Sharia britânica

Mal o mês começou, eis o Prêmio Idéia Cretina de fevereiro: a adoção de partes da sharia, ou lei tradicional islâmica, para resolução de disputas entre muçulmanos no Reino Unido — proposta, nada mais e nada menos, pelo arcebispo de Canterbury, Rowan Williams.

O arcebispo, que ficou famoso (ou infame) no mundo não-anglicano ao meter os pés pelas mãos para tentar explicar como um “deus bom” poderia ter permitido o grande tsunami de 2004 na Ásia, se apressou em dizer que não está sugerindo uma importação de normas como a lapidação de adúlteras ou a flagelação de homossexuais, mas apenas que cidadãos britânicos de origem islâmica possam resolver seus problemas de acordo com normas (para eles) tradicionais.

Agora, é fato que nada, obviamente, impede que dois muçulmanos que tenham uma pendenga entre si decidam, de comum acordo, arbitrar a diferença pela sharia em vez de procurar os tribunais (a menos, claro, que a solução envolva uma violação da lei do Estado); então, o que Williams está propondo, exatamente? Que muçulmanos sejam impedidos de recorrer aos tribunais seculares, caso uma dsputa seja arbitrada pelo emir/mulá/ancião/ulemá/whatever?

A coisa toda soa como mais um ataque racista disfarçado de multiculturalismo: vamos deixar os bárbaros cuidar das coisas deles lá do jeito deles, e pronto.

Mas há algo ainda mais insidioso na proposta: a idéia de que religiões têm direitos. De que a comunidade islâmica (anglicana, católica, budista, tc.) teria o direito de impor suas normas a indivíduos que tenham nascido dentro dela. De que, de algum modo, a religião é proprietária legítima dos filhos e filhas de seus fiéis.

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