‘Formas de saber’
Durante a Idade Média, discos de cera, chamados Agnus Dei, benzidos pelo papa, eram vistos como poderosos amuletos contra raios e trovões. Sinos de igrejas também eram abençoados para que seu repicar afastasse as tormentas.
A despeito de relíquias e sinos bentos, a torre da catedral de San Marco, em Veneza, foi destruída por relâmpagos em 1388, 1417, 1489, 1548, 1565, 1653, 1745, 1761 e 1762. O problema desapareceu em 1766, quando, 14 anos após a invenção de Benjamin Franklin, instalou-se um pára-raios no local.
Já a idéia de que a Terra gira em torno do Sol foi combatida por três papas: Paulo V e Urbano VIII, que perseguiram Galileu, e Alexandre VII, que assinou, em 1664, uma bula proibindo os católicos de ler “todos os livros ensinando o movimento da Terra e a estabilidade do Sol”. A medida só foi revogada em 1835, quase 200 anos mais tarde.
Quase 200 depois, ainda há quem apareça pedindo respeito à religião como “forma de saber”. Perguntinha besta: saber o quê?
Discussão - 3 comentários
Espetacular. Mas sabe o que é incrível? Se você dá um exemplo desse a um religioso, você corre o risco de receber uma resposta cretina como a que eu recebi: "E quem você acha que deu inteligência para os homens para eles construírem para-raios? Heloo..." A bem da verdade, no meu caso falava da superioridade da ciência em curar doenças com remédios ao invés de rezar pelo doente. Seria cômico se não fosse trágico, não Moc?
As pessoas têm um senso de atribuição de esponsabilidades meio avariado, eu acho. Outro dia, uma pessoa que respeito muito disse que Deu devia tê-la feito perder o ônibus, porque assim ela pôde ajudar uma senhora que estava passando por dificuldades no ponto... Bolas, se Deus queria que a mulher no ponto recebesse ajuda, por que Ele não fez algo a respeito? Ou, por que deixou a pobre senhora se encrencar, pra começo de conversa? É o que eu chamo de "onipotência seletiva"...
Onipotência seletiva é um termo que me lembra um pensamento meu. É muito fácil ser Deus. Coisas boas acontecem graças a Ele, e coisas ruins acontecem porque não estamos com Ele... Ou porque não entendemos a Ele...