Reconhecimento de padrões
Acho que a esta altura todo mundo já sabe que o “Pé-Grande” (ou “homem cagando”, ou “mulher agachada”) de Marte é, na verdade, uma pedrinha de nada. De qualquer forma, aqi vai um desafio: localizar o ponto exato da imagem enganosa no panorama original feito pelo Spirit.
O fenômeno de encaixar uma forma visual aleatória num esquema pré-concebido é conhecido como pareidolia, e faz parte do equipamento cognitivo da espécie: como já dise alguém, o australopiteco que ficava em dúvida sobre se aquela sombra era um leopardo ou só uma sombra tinha bem menos a perder se saísse correndo.
Pareidolia, no entanto, é parte de um fenômeno mais geral, o de reconhecimento de padrões, que atua em outras esferas além da visual. E ao qual se soma outra peça da nossa caixa de ferramentas cognitiva, o viés de confirmação.
Por exemplo: tempos atrás, cientistas deram a voluntários uma seqüência de números (2, 4, 6). Pediram-lhes que teorizassem sobre qual a regra por trás da escolha dos dígitos, e que testassem a teoria, propondo novas seqüências. A cada proposta, os cientistas respondiam “serve” ou “não serve”.
A resposta “serve” deixava os voluntários convencidíssimos de que haviam encontrado a regra certa – digamos, só números pares. Mas estavam errados.
Eles erraram por causa do viés de confirmação, a tendência de buscar só os dados que confirmem nossos preconceitos e esperanças, e fugir de tudo que os desmentem. No caso da idéia de que a regra seria “números pares”, ninguém pensou em testar números ímpares antes de acreditar ter matado o problema.
O viés explica a persistência de superstições e tem um papel também na política e na publicidade. Como escapar dele? O melhor é fazer como Carl Sagan, que quando lhe perguntavam “nas suas entranhas, o que você acha que é certo?”, respondia: “Não penso com as entranhas”.
Quanto aos números, a regra certa era: qualquer grupo de três, desde que em ordem crescente.
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