É sustentável a sustentabilidade?

Outro dia estava pensando sobre a questão do desenvolvimento sustentável e a promessa de um crescimento econômico que devolva ao ambiente tanto quanto tira, mas eis que me lembrei da Segunda Lei da Termodinâmica. Daí, surgiu a dúvida: sustentabilidade, no limite, não é apenas mais uma tentativa de criar a máquina de moto perpétuo?
Antes que me interpretem mal: este aqui não é mais um daqueles argumentos “desesperacionistas”, do tipo, ok, tudo já foi pra cucuia mesmo, então vamos relaxar e gozar enquanto esperamos o apocalispe, e vai ser ótimo ver aquelas loirinhas nórdicas de biquíni pegando um bronze na Groenlândia. É claro que todo dano à natureza que pudermos evitar, reduzir ou reparar deve ser evitado, reduzido ou reparado, mas: isso nunca vai ser 100% eficiente. Então, mesmo se administrarmos o planeta Terra da forma mais eficiente possível, vai dar pra esticar a corda até quando?
Uma conta de fundo de envelope (que pode muito bem estar obscenamente errada, já que eu tenho o hábito pouco saudável de escorregar nas potências de dez): o fluxo de energia solar na órbita da Terra  é de 1,4 kW/m2, sendo que cerca de 10% disso chega à superfície do planeta — o resto é refletido de volta. A área da Terra é de uns 4 x10^12 metros quadrados, então o total de irradiação solar disponível no planeta é da ordem de 6×10^12 kW, ou 6×10^15 J/s. 
 Um ser humano precisa de umas 2.000 calorias alimentares, ou 8×10^6 J, ao dia. Um dia tem cerca de 90.000 segundos, o que dá uns 90 J/s. Com 6×10^9 seres humanos na Terra, estamos consumindo 54×10^10 J/s, ou, arredondando, 6×10^11. A humanidade consome, então, algo como 0,01% de toda a energia disponível para a vida na Terra, descontando as fontes geotérmicas. E isso só para manter nossos corpos vivos, tirando carros, computadores, geladeiras, DVDs.
Supondo que a população ganhe uma ordem de grandeza a cada 200 anos, estaremos comendo toda a energia solar disponível na Terra em… uns 1000 anos?

Discussão - 6 comentários

  1. Zatann disse:

    Não veja o homem como uma estátua mágica de barro controlada por uma fumacinha branca. Não tô dizendo que você vê, mas muita gente nos considera isso.
    Somos um aglomerado de células famintas, que por sua vez são um grande motorzinho de moléculas.
    Manipulamos ferramentas com nossas "mãos", como vários outros animais. Adaptamos elas, estendemos nossos sentidos usando sensores.
    Mas no fundo, 12 mil anos não são suficientes para mudar nossa natureza: somos primatas.
    E como animais, agimos como tal, e nosso destino será o mesmo de qualquer outra espécie parasítica: devorar todos recursos e morrer de fome.
    Não temos predadores, estamos no topo de todas escalas alimentares. Nossa sobrevivência quase não sofre nenhum risco. Principalmente prolongando nossa espectativa de vida e acabando com os crimes.
    1000 anos não é nada. Quando não estivermos mais aqui novos animais e plantas sobreviventes a nossa "fome" continuarão a proliferar e preencher o espaço que puder, comendo uns aos outros. Como sempre.
    Sim, um moto perpétuo de 3 ou mais ciclos.
    Algo legal para pensar sobre nosso futuro próximo é contrabalançar a robótica nanotecnológica com fanatismo ideológico.
    Nanoterrorismo soa divertido.

  2. glenn disse:

    é... a sustentabilidade é até possível de existir, já o desenvolvimento sustentável é um mito comercial.
    a questão levantada acho que foi a sustentabilidade e até que ponto é prolongável a existência humana.
    criar prazos para a capacidade do ambiente em nos suportar me parece um tanto quanto maltusiano. maltus tava certo até certo ponto, mas como sempre, a ciência e a tecnologia nos leva a caminhos cada vez mais desconhecidos.
    pouco provável que em 1000 anos não tenhamos tido nenhuma sacada "salvadora".
    a pós-extinção humana é algo que não me preocupa e que fica apenas no mundo da fantasia. obviamente ocorrerão sucessões ecológicas, ocupações de nichos vagos, etc, como em qualquer ecossistema.
    afinal, a vida como um todo é difícil de eliminar.

  3. Igor Santos disse:

    Difícil fazer as pessoas se preocuparem com o destino do planeta daqui a dez dias, que dirá mil anos...
    Para mim, esse é o cenário do "já era, vou à praia comer peixe frito e beber cerveja".
    Fazer sete bilhões de macacos entender que nosso planeta é edição limitada é meio difícil...

  4. Claudia Chow disse:

    Edição limitada é ótimo!
    Talvez a sustentabilidade seja pra fazer a diferenca de sutil do ser humano continuar na terra por mais 1000 ou 10000 anos... Para os humanos isso é dificil de ter noção, ninguem consegui pensar 10 dias, q dirá 1000 anos!

  5. Hugo Penteado disse:

    Você está certíssimo. Leia Nicholas Georgescu-Roegen. Com isso dá para "esculhambar" todas as falsas idéias dos economistas, dos governos e das empresas. Parabéns. "Esculhambar" no bom sentido, tipo acordar para a realidade. A corda vai estourar, resta saber se vamos trabalhar para fazê-la estourar em décadas ou em milhares de anos...
    Abraço Hugo

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