Um pouco de Física e uma conversa com Albert Fert
Algumas tecnologias surgem para suprir alguma necessidade humana. A necessidade de armazenar cada vez mais pornografia, por exemplo, nos trouxe mídias com capacidades cada vez mais alta em tamanhos cada vez menores. Em algum momento da história, os discos rígidos magnéticos foram dominantes no mercado de computadores.
O funcionamento do HD se baseia em um fenômeno físico chamado de magnetorresistência gigante, descrito em 1988 com uma importante participação do Físico brasileiro Mario Baibich. Em 1997, a Academia Real das Ciências da Suécia premiou a descoberta com o Nobel. Foram laureados Albert Fert, chefe do laboratório francês onde o Baibich fez a descoberta, e Peter Grünberg que obteve os resultados de forma independente na Alemanha.
Um sanduíche muito, muito fino. Pães de material ferromagnético e recheio de um material não magnético. Nessa configuração, cada um dos pães tem uma orientação magnética para um lado diferente (anti paralelas). Quando sanduíche recebe um campo elétrico externo, as orientações se alinham (paralelas), e a resistência do sistema cai drasticamente. Isso, minha gente, é a magnetorresistência gigante.
Na semana passada Fert esteve em Porto Alegre para receber da UFRGS o título de Doutor Honoris Causa. Uma das atividades do Físico francês foi uma especie de encontro com os alunos da Universidade. Uma hora, disponível para responder qualquer uma das nossas perguntas.
Entre perguntas sobre a carreira de físico e a pesquisa que levou ao prêmio, alguns pontos chamaram a minha atenção.
Acho curioso como a opinião do Fert sobre o prêmio seja muito parecida com a do Feynman, que diz no seu livro algo como o Nobel ser quase um fardo a ser carregado para o resto da vida. Fert não vai tão longe, mas nos contou que a posição de “Relações Públicas da Ciência” que assume todo laureado, fez com que ele tivesse que parar de dar aulas, por exemplo, algo que ele diz gostar muito por “renovar o conhecimento”.
Ainda sobre o prêmio, comentou que existem muitos pesquisadores bons que não ganham, e que a pesquisa é emocionante por si mesma, “explorar” o conhecimento é divertido, um Nobel é só “uma cereja no bolo”.
Sobre a pesquisa no Brasil, Fert falou não conhecer muito, mas destacou um ponto que eu confesso nunca ter considerado. O isolamento. Colaboração é importante na Ciência, e estar distante dos grandes centros na Europa e EUA pode ser um dificultador. Fert falou que é muito prático poder sair da França, visitar um colaborador na Alemanha, e voltar pra casa no mesmo dia.
A colaboração com a iniciativa privada também é importante na visão do francês. Ele vê com entusiasmo aplicações práticas para os resultados das pesquisas.
E vocês, o que acham?
Shut up and take my links
Era 4:20 da madrugada quando recebi uma ligação de Pyongyang. Quem mais seria…
“Alan? Aqui é o Kim. Tô entediado, você vai atualizar o blog ou não?”
“Fala, Japa. Faz tempo que não escrevo mas estou preparando coisas legais aqui. E fica longe do botão vermelho”.
É verdade! Estou mesmo pensando em coisas legais, interessantes e originais para postar no blog. Mas enquanto isso não acontece, vou matar o tempo e saudade que vocês estavam de mim com coisas legais, interessantes e copiadas de outras pessoas.
Explicando, esse tipo de post está sendo feito pelo André, do Socialmente. O que ele faz é colocar os links das coisas legais que ele viu pelas interwebz. Então vou copiá-lo. Coisas que eu vi durante a semana e acho que merecem ser compartilhadas com vocês. Mas claro que a melhor parte não é dividir coisas com vocês. A melhor parte é ter garantido pelo menos um post por semana.
Passei o feriadão fora da Internet e só voltei efetivamente na Terça. Perdi toda a diversão do Primeiro De Abril. Não deu nem pra comemorar a possibilidade de incluir carne de mamute nas minhas refeições. Já era só uma brincadeira dos Colecionadores.
Falando nisso, se você é daqueles que acha que dinheiro não trás felicidade, doe o seu e seja feliz. Todo mundo que já desenhou Dinossauros quando era criança sabe que isso é legal. 😉
A Astro[física][nomia] também pode ter desenhos legais. Ou imagens. Geralmente tem aquelas composições que impressionam as pessoas. Eu chamo de Ciência das imagens bonitas. E se você é Físico, pode descobrir a matéria escura (ou não?), ou pode se matar por trabalhar em um call center.
Tem notícias que se repetem mais que bloco em movimento harmônico simples. Uma delas é a quantidade de planetas extrassolares provavelmente existentes na galáxia.
No começo do ano essa notícia foi publicada e eu iria escrever sobre ela, mas minha editora, a procrasTinação, não deixou. Na época eu criei a imagem abaixo.
Pensei que nunca mais poderia usa-la, mas olha só, a notícia sobre bilhões e bilhões de planetas na galáxia voltou. E assim como na outra vez, ninguém te perguntou nada!
Semana que vem tem mais.
A Terra continuará girando, diz cientista
Apesar dos acontecimentos dessa semana, cientistas afirmam com convicção: o mundo continuará girando.
“Sabemos das notícias dos últimos dias, mas nossos cálculos podem garantir que a Terra permanecerá girando. Simulações mostraram que amanhecerá e anoitecerá nos próximos dias. As pessoas poderão, inclusive, acompanhar o fenômeno que vem acontecendo por 4,5 bilhões de anos.”
O pesquisador, que não quis se identificar, também fez uma revelação surpreendente.
“Além das notícias recentes não afetarem a rotação da Terra, elas também não afetam a translação. Nosso planeta continuará sua trajetória ao redor do sol”.
Tudo que você precisa saber sobre meteoros HOJE
Aparentemente, na madrugada de hoje (horário do Brasil) um meteorito caiu na região de Chelyabinsk, Rússia, cerca de 1500 km distante de Moscou. Há relatos de ferimentos causados principalmente por cacos de vidros das janelas quebradas por causa da onda de choque.
Os registros são impressionantes.
Esse é um tipo de evento em que uma onda de desinformação é uma merda um problema. Então, aqui está uma lista de respostas para perguntas que possivelmente alguém deve estar se fazendo agora.
Ainda há risco?
Para ter relação com o evento russo seria necessário algumas condições, como esse meteorito estar acompanhado de outros fragmentos. A principio não é o que aconteceu. Entretanto, o risco sempre existe.
Vi que um asteroide passará perto da Terra nessa sexta. Tem algo a ver com o meteorito russo?
É possível estimar uma possibilidade de órbita do meteorito russo baseado nas posições que as filmagens mostram. Essa seria um orbita diferente do asteroide próximo da Terra (chamado 2012 DA14). Também há uma diferença de tempo entre o horário do choque do meteorito, com a máxima aproximação do asteroide. Isso são indícios de que um não tem nada a ver com o outro.
Qual a diferença entre asteroide, meteorito e meteoro?
Semântica. Asteroide é uma pedra vagando pelo espaço. Meteoro é o efeito visual causado pelo contato dessa pedra com a atmosfera terrestre, e meteorito é o nome dado para a pedra depois que há o choque com o solo. Tomando o caso russo como exemplo, ele foi as três coisas. Um asteroide que entrou na atmosfera da Terra, foi filmado como meteoro, e agora é um meteorito.
Não são pedras, são aerolitos.
E cometas?
Cometas são parecidos com asteroides, mas compostos basicamente de gelo, o que faz com que ganhem a famosa cauda ao se aproximar do sol.
Qual era o tamanho dessa pedra? Desculpe, aerolito…
Isso ainda precisa ser calculado. Baseado em alguma possível cratera ou mesmo restos do meteorito.
Atualização: As estimativas da NASA são de 17 metros de diâmetro e massa de 10 mil toneladas.
Do que ela é feita?
Não dá pra saber sem ver ele primeiro. Mas asteroides em geral são divididos em grupos de composição, sendo a maior parte do tipo condrito. Rochas de silicatos.
Ataualização: Confirmando as estatísticas, o meteorito russo é do tipo condrito ordinário.
Por que ninguém avisou que ele iria cair?
Asteroides são pequenos. Existem dois problemas para achar esse tipo de objeto. Eles refletem pouca luz e ocupam uma área pequena no céu. Os telescópios que procuram por esse tipo de objeto precisam varrer uma área grande, e isso (por questões de ótica) dificulta ver coisas pequenas que estejam longe.
Mas avisaram do asteroide…
O asteroide é provavelmente maior que o meteorito russo. Talvez tenha ainda um “golpe de sorte” dele ter passado pela área de varredura de um dos nossos telescópios. Mesmo assim, não faz nem um ano da sua descoberta.
Quem busca esse tipo de coisa?
Existem alguns programas ao redor do mundo que fazem a varredura do céu e mapeiam objetos próximos da Terra. Lincoln Near-Earth Asteroid Research, Catalina Sky Survey e Siding Spring Sky Survey são os programas de maior sucesso. São números que no total passam da casa dos 200 mil objetos. O Catalina, por exemplo, atinge uma taxa de aproximadamente 500 objetos próximos da Terra por ano.
E o Brasil?
O Brasil também possuí um programa de varredura de asteroides. É o IMPACTON.
Você pode garantir que o asteroide não cairá?
Eu, particularmente, não. Mas os cálculos mostram isso, e podemos confiar neles.
Qual a frequência desse tipo de evento?
Asteroides pequenos caem todos os dias. A atmosfera acaba consumindo eles completamente antes que atinjam o solo. São as chamadas estrelas cadentes.
Asteroides de 4 metros caem em média uma vez por ano. Conforme o tamanho aumenta, mais raro de acontecer. Grandes asteroides muitas vezes associados com eventos de extinção em massa costumam aparecer em intervalos de milhões de anos.
Você pode me falar de algum caso recente?
Um caso recente e interessante é o meteorito 2008 TC3 que caiu no Sudão em 2008. Foi o primeiro que foi rastreado desde a determinação de sua orbita, até o local de queda. Os astrônomos puderam acompanhar seu trajeto passo a passo. Estimado em 80 toneladas e cerca de 5 metros de diâmetro o meteoro se desfragmentou durante a queda, resultando em cerca de 600 pedaços somando algo em torno de 10 kg.
Governos escondem informações a respeito de eventos astronômicos que podem por em risco a população?
Não que eu tenha como saber. Mas a maior parte desses dados são públicos, além de astrônomos amadores ao redor do mundo. Eventos como esses costumam se dividir entre aqueles que não temos como prever e aqueles que não temos como esconder. Governos talvez estejam interessados em saber de um potencial asteroide que destruirá a Terra, mas não penso que essa informação não fosse divulgada por alguém.
Esse evento tem algo a ver com a renúncia do Papa?
Não.
Esse evento tem algo a ver com alguma mensagem divina?
Não.
Esse evento tem algo a ver com Aliens?
Err…
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Para outras dúvidas, usem os comentários. 😉
ATUALIZAÇÃO
Alguns leitores querem saber de onde o asteroide que passará perto da Terra poderá ser visível.
De que lugar do mundo é possível ver o asteroide?
O mapa abaixo mostra (em tons de verde) de onde o asteroide será “visível”. Visível aqui quer dizer que ele estará ‘acima do horizonte’, já que o asteroide não pode ser visto sem auxilio de binóculos ou telescópios.
Gráfico de autoria de Geert Barentsen.
Nobel da Folia
João Paulo do Rio Branco era o Secretário de Turismo do Estado da Guanabara em 1966. Uma das funções da Secretaria de Turismo do Estado da Guanabara era organizar o Carnaval da cidade do Rio de Janeiro. Uma das tarefas ao organizar o carnaval do Rio de Janeiro é selecionar as personalidades que receberão o convite oficial do Governo do Estado para fazer parte das festividades.
Em 1966 a lista de convites internacionais tinha nomes como Salvador Dalí, o 007 Sean Connery, as Princesas Ira von Fürstenberg e Soraya Esfandiary-Bakhtiari, as atrizes Ingrid Bergman e Gina Lollobrigida, e por último mas não menos importante, um cientista vencedor do prêmio Nobel de Física do ano anterior, Richard Feynman.
Pipocou na imprensa internacional rumores de uma epidemia de tifo no Rio e até o Itamaraty foi acionado para tranquilizar os turistas que viriam para o Carnaval. Não sei se funcionou, mas pelo menos nenhum dos convidados oficiais utilizou a epidemia como motivo para não vir ao Carnaval.
Salvador Dalí alegou compromissos profissionais. Soraya, problemas com a saúde da sua mãe. Ira, compromissos pessoais. Sean Connery e Ingrid Bergman não foram vistos no Rio. E a Gina Lollobrigida, filmando em Paris, ficou em cima do muro e deixou o pessoal do Tursimo da Guanabara esperando até o último dia, mas não apareceu.
É isso mesmo que você está lendo. Como quando você é uma criança, é seu aniversário, e você tem medo que ninguém venha na sua festinha. Ninguém veio.
Feynman veio. Não foi sua primeira vez no Brasil, nem no Carnaval do Rio. Ele já havia tocado frigideira em um bloco, e passou a se interessar bastante pelos instrumentos utilizados no samba. Notícias que corriam pela época falavam que um dos motivos que fizeram a sua primeira esposa pedir o divórcio foi o barulho da cuíca.
Richard e sua segunda esposa, Gweneth, seriam recebidos pelo Secretário Rio Branco e 200 passistas do Salgueiro, Mangueira, Portela e Império Serrano, ao som da Bateria da Mocidade, mas parece que as autoridades do aeroporto não permitiram. Participaram de ensaios, dos principais bailes e assistiram aos desfiles das escolas de samba.
Além da “imensa saudade dessa festa grandiosa” Feynman levou na bagagem um agogô com a inscrição “O maior folião de 1966“, presente da Associação das Escolas de Samba.
A seguir, IBAGENS INÉDITAS fotos que você talvez ainda não tenha visto do Carnaval em que por falta de celebridades, um físico virou a principal atração.
A propósito, João Paulo do Rio Branco deixou a Secretaria de Turismo antes do fim daquele ano. Feynman não achou que foi coincidência…
EUA não construirá Estrela da Morte
Em Novembro do ano passado, fãs de Star Wars (a.k.a. Guerra nas Estrelas) criaram uma petição para que o Governo dos Estados Unidos da América construa uma Estrela da Morte.
A petição já conta com mais de 34 mil assinaturas, e você pode ler o texto original clicando aqui, ou na tradução a seguir.
Peticionamos o Governo Obama para:
Assegurar fundos e financiamentos, e iniciar a construção da Estrela da Morte em 2016.
Aqueles que aqui assinarem peticionam o Governo dos Estados Unidos para assegurar fundos e financiamentos, e iniciar a construção da Estrela da Morte em 2016.
Ao focar nossos recursos de defesa em uma plataforma espacial e sistemas de armamentos como a Estrela da Morte, o Governo pode estimular a criação de empregos nas áreas da construção, engenharia, exploração espacial, entre outras, além de reforçar a defesa nacional.
Faz sentido. Todos reconhecem o poder da Estrela da Morte, e certamente garante superioridade bélica para qualquer nação.
Fãs de Star Wars animados com a ideia, podem se decepcionar. A Casa Branca respondeu oficialmente a petição e, pelo menos por enquanto, os americanos não construirão a Estrela da Morte.
A resposta é inspiradora, bem humorada e com várias referências aos filmes. Foi assinada por Paul Shawcross que trabalha em algum lugar da Casa Branca que lida com dinheiro e espaço, e provavelmente, ficção cientifica. Você pode clicar aqui para ler o original, ou na tradução abaixo.
Esta não é a Resposta de Petição que você está procurando.
A Administração divide o seu desejo de criação de empregos e uma defesa nacional forte, mas uma Estrela da Morte não está em nossos planos. Aqui algumas razões:
– A construção da Estrela da Morte esta estimada em mais de $850,000,000,000,000,000. Estamos trabalhando para reduzir o deficit, não expandi-lo.
– A Administração não apoia a explosão de planetas.
– Por que gastaríamos os impostos dos contribuintes em uma Estrela da Morte com uma falha fundamental que pode ser explorada por uma nave de um homem só?
Porém, olhe com cuidado (veja aqui como) e você perceberá que já há algo flutuando no céu — não é a Lua, é a Estação Espacial! Sim, nós já temos uma Estação Espacial Internacional, do tamanho de um campo de futebol, orbitando a Terra e nos ajudando a aprender como humanos podem viver e prosperar no espaço por longos períodos. A Estação Espacial está com seis astronautas (da América, Rússia e Canadá), conduzindo pesquisas, aprendendo como viver e trabalhar no espaço por um longo período de tempo, rotineiramente recebendo espaçonaves visitantes, fazendo reparos no compactador de lixo, etc. Nós também temos dois laboratórios científicos robôs (um deles empunhando um laser) andando por Marte, procurando se já existiu vida no Planeta Vermelho.
Lembre que o espaço não é mais apenas governamental. Companhias americanas privadas, através do Commercial Crew and Cargo Program Office (C3PO), estão transportando carga (e em breve tripulação) ao espaço, e buscando missões com humanos para a Lua nessa década.
Ainda que os Estados Unidos não tenham nada que possa fazer a Kessel Run em menos de 12 parsecs, temos duas espaçonaves deixando o Sistema Solar, e estamos construindo uma sonda que vai voar para as camadas exteriores do Sol. Estamos descobrindo centenas de novos planetas em outros sistemas estelaras e construindo um sucessor muito mais poderoso para o Telescópio Espacial Hubble, que nos fará olhar para os primeiros dias do Universo.
Nós não temos uma Estrela da Morte, mas temos robôs flutuantes na Estação Espacial, um Presidente que sabe como lidar com um sabre de luz e um avançado canhão (de marshmallow), e a DARPA que está apoiando a pesquisa do braço do Luke, droids flutuantes e quadrupedes que caminham.
Estamos vivendo no futuro. Aproveite. Ou, melhor ainda, nos ajude a construí-lo procurando uma carreira na Ciência, Tecnologia, Engenharia ou Matemática. O Presidente realizou a primeira Feira de Ciências da Casa Branca e a Noite da Astronomia no South Lawn porque ele sabe que esses domínios são fundamentais para o futuro do nosso país, e para assegurar que os Estados Unidos continuem liderando o mundo em fazer coisas grandes.
Se você seguir uma carreira em Ciência, Tecnologia, Engenharia ou Matemática, a Força estará com você. Lembre-se, o poder da Estrela da Morte para destruir um planeta, ou mesmo um sistema estelar inteiro, é insignificante perto do poder da Força.
Instituto Brasileiro de Unidades Nonsense #1
Você já deve estar acostumado com aquelas comparações que dizem que “com o prêmio da mega sena você compraria 300 carros populares”, ou que “a energia gasta no evento X seria suficiente para abastecer uma cidade de 10 mil habitantes por três dias”.
Eu gostei dessa aqui:
“A quantidade de artefato seria suficiente para explodir até três agências bancárias.”
Não sei quanto a vocês, mas eu não costumo sair por aí explodindo agências bancárias, então a informação não foi muito relevante para saber, afinal, quanto de explosivo havia no local.
Mas a sociedade espera por respostas e eu sou um desocupado, então, declaro aberta a sessão do Instituto Brasileiro de Unidades Nonsense.
Nós não sabemos a quantidade de material que havia lá, nem a composição exata do explosivo. Só nos resta iniciar uma série de suposições.
Vamos supor eram bananas de dinamite tradicionais. Ou seja 20 cm de comprimento por 3,2 cm de diâmetro. Isso dá um volume aproximado de 160 cm³. Multiplicando por 8 bananas (de dinamite) e dividindo por três agências, temos a nossa primeira unidade.
Volume de material explosivo necessário para explodir uma agência bancária (vmeab): 426,6 cm³
A próxima suposição será de que as dinamites eram de trinitrotolueno. O famoso TNT. Como nós já definimos o volume de material explosivo necessário para explodir uma agência bancária, basta multiplicar esse valor pela densidade do TNT e teremos a nossa segunda unidade definida:
Massa de material explosivo necessário para explodir uma agência bancária (mmeab): 705,6 g
Não foi por acaso que eu escolhi TNT como o material da nossa hipotética dinamite. Um grama de TNT é 4184 Joules, por definição. Então o IBUN não se esforçará para definir a terceira unidade.
Energia necessária para explodir uma agência bancária (eneab): 2,852 x 10^6 J
Se você não tem ideia do quanto é essa energia, bom, é equivalente a da colisão de um carro popular a aproximadamente 280 km/h.
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***Como vocês perceberam, há um #1 no título do post. Sim, tenho a intenção de criar uma série com comparações e analogias curiosas encontradas em notícias. Mas não garanto que eu vá ir atras disso, então conto com a ajuda, colaboração e solidariedade de vocês. Grato. 🙂
Tomara que caia
Acho bastante interessante mulheres em vestido (fica a dica). Não entendo nada de moda, então pra mim só há dois tipos: o tomara que caia e o tomara que tire. Se o desejo implícito no apelido carinhoso dado ao vestido sem alça se realiza, polêmica.
Mas por que ele (geralmente) não cai? Diante de uma questão tão importante, obviamente que algum desocupado curioso já tratou de destrinchar os detalhes por trás dessa peça do vestuário feminino. Meninos e meninas, papel e caneta na mão, é hora de Física.
Esse post é baseado em um pequeno artigo do engenheiro Charles E. Siem, com o título “A Stress Analysis of a Strapless Evening Gown” publicado em um livro de mesmo nome. Assumindo que as mulheres não utilizam truques ao usar esse tipo de vestido, o artigo é puramente físico.
Essa figurinha aí (sério, é do artigo) mostra o diagrama das forças que atuam em um tomara que caia.
Começando pela parte de baixo (indicadas por Ya e Xa) considere um pequeno pedaço do tecido. Há uma força W para baixo, o peso do vestido, e uma força V para cima, gerada pela porção de tecido imediatamente acima. Essas duas forças, W e V, se anulam mantendo o vestido em equilíbrio, até a parte de cima, onde o vestido termina e não há mais uma força V para compensar o peso (Yb e Xb, no desenho). Usando as palavras do artigo, uma mulher abençoada com desenvolvimento peitoral suficiente, conseguirá gerar a força que manterá o tomara que caia em equilíbrio. Caso contrário, essa força terá que ser gerada artificialmente.
Culpem o atrito.
A equação da força de atrito é F = µN, onde µ é uma constante que representa o coeficiente de atrito do material usado para construir o vestido, com a pele da mulher (ou com o material do sutiã). N é a força Normal, que é perpendicular ao atrito. Como µ é constante, os engenheiros de roupas devem cria-las de modo a aumentar o valor de N.
Um modo de aumentar a Normal é reduzir o diâmetro da região frontal do vestido. Isso significa apertar o vestido contra os seios da mulher, o que pode ser desconfortável.
E se os engenheiros de vestidos a.k.a. estilistas, não tivessem problemas suficientes com esse modelo, alguns deles vem sem tecido na parte das costas.
Isso faz com que as forças horizontais F1 e F2 do primeiro desenho não sejam exatamente horizontais, mas inclinadas para baixo, aumentando ainda mais a força W. Não havendo tecido pra envolver o corpo da usuária, o engenheiros devem usar a criatividade para criar estruturas que garantam a sustentação do vestido, sem estragar a aparência.
O autor termina o artigo lamentando que tudo isso seja apenas teórico, já que ele não conseguiu realizar a parte experimental… por falta de voluntárias.
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Versão online do artigo aqui.
Tem Ciência nisso… n°3
As origens do Poker são controversas, fato é que hoje é um dos jogos de cartas mais populares do mundo. Do Saloon ao Casino Royale, ou no fim de semana em sua sala, há muita matemática e estratégia escondida no jogo, ainda que este siga com um estigma de “jogo de azar”.
Pra quem não conhece, algumas regras básica. Se você já conhece, pode pular para a foto do gatinho.
O objetivo comum entre todas as variantes é obter a melhor combinação de cinco cartas. Dá menor para a maior:
- Carta alta: Vence aquele com a carta mais alta em jogo.
- Par: Duas cartas do mesmo valor.
- Dois pares: Sem mistério, são dois pares mesmo.
- Trinca: Três cartas do mesmo valor.
- Straight: Cinco cartas em sequência.
- Flush: Cinco cartas do mesmo naipe.
- Full House: Uma trinca e um par.
- Quadra: Quatro cartas do mesmo valor.
- Straight Flush: Uma sequência qualquer, com cartas do mesmo naipe.
- Royal Flush: Uma sequência de 10 até A, com cartas do mesmo naipe.
No Texas Hold’em, a variante mais jogada no mundo, cada jogador recebe duas cartas. Uma rodada de apostas é feita, e para aqueles que continuam no jogo, abrem três cartas comunitárias na mesa (o flop). Uma nova rodada de apostas, e então uma quarta carta é aberta na mesa (o turn). Novamente as apostas são feitas e então a última carta é aberta (river). Se os jogadores resolverem continuar na mão, as cartas são mostradas. Das sete cartas é feita a melhor combinação de cinco, seja usando as duas, uma, ou mesmo nenhuma carta originalmente recebida pelo jogador.
Da Combinatória obtemos as probabilidades no Poker. Um baralho tem 52 cartas, 13 de cada naipe. São 2.598.960 mãos possíveis. A probabilidade de sair um Royal Flush é de 0,00015%. Uma sequência vai ocorrer 0,39% das vezes. Um par tem 42,3% de chances de aparecer.
Vale lembrar que no Texas Hold’em cada jogador recebe inicialmente duas cartas. De fato, a maior parte das mãos são definidas antes mesmo da abertura do flop, neutralizando o efeito da aleatoriedade na distribuição das cartas.
Existem 1326 combinações possíveis de mãos iniciais. Mas, como antes do flop não há diferença de valor entre uma mão de Ás de Espadas e Rei de Copas ou Ás de Ouro e Rei de Paus, as combinações de mãos inciais podem ser reduzidas para 169. Portanto um par de Ás, que possuí cerca de 85% de chances de vitória contra outra mão aleatória, será recebido como mão inicial a cada 220 mãos.
Um jogador de Poker joga contra (ou com) a matemática. A cada roda de apostas ele calcula se é lucrativo ou não continuar em uma mão, baseado nas probabilidades daquela mão ser vencedora. A longo prazo não vale a pena comprometer uma fração da banca que seja superior a probabilidade daquela mão vencer.
Também é preciso saber quais as chances existentes de que apareça nas cartas comunitárias alguma que agregue valor à mão do jogador. Se você, por exemplo, segura duas cartas de Copas, e outras duas aparecem no flop, as perguntas devem ser: qual a probabilidade de abrir uma carta de Copas no turn ou no river? Quanto devo investir de minha banca sobre essa probabilidade?
Entretanto, como toda situação probabilística, o Poker não está livre da variância. Um 7 e 2 (pior mão do jogo), vencerá algumas vezes o poderoso AA.
Conhecido um pouco da matemática do jogo, vamos para a evento principal da World Series of Poker de 2012, considerado o torneio mais importante do mundo. Dos mais de 6000 inscritos, nove foram para a mesa final e o vencedor, Greg Merson, recebeu um premio de mais de oito milhões de dólares, além do tradicional bracelete de campeão.
Ao todo foram jogadas 399 mão na mesa final, e 57,6% foram decididas no antes flop. Somente em 52 mãos as cartas foram mostradas, e em apenas 4% das jogadas alguém arriscou todas as suas fichas (o famoso all in).
Das 29 mãos em que alguém venceu no showdown (quando as cartas de todos os jogadores envolvidos são mostradas, e vence aquele com a melhor combinação) em 10 o perdedor é quem tinha a melhor mão inicial. Quando levado em conta apenas showdowns que eliminaram jogadores do torneio, todos foram vencidos pela melhor mão inicial.
Assista ao vídeo da última mão:
Merson aposta tudo, e força Sylvia, com menos fichas a fazer o mesmo caso queira continuar na mão. Nessa situação, se Jesse Sylvia vence a mão, dobra suas fichas e o jogo continua, se perde, é eliminado do torneio e a vitória fica com Greg Merson. Após um tempo pra decidir, Sylvia paga.
Merson mostra K 5 de Ouros, tendo 55% de chances de terminar o showdown com a melhor mão, contra os 45% do Q J de Espadas do Jesse Sylvia. As chances de Sylvia são todas as cartas que melhorem a sua mão, ou seja, todos os Q e J restantes do baralho, mais as cartas de Espadas (flush) e as cartas que possibilitem uma sequência.
Nada disso acontece no flop, e as chances de Merson aumentam. Caso duas cartas de espadas tivessem aparecido no flop, por exemplo, as probabilidades teriam virado para 54% x 46% em favor do Sylvia.
Com Sylvia sem chances de conseguir uma sequencia ou cinco cartas do mesmo naipe, Merson chega ao turn com 76% de chances de vencer. Um Q ou J faria Sylvia ir acima dos 70%. No river, nem J nem Q, e Merson é declarado o vencedor.
Pra terminar, pulamos agora do mundo real para a ficção. Assita:
Bond tem a mão inicial com menor chance de vitória, apenas 12%. O jogador com KQ é quem sai na frente, com 35%.
O flop abre e o jogador com 88 bate a trinca, virando o favorito com 47% de chances de vencer. O vilão tem dois pares, provavelmente imaginando ter uma boa mão. Enquanto isso, Bond (28%) e o jogador restante aguardam por mais uma carta de espadas para completar o flush.
O turn mostra um 4 de Espadas. Bond completa o Straight Flush e não há mais chance matemática de vitória para os outros jogadores. O river ainda vai mostrar outro Ás, dando falsas esperanças de vitória ao vilão com o Full House.
– Do you expect me to talk?
– No, Mr. Bond. I expect you to fold.