Paradoxo de sexta (37)

O da semana passada foi um paradoxo teológico, e como todo paradoxo do tipo, a solução mais simples é supor que o ser a que o paradoxo se refere simplesmente não existe. Caso essa saída seja bloqueada, há três soluções:
1. O ser não é onipotente (ele nos fez o melhor que pôde, dentro de suas limitações)
2. O ser é malicioso (ele poderia ter feito melhor, mas preferiu deste jeito por que curte mandar humaninhos para o inferno)
3. O ser é misterioso (não somos capazes de entender seus motivos e/ou um dia tudo ficará claro e veremos que tudo foi para o melhor e cantaremos sua infinita sabedoria)
A solução 3 traz à tona a questão, mas então por que então não nos fez mais espertos logo de cara?, mas aí a coisa já começa a cansar.
Nesta semana, voltamos ao mundo da lógica e da matemática.
Suponha que, por algum motivo, você se veja envolvido numa aposta com um trapaceiro. (Este é um dado do problema: o cara é trapaceiro). Ele mostra a você três cartas. Uma é branca dos dois lados, uma tem um lado branco e o outro preto, a outra é preta dos dois lados.
O cara põe as três cartas num saco preto (que você inspecionou cuidadosamente e tem certeza de que estava vazio antes do início do procedimento), mistura-as, puxa uma e a coloca rapidamente sobre a mesa.
O que você vê é um lado preto.
O trapaceiro diz: “Esta certamente não é a carta toda branca. O outro lado ou é preto, ou é branco. Se você estiver disposto a casar dez reais, eu também ponho dez meus em jogo e aposto que o outro lado é preto. Topa?”
Você sabe que o cara é trapaceiro, mas a aposta parece honesta. Onde está o catch?

E a nave espacial privada continua em seu périplo…

Nesta semana o pessoal d Virgin Galactic fez uma apresentação do WhiteKngihtTwo, o avião-lançador que deverá levar ao espaço a primeira nave privada de turistas, a chamar-se SpaceShipTwo ou VSS (de “Virgin Space Ship”) Enterprise.
Só para relembrar: a equipe do engenheiro Burt Rutan havia feito história em 2004 ao lançar a primeira nave espacial tripulada financiada exclusivamente com recursos privados, a SpaceShipOne. A nave fez três voos, chegando ao limite da atmosfera terrestre e pousando de volta em segurança.
Na época, o então diretor da Nasa, em meio à crise de credibilidade causada pela explosão do ônibus espacial Columbia e confrontado com a “prova de eficiência do setor privado”, referiu-se à SpaceShipOne como “um planador movido a gás hilariante”.
O que, subtraindo-se o veneno das palavras, é verdade. A nave de Rutan passa a maior parte do tempo planando usa NO2 como oxidante de combustível.
Mas o cara da Nasa tinha razão em uma coisa: é muito difícil comparar o que o time de Rutan fez com o que a agência espacial faz. A complexidade de se levar um homem à beira do espaço e minutos depois fazê-lo descer é ordens de magnitude menor que a de lançar um ônibus espacial, ou de manter uma tripulação de seis pessoas em órbita por meses a fio.
É difícil saber até onde a Virgin Galactic conseguirá ir — aos meus céticos olhos cansados, a empresa parece ter muito marketing (oferecendo passagens grátis ao espaço a Stephen Hawking e William Shatner, por exemplo) e poucos feitos concretos até agora — mas, no momento em que o governo do EUA tem um comitê reavaliando toda a estratégia estatal de voo espacial tripulado, é bom lembrar que a iniciativa privada também está na jogada — e não apenas por meio das grandes empreiteiras da indústria aeroespacial.

Apelo ao suposto beneficiário

Mais uma da série, falácias que a gente vê por aí. Esta é talvez a mais insidiosa de todas as que surgem no discurso público, porque insinua que algumas coisas são importantes demais para serem atrapalhadas por algo tão comezinho como, por exemplo, a verdade dos fatos.
Eu a encontrei pela primeira vez na faculdade. Na época, o Jornal do Campus (um jornal feito pelos estudantes de jornalismo da USP) havia publicado uma matéria sobre “Os marajás da USP”, apresentando alguns salários estratosféricos que eram pagos a figuras do mundo administrativo e acadêmico uspiano. Lembro-me de um professor, que eu até respeitava muito, esbravejar que a reportagem “fazia o jogo do (então governador) Quércia”.
Bolas, a reportagem ou estava correta ou estava errada, era ou isenta ou tendenciosa. Se era correta e isenta, e o que dizia poderia servir de argumento para o governador tomar medidas vistas como contrárias à universidade, a culpa era da universidade que havia deixado as coisas chegarem a esse ponto, não do jornal que apresentava os fatos.
Esse apelo ao suposto beneficiário lembra o cui bona (quem ganha?) das histórias policiais, a pergunta que ajuda a definir o quadro de suspeitos. Mas quando o que está em questão é uma alegação de fato, não um homicídio, o cui bona é tão relevante quanto, ao receber um telegrama com más notícias, você se preocupar com a identidade do carteiro.
Como já disse, essa falácia é especialmente malévola porque leva as pessoas a imaginar que alguns valores, nomes ou princípios (a Revolução, a Livre Iniciativa, o Partido, a Igreja…) são mais importantes que a verdade. E, claro, quem não enxerga isso — que a causa é mais importante que os fatos — é um “ingênuo”, que “faz o jogo” dos comunistas, dos capitalistas, dos verdes, dos poluidores, dos tucanos, dos petistas, whatever.
Se você realmente acha que o fato de o líder da sua causa ter cometido o crime “X” não mancha a causa em si, defenda o argumento no livre mercado de ideias, mas não tente suprimir “X”. E nem mudar de assunto.

Para formigas, o irrelevante é irrelevante

Um dos critérios normalmente usados em Teoria da Decisão para definir se uma escolha é racional ou não é a independência de opções irrelevantes. Digamos que você, sendo um homem e heterossexual (leitores de outra conformação cromossômica e/ou inclinação afetiva, por favor, usem a imaginação) tenha uma marcada queda por loiras magras. Eis que, numa balada, surgem duas garotas que parecem interessadas em sua pessoa — uma loira gorda e uma morena magra.
Pode ser um dilema, mas qualquer que seja a sua solução pra ele (Incluindo a de passar a noite sozinho), o fato de haver uma terceira menina disponível, uma ruiva rechonchuda, não deveria afetar a decisão que você vai tomar. Certo? Afinal, você não se sente atraído por ruivas e prefere não ficar com gordas, logo essa terceira moça, por mais inteligente e charmosa que seja é, para o seu gosto pessoal, irrelevante.
Curiosamente, no entanto, a mente humana não funciona desse jeito: a presença de uma alternativa irrelevante tem, frequentemente, o poder de alterar a forma como as pessoas escolhem entre as alternativas reais. Isso acontece muito em eleições: mesmo que a disputa pra valer seja entre Serra e Dilma, o fato de haver um terceiro candidato sem chances, e de esse candidato ser o Maluf ou o Gabeira, pode fazer pender a balança para um lado ou para o outro.
Nesse aspecto, o homem não é lá um animal muito racional (conte-me algo novo, dirá você). Mas as formigas, são. A constatação está no periódico científico Proceedings of the Royal Society B. Diante da oferta de dois locais razoáveis pra instalar um formigueiro, os insetos optavam por um um outro, indiferentemente. O aparecimento de um terceiro local, claramente ruim, não afetou essa distribuição.
Falando ao noticioso online Science Now, da revsita Science, um dos autores do trabalho, Stephen Pratt, especula que as formigas se comportam dessa forma porque a colônia, como um todo não conhece todas as opções disponíveis: a massa dos insetos simplesmente acompanha a opinião das formigas batedoras, que sempre rejeitam a oferta de ninho ruim e aceitam indiferentemente a primeira oferta razoável que aparece.
O que sugere que, ao menos em questões de múltipla escolha, ignorância às vezes é poder.

Porrada em Júpiter: o follow-up

Na semana passada, postei aqui a primeira foto divulgada do “ponto preto” que surgiu em Júpiter no dia 19 deste mês. Desde então, a Nasa até tirou o Hubble de seu estado de calibragem pra fazer uma foto da evolução da mancha:
Clique aqui para abrir a imagem.
Brincadeiras a respeito do monolito do Clarke a parte, as principais reações populares à notícia parecem dividir-se em três vertentes: (a) como ninguém viu este negócio chegando?; (b) isso deve ser uma coisa de alienígena e (c) que bom que Júpiter nos protege dos grandes impactos.
O ponto (a) ajuda a ilustrar como o sistema solar é um coisa enorme, e como tempos muito pouco controle, de fato, quanto ao que a acontece nele. Blockbusters de ficção científica nos acostumaram a pensar em termos de galáxias inteiras como e fossem quarteirões, mas o fato é que a escala do nosso minúsculo sistema solar já é demais para nós — ao menos, no nosso estágio atual.
O ponto (b) é interessante como partida pra um novo seriado de TV, mas não muito mais que isso. Citando a surrada frase de Carl Sagan, “alegações extraordinárias requerem evidências extraordinárias”. Pode até ser que o caiu em Júpiter tenha sido o caça TIE de Darth Vader, mas diabo, onde está a evidência? Um excesso de raios gama emanando da zona de impacto poderia sugerir a presença de antimatéria na colisão (caças TIE usam antimatéria? não, nesse caso seriam os klingons…), mas ninguém parece ter detectado isso.
Quanto a (c), a ideia de Júpiter como uma espécie de “guarda-costas” do sistema solar interior (isso quer dizer nós, Marte, Vênus e Mercúrio) se encaixa na concepção geralmente chamada de Terra Rara — a hipótese de que a vida inteligente só pôde emergir na Terra por conta de uma série de circunstâncias muito especiais, entre elas, a presença de um planeta gigante que atuaria como estabilizador e protetor contra impactos devastadores.
Mas seria isso mesmo?
Um interessante artigo em The New York Times contesta essa visão. Um astrônomo ouvido pelo jornal, Brian G. Marsden, cita o caso do cometa de Lexell, que foi desviado de sua trajetória e jogado na direção da Terra… pela gravidade de Júpiter.
Além disso, provavelmente é a gravidade de Júpiter que volta e meia desestabiliza asteroides do cinturão principal, além da órbita de Marte, e os arremessa sobre nós. Foi um desse caras, aliás, que acabou (ou ajudou a acabar) com os dinossauros.
Então, quanto ao papel protetor de Júpiter, o júri ainda não chegou a um veredicto. Talvez o efeito protetor e o desestabilizador se cancelem; talvez um supere o outro. O fato é que a decantada atuação de Júpiter como guarda-costas da vida na Terra em geral, e da civilização humana em particular, parece ser mais uma daquelas hipóteses científicas que acabam promovidas a “fato” no processo de divulgação e, no fim, viram uma espécie de mito moderno.

Paradoxo de sexta (36)

O da semana passada foi um dos clássicos paradoxos de Zeno escritos por Aristóteles — o que tenta demonstrar que é impossível percorrer uma distância qualquer, porque isso implica percorrer um número infinito de etapas intermediárias, e é impossível cumprir um número infinito de tarefas num tempo finito.
Esse paradoxo já foi atacado por vários ângulos. O mais usado é apontar a existência daquilo que os matemáticos chamam de séries infinitas convergentes — isto é: uma soma de infinitos termos, tipo 0,5+0,25+0,125… de fato pode chegar a um resultado finito. No caso, 1.
Mas esse argumento, por si só, é insatisfatório. Ele soa muito como uma mera reformulação do problema: Zeno nos diz que uma distância concreta qualquer pode ser quebrada em infinitas frações. A série convergente nos diz que infinitas frações podem ser somadas para gerar ma distância concreta qualquer. So what?
O truque está em aplicar o argumento da série convergente ao tempo: da mesma forma que uma curta distância finita pode ser dividida em infinitas etapas, cada uma menor que anterior, um número infinito de momentos, cada um menor que o anterior, pode ser somado para gerar um intervalo de tempo finito. Assim, prova-se que a afirmação final do paradoxo, “é impossível cumprir um número infinito de tarefas num tempo finito” é falsa. Realizar uma infinidade de tarefas um tempo finito é possível, se as tarefas puderem ser distribuídas ao longo de uma série infinita, porém convergente, de momentos.
O paradoxo desta semana é o que eu chamo de Paradoxo da Criação Imperfeita. É um paradoxo teológico, e portanto só deve incomodar a quem acredita nessas coisas, mas ele é tão bem sacado que não resisti a apresentá-lo. Foi proposto pelo filósofo australiano John Leslie Mackie (1917-1981), um dos meus heróis intelectuais (seu livro a respeito de argumentos pró e contra a existência de Deus, The Miracle of Theism, é um dos meus clássicos pessoais).
Esse paradoxo é uma tréplica à resposta padrão dos teístas quanto à existência de mal moral no mundo (o mal natural — enchentes, terremotos, vírus Ebola, etc — é outro problema). “Mal moral” é o mal que as pessoas fazem umas às outras: roubo, estupro, assassinato, pura e simples crueldade psicológica…
A noção geral, no quadro teísta, é que o mal moral é o preço da liberdade. Deus quis nos fazer livres, e ter liberdade inclui a liberdade de fazer merda.
(Há outras questões que daria para levantar, tipo por que a liberdade do assassino vale mais que a vida da vítima, mas não vamos entrar nisso aqui).
A questão que Mackie deixa é: óquei, Deus quis nos fazer livres. Por que então ele não quis nos fazer melhores? Um ser humano que sempre faça a escolha moralmente certa ainda é um ser humano livre. O fato de uma pessoa passar a vida inteira sem cometer um crime não a torna menos livre que um assaltante assassino.
O mal moral potencial pode se explicar com o fato de sermos livres, mas o mal moral concreto só se explica porque somos imperfeitos. Por que um Deus bom e onipotente criaria uma espécie deliberadamente defeituosa, que ele sabe (é onisciente também) que vai ter de castigar depois?
Cartas para a redação.

Torturando números e o peso da culpa pelo CO2

Um velho ditado diz que é possível tortura números até que eles digam exatamente o que você quer ouvir. Acho que esbarrei num caso assim: um estudo norueguês que diz que, levando-se em conta o país onde são consumidos os bens, EUA. Austrália a Canadá são, sim, os maiores emissões e gases causadores do efeito estufa do mundo.
Ora, ora, ora.
O raciocínio é o seguinte: a China é o maior emissor. Mas a indústria chinesa emite para produzir bens que serão exportados para os EUA. Logo, se não houvesse a pressão de consumo nos EUA, essas emissões não ocorreriam. Logo, a culpa, no fundo, é dos EUA.
Leia novamente o parágrafo acima. Até o segundo ponto (que vem depois da primeira aparição de “EUA”) tudo o que está escrito são verdades reveladas pelos números. Mas as conclusões (introduzidos por “Logo” e “Logo”) fazem sentido?
Bolas, ninguém encostou um revólver na cabeça do governo chinês e disse “construa a base industrial mais suja e poluidora do mundo”, né? Certamente, os rednecks que lotam os walmarts do Alabama não fizeram isso.
Se os mercados não estivessem abarrotados de tranqueiras chinesas baratinhas feitas por semiescravos com energia suja de carvão, eles estariam abarrotados de alguma outra coisa, e John e Jane Smith estariam gastando suas doletas em outro lugar.
A única conclusão válida que parece emergir do trabalho norueguês é a de que é necessário criar metas de emissão para os países em desenvolvimento também — porque senão o que vai acontecer é uma mera transferência de tecnologia suja do centro para a periferia, sem impacto líquido nas emissões globais, que é o que interessa.

Livros lunáticos

Perguntaram-me, numa postagem anterior, sobre quais livros já foram escritos propondo e defendendo planos de negócios (por assim dizer) que viabilizariam a presença humana sustentada em Marte e/ou na Lua.
A lista abaixo não é exaustiva, mas pretende representar um corte transversal da bibliografia. Para os de estômago fraco (e/ou com inclinações políticas e ideológicas mais à esquerda) já aviso que muitos desses planos pressupõem um sistema solar dominado por algo muito próximo de um capitalismo laissez-faire e a revogação de tratados da ONU como os que declaram a Lua e os corpos celestes patrimônio comum da humanidade.
(O raciocínio sendo, bolas, por que alguém investiria numa operação de mineração na Lua se o terreno e o lucro não seriam dele, e sim “da humanidade”?)
Os livros são:
The High Frontier – Human Colonies in Space, de Gerard K. O’Neill. É o clássico do gênero, ainda que esteja ultrapassado em vários pontos. O’Neill foi uma espécie de Carl Sagan da colonização espacial, no sentido de ter lutado muito para popularizar a ideia e vendê-la às autoridades. Seus planos eram ciclópicos: previam a construção de enormes cilindos no espaço, dentro dos quais vivieriam populações comparáveis às de cidades inteiras.
The Case for Mars, Robert Zubrin. Zubrin é o fundador e presidente da Mars Society, uma ONG que faz lobby para que os EUA mandem logo astronautas a Marte. Seu livro apresenta um plano para a conquista de Marte que foi canibalizado pela Nasa em vários aspectos, e enfatiza um conceito, o ISRU — In Situ Ressource Utilisation, ou uso de recursos locais — que hoje está em praticamente todo e qualquer plano de viagem espacial que aparece por aí. Basicamente, a ideia é preparar os astronautas pra se virarem com o que houver no ambiente que vão explorar, em vez de mandar todo o ar, água, comida e combustível de que precisam diretamente da Terra.
Mining the Sky, John S. Lewis. Neste livro, Lewis apresenta o sistema solar, seus planetas, asteroides, luas e cometas como a solução para o esgotamento dos recursos naturais da Terra, pra a crise ecológica e para a pobreza. O argumento básico é de que qualquer plano realista para trazer a humanidade a um padrão de vida sustentável sem assimilar os recursos do espaço implicaria, basicamente, em levar a raça humana de volta aos padrões demográficos, econômicos, culturais e tecnológicos da idade média — e mantê-la assim pelos séculos amém.
Moonrush, Dennis Wingo. Este é um livro que se lê realmente como um plano de negócios. O argumento de Wingo é parecido com o de Lewis (ver livro cima), mas ele foca especialmente a Lua e é bem mais detalhista. O subtítulo é exatamente “Melhorando a vida na Terra com os recursos da Lua”. Wingo faz uma troça impiedosa com a ideia de uma “economia do hidrogênio”, e apresenta os cálculos do dano ambiental causado por uma mina de platina — metal necessário para as células de combustível a hidrogênio — e conclui que a emenda acaba sendo muito pior que o soneto.
Return to the Moon, Harrison H. Schmitt. Este é talvez o livro que carrega maior autoridade de todos os já citados — não só seu autor, Harry Schmitt, é o único geólogo que já trabalhou na Lua (foi membro da missão Apollo 17) como conta, ainda, com prefácio de Neil Armstrong. É uma pena, portanto, que o livro muitas vezes soe como um panfleto do Partido Republicano (pelo qual Schmitt serviu um mandato como senador). Ainda assim, a obra tem um plano de negócios e apresenta diversas propostas de reforma institucional necessárias para que se abra o espaço à livre iniciativa.
Living off the Land in Space, com o subtítulo “Estradas Verdes para o Cosmo”, tem três autores — Gregory L. Matloff, Les Johnson e um artista-ilustrador, C. Bangs. Este livro é basicamente um conjunto de artigos sobre como a expansão da humanidade pelo sistema solar pode ser feita, e os modos pelos quis essa expansão pode beneficiar a Terra, economica e ecologicamente. Este é mais recente de todos os livros citados aqui, e como se vê no título, já assume como pressuposto o conceito de ISRU (confira a entrada sobre The Case for Mars.)

Parem as máquinas! Alguma coisa acertou Júpiter!

Uma mancha preta apareceu perto do polo sul de Júpiter neste fim de semana, aparentemente provocada pelo impacto de um cometa ou asteroide. Como Júpiter é, basicamente, uma nuvem gigante com 11 vezes o raio da Terra, o que quer que tenha acertado o planeta para deixar uma marca tem de ser algo especial.
A imagem (o Sul está para cima, gente):
20090719-155537UTC.jpg
O link:
http://jupiter.samba.org/jupiter-impact.html

É hoje!

Chegamos, então, os 40 anos do primeiro dos seis (únicos) pousos tripulados sobre a superfície de algum corpo celeste que não a Terra. Uma reflexão interessante de se fazer é: por que a humanidade não ficou por lá? Por que recuamos?
Como em todo evento complexo, a explicação se dá em camadas. A mais evidente é a constatação de que o Programa Apollo era, ao fim e ao cabo, um programa de relações públicas — de resgate do orgulho nacional americano, após o Sputnik e Gagárin — e, uma vez tendo cumprido seu objetivo, acabou.
Mas, embutida nesta explicação há outras duas que vale a pena destacar, porque talvez tenham algo a nos ensinar quanto a oportunidades futuras:
1. Ciência não é motivação suficiente: A colonização do Novo Mundo pelos europeus foi, proporcionalmente, mais perigosa e mais cara (em dinheiro e vidas) e eticamente muito mais questionável do que seria o estabelecimento de uma cidade permanente na Lua. Mas o Novo Mundo foi conquistado para produzir lucro e para aliviar tensões populacionais e sociais da Europa. A cidade lunar teria como objetivo principal fazer ciência.
Esta é uma lição importante: em toda grande iniciativa de exploração de um novo território, a ciência vem a reboque de fatores econômicos e sociais. A Lua teria sido o primeiro caso do contrário acontecendo. E não aconteceu.
2. A vida na Lua não é sustentável: Um astro que dá a volta em torno do próprio eixo a cada 29 dias não é exatamente um bom lugar para atividade agrícola. Ainda mais se toda água, fertilizante, CO2 e oxigênio têm de ser lançados a partir das profundezas um fosso de gravidade a quase 400 mil quilômetros dali, ao custo de milhares de dólares o quilo. E não se sabe se abelhas e outros polizinadores iriam funcionar bem a um sexto da gravidade terrestre.
Há uma módica bibliografia dando conta de planos para tornar a Lua economicamente viável, mas a maioria deles depende de (a) avanços enormes na tecnologia da fusão nuclear — caso em que um tipo especial de átomo depositado pelo Sol na superfície lunar, o hélio-3, passaria a ser um recurso valiosíssimo, o “novo petróleo” — ou (b) de investimentos pesados na ocupação de outros, ahn, espaços do espaço, como os pontos de estabilidade entre a Terra e a Lua e entre a Terra e o Sol.
O que gera a questão, e por que catzo as pessoas iriam querer investir nesses pontos?
Marte, por sua vez, tem um perfil de sustentabilidade melhor. Mas fica muito mais longe. Mas, de novo, falha no ponto 1, motivação. De novo, há alguns livros até que bem persuasivos sugerindo que Marte pode dar lucro. Até agora, no entanto, ninguém quis pagar para ver.

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