ao mesmo tempo, se a natureza se livrar de nós, como será (pelo menos geologicamente) rápido para ela nos esquecer. Enfim, é um daqueles “livros para se sentir um merda”. Leitura Obrigatória.

Agora um comentário sobre a versão brasileira. Senhor tradutor Paulo Anthero S. Barbosa, muito bom seu trabalho, querer traduzir toda e qualquer palavra estrangeira (Diesel para disel, Hiroshima para Hiroxima), tarefa estupidamente inútil na minha opinião, até pode ter parecido uma boa idéia. Mas por favor, na próxima traduza corretamente as unidades de medida. A quantidade de informação em Farenheit e outras unidades inglesas até é suportável, mas traduzir milhas náuticas para quilômetros náuticos foi demais para o meu pobre coração. Mais cuidado da próxima vez. Sem falar na tradução cachorra de alguns termos de Física que apareciam de vez em quando.

I Will Derive!

Via Talk like a Physicist

O Físico e a Sociedade: Interação [muito] fraca

Quando tive a idéia para esta coletiva, há quase dois meses, havíamos (eu e mais alguns blogueiros) acabado de comemorar o Dia de Falar como um Físico. E, como parte do texto de divulgação, eu havia escrito:

Então, no Dia 14 de Março, pare em frente ao prédio de Ciências Socias, Biológicas ou equivalente e comece a conversar com alguém usando algum físico-blabing incompreensível espalhando confusão intelectual pelo mundo.

Não preciso nem dizer que o trecho em negrito causou diversas reações negativas. Ora, como poderia eu dizer que os Físicos espalham confusão intelectual? Não era essa minha opinião mas, num evento de cunho humorístico, achei que seria o caso de ser um pouco “absurdo”.

Hmmm, será que fui tão absurdo assim? Não é essa a opinião da maioria das pessoas? Para elas, não serve o Físico apenas para dar respostas complicadas? Para confundi-las? Para encher-lhes a paciência como uma conversa incompreensível?

Pois bem, devido às críticas a minhas intenções substitui o texto de comemoração daquele dia por um outro em que justificava minhas palavras acima, que foi praticamente um prelúdio desta Blogagem Coletiva.

E não é preciso um grande esforço (ou alguma pesquisa de opinião extremamente cara) para sabermos que a maioria das pessoas não fazem idéia do que é ou do que faz um Físico. No imaginário popular, a figura que lhes vem à mente é a do Cientista Louco. Com seu cabelo despenteado, óculos fundo de garrafa, jaleco branco e possivelmente uma risada histérica, o Físico gasta seu dia procurando formas mais criativas de destruir a humanidade ou de dificultar a vida de pobres estudantes de Ensino Médio, o que for mais conveniente.

Tanto o é que há dois tipos predominantes de reações de amigos e familiares quando um adolescente resolve cursar a faculdade de Física: “Você é Louco?” e “Você quer ser Professor, né?“. Desconsidero aqui a reação “Mas você é tão magrinho para isso!” por motivos óbvios.

Para a Sociedade, toda a atividade de pesquisa científica em Física não passa de um hobby extremamente caro.”O quê? 8 Bilhões de dólares para achar uma bosta de partícula? Isso podia ser muito melhor gasto!“.

Alguns Físicos ainda se dispõem a remediar a situação escrevendo livros sobre Teorias modernas e conceitos mais complexos que aquilo que é ensinado nas escolas (se é que podemos chamar de Física o que é ensinado nas escolas), no entanto, quantos são aqueles que se dedicam a mudar a opinião pública da Física e da Ciência de forma geral?

Pois é justamente isso que considero a raiz de todo o mal. A maioria dos Físicos sobe a mítica Torre de Marfim e passam a ignorar os pobres humanos aqui embaixo. Às vezes olham pela janela, vêem o quanto estamos atolados em ignorância e obscurantismo, riem debochadamente e voltam a seus afazeres.

Esporadicamente, têm surtos relâmpago de preocupação, que infelizmente não duram tempo suficiente para perceberem que é sua a culpa: tanto da omissão em participar da luta aqui embaixo, quanto da má-formação dos professores, que são canibalizados pelo sistema e acabam sem poder fazer muita coisa.

E então o que acontece com essa Sociedade que tem tão pouco conhecimento da Física e da Ciência em geral?

Isto, isto, isto e muito, muito mais… e muito, muito pior.

Felizmente, alguns Físicos tem caído em si e se envolvido mais. Muitos inclusive mantêm blogs de Divulgação de Ciência. No entanto, qual foi a ultima vez que você viu um Físico na TV? No Rádio? Ou sendo retratado adequadamente na Ficção? Bom, isso envolve um outro tema (“Há interesse da Mídia de massa em divulgar Ciência?”) e vou deixar para depois. Talvez para uma outra Coletiva.

De minha parte, desisti de subir a metafórica Torre para fazer a minha parte em limpar a zona por aqui. Só o tempo, e a cooperação de todos, dirá se é possível ter sucesso nisso.

Se você só ficou sabendo agora da Coletiva e ainda quer participar, não se preocupe! Pode escrever seu artigo e mandar o endereço para cá!

ATENÇÃO: Eu havia publicado este artigo com um endereço fora do padrão do blog. Já consertei. Se você linkou para o endereço anterior, favor atualizar o link.

Leiam também os outros Blogs participantes desta Coletiva (adicionarei abaixo à medida que receber os links):

The Nerds Theory: Nos escreve um interessante artigo sobre 5 físicos retratados em filmes.

Doentes.net: Traz uma interpretação… hummm… um tanto livre, da contribuição à humanidade de Físicos famosos. Imperdível!

42. : Diz porque nem todo Físico é um barbudo de chinelo bebedor de sopa… seja lá de onde ele tenha tirado essa descrição. hehe

Efeito Ázaron: O Quase-Físico nos traz uma hilariante estória sobre martelos e pregos. O que isso tem a ver com Física? Leia e descubra!

Ciência – A Vela no Escuro: O quão legal seria uma entrevista com um Físico para esta blogagem? Ora, MUITO legal, é claro.

Carmen e Santiago: Revela o motivo do Dia do Físico ser 19 de Maio (coisa que eu não consegui descobrir.

Física para Biólogos

Clique para ampliar.

Einstein e a Religião

Muitos religiosos ADORAM citar Einstein (“A Religião sem a Ciência é cega, a Ciência sem a Religião é aleijada“) como apoio à mitologia judaico-cristã. Essa citação está obviamente fora de contexto e o trecho original mostra praticamente o contrário daquilo para o qual é usado.

Mas se eles não estiverem satisfeitos com a falta de apoio de Einstein às religiões institucionalizadas, e ainda acharem que Einstein apoiaria seus conceitos infantis de divindade, talvez devam tomar notas dos seguintes trechos de uma coleção de cartas que estão indo a leilão:

“The word god is for me nothing more than the expression and product of human weaknesses, the Bible a collection of honourable, but still primitive legends which are nevertheless pretty childish. No interpretation no matter how subtle can (for me) change this.”

Ou:

A palavra deus para mim é nada mais que uma expressão das fraquezas humana, a Bíblia uma coleção de honráveis, mas primitivas lendas que são bastante infantis. Nenhuma interpretação, não importa o quão sutil, pode (para mim) mudar isso.

E ainda:

“For me the Jewish religion like all others is an incarnation of the most childish superstitions. And the Jewish people to whom I gladly belong and with whose mentality I have a deep affinity have no different quality for me than all other people. As far as my experience goes, they are no better than other human groups, although they are protected from the worst cancers by a lack of power. Otherwise I cannot see anything ‘chosen’ about them.”

Ou:

Para mim, a religião Judáica, como todas as outras, é uma incarnação das mais infantis superstições. E o povo Judeu, ao qual eu prazerosamente pertenço e com cuja mentalidade eu tenho uma profunda afinidade, não tem qualquer qualidade diferente de outras pessoas. E até onde vai minha experiência, eles não são melhores que nenhum outro grupo humano, apesar de estarem protegidos dos piores canceres devido à falta de poder. De outra forma, eu não consigo ver nada de “escolhido” sobre eles.

Essas citações devem deixar claras as opiniões de Einstein. Mas segurem seus cavalos! Ele tampouco advogava pelo Ateísmo, suas visões eram muito mais sutis que os simples Sim ou Não.

Apesar de tudo isso, fica a lição que é uma completa tolice tentar justificar suas próprias crenças (ou descrenças) pela palavra de outrem. E ainda mais tolo usar a palavra deste como argumento para a conversão dos que pensam diferentemente.

Via Pharyngula

PS: Favor notificar problemas na tradução das citações.

O “outro” Princípio de Pauli

Lendo o Asymptotia, me deparei com uma informação interessante, e hilária:

Férmions são descobertos nos EUA, Bósons são descobertos na Europa.

Férmions são partículas de Spin semi-inteiro e Bósons são partículas de Spin inteiro. A demonstração do Princípio fica por conta do Resonaances (Nome, Ano, Acelerador, Laboratório, País):

  • Neutrino do Tau, 2000, DONUT, Fermilab, EUA
  • Quark Top, 1995, Tevatron, Fermilab, EUA
  • Bósons W and Z, 1983, SPS, CERN, Suiça
  • Glúon, 1979, Petra, DESY, Alemanha
  • QuarkBottom, 1977, Fermilab, EUA
  • Tau, 1975, SPEAR, SLAC, EUA
  • Quark Charm, 1974, SLAC/BNL, EUA

E por ai vai.
Então desista Fermilab! O Higgs é do CERN. XD

Fogo é para Neandertais…

… Físicos fazem Café usando LASER!

O laser usado é o laser de estado sólido Nd:YAG.

Muito legal. Mas fica a pergunta: Qual foi o preço total do café?

Via Talk Like a Physicist

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