Credulidade Mata #2

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Guia da Prática Impostora, Lição 112: A Exaltação do Irrelevante

Caro Leitor,

É notavel a incrível quantidade de novos produtos fabricados todos os anos que simplesmente não funcionam da forma como são anunciados. Um exemplo são os inúmeros produtos para emagrecimento.  Há, inclusive, certa parcela que alarda capacidades terapêuticas e medicinais a partir de propriedades que são simplesmente inócuas.

A lição de hoje se destina aos adeptos desse tipo de impostura industrial. Vamos aprender como se faz para, em face da pouquíssima cultura científica da população em geral, fazer algumas montanhas de dinheiro.

Analizemos os famosos jarros/bebedouros/filtros magnéticos, por exemplo este:

Com refil filtrante, que e purifica a água e elimina o cloro, o filtro magnetizador ainda magnetiza a água, proporcionando propriedades benéficas a saúde. Além disso é de fácil limpeza, prático e higiênico.
A água imantada proporciona:
– uma melhora da circulação sanguínea, diminuindo a fadiga e o cansaço;
– o melhor funcionamento dos rins, bexiga e sistema digestivo;
– qualidade físico-química do sangue, ajudando a combater o colesterol, ácido úrico, triglicérides, glicose e creatina.

Vamos por partes.

De forma simples, o que significa imantar/magnetizar um material?

Considere as moléculas de uma material qualquer. Elas possuem uma propriedade chamada Momento de Dipolo Magnético (que pode ser natural ou induzido). Vamos representar essa propriedade por uma setinha em cada molécula.

Quando um campo magnético (de um imã, por exemplo) é aplicado ao material, suas moléculas tenderão a se alinhar com o campo. Se a substância é Paramagnética as setinhas apontam no mesmo sentido do campo (ou paralelamente), mas se é Diamagnética as setinhas apontam no sentido contrário (ou antiparalelamente). A esse alinhamento, tanto paralelo com antiparalelo, damos o nome de Magnetização.

Entretanto, a Magnetização não é, nem de longe, perfeita. As moléculas de um material se movimentam aleatoriamente, se chocando umas com as outras e com as paredes do recipiente, que chamamos de Agitação Térmica.

Nos sólidos as moléculas se movimentam pouco, praticamente só vibram em torno de uma posição. Nos Líquidos, e em grau maior nos Gases, as moléculas estão livres para se movimentar.

Então, quando aplicamos o campo magnético, as moléculas tenderão a alinhar suas setinhas com o campo. Porém, elas continuam se movimentando e se chocando o tempo todo, perdendo continuamente seu alinhamento com o campo. Quanto maior a intensidade do campo aplicado, maior é a tendência ao alinhamento e menor é o efeito da Agitação Térmica. Num sólido, com um campo forte o suficiente, é relativamente fácil magnetizar a boa parte das moléculas. Mas num Líquido ou Gás isso é muito difícil em condições ambiente.

Quando, então, retiramos o campo magnético, o efeito da Agitação Térmica se torna dominante e o material é rapidamente desmagnetizado. Exceto por algumas substâncias, tipicamente sólidos, que pondem manter a magnetização por um grande período de tempo mesmo depois da retirada do campo, sendo chamadas de Ferromagnéticas.

Agora podemos avaliar o que acontece com a água magnetizada:

  • A água é uma substância Diamagnética, ou seja, suas “setinhas” alinham-se antiparalelamente ao campo magnético.

  • Por ser um líquido, a magnetização que adquire está longe de significativa para campos de baixa intensidade, como o de um imã pequeno.

  • Quando retiramos a água da influência do campo magnético ela perde rapidamente sua magnetização já que ela não é uma substância Ferromagnética.

Ora, evidentemente, para bebermos a água do filtro devemos retirá-la do mesmo e colocá-la num copo, ou algo equivalente.

E o que acontece? A água do copo não está mais sob influência do campo magnético do imã que está no filtro, suas “setinhas” não tendem mais a ficar alinhadas com o campo, ou seja, magnetizadas. Então a água perde sua magnetização assim que a colocamos no copo para bebê-la. Então para todos os efeitos, inclusive biológicos, ela nunca esteve magnetizada.

O que não impede os fabricantes desses filtros de alardarem a “Água Magnetizada” como uma panacea. O que eles não falam é que ela estará magnetizada apenas, no máximo, enquanto estiver DENTRO do filtro, então pouco importa se a água magnetizada cura realmente alguma coisa, já que a água que você beberá não estará magnetizada.

Existe outra infinidade de produtos como o acima. Fazem questão de anunciar que funcionam por tais e tais processos, e que emitem tais e tais “ondas”, e curam tais e tais doenças, mas no fim são, quase completamente, inúteis.

São eles: os Colchões “Magnéticos”, os Secadores de Cabelo com “Íons” ou “Infravermelho”, Filtros com “Infravermelho”, Purificadores de ar que emite “Íons Negativos” e outros.

Entretanto, o leitor pode argumentar: “Mas eu tenho o Produto X que você falou e ele funcionou muito bem comigo. Estou mais Saudável/Bonito/Rico, então o Produto X funcionou, certo?

ERRADO!

Todo impostor desenvolve seu produto para parecer que funciona. Para mais detalhes leia a Lição 314 deste guia.

Então lembre-se, querido impostor, que você deve sempre atribuir ao seu produto propriedades incríveis devido a mecanismos que o público não faz idéia do que significam, citando, quando possível, termos científicos ininteligíveis aos leigos.

Ignorância é Dinheiro deve ser o mote de todo impostor eficiente.

Agora mãos à massa. Façam os seguintes exercícios para praticarmos os conceitos dessa lição.

Exercício 1: Você precisa anunciar um produto feito de “moléculas instáveis” e outro que emite “Quarks Charm de Alta Energia”. Atribua-lhes qualidades que atrairiam potenciais compradores.

Exercício 2: Determinado produto diz aumentar as capacidades psíquicas dos usuários. Descreva seu funcionamento.

Coloquem suas respostas para os exercícios nos comentários abaixo.

Até a próxima lição.

Credulidade Mata #1

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Como capturar um Leão no Saara?

Métodos “Alternativos”* para se capturar um Leão no Saara: 

Método Homeopático: Dilua o deserto inteiro em 100 partes de água. Tome uma parte da solução e dilua novamente em 100 partes de água. Repita o processo cerca de 30 vezes. Por fim, pegue uma gota da solução final. A memória da água nos garante que ela terá um efeito equivalente a muitos leões, então você não precisa mais se preocupar com o método Alopático de capturar UM leão no Saara.

Método Astrológico: A Lua do leão está em Gêmeos. Isso quer dizer que ele é um pouco preguiçoso, mas sabe trabalhar duro quando é necessário. Marte em Sagitário nos diz que ele não faz muitos amigos, mas os que ele tem são bem próximos. Mercúrio em Escorpião mostra que ele é bastante tímido na presença de desconhecidos mas é extrovertido junto aos amigos. E por fim, ele têm Plutão em Leão o que torna claro que ele não gosta nem um pouco de ser capturado, e ele têm Éris em Ofiúco que nos prova que você deveria desistir de capturar esse leão.   

Método Numerológico: “Captura” resulta num número 3, assim com “Leão”. Mas “Saara” resulta num 8. Você deve então mudar o nome do deserto para “Saarah” para que a soma seja 5 e combine com os 3’s de forma que a vibração e a energia destes números tornem mais fácil capturar um Leão no decorrer da sua vida. De forma alguma renomeie o deserto como “Sara”, já que isso resulta num 7 e você nunca conseguirá capturar o Leão devido às vibrações negativas desse número.   

Método Espiritualista-Quântico: Devido à não-localidade dos fenômenos quânticos sabemos que a mente do leão forma um campo de consciência que cobre todo o deserto. Ela pode então realizar um salto quântico para uma existência de maior energia, mais próxima dos Mestres Ascencionados. Isso é demonstrado pela diferença na cor da aura do leão devido a sua mudança para uma frequência vibratória superior onde ele pode realizar os mais incríveis feitos como a telepatia e a levitação. Não obstante, o leão estará num nível de iluminação maior que o seu e você nunca poderá capturá-lo.   

Método Ufológico: Você pode, atualmente, capturar um leão no Saara. Entretanto, é impossível que os povos antigos pudessem capturar um leão no Saara, já que não tinham a tecnologia necessária. Então é óbvio que os povos antigos tiveram ajuda de alienígenas para capturar um leão no Saara, como demonstra o alinhamento das pirâmides do Egito com a Constelação do Leão, e os hieroglifos da forma de leões acompanhados de outros da forma de disco que podem ser encontrados na Grande Pirâmide.   

Método de Regressão à Vidas Passadas: Em alguma vida passada, você foi um leão do Saara que foi capturado, o que resultou num grande trauma que ficou marcado no seu Karma e foi carregado para todas suas existências seguintes. Gaste uma fortura com uma terapia de Regressão e descubra como foi captura. Agora é só usar o mesmo método.

Método Teorista da Conspiração: Não há leão algum no Saara. Isso é só uma jogada dos Illuminati para manter todos na ignorância e conservar seu poder para criar a Nova Ordem Mundial. Vá para casa e escreva um artigo de tablóide e um livro sobre isso. Não confie em ninguém!

Método d’O Segredo: Pense a todo momento que você VAI capturar o leão. As vibrações emitidas pelo seu pensamento farão com que o Universo conspire ao seu favor e o leão venha até você para ser capturado. Mas só se você pensar positivo! Não importa o quanto o Leão pense positivo, sabemos que o Universo gosta mais dos seres humanos que dos leões.

O que acharam? Vocês conhecem algum outro método “alternativo”?

*Baseados em métodos reais de captura de Leões no Saara!

Guia da Prática Impostora, Lição 314: Validação Seletiva

Caro Leitor,

Benvindos a mais uma lição do Guia da Prática Impostora. Na lição de hoje veremos mais um dos métodos ao qual você, pequeno impostor, deve estar antento ao desenvolver e popularizar sua impostura.

É evidente que sua Impostura não funciona de verdade, afinal não a chamaríamos de Impostura se ela funcionasse. Contudo, mais importante que ela funcionar, devemos tomar medidas para que nossos clientes tenham certeza que ela funcionou com eles. Assim, nossa impostura pode ser espalhada no “boca-a-boca” a despeito do que os céticos chatos possam falar.

É sabido que nós, humanos, tendemos a favorecer, em nossa memória, acontecimentos que validam nossa visão de mundo e que tendemos a favorecer as observações sobre um fenômeno que se adequam ao que esperávamos. Em outras palavras: nós contamos os acertos e esquecemos os erros.

Qualquer impostura que dependa da confirmação do público-alvo deve valer-se desse fato. Nossa estratégia é fazer com que o público se lembre de quando a impostura funcionou e se esqueça de quando ela falhou. Chamaremos isso de Validação Seletiva.

Aliás, é bem possível que você mesmo, pequeno impostor, tenha sido vítima de um efeito semelhante enquanto desenvolvia sua impostura.

Chamemos então de Observação Seletiva quando o impostor escolhe os “dados bons” de uma experiência de acordo com o que se esperava dele. É uma tática interessante porque no fim o impostor só mostrará os “dados bons” ao público, que não terá motivos para desconfiar. Bom, exceto por aquele punhado de céticos chatos espalhados por ai. A Observação Seletiva nem sempre é consciente, por isso que em muitos testes de medicamentos, por exemplo, usam-se grupos de controle e testes duplo-cegos para evitar esse tipo de efeito. Mas não se preocupe, querido impostor, nós não precisamos desse tipo de precaução em nossa imposturas.

Tome o seguinte exemplo:

Desde o lançamento do documentário “Quem Somos Nós?” (talvez mesmo antes) um certo cientista foi alçado à notoriedade. Masaru Emoto teria descoberto que a forma de cristais de água era afetada por palavras escritas em papéis que eram colados nos frascos onde estavam.

Então, os cristais no frasco escrito “Você me deixa doente, eu vou te matar” se formariam bastante deformados (abaixo, à esquerda), enquanto os do frasco em que estava escrito “Obrigado” se formariam perfeitamente (abaixo, à direita).

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Aprenda com o senhor Emoto, pequeno impostor. Ele, muito provavelmente, já tinha em sua mente o que queria achar. Emoto acreditava que a consciência, as intenções e os sentimentos seriam capazes de interferir com o mundo externo. Então ele estava, mesmo que inconscientemente, propenso a favorecer obervações que confirmavam aquilo que esperava.

Numa única gota de água congelada, se formam uma quantidade enorme de cristais. Ao olharmos através de um microscópio veríamos uma infinidade de cristais diferentes e de forma alguma seria difícil encontrar entre eles um que se adequasse à hipótese inicial. E tendo em vista que valorizamos aquelas observações que concordam conosco e ignoramos as que nos contradizem, a hipótese de Emoto está confirmada. Por ele mesmo é claro.

E se não era ele quem manipulava os microscópios? Pode-se perguntar. Ora, considerem que eram assistentes que observavam os cristais pelo microscópio e os fotografavam, se eles sabiam a conclusão a que o senhor Emoto queria chegar, eles, mesmo inconscientemente, favoreceriam aqueles cristais que confirmassem suas espectativas. Ou você afirmaria tão facilmente que seu empregador estaria errado.

Pois bem, com todos esses defeitos metodológicos (incluindo ainda a falta de um grupo de controle) a impostura de Masaru Emoto prosperou. O público-alvo não se importa com esse pequenos detalhes, então a Observação Seletiva de Emoto acabou se mostrando uma vantagem no concorrido mundo das imposturas (rendendo inúmeros livros, por exemplo).

Mas a Observação Seletiva não esgota o assunto desta lição. Veremos agora alguns casos em que é a Validação Seletiva do público-alvo que entra em ação. Dois exemplos são o bastante para ilustrar o quanto o cérebro humano é capaz de ajudar-lhe, caro impostor, na propagação de imposturas.

Tomemos como primeiro exemplo as descrições de personalidades que podemos encontrar em livros de astrologia. Imaginemos que uma pessoa cujo signo astrológico seja Gêmeos. Ela abre o livro no capítulo dedicado a tal signo. Lendo o texto, é certo que ela se identificará com a maioria das características ali presentes (incluindo os defeitos). Enquanto se ela ler o capítulo de outro signo, digamos Escorpião, não estará tão disposta a aceitar como verdadeiras para si as características daquele signo.

Ora, será então que as descrições feitas pelo livro são tão precisas assim? É um fato, que pode ser averiguado por qualquer um, que esse tipo de livro é escrito da forma mais genérica possível (quanto menos incisiva for uma afirmação mais difícil dela ser considerada falsa) e as características (qualidades e defeitos) se distribuem e se repetem mais ou menos uniformemente. Há igual probabilidade de uma pessoa se identificar ou não com qualquer um dos signos ao lê-lo sem saber de qual deles se trata.

Praticamente a partir do nascimento, é martelado na cabeça de cada um de nós o signo a que “pertencemos” e dessa forma somos inconsientemente levados a favorecer e considerar válidos aqueles textos que falam explicitamente de nosso signo. E mais uma impostura prospera. Já viu a quantidade de livros que existem sobre astrologia? (Aliás, livros e imposturas possuem uma ligação bastante estreita, mas isso fica para outra lição).

Outro exemplo pode ser encontrado nas chamadas “Medicinas Alternativas“. Todos já ouviram falar de dezenas de receitas “caseiras” para curar resfriados e gripes. Ora, é também sabido que resfriados e gripes comuns costumam ser curados naturalmente pelo corpo dentro de uma semana. Algumas “medicinas alternativas” se valem desse fato para sua proliferação.

O cérebro humano é ótimo para associar relação de causa entre dois eventos quaisquer que se sucedam no tempo, ou seja, se um evento B aconteceu logo depois de um evento A, é comum que nosso cérebro considere que A causou B. Então, se fizermos uso de alguma “medicina alternativa” lá pelo sexto dia do resfriado, no sétimo ou oitavo dia, quando o resfriado ceder, estaremos condicionados a aceitar que aquela medida que tomamos foi o que curou o resfriado. Mas se fizermos uso da mesma “medicina alternativa” no primeiro ou segundo dia do resfriado e ela não fizer efeito (ignorando o Efeito Placebo) não consideraremos aquilo como uma falha. Como ela já “funcionou” antes com tanta gente, nós simplesmente ignoraremos a falha.

Então, nobre aspirante a impostor, se quiser que sua impostura seja um sucesso, fique atento para que ela explore a Validação Seletiva do público-alvo, como os exemplos acima o fazem. Assim, não importa o que aqueles céticos chatos falem, se o púbico achar que “se comigo funcionou é verdade” sua impostura possui grandes chances de figurar entre as mais bem sucedidas.

Agora mãos à massa. Façam os seguintes exercícios para praticarmos os conceitos dessa lição.

Exercício 1: Pense em quantas vezes algo que você sonhou alguma noite se realizou no dia seguinte ou num dia próximo. O que você pode concluir disso?

Exercício 2: Agora pense em quantos sonhos você teve que NÃO se realizaram no dia seguinte ou num dia próximo. O que você pode concluir disso?

Exercício 3: Pense em quantas de suas “preces” foram atendidas. O que você pode concluir disso?

Exercício 4: Pense em quantas de suas “preces” NÃO foram atendidas. O que você pode concluir disso?

Coloquem suas respostas para os exercícios nos comentários abaixo.

Até a próxima lição.

Midiotices: Asteróide em rota de colisão com seu cérebro

Nota publicada pelo Diário Catarinense na seção de Ciência e Tecnologia.

Um asteróide está em rota de colisão com a Terra. Impacto previsto para 2036. Há um concurso, promovido pela Agência Espacial Norte-Americana, oferecendo US$ 50 mil para quem encontrar um meio de evitar o choque. Mais do que a questão financeira, é uma oportunidade para testar seus conhecimentos. É assim que o espanhol César Bentancurt encara o desafio. Há três anos morando em São Bento do Sul, agora está em busca de parceiros brasileiros para auxiliar suas pesquisas.
Formado em Medicina, especializou-se em Engenharia Genética. Mas sua paixão são os números e as fórmulas. Estudou, na França, matemática e física quântica e, mais tarde, se aperfeiçoou em matemática aeroespacial. É com base nesses estudos que elabora sua tese para concorrer ao prêmio e, de alguma forma, colaborar para evitar o choque do asteróide Apophis 2004. O nome dado ao astro é nada sugestivo, refere-se ao deus egípcio da destruição.
Com aproximadamente 400 metros de diâmetro, composto basicamente por ferro e pedras estelares, o Apophis viaja a uma velocidade surpreendente, capaz de percorrer mais de 1,1 milhão de quilômetros por segundo, quase quatro vezes a velocidade da luz. Como foi descoberto somente em 2004, acredita-se que tenha vindo de outra galáxia.
– O que mais impressiona é a velocidade, e, por causa disso, não há arma no mundo capaz de atingi-lo – afirma.
De acordo com o matemático, devido à grande velocidade, um míssil lançado da Terra, por exemplo, explodiria antes de chegar ao corpo do asteróide. Devido ao magnetismo da rocha, poeira cósmica e luz formam uma barreira protetora. Em caso de colisão com o planeta, explica César, a vida seria extinta.
– O impacto seria tão forte que elevaria a temperatura até 700ºC, causando erupções vulcânicas e ondas gigantes – prevê.
Parte do trabalho que desenvolve em torno de seus cálculos matemáticos é compartilhado com a Nasa, onde uma irmã e amigos trabalham. O concurso, explica, é destinado a universidades e institutos de pesquisa, mas ele resolveu participar de forma individual. Agora, César está em busca de parceiros, cientistas ou instituições, para compartilhar informações.
Sua tese para evitar a colisão do asteróide com a Terra é a de alinhar quatro grandes satélites artificiais, equipados com painéis solares, emitindo luz e energia do sol contra a rocha. Ele sugere utilizar satélites já existentes para isso. Os equipamentos estão no espaço, alguns armados.
– Energia do sol seria direcionada ao asteróide fazendo com que ele se desintegrasse – argumenta.
Esse alinhamento, explica, deveria acontecer daqui a 13 anos, quando também ocorre alinhamento total dos planetas do sistema solar. A partir daí, raios luminosos transmitidos pelos satélites seguiriam o meteoro. Antes do choque previsto com a Terra, o Apophis passará próximo ao planeta em 2029. O prazo para envio de teses à Nasa sobre como evitar a colisão se encerra em 10 anos”.

Grifos feitos pelo Mori do 100nexos, de onde tirei a notícia e que também explica muitos dos absurdos contidos aí.

Juro que quando li “quase quatro vezes a velocidade da luz” quase parto dessa para nenhuma.

ATUALIZAÇÃO (14/09):

Foto da original da matéria adicionada. Me digam uma coisa: por que todo impostor acha que “E=mc²” é o supra-sumo da física?

~6,02 x 10²³ motivos para rejeitar a Homeopatia

Será que há qualquer argumento em defesa dessa prática que é simplesmente absurda dos pontos de vista físico, químico e biológico? Veremos que não.

Mas, para começarmos, o que é a Homeopatia, afinal? Segundo o site da Associação Médica Homeopática Brasileira (AMHB), a Homeopatia:

É um método de tratamento criado pelo médico alemão Samuel Hahnemann, em 1796, que se fundamenta na Lei dos Semelhantes, citada pelo Pai da Medicina Hipócrates no ano 450 a.C. Segundo esta lei, os semelhantes se curam pelos semelhantes, isto é, para tratar um indivíduo que está doente é necessário aplicar um medicamento que apresente (quando experimentado no homem sadio) os mesmos sintomas que o doente apresenta.

Exemplificando: Se uma pessoa sã ingerir doses tóxicas de certa substância, irá apresentar sintomas como dores gástricas, vômitos e diarréia; se, por outro lado, for administrada essa mesma substância, preparada homeopaticamente, ao enfermo que apresenta dores gástricas, vômitos e diarréia, com características semelhantes àquelas causadas pela substância em questão, obtêm-se, como resultado, a cura desses sintomas.

Hummm… então a Homeopatia é um tratamento criado há mais de 200 anos baseado numa “Lei” de Hipócrates de 2450 anos atrás, quando a medicina apenas engatinhava? Putz…

Um dos preceitos mais fundamentais, depois da “cura pelos semelhantes” (que faz tão pouco sentido que não vou nem me dignar a comentar), é a Diluição da substância do futuro medicamento

Mas como funciona essa Diluição? É um princípio da Homeopatia (para não dizer Dogma) que quanto mais diluida uma substância maior é o efeito posterior.

Tomemos uma substância W. Há dois métodos de Diluição: num deles faz-se diluições sucessivas em 1 parte de W para 10 partes de água, noutro método as diluições são de 1 parte de W para cada 100 partes de água. Como para fins de argumentação será irrelevante qual o método escolhido, vou utilizar o primeiro.

Suponhamos que eu tenho certa quantidade de W. A primeira coisa a fazer é diluí-la em 10 partes de água. Essa é a primeira diluição ou 1X (o “X” nos diz que a diluição é de 1 para 10, a diluição de 1 para 100 é denotada “C”).

Agita-se a solução. Retira-se a décima parte da solução e dilui-se em outras 10 partes de água. Temos 2X. É fácil notar que temos em cada parte dessa segunda solução aproximadamente 100 vezes menos substância que originalmente, ou seja, continuamos com 1 centésimo das moléculas que tínhamos anteriormente.

Retiramos uma décima parte da nova solução e repetimos o processo sucessivamente até a diluição desejada. Então, teremos:

  • 3X : Um milésimo dos átomos originais ou 1/1000.

  • 4X : 1/10000

  • 5X : 1/100000

E assim em diante diminuindo em dez vezes a concentração da substância W original.

Agora vem o pulo: uma concentração comum para medicamentos homeopáticos é 30X, ou 30 diluições sucessivas. O que isso significa? Que esperamos ter:

1/1000000000000000000000000000000

da substância original.

Mas e se tivermos um mol da subtância original, ou seja, cerca de 6,02 x 10²³ átomos da substância W? Na 24° diluição possivelmente já teríamos  cerca de um átomo do soluto na solução inteira. E na 30° solução teríamos UMA chance em UM Milhão de existir UMA molécula da substância W na solução.

Mas isso é bobagem perto de outras soluções homeopáticas. Algumas diluições alcançam a incrível marca de 200C, ou seja, a substância W seria sucessivamente diluída em 100 partes de água por 200 vezes. No final teríamos 1 parte de substância para 100200 ou 10400 de água (1 seguido de 400 zeros). Segundo nossa conta anterior, teríamos então UMA chance em 10376 de encontrarmos UMA molécula da substância W na solução!!!

Ora, como a Homeopatia pode ter qualquer efeito se não sobra nem sombra da substância original? Como pode haver efeito molecular na ausência de moléculas? Ora, NÃO HÁ EFEITO ALGUM ou será que toda a Física e Química estarão erradas?

Pense no seguinte caso: pegamos um mol de HCl e fazemos uma solução 200C. Em seguida, misturamos a solução à um mol de NaOH. Algum de vocês acha que se formaria alguma molécula de NaCl?

Entretanto, segundo esse princípio da homeopatia deveriam ser formados até mais moléculas de NaCl que o normal, afinal a diluição torna a substância mais potente, ou não? Será que essa “potência” não tem a ver com a capacidade de reagir com outras substância? Não é nisso que está baseado todo conhecimento médico atual?

Mas um bom impostor nunca desiste, não é? Os Homeopatas, para escaparem desse beco sem saída, postulam uma misteriosa “Memória da Água”, que é tão misteriosa quanto risível.

Guia da Prática Impostora, Lição 231: Quote Mining

Caro Leitor,

Apresento agora um passo importante para ingressar no maravilhoso mundo da impostura. Não se preocupe caso não possua experiência anterior, prometo ser o mais didático possível. Posso até desenhar. O importante é que essa lição seja aprendida devidamente.

Considerarei que você já possui uma Impostura pronta, e que seguiu todas as lições anteriores. Mas para o caso de ter começado a leitura deste guia por esta lição, procurarei apresentar diversos exemplos ilustrativos de como aplicá-la para que não se perca no processo.

Muito bem. Você acabou de criar sua impostura novinha em folha — que não seja muito original, afinal, um impostor que se preze apenas recicla idéias antigas. Não estamos aqui para criar nada novo ou explicar nenhum fenômemo novo, os cientistas já fazem isso — e precisa agora de alguns elementos para autentificá-la e dar-lhe credibilidade?

Ora, até que seria possível fazer com que cientistas famosos escrevessem algumas palavras gentis sobre sua impostura, mas sabemos que dificilmente fariam isso já que são muito chatos, sempre preocupados com “a avaliação dos resultados experimentais”, “a concordância com a realidade observável” e outros mitos.

Mas que tal fingirmos que eles falaram bem de sua impostura? Ou pelo menos que falaram algo que serve de apoio para ela? Como se faz isso? Pelo processo de Quote Mining.

O Quote Mining é uma expressão inglesa que pode ser traduzida como Mineração de Citações e que consiste em selecionar, dentre um grande número, uma citação de determinado autor que, ao ser analisada fora de contexto, pareça dizer algo totalmente diferente do que o autor dizia originalmente. Também pode ser chamado de Cherry Picking ou Contextomy. Essa prática pode estar misturada às falácias do Espantalho e Argumento à Autoridade.

Difícil? Vamos para um exemplo:

Todos devem conhecer a frase de Einstein:

A Religião sem a Ciência é cega, a Ciência sem a Religião é aleijada,

usada frequentemente para afirmar que Einstein de alguma forma apoiava a Religião Institucionalizada. Mas o trecho completo é este:

Even though the realms of religion and science in themselves are clearly marked off from each other, nevertheless there exist between the two strong reciprocal relationships and dependencies. Though religion may be that which determines the goal, it has, nevertheless, learned from science, in the broadest sense, what means will contribute to the attainment of the goals it has set up. But science can only be created by those who are thoroughly imbued with the aspiration toward truth and understanding. This source of feeling, however, springs from the sphere of religion. To this there also belongs the faith in the possibility that the regulations valid for the world of existence are rational, that is, comprehensible to reason. I cannot conceive of a genuine scientist without that profound faith. The situation may be expressed by an image: science without religion is lame, religion without science is blind.

Though I have asserted above that in truth a legitimate conflict between religion and science cannot exist, I must nevertheless qualify this assertion once again on an essential point, with reference to the actual content of historical religions. This qualification has to do with the concept of God. During the youthful period of mankind’s spiritual evolution human fantasy created gods in man’s own image, who, by the operations of their will were supposed to determine, or at any rate to influence, the phenomenal world. Man sought to alter the disposition of these gods in his own favor by means of magic and prayer. The idea of God in the religions taught at present is a sublimation of that old concept of the gods. Its anthropomorphic character is shown, for instance, by the fact that men appeal to the Divine Being in prayers and plead for the fulfillment of their wishes.

Publicado em “Out of My Later Years” (1950)

Ou, para os leitores pouco familiarizados com o inglês:

Apesar dos reinos da religião e da ciência serem claramente demarcados separados um do outro, ainda assim existe entre eles fortes dependências e relacionamentos recíprocos. Apesar de ser a religião que determina seus objetivos, ela aprendeu com a ciência, no mais amplo senso, quais meios contribuirão para alcançar esses objetivos. Mas a ciência só pode ser criada por aqueles que estão profundamente carregados com a aspiração pela verdade e pela compreensão. A fonte desse sentimento, entretanto, vem da esfera da religião. A ela também pertence a fé na possibilidade que as regras válidas para o mundo da existência são racionais, isto é, compreensíveis pela razão. Eu não posso conceber um cientista sem esta profunda fé. A situação pode ser ilustrada por uma imagem: ciência sem religião é aleijada, religião sem ciência é cega.

Apesar de ter afirmado acima que, na verdade, um conflito legítimo entre religião e ciência não pode existir, eu devo, entretanto, qualificar essa afirmação mais uma vez num ponto essencial, com referência ao conteúdo real das religiões históricas. Essa qualificação tem a ver com o conceito de Deus. Durante o período juvenil da evolução espiritual da humanidade, a fantasia humana criou deuses à sua própria imagem, que, pela operação de suas vontades, deveriam determinar, ou de alguma forma influenciar, o mundo dos fenômenos. O Homem procurava alterar a disposição desses deuses em seu favor por meio de magias e preces. A idéia de Deus nas religiões ensinadas atualmente é uma sublimação daquele velho conceito de deuses. Sua personalidade antropomórfica é revelado, por exemplo, pelo fato de que a humanidade apela ao Ser Divino em preces e imploram pela realização de seus desejos.

O trecho completo mostra que Einstein queria dizer, basicamente, o contrário do que a citação isolada parecia afirmar, já que mesmo a definição de religião do texto parece ser diferente daquela comumente utilizada. Entretanto, nada impede que tomemos certa liberdade criativa de separar a frase de seu contexto e usá-la para os propósitos que quizermos, certo?

Àqueles que ainda não conseguiram compreender o processo de Quote Mining, mostrarei um outro exemplo. Não se preocupem. Não os censuro. Eu sei que o processo de criação da Impostura é intelectualmente exaustivo.

Muitos são os Criacionistas que utilizam, em seus argumentos contra a Teoria da Evolução, a seguinte frase escrita por Charles Darwin em A Origem das Espécies:

To suppose that the eye, with all its inimitable contrivances for adjusting the focus to different distances, for admitting different amounts of light, and for the correction of spherical and chromatic aberration, could have been formed by natural selection, seems, I freely confess, absurd in the highest possible degree.

The Origin of Species, 1st Edition, Chapter 6, pp. 186-7

Ou:

Supor que o olho, com seus inimitáveis mecanismos para ajustar o foco para diferentes distâncias, para controlar a entrada de diferentes quantidades de luz, e para correção de aberrações esféricas e cromáticas, possam ter sido formadas pela seleção natural parece, eu confesso, absurdo no mais alto grau possível.

Tal citação pode ser usada, mais específicamente, para apoiar a hipótese de Michael Behe da “Complexidade Irredutível” do olho humano. Hipótese que não encontra qualquer apoio na Biologia moderna, e por isso mesmo precisamos fazer parecer que até mesmo Darwin apoiaria tal idéia.

O trecho não para ali, mas continua:

Yet reason tells me, that if numerous gradations from a perfect and complex eye to one very imperfect and simple, each grade being useful to its possessor, can be shown to exist; if further, the eye does vary ever so slightly, and the variations be inherited, which is certainly the case; and if any variation or modification in the organ be ever useful to an animal under changing conditions of life, then the difficulty of believing that a perfect and complex eye could be formed by natural selection, though insuperable by our imagination, can hardly be considered real.

Ou:

Ainda assim a Razão me diz que se numerosas graduações, de um olho perfeito e complexo a um muito imperfeito e simples, mas com cada grau sendo útil ao seu possuidor, puderem ter sua existência mostrada; se além disso, o olho variar apenas levemente, e as varições forem herdadas, o que é certamente o caso; e se cada variação ou modificação no orgão for útil ao animal sob mudanças em suas condições de vida, então a dificuldade de acreditar que um olho complexo e perfeito pode ser formado por seleção natural, apesar de insuperável por nossa imaginação, pode dificilmente ser considerada real.

E continua por outras trê páginas a tratar desse assunto. Podemos ver que Darwin não considerava o olho “irredutivelemente complexo” como a citação parecia afirmar. O que realmente não importa para quem esta usando a citação, não é mesmo?

Até aqui espero ter deixado claro como o Quote Mining funciona. Mas como fazer na prática? Como fazer parecer que algum cientista aprova nossa Impostura? Não se inquiete pequeno Impostor. Observe o esquema abaixo (Clique para ampliar):

quote-mining.gif

Não existe possibilidade de erro se seguirmos as instruções acima. Mas se mesmo assim você não conseguir executar o Quote Mining corretamente não se preocupe. Existem outras formas de fazer sua impostura parecer cientificamente legítima, que abordaremos em lições futuras.

Agora mãos à massa. Façam os seguintes exercícios para praticarmos os conceitos dessa lição.

Exercício 1: Imagine que sua impostura diga que todas as doenças são causadas pelo baixo consumo de água, e que todas elas podem ser curadas apenas aumentado a quantidade de água ingerida diariamente. Use o mecanismo aprendido nessa lição para encontrar uma citação que apóie sua afirmação.

Exercício 2: Encontre citações, através do mecanismo aprendido nessa lição, de Biólogos especializados na Teoria da Evolução que apóiem a impostura criacionista.

Exercício 3: Encontra citações, através do mecanismo aprendido nessa lição, que apóiem uma impostura de sua própria criação.

Coloquem suas respostas para os exercícios nos comentários abaixo.

Até a próxima lição.

O Grande Debate do Unicórnio

“Dou cem dólares se alguém puder demonstrar que não existe um unicórnio imaterial nesta sala.”

Quando eu disse isso aos meus alunos num curso sobre ciência e pseudociência, eles me olharam com descrença. Suspeito que a incredulidade não seja pela óbvia impossibilidade da tarefa, mas pelo fato do professor colocar uma nota de cem sua na mesa para provar uma posição. Assim começou o Grande Debate do Unicórnio, que durou várias semanas, até que a energia intelectual dos participantes tivesse sido exaurida. As primeiras tentativas de resolver o problema foram geradas por uma má compreensão da questão: um dos estudantes declarou que era muito simples: basta encher a sala com água, e o corpo do unicórnio deslocaria um certo volume de água, o que revelaria a presença ou demonstraria a ausência do animal (aparentemente, preocupações éticas sobre a possibilidade de afogar o unicórnio estavam fora da proposta). “Eu disse ‘imaterial’, não ‘invisível,’” lembrei. Como todos sabem, a água passa por corpos imateriais sem ser deslocada. “Oh!” As tentativas seguintes foram forjadas mais cuidadosamente.

Um esforço particularmente esperto — que claramente pegou o objetivo do exercício — foi: “Não há unicórnios imateriais nesta sala de aula, porque em nossa sala existe uma condição atmosférica, indetectável por qualquer dispositivo que temos atualmente, que faz com que unicórnios materiais se materializem, dessa forma tornando-os visíveis a olho nu”. Fala em me vencer no meu próprio jogo.Mas eu não ia deixar meus cem irem embora tão fácil. Eu respondi que a pessoa em questão obviamente não entendia os mistérios do Unicornismo, ou perceberia o quanto essa tentativa foi tola.

Uma aluna veio com uma solução filosoficamente mais desafiadora ao problema:

  • Fato 1: Imaterialidade é definido como ausência de matéria.
  • Fato 2: A matéria não pode ser criada nem destruída.
  • Conclusão 1: Algo imaterial não pode ser criado nem destruído.
  • Fato 3: O pensamento existe apenas como algo imaterial.
  • Fato 4: O pensamente existe apenas na própria mente.
  • Conclusão 2: Há algo imaterial que existe apenas na própria mente.
  • Conclusão 3: A presença de algo imaterial pode ser criada ou destruída apenas na própria mente.
  • Conclusão 4: A criação ou destruição de algo imaterial na própria mente é determinada pela crença.
  • Conclusão Final: Não há um unicórnio imaterial e invisível a não ser que se creia nisso dentro da própria mente.

Maldição! Queria que mais teólogos mostrassem um senso de raciocínio tão aguçado.

Ainda assim, não era bom o bastante, e pedi à turma que verificasse a prova apresentada e visse onde estavam as falhas. Em meia hora de discussão, vários problemas foram revelados.

Primeiro, a física moderna não sustenta mais que a matéria não pode ser criada nem destruída. De fato, de acordo com a mecânica quântica, esses processos acontecem o tempo todo. A razão pela qual normalmente não os detectamos é que são muito rápidos e se equilibram perfeitamente, assim não esperamos que uma cadeira subitamente apareça do nada ou desapareça. (Embora, pela teoria das supercordas, esse tipo de flutuação quântica pode ter sido responsável pela origem do Universo, que teria literalmente vido à existência de lugar nenhum. Assustador…)

Segundo, quem disse que o pensamento é imaterial? Alguns remanescentes cartesianos podem ainda pensar assim, mas no século 21 está se tornando mais aceitável considerar o pensamente como um aspecto de atividades bem físicas ocorrendo no cérebro. De fato, podemos medir quais partes do cérebro estão envolvidas em vários tipos de pensamentos e até sentimentos. Não quer dizer que tenhamos um entendimento total do que é o pensamento – longe disso. Mas as chances de que se mostre que são imateriais (no sentido de não depender da matéria) são muito reduzidas.

Mas observe que eu concordo plenamente com a conclusão: não há unicórnio imaterial a não ser que se acredite nisso na sua própria mente. Mas a única justificativa que eu (ou qualquer um, até onde eu saiba) posso dar para tal conclusão é a minha própria intuição.

A mesma aluna apresentou outro argumento, dessa vez baseado nas leis da física. Ela corretamente sustentou que um unicórnio imaterial não poderia ser afetado pelas leis da física, ou se aproveitar delas, por ser imaterial por definição. Assim, poderíamos imaginar o unicórnio como um ponto imaterial sem extensão, como um ponto euclidiano. Tal ponto imaterial não poderia “ficar” na sala porque a própria sala — junto com a Terra e o Sistema Solar — se move pelo espaço em alta velocidade. O cerne dessa demonstração depende na intuição do próprio Descartes do problema em que se meteu propondo um conceito dualístico do corpo humano: se a mente não é corpórea, como ela afeta o corpo?

Descartes “resolveu” o problema postulando que a glândula pineal era a sede da alma. Mas, como todos os filósofos depois dele perceberam, minimizar o tamanho do ponto de contato entre o material e o imaterial (a glândula pineal é a menor do sistema endócrino) não desfaz o paradoxo de uma entidade imaterial agindo sobre a matéria (ou vice versa). De fato, isso é o que torna fantasmas, ectoplasmas e experiências extracorpóreas tão difíceis de acreditar: se você está fora do corpo, como você se vê deitado na cama? Com que olhos? Que cérebro há para processar o sinal visual? E, dado que seu sentido de “si” depende de ter um cérebro funcionando, quem é você, quando você está fora do corpo?

Mas, claro, para salvar meu dinheirinho, só o que eu precisava responder era que — de novo — os mistérios do Unicornismo dizem não apenas que o unicórnio imaterial não é um ponto, mas que ele permanece na sala sem problema, é macho, tem um metro e meio de altura e é branco (como eu sei que ele é branco se ele é imaterial e invisível? Bem, a essa altura você deve saber: é um mistério do Unicornismo…).

Ao fim, meus alunos concordaram que não há maneira de demonstrar a inexistência do unicórnio fantasmal. Depois de garantir meus cem dólares, eu perguntei se apesar de tudo eles acreditavam na existência do unicórnio. A resposta foi unanimemente negativa. “Por quê?”, perguntei, fingindo surpresa. “Porque é tolice acreditar em uma coisa para o qual não há evidência,” foi a aturdida resposta geral. Alguns segundos depois, alguém perguntou: “Então qual é a diferença para a crença em Deus?” Mas a hora da aula havia terminado, e deixei-os discutindo teologia, com a satisfação de ter feito um bom trabalho.

Texto de Massimo Pigliucci, Via Godless Liberator

Se a Física não concorda com você, modifique a Física!

O que uma pessoa normal faria se, ao desenvolver uma determinada argumentação, esbarrasse em um pequeno detalhe: as Leis da Física não apoiam seus argumentos?

É de se esperar que a pessoa modifique seu argumento de forma que não mais vá de encontro à Física, ao menos se ela quiser ser levada minimamente a sério.

Mas o que o Impostor faria?

Modificaria a Física é claro!

Em 20 de Julho de 1969 quando a Apollo 11 pousou na superfície lunar, marcando “um grande salto para a humanidade”, marcou também uma nova classe de conspiracionistas: aqueles que diziam que a Nasa havia forjado o pouso da Apollo 11 e, após algum tempo, das outras 5 missões (Apollo 12, 14, 15, 16 e 17) que também levaram tripulantes à Lua. Esses conspiracionistas nunca tiveram muito espaço. Isto é, até o advento da Internet e de sua capacidade de dar espaço a todo tipo de lunático (com o perdão do trocadilho).

Um desses é André Basílio, o autor do site A Fraude do Século. Dentre a grande quantidade de erros que Basílio comete, abrangendo diversas áreas, encontra-se um que chama à atenção pelo absurdo de sua construção.

Observe a foto abaixo (clique para ampliar) :

Basílio argumenta que a Penunbra vista na foto, no traje do astronauta, é uma prova da fraude das missões lunares porque, pasmem, não existe formação de penumbra na Lua porque ela não possui atmosfera! Não, você não leu errado. Confira abaixo o trecho do site em que Basílio comete essa pérola:

(…)

Agora, note como são perfeitas as definições de sombra na roupa do astronauta Edwin Aldrin sendo que, na Lua, não há refração da luz. Ou seja, não existe penumbra. Ou a sombra é total (totalmente preta), ou não há sombra. Penumbras como estas, perfeitamente visíveis na roupa de Aldrin, são impossíveis de existirem na Lua porque na Lua não há atmosfera. E são os gases existentes na atmosfera os responsáveis pelas penumbras no nosso planeta.

(…)

Como é que funciona a refração? Para ficar mais fácil de você entender, utilize a sua mão próxima ao tampo de uma mesa. Veja como é a sombra de sua mão incidindo sobre a mesa. Aproxime a sua mão do tampo da mesa e perceba que a sombra passa a ficar mais escura. Aproxime mais ainda, quase encostando a sua mão na mesa e você verá que a sombra ficou ainda mais escura. Se você fizer isso à noite, com uma luz acesa, você verá que a tendência é de se criar uma sombra tão escura que fique impossível conseguir ver a mesa com perfeição quanto mais próxima da mesa estiver a sua mão. Por quê isso acontece? É devido às partículas de oxigênio (e outros gases) existentes no ar. Quando a sua mão está mais distante da mesa, há uma sombra, mas você ainda consegue enxergar esta parte da mesa com perfeição. Isto ocorre porque a luz que incidiria diretamente sobre a mesa foi barrada pela sua mão. Mas, parte da luz ainda conseguiu chegar à mesa porque entre a sua mão e a mesa existem partículas de oxigênio; e a luz que estava incidindo, de cima para baixo, conseguiu fazer uma pequena curva, através da refração da luz, uma vez que uma partícula iluminada de oxigênio conseguiu iluminar, em menor escala, uma partícula de oxigênio ao lado, que refletiu esta luminosidade para outra partícula, para outra, outra, até que chegasse ainda um pouco de luz na mesa. Portanto, com sua mão um pouco distante da mesa, você vê a sombra da sua mão, mas ainda consegue enxergar a parte da mesa na qual há a sombra. Mas, quanto mais perto sua mão fica da mesa, menos partículas de oxigênio existem para refletir a luz. Então, a sombra fica mais escura. Portanto, esta é a explicação sobre a formação da penumbra no nosso planeta, que existe devido às partículas de gases existentes no ar. Mas, e na Lua? Por quê não deveria haver penumbra na Lua? Simplesmente porque na Lua não existe atmosfera. Muito menos oxigênio! Não há gás algum sobre a superfície lunar, o que impede que haja penumbra. Portanto, se a foto acima possui penumbra, pode ter certeza que ela não foi tirada na Lua! Foi tirada na Terra! No nosso próprio planeta! E nos fizeram todos de trouxas!

(…)

Ou seja, segundo Basílio é o fenômeno da Refração da Luz o responsável pela formação da penumbra, e como a Refração ocorre devido reflexão da luz nas moléculas da atmosfera, e como a Lua não possui atmosfera não é possível haver Penumbra na Lua. Brilhante não?

Mas completamente ERRADO!

O surgimento de penumbra não têm qualquer relação com a refração da luz, fenômenos que Basílio parece não conhecer já que sua explicação, e a suposta ligação entre os dois, não passa nem perto da verdade.

As sombras são formadas quando um corpo se encontra no caminho da luz emitida por uma fonte qualquer, seja primaria ou secundária. Quando a fonte é pontual, ou seja, é possivel desprezar suas dimensões, a sombra formada é completamente escura. Entretanto, quando a fonte é extensa a sombra formada é composta de duas partes distintas: uma escura, a Umbra, e uma clara, a Penumbra. Note que em nenhum momento é necessária a presença de atmosfera para a formação de penumbra, o único pré-requisito para o fenômeno é a presença de uma fonte de luz extensa.

Mas quais as fontes extensas que iluminam a Lua?

Primeiramente o Sol. Assim como sombras formadas aqui na Terra devido à luz solar apresentam penumbra, também o fazem as formadas na Lua. O Sol não está a uma distância suficientemente grande para que o consideremos como fonte pontual. Como fontes extensas secundárias (fontes de luz refletida) podemos citar a reflexão da luz solar no solo lunar e a na própria atmosfera da Terra . Essa ultima, a propósito é a responsável por podermos, às vezes, perceber mais nitidamente a parte da Lua não iluminada pelo Sol nas fases Crescente e Minguante.

Ora, e a refração? O fenômeno da refração ocorre quando a luz passa de um meio de propagação para outro (do ar para a água, por exemplo) o que, devido à mudança de velocidade de propagação (que depende do meio), provoca alteração na direção de propagação da luz. Mas pode ocorrer refração sem mudança de meio? Sim, desde que o meio possua “camadas” com, por exemplo, densidades diferentes, fazendo com que a luz tenha velocidades diferentes para cada camada do meio. Entretanto, não há diferenças significativas de densidade no ar entre sua mão e uma mesa. E muito menos a refração têm qualquer relação com a reflexão da luz nas moléculas de gás da atmosfera.

Enfim, Basílio ou erra feio ao tentar definir penumbra, refração etc ou mente descaradamente apenas para tentar convencer seus leitores (tipicamente adolescentes com um forte sentimento anti-EUA), menos familiarizados com a Física, de que a ida do Homem à Lua foi uma farsa. Mentir para provar que algo é uma mentira parece não ser contraditório para Basílio afinal.

Aliás, se Basílio comete um erro tão básico de Física de Ensino Médio, como alguém pode confiar nas outras informações, ou “provas”, de que as missões à Lua foram forjadas?

Uma análise mais completa pode ser encontrada no site Projeto Ockham, com refutação de boa parte dos argumentos conspiracionistas.

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