Jogando com o seguro

Deu no New York Times da semana retrasada, mas não parece ter repercutido por aqui: o povo de Wall Street está preparando um novo produto financeiro para ocupar o vácuo dos malfadados subprime: agora, estão pensando em criar títulos baseados em seguros de vida.
A ideia é simples: banqueiros assumem os pagamentos dos seguros de vida de pessoas que não querem, ou não conseguem, mais arcar com as prestações. Essas pessoas recebem uma grana para fazer do banco o beneficiário — de fato, vendem o próprio seguro ao banco, com deságio. Quando elas morrem, a indenização devida pelo seguro vai para o banco. É meio como antecipar a restituição do imposto de renda, só que de um modo mais terminal, se é que você me entende.
Os títulos — que seriam negociados no mercado — são formados por montes de seguros de vida assim, “antecipados”.
Um banco pode comprar uma centena de seguros de gente que desistiu que continuar segurada, juntar tudo num pacote, fazer umas contas levando em consideração a expectativa de vida dos cidadãos e as indenizações individuais de cada apólice e emitir um título que promete pagar, digamos, cinco milhões e dólares dentro de dez anos. Aí, investidores individuais, outros bancos, fundos de pensão, etc, podem comprar, vender e revender esses títulos, ou títulos que dão direito a frações desses títutulos, títulos que…
Bom, pondo de lado o risco de uma nova crise subprime causada por velhinhos que se recusam a morrer no prazo estipulado (crise sublife?), o que realmente me encanta nesse esquema é a profunda ligação entre economia, a indústria de seguros e, claro, as probabilidades.
As seguradoras americanas estão com medo desse esquema porque isso significa que elas terão de pagar todos os seguros de vida que forem revendidos aos bancos.
Parte do cálculo das seguradoras, veja, envolve a probabilidade de alguns segurados morrerem sem que ninguém venha reclamar o seguro, ou de que parte dos segurados deixe de pagar suas prestações e perca o direito à indenização. Se essas probabilidades caírem a zero, todo o negócio terá de ser redimensionado.
Um cara ouvido pelo NYT disse que o esquema é perigoso porque investimento é investimento, e seguro “é um jogo de azar”. O que é mesmo: quando você segura o seu carro, o que você está fazendo é uma aposta: você aposta que seu carro vai ser roubado ou destruído no próximo ano, a seguradora aposta que não. Quem perder, paga.
Talvez esse cara esteja mal informado, e os investimentos já tenham, também, virado jogos de azar.

Discussão - 2 comentários

  1. Juan Matos disse:

    Isso sim é uma ideia cretina. Pena que aquela proposta do Zeitgeist é muito utópica e depende de um governo pra iniciar o procedimento.

  2. Letícia disse:

    adorei o exemplo do carro!
    Daqui a pouco começa o investimento em alma, daquele jeitinho que a gente vê em filme, assinando com sangue! Tem tanta gente que fala que Wallstreet é a casa do capeta, não é??

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