iGEM World Jamboree – Parte 1: Overview do Evento

*este post sofreu com o fato do autor ter perdido o cartão de memória com fotos do evento. Algumas foram recuperadas, embora com qualidade muito pior u.u…. faremos a melhor limonada possível dos limões recebidos e esperamos que gostem!

Entre os dias 1 e 4 de novembro de 2013 ocorreu a etapa mundial do iGEM, o iGEM World Jamboree, onde equipes selecionadas nas fases regionais do mundo todo reúnem-se no MIT (Massachusetts Institute of Technology), em Boston, para apresentarem seus projetos finalizados nesta temporada. Apesar de nosso projeto não ter sido selecionado,  mandamos nossos enviados especiais, Pedro e Danilo, para acompanhar o evento e trazer essa experiência!

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Dois invasores em frente ao prédio clássico do MIT

O evento apresenta o mesmo formato que as fases regionais, com a diferença de ser muito maior: são três salas de apresentações simultâneas, nas categorias “undergraduate” e “overgraduate”, e uma sala com a categoria Entrepreneurship e Software.  Ao todo são em média 80 apresentações diferentes durante o evento todo, das quais acompanhamos cerca de 30.

Este é o primeiro de uma série de posts originados deste evento, nos quais contaremos as impressões gerais da experiência. Nos próximos posts iremos abordar os nossos projetos favoritos, as possibilidades brasileiras e latino americanas no evento e como o iGEM se tornou uma máquina azeitada de inovação (mesmo contando com apenas 7 funcionários).

A cidade, o MIT e tudo mais

O evento não ocorre propriamente em Boston, mas sim em Cambridge, cidade onde estão localizados o MIT e Harvard. Cambridge é uma cidade bonitinha com a estética da Nova Inglaterra: prédios de tijolinhos, esquilos, carvalhos e com aquela beleza clássica de outono do clima temperado totalmente alheia a nós, mas que nos acostumamos a ver nos desenhos da Disney. Fora isso, é a moradia de milhares de estudantes de alto nível do mundo todo que desenvolvem suas atividades nas universidades locais.

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Stata Center, palco de parte das apresentações/

Os campi de Harvard e MIT são bem integrados à cidade. Harvard, apesar de ser cercada de muros, possui os portões abertos, amplos gramados e um visual clássico, o movimento de estudantes é bastante intenso o dia inteiro. O MIT, por sua vez, não possui muros e conta com edificações clássicas e também modernas. Percebe-se que a relação com o espaço é bem diferente do que a que temos no campi da USP, que, apesar de ser de uma universidade pública, é bem menos integrado à cidade do que as universidades citadas acima.

O MIT, em específico, não deve em nada à USP quanto à sinalização dos prédios e ruas: ambos são bastante confusos para um visitante. Fora essa dificuldade, a estrutura é realmente boa: auditórios espaçosos, salas adequadas para conversas, espaços para estudo independente e boa rede wifi formam um ambiente propício para o desenvolvimento de idéias. Com certeza é um lugar onde qualquer desenvolvedor de projetos gostaria de estar.

O evento

O primeiro dia do evento é apenas para inscrições e um breve treino. Apesar do clima de excitação em meio à pizza (UHUL!), o ambiente não é de muita confraternização. Os times revezam-se nas salas, onde têm apenas meia hora para treinar suas apresentações (acredite, em meia hora com certeza alguém estará batendo na sua porta para que você saia), e podem aproveitar o tempo para escrever o que quiser nas lousas do hall.

No segundo e terceiro dias temos o que realmente interessa. As apresentações começam pontualmente e são intercaladas com perguntas dos juízes e da platéia. Os times possuem 20 minutos para a apresentação e mais 10 para perguntas e não ocorreram problemas nesse sentido: tudo parecia muito bem alinhado e ensaiado (com slides previamente preparados para responder as perguntas que pudessem surgir, inclusive), com algumas excessões específicas. Devo dizer, porém, que nem sempre os juízes faziam perguntas claras e objetivas, ainda mais levando-se em conta que para muitos times o inglês não era a língua nativa.

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As lousas duplas que sempre vemos nos filmes. Elas existem!

Ao contrário do evento regional da América Latina, os pôsteres são exibidos em todos os momentos de intervalo e, no nosso caso em específico, alguns foram importantes para decidir o que veríamos. Os pôsteres do iGEM são ligeiramente diferentes do que estamos acostumados, com mais texto e maior preocupação com o design de como as informações são apresentadas.  Nesse sentido, ainda não me convenci que o houvesse algum pôster melhor que o nosso, haha.

Ao fim, dos seis finalistas das duas categorias, Overgraduate e Undergraduate, uma surpresa: Nenhum time americano na final. 5 times europeus, sendo 3 alemães, 1 francês e um inglês, mais um time chinês. (confira!). Os resultados finais, bem como awards estão nesta página. Com destaque para, até onde eu sei, o primeiro award ganho por um time Latino americano: Melhor modelagem para o time de Buenos Aires!
Enfim, nos próximos posts teremos uma seleção dos melhores projetos segundo nós mesmos, bem como relatos da categoria de empreendedorismo e afins!

Até lá!

*Hard Level Bonus Stage: Ache-nos na foto oficial!

Dica: Dois solitários vermelhos.

Uma experiência de Biologia Sintética no ensino médio paulistano.

Pelos caminhos tortuosos que só os bons colegas nos proporcionam, acabei convidado a participar de uma das experiências mais empolgantes dos últimos tempos: uma tarde de apresentações e comentários a respeitos dos TCCs de alunos do colégio Bandeirantes, na Zona Oeste de São Paulo. Até aí, nada que pareça a princípio muito divertido, não fossem as boas surpresas que me aguardavam.

Para contextualizar, o Colégio Bandeirantes possui um módulo de Biotecnologia coordenado pela professora Ana Cristina Camargo de São Pedro para os alunos do segundo ano do ensino médio. Nele são ensinados e discutidos assuntos pertinentes ao tema, inclusive utilizando de artigos e outros materiais científicos bastante novos e, ao fim, os alunos apresentam um projeto de biotecnologia com foco na resolução de um problema do mundo atual.

Saudosismo ao ver esse formato "trabalho em grupo"?

Saudosismo ao ver esse formato “trabalho em grupo no ensino médio”, haha?

Nas apresentações, todas com o clima saudoso de “trabalho em grupo” dos tempos de colégio,  aparecem projetos motivados por temas como poluição marítima por petróleo, obesidade, doenças genéticas, síntese de produtos complexos e afins. Algo natural visto que a biotecnologia é o santo graal apontado para a maioria dos problemas que até então não fomos capazes de responder satisfatoriamente.

Não vou detalhar todos os 5 projetos, mas um em especial me pareceu bastante interessante: A síntese de Paclitaxel por meio de GMOs. Paclitaxel é um produto quimioterápico cuja principal fonte é um fungo endofítico da árvore Taxus brevifolia, o Taxomyces andreanae, porém já foi encontrada em outros fungos também. A molécula é complexa e já é parcialmente sintetizada em E.coli e leveduras se aproveitando de vias de síntese de terpenos, mas sua síntese completa ainda não é feita em GMOs.

Taxus brevifolia – Extrair produtos de alto valor de suas fontes naturais as vezes não é a melhor estratégia.

O projeto basicamente consistia na transferência da via metabólica para uma bactéria para produção e posterior purificação em níveis farmacêuticos do produto. Apesar de sabermos que as coisas não funcionam de maneira simples assim, foi bastante interessante a abordagem pela similaridade com coisas que já vem sendo feitas, como a produção da artemisina. Talvez, penso eu, esta seja a estratégia mais segura para utilização de GMOs atualmente: isolamento completo de organismos para a produção de um produto desejado em ambientes controlados.

Após a apresentação dos projetos, vejo os resultados de uma ótima preparação: o nível de detalhamento abarca bioética, biossegurança, designe de circuitos gênicos, discussão a respeito de diferentes chassis e etc. Ainda que às vezes de maneira inexperiente, o que não desabona o esforço, vejo discussões a respeito de diferentes estratégias que conciliem os ônus e bônus das novas abordagens criadas.

Estrutura molecular do Paclitaxel

Minha contribuição restringiu-se mais a elevar um pouco o nível dos questionamentos éticos, de biossegurança e de propriedade intelectual/comercial que identifiquei nos projetos. Não apenas as pessoas eram novas, mas o assunto em si é novo para a humanidade, o que leva a um nível ainda um pouco superficial das questões que emergem dessa tecnologia. Desta maneira, ainda que de forma restrita, espero ter colocado “bons empecilhos” necessários para a reflexão da bioengenharia em si.

Por fim, saio bastante satisfeito com o que vi. 20 e tantos jovens com o conhecimento suficiente para propagar uma visão menos preconceituosa da biotecnologia, capazes de pensar em projetos e nos desdobramentos dos mesmos, não importando que áreas forem seguir. Espero ainda que, caso algum dos alunos leia este texto, sinta-se orgulhoso do próprio trabalho e motivado a enfrentar o desafio de resolver problemas complexos como os apresentados.

SynbioBrasil na Campus Party 2013 e no Grok Podcast!

Autores Colaboradores: Cauã Westmann e João Molino

No dia 29 de janeiro fomos convidados para participar do evento Campus Party, no Parque Anhembi, SP, “o maior acontecimento tecnológico do mundo” segundo o site (discutiremos isso mais tarde…)! Criada há 16 anos na Espanha, ela atrai anualmente geeks, nerds, empreendedores, gamers, cientistas e muitos outros grupos criativos que se reúnem para acompanhar centenas de atividades sobre Inovação, Ciência, Cultura e Entretenimento Digital. O evento tem duração de 5 dias e um espaço para acampamento que reuniu cerca de 8.000 “campuseiros” em barracas.

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Mesa com o Carlos Hotta e o Mateus Lopes na Campus Party – as pessoas por trás do começo do SynbioBrasil.

Nosso grupo foi convidado para participar de uma apresentação na sessão da Galileu (sim, a mesma da revista!), apresentando a Biologia Sintética de forma sucinta e comparando-a com alguns aspectos operacionais da computação, buscando aproximar o público com a área. Os palestrantes foram o professor doutor da USP Carlos Hotta (IQ-USP) e o PhD em biotecnologia Mateus Schreiner Garcez Lopes (Brasken), dois grandes ponta de lança da Biologia Sintética no Brasil que fizeram um ótimo trabalho!
Bom, a apresentação ocorreu somente às 15h45min e como chegamos bem cedo, tivemos tempo suficiente para passear por muitos stands e apresentações no local. Grandes empresas patrocinaram o evento e marcaram sua presença por ali como Microsoft, Intel, IBM, Nvidia, Petrobrás, Vivo, Sebrae entre outras. Vimos centenas de computadores tunados, temáticos (veja a foto da CPU mafiosa) e com configurações de hardware extraordinariamente potentes; impressoras 3D e alas inteiras dedicadas a gamers. Entretanto, apesar dos 76 mil metros quadrados de área disponível do Parque Anhembi e do grande montante de investimentos envolvidos, o evento deixou muito a desejar…

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Não, não é uma máquina de doces do Scarface. É um CPU.

Primeira grande pisada de bola: não havia uma rede de Wi-fi livre! É difícil de acreditar que um evento voltado para inovação e tecnologia não forneça conexões sem fio abertas. Pois bem, só estavam disponibilizados cabos para conectar o computador à rede, mas  em uma era na qual tablets e outros portáteis são cada vez mais comuns, a ausência do Wi-fi prejudicou bastante nossas atividade e, principalmente, cobertura do evento! O Synbio Brasil que não pôde twittar nada durante o evento em decorrência disso. #chateado

Segundo, o espaço foi subutilizado. Grandes áreas eram destinadas a computadores que ficaram vazios na maior parte do tempo ou a grandes telões que mostravam apenas as expressões faciais de jogadores que competiam no evento. Além disso, muitos dos stands apresentavam pouquíssimo conteúdo, ocupando seu espaço com arcades, video-games, pinballs e máquinas de pegar bonequinhos de pelúcia. Até um enorme espaço reservado para um sorteio de automóvel havia ali.
Por último, houve certa desorganização operacional, principalmente no que tange à mobilidade do público dentro do Parque. Havia uma divisória entre os setores que apresentava seguranças e detectores de metais totalmente necessários, mas com apenas uma passagem estreita para quem ia e vinha em sentidos opostos, gerando grandes filas desnecessárias.

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Pedro #chatiado por causa do wi-fi e de alguns estandes bobinhos. #GrumpyPedro

É claro que houve várias atividades legais, como a palestra do 2° homem a pisar na lua, o ex-astronauta Edwin Buzz Aldrin,  e outros eventos com temas diversos sobre tecnologia, inovação e empreendedorismo e tudo isso foi muito válido. Muitas pessoas levaram suas ideias, produtos, computadores tunados, monitores triplos, jogos e programas e se beneficiaram muito da troca de experiências com os outros participantes. Ponto positivo novamente. Além disso, é importante ressaltar que ficamos apenas um dia no local e, por isso, opinamos sobre o que vimos apenas neste período de tempo, não conseguindo fazer um review sobre o evento como um todo.

O grande ponto forte da Campus Party desse ano foi promover o contato de milhares de pessoas para trocarem informações e experiências sobre os mais diversos assuntos e esse é um caminho importante para o desenvolvimento educacional, cultural e tecnológico do país. No entanto, senti que esse diálogo tão enriquecedor foi bastante fraco quanto à relação entre o público e às empresas presentes.

Faltou algum elemento de coesão… A ideia de que os participantes seriam atraídos apenas por brindes e entretenimento eletrônico foi um grande equívoco. Lá não estavam consumidores da velha definição capitalista, mas sim, felizmente, consumidores de ideias, pessoas inquisitivas e cheias de novas perspectivas. E para atender às suas demandas a logística claramente precisa se atualizar. Mas palma, palma, não criemos caniço (Chapolin et al, 1973)! Não há evento melhor do que a Campus Party para promover essa atualização do sistema!

Desse modo, a experiência foi muito válida e esperamos estar lá novamente em 2014 com muitas novidades para ver e mostrar!

EDIT: Cheque aqui o vídeo da palestra no evento (Obrigado pelo link Mariana Fioravanti!):
[youtube_sc url=”http://www.youtube.com/watch?v=VSvin1OzzIU”]

GrokPodcast

grok

Recentemente, também, eu, Pedro Medeiros, e Otto Heringer pudemos ter a chance de participar do Grok Podcast. A página, sob comando de Carlos Brando e Rafael Rosa Fu, traz podcasts relacionados a tecnologia, principalmente tecnologia da informação, com podcasts nos quais profissionais explicam e discutem um determinado tópico de sua especialidade em uma série de episódios.

O termo Grok tem um significa curioso. De acordo com a própria página ele é proveniente do livro “Um estranho em uma terra estranha”, de Robert Heinlein, e que dizer “Entender algo tão completa e profundamente que o observador e o objeto observado se tornam um só”, com certeza uma sensação da qual nós, estudiosos apaixonados de um tema, adoramos estar próximos(e um termo que, a partir de agora, passo a adotar)!

Tomei notícia do GrokPodcast ainda em meados de 2012, quando pesquisava assuntos relacionados ao Arduino e, por acaso, noticiei um capítulo cujo título era “Singularidade e Biologia Sintética”, na qual dois entusiastas conversavam sobre o tema. Entrei em contato e, depois de algum tempo e algum esforço técnico, gravamos os episódios.

Estas foram mais duas ações com o objetivo de divulgar e informar, gerando material de qualidade (assim espero, haha) em língua portuguesa, tarefa na qual nós do SynbioBrasil já nos dedicamos.

Abaixo vai o link do primeiro episódio do nosso podcast!

SynbioBrasil no GrokPodcast Parte 1!

A Biologia Sintética pode tornar sua bebida mais segura? – Um possível projeto para o iGEM 2013

Os preparativos para o iGEM 2013 já começaram e os times já avaliam as possibilidades de projetos. Nós, do time da USP, não ficamos para traz e já reunimos algumas boas idéias e começamos a explorá-las para sondarmos suas viabilidades.

Dentre essa idéias, apresento agora em uma série de dois vídeos curtos, a possibilidade de detectores de substâncias nocivas comuns encontradas em bebidas não certificadas baseado em uma levedura. O primeiro vídeo traz uma abordagem geral e inicial que fiz do assunto e o segundo vídeo, feito por Otto Heringer, explora mais a fundo possibilidades e gargalos deste projeto.

Fiquem portanto com primeiro vídeo da série!

[youtube_sc url=”http://youtu.be/0CWPcHP8jVY”]