Neste dia, há 504 anos…
Um relato descreve o evento assim:
“…ele (Colombo) pediu aos chefes que participassem de uma reunião pouco antes do pôr-do-sol de 29 de fevereiro de 1504.
“Colombro abriu a reunião com uma advertência sombria: ‘O Todo-Poderoso estava infeliz, não gostava da forma como os nativos vinham tratando Colombo e seus marinheiros. O Todo-Poderoso agora mostraria sua desaprovação, removendo a Lua do céu'”(…)
Sabe-se até o nome do almanaque astronômico que Colombo usou: Ephemeris, do matemático alemão Johannes Müller von Königsberg, ou Regiomontanus — curiosamente, um geocentrista convicto.
Há várias lições importantes nesta pequena pérola histórica, mas fiquemos com esta: saber um pouco mais que a choldra ao redor, ter cara-de-pau e falar em nome do Todo-Poderoso são garantias de vários almoços grátis. Hoje, tanto quanto 500 anos atrás.
Qual a sua religião?
Saiu pesquisa nova do Pew Forum on Religion and Public Life dos EUA sobre a composição religiosa da população americana. Há alguns dados interessantes, como o de que o catolicismo e as testemunhas de jeová são as duas denominações que mais perdem fiéis, mas que as testemunhas conseguem um certo equlíbrio entre perdidos e ganhos, enquanto que os católicos seguem à míngua. Dez por cento da população dos EUA é composta de “ex-católicos”. Se essa fosse uma categoria à parte, teria quase o mesmo número de aderentes que os evangélicos batistas!
Falando em comparações do tipo, é interessantre notar que ateus e agnósticos já são 4% da população, igual à soma de judeus, muçulmanos e mórmons — os agnósticos, sozinhos, superam cada uma dessas três religiões com folga.
É importante chamar atenção para essas coisas porque boa parte do poder de pressão das religiões sobre a autoridade civil vem da ameaça velada de mobilização/manipulação das massas de fiéis (“quantas divisões tem esse papa?”, como dizia o coroinha Josef Stálin) e — aqui confesso um inelutável “wishful thinking” de minha parte — cada vez mais desconfio que muito dessa ameaça, como a que paira sobre nossas cabeças na atual campanha da fraternidade, é puro blefe.
No Brasil, claro, não temos os números quebrados em agnósticos e ateus, mas apenas dos “sem religião” (que, com 7,4%, superam os espíritas, os cultos afro e muitos mais):
Dizem que o IBGE é extremamente teimoso quanto a não perguntar se as pessoas acreditam em Deus. Vá lá saber por quê. De repente, tem medo da resposta.
Alguém podia explicar pra esse cara…
CIDADE DO VATICANO (EFE) – O papa Bento XVI disse neste sábado, 23, em sua mensagem aos fiéis na Praça São Pedro, que educar “nunca foi fácil” e atualmente “parece ter ficado cada vez mais difícil” porque circulam “muitas” incertezas e dúvidas na sociedade.
Que incertezas e dúvidas não são um obstáculo, mas a base de qualquer processo educacional digno do nome?
Sexo: a fronteira final?
Me pergunto por que certos pais se preocupam tanto com a vida exual dos filhos. Óquei, existe o risco de doenças e, claro, basta uma noitada adolescente irresponsável para o sujeito virar avô (ou avó) com uma ou mais boquinhas para sustentar.
Mas grupos como estes pais espanhóis, ou os americanos que pregam o voto de virgindade vão muito além da mera preocupação com os aspectos sanitários, econômicos ou (vá lá) psicológico-emocionais do sexo.
Uma leitura atenta do noticiário a respeito revela um aspecto perverso nessa história toda, encoberto (não muito bem encoberto, é verdade, já que até eu consegui notar) por toda a conversa sobre “valores” e “família”: controle.
Um dos fatos mais interessantes sobre a assim chamada civilização ocidental é a constante redução do poder dos pais sobre os filhos: séculos atrás estava nas mãos do pai decidir a religião, a educação, a profissão, a opção sexual e o(a) parceiro(a) de cada filho(a).
Esse domínio total vem se corroendo, graças aos avanços do liberalismo, do laicismo e da sociedade de consumo (é, ela faz coisas legais de vez em quando).
Claro, quem como eu já teve de fazer uma viagem de duas horas de ônibus ao lado de uma menininha de cinco anos que berrava a plenos pulmões o repertório da Xuxa, para aplauso extasiado da mãe boçalizada, sabe que até a liberdade da juventude tem lá seus pontos negativos, mas não é disso que estou falando: os pais continuam a ter o dever de civilizar os filhos.
O que ocorre é que o poder que acompanhava esse dever vem sendo corroído. Nesse aspecto, a luta pelo controle da educação sexual parece ser uma espécie de última trincheira da velha visão do filho como um reflexo e produto do pai, em oposição a um ser humano ainda não autônomo, mas capaz de autonomia.
Um átomo de cada vez
Quantos anjos podem dançar na cabeça de um alfinete? O que acontece com a alma das criancinhas que morrem antes de ser batizadas (e que são 80% de todas as almas, de levarmos a sério o papo de que cada óvulo fertilizado é uma pessoa)? Como explicar metafisicamente que uma coisa que tem cara de biscoito, gosto de biscoito, composição química de biscoito é, na verdade, carne humana?
Passo. A questão mais interessante de todas é: quanta força é necessária paramover um único átomo? A resposta está na edição desta semana da revista Science, e é descrita no jornal The New York Times.
A resposta parece depender do substrato onde o átomo está, mas é, no mínimo, de 4,45 x 10^-8 newton ou a força necessária pra erguer uma massa de 4,45 x 10^-9 kg (4,5 MICROgramas –corrigido: eu tinha escrito “pico”) no campo gravitacional terrestre.
(Físicos e engenheiros, corrijam-me se eu estiver errado: sou apenas moderadamente competente nessas coisas)
Não só o experimento que determinou esse dado é de uma beleza ímpar, não só o resultado tem uma importância enorme no campo da nanotecnologia, como o conceito é vertiginoso: seres humanos conseguiram deslocar um único átomo, uma entidade cuja simples existência foi polêmica por milênios.
E ainda há quem prefira contemplar a imagem da Virgem ou o Óleo Sagrado das Oliveiras de Judá ou whatever.
Fazer o quê?
IURD contra a FSP
Não há muito a dizer sobre a avalanche de processos de fiéis da Igreja Universal contra a Folha de São Paulo além do que já foi dito e notado por muita gente, exceto perguntar exatamente como o Paulo Henrique Amorim se meteu nessa e destacar, mais uma vez, o argumento central deste blog:
A noção de que alguém se dizer (ou mesmo, de fato, se sentir) ofendido por algo dá à tal parte ofendida algum tipo de direito ou reivindicação especial, para além da prerrogativa óbvia de responder à ofensa, é uma idéia cretina que vai acabar estrangulando toda e qualquer liberdade de debate e expressão.
Se alguém chama você de “feio”, responda “bobo”. Chamar a tia é sacanagem.
Taleban brasileiro em marcha
Como era mesmo aquele versinho? Primeiro pisaram nas flores, depois arrombaram a porta, no fim botaram minha mulher numa burka? O cristianismo pode não ter, em geral, um dress code tão rígido quanto o Taleban, mas o apetite pelos direitos e liberdades individuais parece bem semelhante.
Senão, vejamos duas notícias quentinhas:
APARECIDA, SP (AE) – Durante os 40 dias da Quaresma, período estipulado pela Igreja Católica entre o carnaval e a Páscoa, os bailes populares realizados em praça pública estão proibidos em Aparecida, no Vale do Paraíba (SP). A proibição partiu do prefeito José Luiz Rodrigues (DEM), mais conhecido como Zé Louquinho, que alegou ser este um período de reflexão e não de diversão. “Jesus morreu por nós, fez o maior sacrifício, então não custa nada fazer esse sacrifício por Deus.” Católico, devoto de Nossa Senhora Aparecida, Zé Louquinho afirmou não acreditar que esta medida seja impopular.
JUNDIAí, SP (BOM DIA) – Vereadores de Jundiaí se mostraram favoráveis, ontem, a proibir a distribuição gratuita das chamadas pílulas do dia seguinte nas UBS (Unidades Básicas de Saúde) do município. A posição foi demonstrada durante a segunda sessão do ano na Câmara, marcada pela presença do bispo dom Gil Antônio Moreira e pela discussão sobre a distribuição gratuita do medicamento. O bispo foi à Câmara para anunciar a Campanha da Fraternidade deste ano, que tem como tema “Fraternidade e Defesa da Vida.”
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Mais do que o total desprezo pelo mínimo de decoro que seria de se esperar de representantes de um Estado laico perante supostos “imperativos” religiosos, o que chama a atenção nesses casos é o conteúdo demagógico: em cidades de maioria católica, os políticos dançam conforme a música.
Alguém poderia até achar a coisa toda muito democrática, mas o fato é que democracia não é obediência cega à maioria (isso se chama, com mais propriedade, “coragem em números”, ou simplesmente fascismo).
Democracia significa respeito pelos direitos do indivíduo. Se a maioria tem alguma autoridade, isso ocorre porque representa uma soma de indivíduos – e, portanto, a base moral e lógica dessa autoridade desaparece no momento exato em a que a turba se volta contra as garantias individuais.
Se coisas assim não ficarem bem claras, e logo, correremos o risco de chegar a uma situação como esta, apenas com o tipo de “fundamentalismo” trocado. O Afeganistão ainda não é aqui.
Ah, sim: a imagem que ilustra esta postagem é a de um dos Budas de Bamiyan, demolidos por você-sabe-quem em 2001.
Celibato
Esta notícia me pôs a pensar no motivo por trás da recusa teimosa da igreja católica em aceitar o fim do celibato dos padres. A velha explicação medieval – para evitar a transmissão de direitos hereditários – não parece fazer muito sentido no mundo moderno, afinal.
No fim, ocorreu-me: padres casados ou serão condenados a ter 50 filhos e a matar suas mulheres de exaustão, ou precisarão usar camisinha (ou pílula, ou vasectomia, ou laqueadura, ou aborto…).
Nem o Vaticano, acho, seria capaz de engolir tanta hipocrisia.
‘Formas de saber’
Durante a Idade Média, discos de cera, chamados Agnus Dei, benzidos pelo papa, eram vistos como poderosos amuletos contra raios e trovões. Sinos de igrejas também eram abençoados para que seu repicar afastasse as tormentas.
A despeito de relíquias e sinos bentos, a torre da catedral de San Marco, em Veneza, foi destruída por relâmpagos em 1388, 1417, 1489, 1548, 1565, 1653, 1745, 1761 e 1762. O problema desapareceu em 1766, quando, 14 anos após a invenção de Benjamin Franklin, instalou-se um pára-raios no local.
Já a idéia de que a Terra gira em torno do Sol foi combatida por três papas: Paulo V e Urbano VIII, que perseguiram Galileu, e Alexandre VII, que assinou, em 1664, uma bula proibindo os católicos de ler “todos os livros ensinando o movimento da Terra e a estabilidade do Sol”. A medida só foi revogada em 1835, quase 200 anos mais tarde.
Quase 200 depois, ainda há quem apareça pedindo respeito à religião como “forma de saber”. Perguntinha besta: saber o quê?
News of the World
Para animar o fim de semana, um pout-pourri qpra confirmar mais uma das teorias de Einstein — no caso, a de que a única coisa infinita que há é a estupidez humana:
DUBAI, 14 FEV (ANSA) – A organização de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch pediu ao rei Abdullah, da Arábia Saudita, que suspenda a execução de uma mulher condenada à morte no país, acusada de bruxaria.
“O rei Abdullah deve suspender a execução de Fawza Falih e anular sua condenação por bruxaria”, escreveu a organização humanitária em uma carta enviada ao soberano do país ultraconservador que segue rigidamente a sharia, a lei muçulmana.
A organização declarou que a polícia religiosa que prendeu e interrogou a mulher e os juízes que a julgaram “não lhe deram em nenhum momento a possibilidade de provar sua inocência contra acusações absurdas”.
Fawza foi presa em maio de 2005 e condenada à morte em abril de 2006, por “suposto crime de bruxaria, recurso ao demônio e sacrifício” de animais, segundo informou a Human Rights Watch.
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CIDADE DO VATICANO, 11 FEV (ANSA) – Para festejar os 150 anos da aparição de Lourdes, uma procissão percorreu a Via da Conciliação, que une Roma ao Vaticano, até a Basílica de São Pedro para ali depositar uma costela de Bernardette Sobirous, a garota que aos 14 anos disse ter visto e falado com a Virgem Maria na aldeia francesa de Lourdes.
A aparição, que aconteceu na gruta de Massabielle, vizinha à aldeia, transformou Lourdes no santuário mariano (dedicado à Virgem Maria) mais conhecido e freqüentado do mundo.
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POLÍCIA SAUDITA PROÍBE ROSAS VERMELHAS
RIAD – A Mutawa, polícia religiosa da Arábia Saudita, advertiu os muçulmanos para que não celebrem o Dia de São Valentim – 14 de fevereiro, festejado como Dia dos Namorados no hemisfério Norte – porque se trata de uma festa “imoral” e “não-islâmica”.
A Mutawa, cujo nome oficial é Comissão para Promoção da Virtude e Prevenção do Vício, divulgou seu posicionamento em comunicado distribuído em Riad, poucos dias depois de proibir a venda de rosas vermelhas no país árabe.
A polícia religiosa tem cerca de 5.000 homens, que andam à paisana, e é muito influente no país.
“Tomaremos todas as medidas para proteger os valores religiosos”, disse a nota