Psico-história

Por razões profissionais, estou me metendo a reler a Trilogia da Fundaçãode Isaac Asimov. É curioso ver como alguns aspectos dos livros envelheceram mal – por exemplo, um vasto império galáctico que cimenta planetas inteiros para transformá-los em palácios sem que nenhum ambientalista reclame, ou as idéias realmente toscas quanto ao processamento de informação no futuro distante – mas há uma idéia por trás de tudo que continua instigante: a psico-história. Basicamente, o conceito de uma ciência capaz de descrever os rumos de uma civilização como a teoria cinética dos gases prevê a evolução dos estados do conteúdo de um balão de ar quente.
Nesse aspecto, é possível que Asimov tenha acertado em cheio no alvo: alguns anos atrás, o jornalista britânico Philip Ball ganhou um prêmio de divulgação científica por seu livro Critical Mass, que descreve os esforços de aproximação ente a física e as ciências sociais, ou como diz uma resenha, “investiga tentativas de explicar comportamentos sociais com fórmulas emprestadas da física”.
Não apenas da física, mas da biologia, mais precisamente de modelos matemáticos isnpirados na Teoria da Evolução. O livro de Ball cita bastante o pesquisador Robert Axelrod, autor de vários estudos envolvendo o Dilema do Prisioneiro.
Talvez uma das criações mais originais de Axelrod tenha sido a aplicação de autômatos celulares para o estudo da disseminação de características culturais.  Dá para brincar com isso neste applet de Java.
Asimov costumava dizer que, para se tornar previsível, uma civilização precisaria ter um número de indivíduos comparável ao número de moléculas de gás num experimento físico – e, mesmo com a população crescendo do jeito que está, ninguém espera ver um mol de seres humanos à solta por aí no futuro próximo.
Mas será que esse requisito é mesmo verdadeiro? A investigação  Philip Ball sugere que não.

Discussão - 3 comentários

  1. Essa visão da previsão e controle de grandes massas pode até dar certo quando tivermos "um mol" de seres humanos, mas enquanto não temos, Skinner propôs em 1957 o Behaviorismo Radical que, junto à outros conceitos recém-descobertos, propunha a ciência natural do comportamento humano, ou seja, a previsão e controle do comportamento dos organismos.
    Hoje para nós analistas do comportamento, quanto menos pessoas mais fácil (ou menos difícil) é prever e manipular seu comportamento, mas o mais curioso é que, assim como por exemplo na física quântica, tudo corre em volta de probabilidades.
    Alguns cientistas comportamentais já estão desenvolvendo leis matemáticas que, se juntando às leis da Análise do Comportamento, conseguem determinar porcentagens de probabilidades da ocorrência de comportamentos em animais de laboratório. Será que um dia estaremos falando como os psico-historiadores "A probabilidade de isso ocorrer é XX%"? Não sei, mas é a nossa meta! 🙂

  2. Natália disse:

    Não resisti e vou deixar um comentário, apesar de não entender nada de psicologia. Li o Prelúdio à Fundação ano passado e adorei. Agora a continuação está um pouco difícil de encarar. Fiquei facinada com a idéia de prever um futuro de forma "científica", mas prefiro pensar que a mente humana é demasiado complexa para permitir esse tipo de previsão.
    Os átomos e moléculas respondem todos da mesma forma a um determinado estímulo, mas cada ser humano tem sua história e uma maneira única de responder.
    Por outro lado, como o próprio Asimov coloca no livro, como poderíamos usar sabiamente essas previsões?

  3. cretinas disse:

    Oi, Natália! O Robert Axelrod, que eu menciono na postagem, tem um programa que simula nações como se fossem partículas do tadas de "carga", mas no caso são cargas políticas e econômicas -- por exemplo, democracia atria democracia e repele ditadura, mas país rico repele país rico e atrai país pobre, então uma democracia rica pode atarir uma ditadura pobre (como EUA e Brasil durante a guerra fria, por exemplo...). Ele diz que esse modelo "retropreviu" corretamente as políticas de aliança da II Guerra Mundial.
    A coisa toda ainda está muito no começo, mas a idéi ade que interações complexas podem acabar sendo modeláveis por conta de uns poucos parâmetros básivos parece promissora. Mas ainda é preciso, claro, descobrir seus limites.

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