O caso Eluana

Casos como o da italiana Eluana Englaro ilustram bem os problemas da idéia dos “magistérios separados” para religião e ciência, defendida por Stephen Jay Gould ou pelo brasileiro Newton Freire-Maia. Segundo essa visão, as questões mais profundas sobre vida e ética seriam adjudicadas à religião.
Mas, e quando os ditames religiosos contrariam a compreensão científica dos fatos — o fato, por exemplo, de que Eluana está efetivamente morta há 17 anos — em que a decisão deve e basear?
A questão é especialmente dolorosa porque a ciência é — e assume-se — como uma fonte de conclusões falíveis. Já a religião se vende como fonte de verdades infalíveis. A alternativa é entre uma dúvida real e sincera e uma falsa certeza hipócrita, e nem sempre é fácil, principalmente quando se tem um grande investimento emocional na questão, escolher um lado.
O problema agrava-se quando notamos que a ciência não é, não pode ser, uma alternativa ao papel normativo das religiões. A pessoa que deixa de “terceirizar” sua consciência ética para algum algoritmo definido em catecismo não pode, simplesmente, passar a descarregar o peso de suas responsabilidades morais sobre a ciência. Ela tem de assumir o peso total para si, contando com a ciência apenas como uma fonte de dados para informar suas decisões.
É algo que requer muita coragem, e aparentemente foi o que o pai de Eluana fez. E esse talvez seja o aspecto mais asustador para quem encara o ateísmo e suas implicações pela primeira vez: se não há uma providência, se não há uma consciência maior garantindo que todas as merdas do mundo no fim servirão de adubo para um jardim de delícias, então cada um de nós só pode contar consigo mesmo e com a humanidade em geral. E cada um de nós, e mesmo a humanidade como um todo, sempre podemos estar errados.

Ficção científica antirreligiosa

É muito comum na ficção científica, principalmente na cinematográfica, que o clímax da história envolva algum tipo de afirmação da superioridade do “coração” sobre o “intelecto”: o momento da viória, não raro, é o momento em que o protagonista racionalista-anal-retentivo quebra as amarras da lógica e se deixa levar pela emoção-intuição-wathever.
Uma instância clássica é o final de Guerra nas Estrelas, onde Luke Skywalker desliga o computador de bordo de seu caça e decide deixar-se guiar pela Força (ainda que, se a Força realmente existisse, essa teria sido uma saída racional… ah, os paradoxos dos universos contrafactuais).
Um fato relativamente desconhecido, no entanto, é de que esse tipo de desenlace místico-populista não é uma regra fixa do gênero; na verdade, várias obras de grande qualidade apontam na direção oposta e trazem críticas ao apego à intuição e à religião. Alguns clássicos da crítica à religião na ficção científica são: 
 
As Ruas de Áscalon, de Harry Harrison: um padre tenta levar o evangelho a uma população alienígena, com resultados imprevistos.
O papa dos chimpanzés, de Robert Silverberg:um grupo de estudiosos de primatas usa linguagem de sinais para discutir deus e a imortalidade da alma com um grupo de chimpanzés.
A estrela, de Arthur C. Clarke: um jesuíta descobre uma supernova, com implicações profundas para sua fé.
Jesus em Marte, de Philip José Farmer: astronautas encontram uma comunidade cristã em Marte.
Razão, de Isaac Asimov: robôs chegam a concluisões surpeendentes sobre o lugar da inteligência artificial no Universo.

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