Taleban brasileiro em marcha


Como era mesmo aquele versinho? Primeiro pisaram nas flores, depois arrombaram a porta, no fim botaram minha mulher numa burka? O cristianismo pode não ter, em geral, um dress code tão rígido quanto o Taleban, mas o apetite pelos direitos e liberdades individuais parece bem semelhante.

Senão, vejamos duas notícias quentinhas:

APARECIDA, SP (AE) – Durante os 40 dias da Quaresma, período estipulado pela Igreja Católica entre o carnaval e a Páscoa, os bailes populares realizados em praça pública estão proibidos em Aparecida, no Vale do Paraíba (SP). A proibição partiu do prefeito José Luiz Rodrigues (DEM), mais conhecido como Zé Louquinho, que alegou ser este um período de reflexão e não de diversão. “Jesus morreu por nós, fez o maior sacrifício, então não custa nada fazer esse sacrifício por Deus.” Católico, devoto de Nossa Senhora Aparecida, Zé Louquinho afirmou não acreditar que esta medida seja impopular.

JUNDIAí, SP (BOM DIA) – Vereadores de Jundiaí se mostraram favoráveis, ontem, a proibir a distribuição gratuita das chamadas pílulas do dia seguinte nas UBS (Unidades Básicas de Saúde) do município. A posição foi demonstrada durante a segunda sessão do ano na Câmara, marcada pela presença do bispo dom Gil Antônio Moreira e pela discussão sobre a distribuição gratuita do medicamento. O bispo foi à Câmara para anunciar a Campanha da Fraternidade deste ano, que tem como tema “Fraternidade e Defesa da Vida.”

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Mais do que o total desprezo pelo mínimo de decoro que seria de se esperar de representantes de um Estado laico perante supostos “imperativos” religiosos, o que chama a atenção nesses casos é o conteúdo demagógico: em cidades de maioria católica, os políticos dançam conforme a música.

Alguém poderia até achar a coisa toda muito democrática, mas o fato é que democracia não é obediência cega à maioria (isso se chama, com mais propriedade, “coragem em números”, ou simplesmente fascismo).

Democracia significa respeito pelos direitos do indivíduo. Se a maioria tem alguma autoridade, isso ocorre porque representa uma soma de indivíduos – e, portanto, a base moral e lógica dessa autoridade desaparece no momento exato em a que a turba se volta contra as garantias individuais.

Se coisas assim não ficarem bem claras, e logo, correremos o risco de chegar a uma situação como esta, apenas com o tipo de “fundamentalismo” trocado. O Afeganistão ainda não é aqui.

Ah, sim: a imagem que ilustra esta postagem é a de um dos Budas de Bamiyan, demolidos por você-sabe-quem em 2001.

Discussão - 2 comentários

  1. Celso Renato disse:

    Moc, olá de novo. Puxa, preciso fazer uma brincadeira. Vc é jornalista, escreve muito bem, mas as notícias nunca são boas qdo se trata de religião não? Só para vc ficar mais p da vida, saiba que tenho visto cartazes da Campanha da Fraternidade em prédios publicos. Estado laico? Ah, acho que dá para dizer mais uma coisa. As lideranças cristãs (protestantes ou católicas) podem não ser tão fundamentalistas qto os Islâmicos, mas com certeza não porque acreditem em coisas como liberdade de religião ou democracia. SDe dependéssemos deles, estariamos em Teocracias semelhantes a da Árabia. O fato é que passamos por mudanças importantes no Ocidente graças a céticos e racionalistas que lutaram pelas liberdades individuais a partir do século XIX. Ah, vc participa da Sociedade brasileira de céticos? Estão agendando um encontro ateu em março, dia 15, 16 horas no Metrô Sta Cruz em São Paulo. Grande abraço.

  2. Moc disse:

    Oi, Celso! Acho que até deve haver notícias boas envolvendo religiosos (bolas, não dá pra só ter bobagem o tempo todo!), mas até pela vocação do blog, eu acabo selecionando pelo pior... 😉

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