Science Wars, com um certo timing atrasado

Comecei a ler ontem Higher Superstition, a crítica à crítica pós-moderna do método científico que desencadeou as chamadas “Science Wars” entre humanas e exatas na década de 90. Ok, estou quase 20 anos atrasado, mas na década de 90 eu estava mais preocupado em engabelar a professora de redação Jornalística que não queria me aprovar e arrumar emprego, então desculpem-me…
O livro ainda é muito interessante — e já detecta a reação´padrão que seria adotada pelos pós-modernos, de dizer Peraí, nenhum de nós realmente acreditava nessa bobagem. A distinção entre argumento e retórica feita pelos autores também é muito útil ainda hoje.
Uma coisa muito engraçada que achei no livro foi o que os autores chamam de “hierarquia folclórica” da academia — e que, segundo eles, seria uma fonte de ressentimento das humanas contra as exatas. Os autores são cuidados em não endossar a hierarquia, e a citam apenas como o que parecia passar por “senso comum” nas salas de professores e na hora de distribuir verbas. Ela seria assim:
Exatas e biológicas: produzem conhecimento razoavelmente confiável.
História: factualmente confiável, desde que a metodologia seja boa; interpretativamente duvidosa.
Economia: tem rigor matemático, mas os modelos em que se baseia são simplificações tão grosseiras que se tornam quase inúteis.
Sociologia: tem alguma sofisticação estatística, mas as interpretações são subjetivas demais para se levar muito a sério.
Crítica literária: subjetividade pura. Epistemologicamente, não vale um tostão furado.
Teria essa “hierarquia” mudado? Ou continua a ser o “senso comum”, e a estimular ressentimento? Com a palavra, quem vive nas universidades…

Discussão - 8 comentários

  1. Karl disse:

    Você é um agitador, Moc =). Achei bem legal essa hierarquia. A pergunta que não quer calar é: os autores conseguiram validá-la cientificamente?

  2. cretinas disse:

    Eles a citaram como uma impressão subjetiva, não como um dado científico... ;-). Mas seria interessante fazer uma pesquisa de opinião e ver se ela se sustenta no senso-comum acadêmico, mesmo!

  3. Leo Martins disse:

    Há esse trabalho recente, publicado na PLoS ONE. E de acordo com o indicador usado (que eu tenho lá minhas dúvidas), ele detectou sim uma hierarquia.

  4. Continua valendo. Na forma de piada é assim:
    Diretor da faculdade ao departamento de física: "Cara, vocês vivem pedindo verbas astronômicas para seus experimentos. Por q vocês não podem ser como o pessoal do departamento de matemática? Tudo o que eles pedem é verba para lápis, papel e um cesto de lixo. Ou melhor, deveriam ser como o pessoal do departamento de filosofia, eles pedem só lápis e papel..."
    []s,
    Roberto Takata

  5. Karl disse:

    Acho interessante uma crítica "epistemologica" da subjetividade baseada em impressões subjetivas, não é?

  6. cretinas disse:

    Sem dúvida... Ainda mais quando uma crença mantida nesses termos acaba gerando o tipo de pressão social e rssentimento que talvez tenha estado por trás das science wars. Mas poucas coisas são mais difíceis que levar uma pessoa a buscar fatos quando ela está convencida de que uma forte impressão é suficiente (e, sim, esta é uma forte impressão que tenho...)

  7. Tiago disse:

    Esta guerra entre cursos ainda existe e pensar que ela irá acabar é quase uma utopia.
    Sou estudante de engenharia e vejo todos os dias a prepotência de colegas de sala e professores para com os outros cursos, inclusive entre as engenharias.
    Existe também uma missão dos centros universitários de “humanizar” as exatas, que anda me causando sérios transtornos já que os professores ministram as aulas com esse “senso comum” nos subestimando e até passam por cima dos pontos de vista de seus ‘alunos que gostam de calculo’. Assim, os alunos não tem motivação nenhuma para se “humanizar”.

  8. Karl disse:

    Acho interessante uma crítica "epistemologica" da subjetividade baseada em impressões subjetivas, não é?

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