Um crucificado chamado… João

Para marcar a Sexta-Feira Santa, achei que seria legal apresentar a vocês a única evidência arqueológica do tipo de crucificação praticado pelos romanos na Palestina do século I. Conheçam Yehohanan ben Hagakol (João, filho de Hagakol) — ou o que sobrou dele, pelo menos.
yehohanan.jpg
Sabemos o nome e o “sobrenome” de Yehohanan porque o osso do calcanhar visto acima, atravessado por um grosso cravo de ferro, foi achado dentro de um ossuário, uma espécie de “caixão secundário” (servia para abrigar os ossos após algum tempo numa sepultura convencional), em Giv’at Ha-Mivtar, nas cercanias de Jerusalém. O ossuário continha uma inscrição identificando o morto. Os restos mortais foram achados em 1968 e analisados por Nicu Haas, antropólogo da Escola Médica da Universidade Hebraica de Jerusalém.
yehohanan2.gifO escritor judeu Flávio Josefo, que participou da primeira grande revolta contra Roma que terminou com a destruição da cidade e do Templo de Jerusalém no ano 70 d.C., diz que os legionários se divertiam crucificando os prisioneiros das maneiras mais esdrúxulas possíveis, e o pobre Yehohanan parece ser um exemplo disso. A posição do cravo no osso do calcanhar é tal que provavelmente as pernas estavam presas de lado no madeiro, como na reconstrução ao lado. A árvore usada para fabricar a cruz foi identificada como uma oliveira, o que provavelmente indica que o condenado estava pregado a pouca distância do chão, talvez até no nível do rosto do “público” da execução.
As pernas de Yehohanan estavam quebradas, o que pode indicar dano intencional pelos executores como forma de acelerar a morte do condenado — sem o apoio dos membros inferiores, ficaria muito difícil para um crucificado continuar respirando na posição em que estava na cruz.
Seja como for, o destino do coitado pode até ser considerado relativamente sortudo. Os dados históricos sobre a prática da crucificação indicam que o mais comum era deixar o corpo do criminoso ser consumido por aves de rapina e cães. No máximo, o que sobrava era jogado numa vala comum. É por isso que muitos historiadores duvidam da narrativa tradicional do enterro de Jesus nos Evangelhos — dificilmente Pilatos permitiria que alguém como ele tivesse uma sepultura digna. O caso de Yehohanan, mesmo assim, indica que isso não era impossível.

Discussão - 4 comentários

  1. Leonardo disse:

    Oi Reinaldo! Estou escrevendo só para avisar que o RSS não está funcionando! Ia inscrever o seu para receber as atualizações mas dá erro...

  2. Leonardo disse:

    Depois de ver a foto ao lado: Claro que não poderia faltar alguma referência ao Senhor dos Anéis no seu blog...

  3. Reinaldo disse:

    Oi Leonardo! Pois é, está com esse probleminha, mas os Powers that Be aqui do ScienceBlogs me garantiram que vai ser resolvido em breve. Por favor tenha um pouquinho mais de paciência e coloque o blog nos seus bookmarks, que tal? :oP
    Sobre SdA: é lógico, hehehe... paixão não se nega, estampa-se com todo orgulho 😉 Abraço!

  4. erotik filmi disse:

    interesting, Thank you very much for this information.

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