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As árvores mitológicas, filogenéticas, tentadoras: quando surgiram?

Ainda valem como obras que dão sentido a uma vida plantar uma árvore, escrever um livro e ter um filho? A figura de uma árvore é realmente muito poderosa. Eu, particularmente, sempre gostei das árvores gorduchas do Rembrandt que me proporcionam uma incrível sensação de aconchego. Mas quando apareceram as árvores dominando a paisagem do nosso planeta? Qual a sua influência, a partir de então, nos ecossistemas terrestres? Pelo menos até agora não temos evidências, ainda, de árvores extraterrestres.

A ponte de pedra. Óleo sobre tela 29,5 x 42,3  cm. Rembrandt
Rijksmuseum, Amsterdam. (http://www.rembrandtpainting.net/complete_catalogue/landscape/bridge.htm)

Bom, os mais antigos vegetais fósseis que conseguiram sobreviver no continente foram, ao que parece pelas evidencias, musgos e a partir desse momento surgiram outros vegetais mais adaptados a viverem no meio seco e nos quais a parte vegetativa tinha uma vida mais longa (esporófito) além de ser de maior em tamanho, enquanto que a parte reprodutora passou a ser menor e com uma vida mais curta (gametófito). Todas essas adaptações aconteceram no transcurso da Era Paleozoica. Mas o que caracteriza uma árvore? Seu tamanho? Ou possuir um lenho com crescimento secundário, ou seja, no qual se formam anéis de crescimento com o passar do tempo? Se for pelo tamanho, as primeiras árvores apresentavam um formato que lembra as palmeiras de hoje, sendo incluídas dentro dos gêneros Gilboaphyton e Eospermatopteris, cujos fósseis são encontrados perto de Nova Iorque, nos Estados Unidos e no norte da Venezuela, na cordilheira de Perijá. O surgimento da possibilidade de ramificação abriu novas possibilidades, assim como o desenvolvimento de sistemas radicular e vascular mais eficientes. Tudo isso aconteceu, pelo registro que se tem, durante o transcurso da segunda metade do período Devoniano, entre 398 e 385 milhões de anos atrás. O desenvolvimento desse novo tipo de vegetais, as árvores, trouxe profundas mudanças aos ecossistemas continentais, tanto pelo surgimento das florestas e com elas novas possibilidades a vida, quanto para o ciclo do carbono, intemperismo das rochas, estabilização da erosão, balanço do CO2 e consequentemente do clima. As primeiras florestas possivelmente viviam próximo aos cursos de água, de forma semelhante às florestas ciliares que hoje em dia acompanham o curso dos rios.

Contudo, e apesar dessa restrição na sua distribuição, uma das mais importantes mudanças dentre as acima comentadas foi introduzida pelos sistemas radiculares (raízes) que se tornaram mais efetivos, complexos e profundos. Esses avanços trouxeram como consequência o desenvolvimento de solos com conteúdo orgânico, bem como a intensificação do intemperismo químico do entorno abiótico que rodeava as raízes. Por sua vez, as raízes desde o inicio já apresentavam uma associação com uma classe especial de fungos denominada como micorrizas, hoje presentes em 90% dos vegetais, e que auxiliam na obtenção de nutrientes do solo e, portanto, na alteração química das rochas. Outra ventagem do advento de sistemas radiculares maiores foi a diminuição da erosão e como consequência, da quantidade de sedimentos que era incorporada aos sistemas fluviais e costeiros.

Sistemas radiculares maiores e mais complexos, juntamente com o surgimento de um sistema vascular formado por tubos ou traqueídes com paredes agora lignificadas e provistas de perfurações para auxiliar na melhorar a circulação de água e nutrientes por todo o corpo do vegetal, permitiram também a sustentação de uma porção aérea maior em altura e com maior área de copa. Essas melhorias permitiram que os vegetais alcançassem vários metros de altura e aumentassem consideravelmente o seu tempo de vida, abrindo um novo capítulo nos ecossistemas terrestres e oferecendo proteção dos raios solares e mais umidade.

Registros de paleosolos devonianos que se desenvolveram em ambientes costeiros e fluviais são uma das evidências acerca do desenvolvimento e sofisticação dos sistemas radiculares, pois neles foram preservados moldes das raízes ou raízes permineralizadas junto com as micorrizas.

Mas calma: essas primeiras árvores ainda não possuam uma reprodução por meio de sementes e, portanto, grandes áreas no interior dos continentes ainda continuavam a desabitadas. As primeiras sementes surgiram no período seguinte, conhecido como Carbonífero, e com elas a possibilidade das florestas cobrirem as terras emersas até hoje.

Paisagem com árvores, construções da fazenda e uma torre. Rembrandt Harmensz. van Rijn (1606–1669) Gravura, 123 x 319 mm Städel Museum, Frankfurt am Main Photo: Städel Museum, Frankfurt am Main (http://www.themorgan.org/rembrandt/print/179857)